sábado, 9 de setembro de 2017

Imagem "dócil" dos "médiuns" impede que eles sejam investigados em irregularidades


O "espiritismo" não passa de um grande balé de palavras bonitas que escondem um conteúdo conservador. Uma embalagem bonita e aparentemente "limpa", mas que no seu interior esconde uma série de graves e terríveis contradições.

No Brasil, há o costume das pessoas julgarem o conteúdo pela embalagem. O jogo das aparências, sobretudo numa sociedade de hierarquias rígidas e desiguais, onde o "topo da pirâmide" fica com tudo e a "base", sem sequer o necessário, é defendido de maneira ferrenha, neurótica e extremamente apegada.

O "espiritismo" brasileiro fala tanto em desapego, mas é uma das religiões que mais sofrem de apegos muito doentios. É o caso dos supostos "médiuns", que se vê claramente deturpando o legado espírita original, mas pelos quais há um esforço obsessivo em mantê-los como representantes daquilo que justamente deturpam e traem com gosto, a Doutrina Espírita.

O Brasil é um dos países mais ignorantes do mundo. Talvez o mais, se levarmos em conta que pesquisas são apenas recortes de uma parcela da sociedade. A desinformação generalizada faz com que muitas pessoas, mesmo tidas como "esclarecidas" e "progressistas", aceitem gato por lebre e cultuem um "espiritismo" que nada tem a ver com o original francês.

O apego aos "médiuns" atinge níveis que são definidos, pela Ciência Espírita original, como processos obsessivos de "fascinação" e, em certos casos, de "subjugação", criando uma ilusão de "boas energias amorosas" que, diante da mais inofensiva contestação, se convertem em explosões de ódio, raiva e até violência.

É o que se vê em relação a Francisco Cândido Xavier e outros. A adoração cega, a "fascinação" e "subjugação" que eram alertados, com muita antecedência, por Allan Kardec e seus mensageiros, infelizmente é um vício do qual dificilmente sai das mentes de muitos deslumbrados, obsediados pela mística e pela magia que se associam aos supostos "médiuns" brasileiros.

Isso é muito terrível. A imagem dos "médiuns" brasileiros, que romperam com o caráter intermediário da função e vivem do culto à personalidade, se equipara à imagem das fadas-madrinhas dos contos de fadas infantis. O próprio entretenimento das "belas estórias", que existe nas palestras e textos "espíritas" em geral, remete a uma forma grosseiramente adulta do lazer de ouvir estórias infantis durante a infância.

Isso garante a imunidade e a impunidade dos "médiuns espíritas", que se tornam "imexíveis" como os políticos do PSDB, às vezes bem mais do que os chamados tucanos. Há casos de irregularidades em obras "mediúnicas", sejam livros, cartas e pinturas, e ninguém investiga, ou, quando se investiga, lembra o simulacro de investigação que remete a atividades recentes da Polícia Federal, do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal que promovem uma "justiça seletiva".

São irregularidades graves, que em país menos imperfeito dariam em acusações de falsidade ideológica e ofensa à memória de pessoas mortas. O baiano José Medrado cria um falso quadro de Cândido Portinari, intitulado "São Francisco de Assis", e o exibe como um troféu no seu programa na TV Bandeirantes, mas ele nem de longe lembra o "São Francisco de Assis" original que o pintor havia feito em 1941.

Mas os casos de Chico Xavier são notórios. O aberrante contraste estilístico que se observa em obras espirituais atribuídas aos espíritos de Humberto de Campos, Auta de Souza, Olavo Bilac, Casimiro de Abreu e tantos e tantos outros, mesmo não-famosos, em relação ao que eles eram em vida, é evidente. Imagine se a adorável poetisa Auta de Souza, no mundo espiritual, abriria mão de seu estilo feminino de lirismo infantil para "escrever" igualzinho ao "médium" que a recebeu?

