ANTIGOS VOLUMES DE HUMBERTO DE CAMPOS SÃO VENDIDOS NA INTERNET, MAS INEXISTEM EDIÇÕES NOVAS EM CATÁLOGO NAS LIVRARIAS.
Assim como a não publicação do livro O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, obra de jornalismo investigativo de Attila Paes Barreto, lançado em 1944, a obra original de Humberto de Campos, em que pese uma grande coleção lançada em 2014 mas já fora de catálogo, nunca teve uma reedição mais recente que colocasse o autor ao acesso do grande público nas livrarias brasileiras.
O livro de Attila Paes Barreto, sabemos, que explica várias irregularidades da atividade "mediúnica" de Francisco Cândido Xavier e traz os bastidores do processo judicial dos herdeiros de Humberto de Campos, numa linguagem que, para os padrões dos deslumbrados religiosos, soa agressiva, mas contém detalhes muito consistentes sobre o tema abordado, além de argumentos e explicações sobre fatos sombrios do "médium" mineiro.
Se um livro desses, de jornalismo investigativo, não tem sequer arquivo em PDF disponível na Internet, Chico Xavier, que foi uma espécie de Aécio Neves da religião brasileira (o próprio Aécio deu altos louvores ao conterrâneo na ocasião de sua morte, em 2002), tem livros sobre a risível "profecia da Data-Limite", cheia de erros de abordagem sociológica e geológica.
Publicações que evocam fantasias religiosas que protegem a reputação de um ídolo do gênero são, não apenas prioridade, mas exclusividade diante de outras que investigam seus aspectos sombrios. O Brasil não tem a vantagem do Primeiro Mundo, onde fenômenos como Madre Teresa de Calcutá e a Cientologia têm fartos documentos revelando seus aspectos irregulares e sombrios.
O Brasil é marcado por um profundo fanatismo religioso, aparentemente "inofensivo" porque apoiado por um aparato de belas imagens e belas palavras. A formação religiosa do Brasil é extremamente conservadora e apegada a fantasias associadas à mística da fé e apoiadas por relatos imaginários e sentimentais que exercem supremacia até sobre a realidade dos fatos, a lógica e o bom senso. A pós-verdade já existia no Brasil que mais aproveitou o legado do Catolicismo medieval até hoje.
Os defensores da tese da veracidade das supostas psicografias de Chico Xavier usam a falácia de que "certos aspectos escapam da razão humana", que definem como "materialista", tentando creditar o "misterioso" como se fosse "verídico". Houve até um simpatizante "não-espírita" que manifestou seu empenho de "lutar pela autenticidade do livro Parnaso de Além-Túmulo", como se fosse possível, em vez de provar autenticidade, "desejar autenticidade", querendo proteger um ídolo religioso.
O sujeito, Jorge Caetano Júnior, tentou alegar que um poema atribuído ao espírito de Casimiro de Abreu, "A Terra", apresentava "semelhanças indiscutíveis" em relação à obra original do poeta fluminense. No entanto, ele, para "provar" sua tese, usou apenas duas primeiras estrofes. Mas, na penúltima estrofe, aparecem versos que Casimiro nunca teria sido capaz de escrever e refletem claramente o pensamento pessoal de Chico Xavier:
"Sabe encontrar a ventura / Nesse jardim de pujanças, / E enche-se de esperanças / Para sofrer e lutar".
Não se deseja autenticidade. Autenticidade se prova e, se ela não existe, não é porque alguém gosta muito do farsante que irá defini-lo como honesto, e atribuir sua fraude como algo verídico. A ideia de "encher de esperanças para sofrer e lutar" nunca teria sido escrita por um poeta ultrarromântico, sendo tais ideias próprias da Teologia do Sofrimento, defendida por Chico Xavier que, arrivista, gostava botar suas ideias na "boca dos mortos" para forçar o apoio do grande público.
São esses pontos sombrios que se quer evitar no caso Humberto de Campos. O próprio Jorge Caetano parece saber, na sua esperteza, que não poderia levar a reprodução do poema até o fim, para evitar um flagrante. A dificuldade de trazer Humberto de Campos para as estantes das livrarias, complicando o acesso do grande público, sobretudo juvenil, à obra do autor maranhense, é um artifício para evitar que se identifiquem irregularidades na suposta obra espiritual que leva o mesmo nome.
Muitos jovens, em processo de aprendizado escolar e em desenvolvimento do intelecto, se limitam a ser "desviados", pela mídia do entretenimento, para a leitura de bobagens como os livros escritos por youtubers. Há o risco deles, em sua curiosidade, compararem os livros originais de Humberto de Campos com as obras "espirituais" e apontar irregularidades evidentes, que numa simples leitura saltam aos olhos.
As irregularidades são tão grandes que um leitor que conheça a obra original de Humberto de Campos dificilmente evitará o constrangimento após a leitura das supostas obras mediúnicas. A impressão que se tem, mediante tão grave disparidade, é que as obras mais lembram arremedos ruins do Novo Testamento do que qualquer obra do autor maranhense e antigo imortal da Academia Brasileira de Letras.
E essa manobra do mercado literário de, se não esconder, mas dificultar o acesso à obra original de Humberto de Campos, revela a covardia e a hipocrisia dos "espíritas" que querem evitar a leitura comparativa entre obras originais do escritor e supostas obras mediúnicas.
Além disso, isso revela também as relações de poder que estão por trás de um mercado literário, que protegem um ídolo religioso que publica obras fake mas que é blindado pela Rede Globo de Televisão (que produziu até filme biográfico, protagonizado pelo falecido Nelson Xavier), ela mesma também influente no seu poder e tráfico de influência no mercado editorial.
Dessa forma, prevalece a aberrante situação surreal de um escritor que não tem obras originais facilmente disponíveis no mercado, porque isso é feito para favorecer obras fake que só valem pelo conteúdo religioso, porque claramente estas escapam severamente do estilo original do escritor, com o agravante que as obras "psicográficas" são de qualidade literária muito inferior. Ver o público desvendando essa irregularidade irá contrariar interesses mercadológicos e comerciais em jogo.
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