sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Precisamos falar sobre a Teologia do Sofrimento


Em nome da fé religiosa, sobretudo em relação ao "espiritismo" brasileiro, as pessoas acabam dissimulando seus piores defeitos. Se apegam, de forma desesperada e doentia, à idolatria obsessiva pelos "médiuns", supostamente associados a uma bondade que as próprias pessoas têm preguiça em exercer.

As pessoas deixam de conhecer e entender o que realmente precisam, seus desejos e necessidades, e é costume no Brasil as pessoas jogarem fora o que mais necessitam enquanto se desesperam em se apegar ao supérfluo e ao entulho. E, com isso, acabam misturando pretensões em parecer progressistas ante a sociedade e manter preconceitos bastante retrógrados, como mulheres feministas que acham as mulheres-objetos, uma deturpação machista, símbolo de empoderamento feminino.

No caso do sofrimento humano defendido pela Teologia do Sofrimento, que os "espíritas" defendem muito mais do que os próprios católicos, as pessoas se confundem. Entendem a apologia do sofrimento como um ensinamento de Jesus, quando na verdade os partidários dessa infeliz ideia estão mesmo ao lado do seu condenador, Pôncio Pilatos, que condenou Jesus sem o "famoso" julgamento, porque a lógica do Império Romano era a condenação sumária, imediata.

Há até mesmo patéticas imagens de pessoas carregando a cruz, ou canções "espiritualistas" alegres falando em "carregar a cruz". O tema da instituição "espírita" Cavalheiros da Luz, comandada por José Medrado (que, por ironia, prefere, por opção pessoal,  a Teologia da Prosperidade do que a Teologia do Sofrimento, uma pequena exceção dentro do "movimento espírita"), tem um verso que diz "Vem me ajudar a carregar a cruz".

Isso é uma grande perversidade, mas o Brasil é uma sociedade conservadora, moralista, preconceituosa, rancorosa, dissimulada. Vendo as buscas da Internet, infelizmente a Teologia do Sofrimento não é vista como um problema para a sociedade nem como uma perversidade ideológica a níveis de crueldade insana, porque o aparato de palavras bonitas tranquiliza e conforta as pessoas.

"HOLOCAUSTO DO BEM"

A Teologia do Sofrimento é medieval. Ela segue a orientação do Catolicismo da Idade Média, criado pelo imperador romano Constantino. É, portanto, uma herança do punitivismo das autoridades romanas e nunca deve ser entendido como um ensinamento cristão. A apologia ao sofrimento humano é uma visão punitivista da vida, bastante severa, e defende as desgraças humanas como se a vida fosse uma competição cujo prêmio se supõe estar postumamente reservado.

A ideia da Teologia do Sofrimento é o "quanto pior, melhor". Quanto mais desgraças, mais garantias de "bênçãos futuras". O transe das paixões religiosas que leva muitos a uma cegueira emocional, dentro de ideais sado-masoquistas das seitas religiosas, faz com que muitos fiquem felizes com essa visão e encarem com "muita esperança e otimismo" as torturas do dia a dia.

Mas a Teologia do Sofrimento é um "holocausto do bem". Num mundo surreal em que vivemos, imaginamos que, para muitos, bastaria os piores tiranos defenderem essa ideologia para serem poupados da condenação mundial, podendo até receber, pasmem, o Nobel da Paz. Se tivessem sido "médiuns espíritas", melhor ainda, mesmo com seus diversos campos de extermínio.

Parece cruel falar nisso, mas o imaginário de muitas pessoas tem desses aspectos sombrios. No "espiritismo" em que se transformam em fetiches os mortos prematuros - os chamados "filhos mortos" que "foram para os braços do Alto" - e fazem com que muitas famílias acabem "desejando" a morte de seus entes queridos mais valiosos, o inconsciente cruel oculto pelos transes emotivos da fé cega (tida como "raciocinada") se ressalta, assustando as próprias pessoas.

É como alguém que se acha lindo, mas, quando se vê num espelho se horroriza com sua feiura. E são tantas as pessoas que não querem assumir seus aspectos ocultos. Quantas pessoas, por exemplo, de esquerda, não conseguem se livrar de valores de direita. Quantas feministas têm um machismo oculto, quando defendem, por um lado, as mulheres-objeto das baixarias popularescas ou quando se assustam quando se fala que um famoso feminicida conjugal sofre um câncer irreversível?

"FABRICAR BONDADE"

A apologia ao sofrimento humano da Teologia do Sofrimento tem mais adeptos do que se imagina, e isso é terrível. Teoriza-se e glamouriza-se as desgraças humanas, com um sentimento hipócrita de falsa piedade, e como uma ânsia de "fabricar bondade" com o prejuízo alheio.