Tudo isso daria cadeia, em países menos evoluídos. É charlatanismo puro, uma atitude que até Kardec reprovaria com energia. E não foi por falta de aviso que essa irregularidade ocorre livremente no Brasil, pois a contundente obra O Livro dos Médiuns já preveniu a humanidade da apropriação de nomes ilustres que tanto espíritos farsantes quanto supostos médiuns se utilizam para levar vantagem com o sensacionalismo e a mistificação.

Mas experimente iniciar alguma investigação. Lágrimas serão derramadas pelos seguidores dos "médiuns", que chorarão copiosamente só de imaginar vem um de seus adorados como réus num tribunal. A situação é preocupante, porque a obsessão reage com muita cegueira, mediante falácias como "perseguição ao trabalho do bem" a pessoas, que, na verdade, só ajudam muito, muito pouco.

Sejamos sinceros. Se os "médiuns" brasileiros tivessem realmente feito caridade, até pela pretensão de grandeza que se atribui a eles, o Brasil teria atingido níveis escandinavos de qualidade de vida, até porque se alega que a ajuda desses "filantropos" é "profunda e transformadora".

Mas a verdade é que isso é conversa para boi dormir e o que os "médiuns" fazem é mero Assistencialismo, uma caridade paliativa, pontual, sem enfrentamento real com os problemas da pobreza, uma medida que "não cura" a doença da miséria, apenas "alivia" sua dor. Além disso, o Assistencialismo se preocupa mais em promover o "benfeitor" às custas de uma "caridade" que só traz resultados medíocres para os mais necessitados.

Vergonhoso é ver que Chico Xavier fazia todo um espetáculo de ostentação, a níveis de espalhafato, em pomposas caravanas que só serviam para oferecer doações que se esgotavam em três semanas. Enquanto os mantimentos de um evento filantrópico se esgotavam das despensas das famílias carentes, ainda havia muita comemoração por aquele donativo praticado. Os resultados da "caridade" desaparecem, mas as comemorações continuam, em desrespeito ao sofrimento dos mais pobres.

Igualmente vergonhoso é ver que um fanático seguidor de Divaldo Franco, numa comunidade de ateísmo (?!) nas redes sociais, tenha insistido tanto em defender a risível imagem do suposto médium como "maior filantropo do país", quando dados concretos confirmam que ele não chegou a ajudar 1% da população de Salvador, quanto mais em níveis nacionais.

A teimosia do referido internauta, num meio em que a pós-verdade se dispõe de um exército de desculpas que promovem a supremacia do contrassenso sobre a coerência, tão comum nas redes sociais, revela a preocupação que se tem em definir a "bondade humana" apenas pelo rótulo da religião e pelo prestígio de ídolos religiosos. A miséria dos infortunados da sorte é só um detalhe.

É preciso haver mais questionamentos sobre o "espiritismo" brasileiro e que eles possam ultrapassar os limites da Internet, criando esforços para que até a grande imprensa seja, mesmo a contragosto, induzida a admitir os problemas que envolvem a doutrina igrejeira.

Se ao menos a chamada imprensa alternativa, sobretudo a mídia progressista, rompesse com a complacência obsessiva que envolve os "médiuns espíritas" - que, aliás, são protegidos da mídia mais reacionária, sobretudo as Organizações Globo - e resolvesse investigá-los, sem medo de fazer demolir, como castelos de areia, a imagem adocicada aos níveis das fadas-madrinhas, seria um belo esforço.

Afinal, enquanto as paixões religiosas inebriam as pessoas na Terra, acreditando que as mensagens fake atribuídas aos mortos mas vindos apenas das mentes dos "médiuns" são "autênticas" apenas porque mostram "lindas mensagens", nos planos espirituais os espíritos ficam assustados com as pernas-de-pau longas que a mentira "mediúnica" arruma para manter o status de "verdade absoluta".

A ilusão doentia dos "médiuns" imunes a tudo, até mesmo à coerência dos fatos, só foi possível porque as pessoas são desinformadas, se rendem fácil às tentações da paixão religiosa (tão inebriantes quanto as tentações do sensualismo) e são capazes de mentir a si mesmos dizendo que são "as mais esclarecidas e as mais realistas". Infelizes daqueles que estão presos nestas ilusões.

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