sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Por que as esquerdas se iludem com os "médiuns espíritas"? 'Wishful Thinking'?


A complacência das esquerdas políticas com os "médiuns" do "movimento espírita" brasileiro não têm fundamento nem motivo e geram até situações risíveis, como o Marcos Villas Boas, colunista do Jornal GGN, ameaçando ser "ex-espírita" mas se apegando, de maneira mórbida e doentia, aos "médiuns", como sempre movido pela fascinação obsessiva que muita gente dá a eles.

Os "médiuns" não esboçam caraterística alguma que justifique o rótulo de "progressistas", sustentado de maneira frágil por falaciosos discursos relacionados à moral religiosa, por arremedos de humildade e simplicidade e pelos apelos emotivos de crianças pobres sorridentes. Fora isso, os "médiuns" se revelam personalidades de extremo conservadorismo, em muitos aspectos se aproximando dos pastores neopentecostais, que os esquerdistas questionam e repudiam.

A adoração aos "médiuns espíritas" por esquerdistas revela problemas até mesmo quando se considera a liberdade de opinião e a aparente falta de relação entre religião e política que blinda esses ídolos do "movimento espírita".

No que se diz à liberdade de opinião, ela é louvável, mas existem contextos que devem ser representados. Por exemplo, na mídia de esquerda não se pode defender a venda da Petrobras ou de seu patrimônio para grupos estrangeiros nem a privatização das universidades públicas, por mais que se usem argumentos sólidos para isso. Da mesma forma que não dá para ser feminista defendendo o estupro, ainda que usando como pretexto o suposto "alívio" dos instintos agressivos dos homens.

No caso dos "médiuns espíritas", a coisa é mais complicada do que se imagina. A defesa não pode ser vista dentro de um suposto prisma "acima das ideologias". "Médiuns" defendem posturas e personagens que são antagônicos ao ideário de esquerda, defendem valores morais que entram em conflito com muitas agendas esquerdistas e ainda são blindados pela Rede Globo de Televisão, que adota os "médiuns" como contraponto aos pastores neopentecostais das concorrentes.

DEFESA DA DITADURA, APOLOGIA AO SOFRIMENTO, APOIO A POLÍTICOS DIREITISTAS

O "espiritismo" brasileiro se tornou notoriamente reacionário ao revelar o apoio, mesmo sutil, ao golpe político de 2016 e a seus personagens consequentes. Elogiou as passeatas de grupos como Movimento Brasil Livre atribuindo-lhes "inicio da regeneração" ("bandeira" dos "espíritas" relacionada ao "progresso da humanidade"), elogiou figuras como o tendencioso juiz Sérgio Moro e apoiou as reformas socialmente excludentes do governo Michel Temer.

Quanto aos personagens, houve quem, entre os "espíritas", apelasse para o famigerado refrão "vamos orar pelo novo governante para que ele prestasse atenção aos princípios cristãos", como geralmente faz quando autoridades conservadoras chegam ao poder. Mas o grosso do apoio a Michel Temer está no aumento de textos fazendo apologia às desgraças humanas, uma forma de incitar os brasileiros a aceitar o projeto político de Temer, que sinaliza para o fim de direitos sociais e trabalhistas.

Divaldo Franco homenageou o prefeito de São Paulo, João Dória Jr. no momento em que ele começava a ser execrado pela opinião pública, e permitiu que o tucano lançasse um composto alimentar de valor muito duvidoso, a "farinata", depois descartado após repercussão negativa. Apesar do lançamento oficial ter sido feito durante o Você e a Paz, de Divaldo Franco, evento e "médium" foram omitidos até pela imprensa de esquerda, sempre ávida em buscar informações mais delicadas.

Isso é uma grande gafe. Divaldo Franco e Você e a Paz apareceram, em crédito e logotipo, na camiseta de João Dória Jr., e nenhum jornalista de esquerda perguntou até que ponto o "médium" pode apoiar um político decadente, capaz de mandar reprimir com violência usuários de crack em vez de assisti-los e acordar moradores de rua com jatos d'água.

Em vez disso, a mídia esquerdista e a maioria dos internautas preferiu adotar a postura do "corno manso" que acha que a esposa "nunca iria lhe trair" saindo com os "priminhos". Tomados de wishful thinking, eles são levados a acreditar ingenuamente que Divaldo foi "usado" por João Dória Jr. no caso da farinata, algo que, observando bem, é absurdo.

Divaldo demonstra ter sido co-responsável, com Dória e o arcebispo dom Odilo Scherer, de promover a "ração humana" suspeita de ter matado, por intoxicação alimentar, vários internos de um sítio em Jarinu, no interior paulista. A "farinata" foi cancelada. Mas se a "farinata" fosse lançada no mercado e, oferecida aos alojados na Mansão do Caminho, matassem vários deles por intoxicação alimentar?

Sobre Divaldo Franco, o jornalista e estudioso espírita José Herculano Pires, em carta a um colega e amigo, fez revelações sobre o "médium" baiano que deixariam seus admiradores bastante chocados, sobretudo os setores das esquerdas complacentes ao religioso. Deve-se lembrar que Herculano era um jornalista exemplar, como tantos que rareiam na mídia hegemônica e que são mais comuns na mídia progressista:

"Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (...); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".

Mas o apoio de Divaldo a João Dória - depois outro "médium", João de Deus, sepultou o mito de "amigo de Lula" ao manifestar interesse em ver Sérgio Moro, o algoz do petista, presidente do Brasil - teve como precedente a entrevista de Francisco Cândido Xavier ao programa Pinga Fogo, da TV Tupi de São Paulo.