Sim, existe a mania de "fabricar bondade". Os pregadores do sofrimento alheio defendem a manutenção da desgraça alheia, apelando para sentimentos como "paciência" e "resignação", ou mesmo "alegria e amor com o sofrimento". Criam todo um repertório discursivo para dar razão à "necessidade" do outro continuar sofrendo.

E o que isso tem de propósito? Reeducar as pessoas. Nem tanto. O propósito é que, no caso do "espiritismo", ao se transformar em "fábrica de sofredores", usa-se o "holocausto do bem" como meio para "fabricar bondade", dando atividade aos "filantropos de ocasião" que buscam promoção pessoal às custas da caridade paternalista e paliativa do Assistencialismo.

A ideia é "não ajudar demais" as pessoas, mas "aliviá-las". O sofrimento alheio é a moeda de promoção dos "filantropos" de plantão, por isso existe a visão, um tanto paranoica, de que certas pessoas dependem do sofrimento do outro para "fazerem alguma coisa útil na vida". É como se dissesse: "faça-se a desgraça do outro que eu produzirei a minha filantropia".

Essa visão não é caridosa. Espera-se o outro sofrer para ajudá-lo. Mas isso é o norte de muitos religiosos, pessoas em busca de vantagem pessoal e ávidas pelas glórias da Terra. Muita gente duvida que as religiões sejam um território livre de paixões materialistas, sobretudo um "espiritismo" a que se atribui "perfeição" até nas imperfeições.

Isso é um grande engano. É numa religião dissimulada como o "espiritismo" brasileiro, que comete traições aos ensinamentos espíritas originais para depois jurar falsa fidelidade, que as paixões materialistas se tornam bem mais fortes, de forma igual ou superior às das orgias do sexo, do dinheiro e das drogas. Quantos "médiuns" badalados, com suas oratórias mirabolantes, não se vestem da capa da "humildade" e da "dedicação ao próximo" para receber os mais pomposos prêmios da Terra?

QUEM DEFENDE O SOFRIMENTO ALHEIO É PORQUE NÃO SOFRE

A dissimulação humana também tem suas desculpas. Os apologistas do sofrimento alheio, ou seja, ideólogos formais e informais da Teologia do Sofrimento, chegam a dizer que "também sofrem", mas seu sofrimento é de nada. São apenas questionados por suas ideias injustas e "sofrem demais" com isso. Alguns praticam Assistencialismo, doando muito pouco aos necessitados, e acham que "dão duro demais" para mantê-los "numa vida digna e próspera".

Quem professa a Teologia do Sofrimento vive no conforto da venda de livros, da comercialização das palavras dóceis e a premiação fácil dada a esse palavreado com sabor de mel, do mundo fantasioso de palavras arrumadas que, num discurso bem montado, descrevem as "maravilhas" de vencer na vida aguentando perdas profundas e irreparáveis, aguentando impasses, perigos e traumas.

O fato de pessoas se alegrarem, aparentemente, com sofredores que superaram suas desgraças e alcançaram, por alguma sorte, a bonança, não os isenta de culpa pela visão perversa de se divertir com o sofrimento alheio. Afinal, existe a visão sádica de ver que "fulano sofreu e está aí".

Ninguém imagina que os sofredores são os que menos gostam desse marketing da superação. Os sofredores se sentem ofendidos, desrespeitados, porque até a superação que eles conseguiram conquistar foi dada com muito trabalho e angústia, e não raro eles querem esquecer até mesmo dos sacrifícios que tiveram que fazer para sair das situações deploráveis em que estavam.

Há muita dor, trauma, dificuldades no processo de superação. Não há como transformar isso em entretenimento para arrancar lágrimas do público, como numa "masturbação com os olhos" da comoção fácil e premeditada, uma comoção rebaixada a uma diversão de toda semana. Nos "centros espíritas", as pessoas recorrem às doutrinárias visando esse espetáculo catártico de ouvir estórias tristes com "finais felizes", como se fossem contos-de-fadas para adultos.

Quem prega o sofrimento alheio não sofre de verdade. Se sofresse, deixaria de desperdiçar páginas e páginas de escritos ou horas e horas de oratórias apelando para os sofredores suportarem suas desgraças. Até porque é muito chato para o sofredor aguentar ver alguém tido como "experiente" e "conselheiro" dizer para aguentar desgraças até não se sabe quando, o que, com certeza, mostra que esse "conselheiro" não é o "melhor amigo" que ele diz ser para os infortunados da sorte.

No "espiritismo", há o agravante de tantas pessoas sofredores viajarem de longe para os "centros espíritas", a procura de tratamento para seus problemas, gastando dinheiro com passagem e refeições, para depois, em vez de resolver seus problemas, obterem desgraças e infortúnios ainda mais graves. Se não fosse a seletividade de nossa Justiça, que blinda os privilegiados sociais (o prestígio religioso é um desses privilégios), os "espíritas" estariam falidos diante de tantos danos morais.

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