No programa, Chico Xavier deu vários sinais de seu conservadorismo extremo e seu catolicismo ortodoxo. Por isso, não dá para entender o apreço dos esquerdistas a ele, confundindo sua proposta de "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" com um projeto político do Partido dos Trabalhadores. O "médium" mineiro defendeu Collor em 1989 em detrimento de Lula e, ao morrer, em 2002, sinalizava um apoio sutil ao PSDB.

As declarações de Chico Xavier ofendendo operários, camponeses e sem-teto, reproduzindo o famoso reacionarismo histérico dos direitistas convictos, deveria ser martelado nas mentes dos esquerdistas que, no seu wishful thinking, acha que o "médium" mineiro andava de mãos dadas com o esquerdismo:

"Temos que convir (...) que os militares, em 3l de março de 1964, só deram o golpe para tomar o Poder Federal, atendendo a um apelo veemente, dramático, das famílias católicas brasileiras, tendo à frente os cardeais e os bispos. E, na verdade, com justa razão, ou melhor, com grande dose de patriotismo, porque o governo do Presidente João Goulart, de tendência francamente esquerdista, deixou instalar-se aqui no Brasil um verdadeiro caos, não só nos campos, onde as ligas camponesas (os “Sem Terra” de hoje), desrespeitando o direito sagrado da propriedade, invadiam e tomavam à força as fazendas do interior. Da mesma forma os “sem teto”, apoderavam-se das casas e edifícios desocupados, como, infelizmente, ainda se faz  hoje em dia, e ali ficavam, por tempo indeterminado. Faziam isto dirigidos e orientados pelos comunistas, que, tomando como exemplo a União Soviética e o Regime Cubano de Fidel Castro, queriam também criar aqui em nossa pátria a República do Proletariado, formada pelos trabalhadores dos campos e das cidades".

Não há como apelar para o wishful thinking e fingir que Chico foi "orientado" para dizer isso, que havia um "ponto" (espécie de fone de ouvido no qual algum apresentador ou entrevistado ouve um recado da produção de um programa em exibição na TV) dizendo o que ele deveria dizer etc.

Naquele momento, Chico estava sendo sincero no seu reacionarismo (nunca depois superado) que faz sentido em alguém nascido numa área rural da Grande BH - o então distrito de Santa Luzia, Pedro Leopoldo, hoje município - e de uma família conservadora. Para quem marcou sua trajetória defendendo a apologia ao sofrimento ("a pessoa deveria sofrer sem mostrar sofrimento, sem queixumes e orando em silêncio", resume-se o ideal de Chico Xavier), defender a ditadura faz sentido.

IMAGENS CONSTRUÍDAS PELA REDE GLOBO

Outro ponto que chama atenção é que o endeusamento dos "médiuns espíritas" segue uma narrativa oficial de "bondade", "humildade" e "amor ao próximo" que complementam uma imagem falsamente relacionada ao legado de Allan Kardec, imagem difundida oficialmente mas que é claramente desmentida pela comparação entre os livros do professor lionês e as obras dos "médiuns", cheias de conceitos anti-doutrinários e calcados no Catolicismo de heranças roustanguista e jesuíta-medieval.

As imagens tão glorificadas de suposto humanismo atribuída aos "médiuns", sobretudo Chico e Divaldo, foi uma narrativa adocicada montada pela Rede Globo de Televisão para concorrer com os pastores das seitas evangélicas consideradas "neopentecostais" (como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Internacional da Graça de Deus), evitando sua ascensão.

A Globo criou essa narrativa de forma a fazer com que os "médiuns" tenham uma aceitação "ecumênica" e "sem o propósito da religião", uma maneira de atrair seguidores para o "espiritismo", de modo a enfraquecer a adesão aos neopentecostais. Até hoje a Globo blinda os "médiuns espíritas" e já produziu ou patrocinou filmes dramatúrgicos ou documentários sobre Chico Xavier.

Essa imagem de "caridade" é conservadora e feita por apelos excessivamente emocionais. Ela é inspirada no que o jornalista, católico e de direita, Malcolm Muggeridge, fez para lançar o mito de Madre Teresa de Calcutá (na verdade uma desumana que deixou seus alojados em condições degradantes), "santa" católica que é muito comparada a Chico Xavier e é adotada com muito gosto pelos "espíritas".

Trata-se de uma "caridade" que, embora classificada como "assistência social", apresenta caraterísticas de Assistencialismo (pouca ajuda e mais festejo, garantindo a publicidade e a promoção pessoal dos "médiuns"). A "caridade" de Chico Xavier e Divaldo Franco, tão exaltada por muitos, na verdade é algo bem mais fajuto do que se divulga, e não difere muito dos "projetos sociais" que Luciano Huck (ele mesmo admirador de Chico Xavier) realiza no Caldeirão do Huck.

Portanto, há muitas e muitas provas que desmerecem o apreço dos esquerdistas aos "médiuns espíritas", figuras que se revelam tão conservadoras e retrógradas que até mesmo o wishful thinking se torna um meio frágil de sustentação, porque a imagem idealizada dos "médiuns" sempre visando qualidades agradáveis se choca com a realidade que mostra que eles têm pontos sombrios, aliás, gravemente sombrios. Quanta gente cairá da cama depois de tanta ilusão...

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