quinta-feira, 11 de maio de 2017

Muito se fala no Jogo da Baleia Azul; e o jogo "espírita" de "Vencer a Si Mesmo"?


O "Correio Espírita" deste mês publicou uma matéria que define o Jogo da Baleia Azul como um "jogo assassino", preocupado com a onda de suicídios provocada pelo sombrio regulamento dessa brincadeira perigosa.

Sim, é inegável que o Jogo da Baleia Azul, um modismo nas redes sociais, esteja causando tantos suicídios pela forma com que é feito seu regulamento e pelo caráter macabro das tarefas a serem feitas. Mas isso é um assunto que vai além de moralismos religiosos e que não pode ser resolvido com a censura na Internet que grupos retrógrados pregam como uma falsa solução, que na verdade protege interesses ultraconservadores mais estratégicos.

O grande problema, porém, é que o próprio "espiritismo" brasileiro também mostra seu "Jogo da Baleia Azul", através de seus valores, cada vez mais identificados com a Teologia do Sofrimento.

Cada vez mais distante de Allan Kardec - nunca devidamente compreendido pelos seus proclamados seguidores oficiais no Brasil - , o "espiritismo" brasileiro, de raiz roustanguista, transmite energias macabras por conta de suas próprias contradições e pela sua desonestidade doutrinária.

A desonestidade doutrinária consiste em transmitir ideias roustanguistas sob o pretexto de "atualização" do legado kardeciano. A hipocrisia que isso significa faz com que "espíritas" deem o mesmo apreço a Erasto, que alertou para a deturpação no Espiritismo, e a Emmanuel, um dos propagadores da deturpação.

Só isso faz com que, em vez da espiritualidade mais evoluída, que foge, constrangida, dos aduladores religiosos da Terra, cheguem aos "espíritas" as almas mais traiçoeiras e levianas, os chamados espíritos inferiores.

As fotos antigas de Francisco Cândido Xavier revelam uma energia maligna. O semblante malicioso e o olhar agressivo explicam por que muitos devotos de Chico Xavier acabam perdendo seus filhos, como em uma maldição.

O anti-médium e beato de Pedro Leopoldo e Uberaba tinha fetiches por mortos prematuros, por achar exótico morrer jovem. A maioria dos espíritos usurpados pela suposta mediunidade de Xavier é de gente morta prematuramente: Castro Alves, Casimiro de Abreu, Humberto de Campos, Auta de Souza, Irma de Castro Rocha, Augusto dos Anjos, Cruz e Souza.

No fundo, Chico Xavier foi um católico de crenças bastante ortodoxas que preferiu fazer o Espiritismo andar para trás enquanto o Catolicismo, de gente como Alceu Amoroso Lima e Dom Hélder Câmara, caminhava para a frente.

Chico Xavier era adepto da Teologia do Sofrimento, corrente medieval católica que fazia apologia da desgraça humana como "atalho para Deus", e também fez o Espiritismo, no Brasil, se rebaixar a uma versão repaginada do Catolicismo jesuíta do Brasil colonial.

Daí os apelos para "amar o sofrimento", "abrir mão das próprias necessidades", "ficar feliz apenas por ter o ar que respira" (o que, em lugares como Rio de Janeiro e São Paulo, é difícil, pois nem isso se tem, sobretudo no Rio de fumantes arrogantemente inveterados), sobretudo a falácia de que "o pior inimigo é a própria pessoa", que soa como um punhal para o deserdado da sorte.

O próprio moralismo "espírita", com muitos conceitos estranhos ao legado de Allan Kardec, revela o quanto a doutrina igrejeira brasileira trocou o pedagogo francês pelo imperador romano e fundador do Catolicismo, Constantino.

A apologia ao sofrimento humano, que traz vibrações perigosas para quem faz tratamentos espirituais para resolver problemas e contrai outros ainda piores, faz com que o "espiritismo" tenha também seu "Jogo da Baleia Azul", o "Jogo do Vencer a Si Mesmo".

Como o "espiritismo" brasileiro, pelo seu DNA roustanguista, não aprecia a individualidade humana (confundida com egocentrismo), tanto faz apelar para a pessoa abrir mão de suas qualidades pessoais, e levar uma vida "qualquer nota", reduzindo-se a "boneco das circunstâncias" e "brinquedo das adversidades".

Alguns "espíritas" até tentam um malabarismo discursivo: "Não, nós apreciamos a individualidade, as vocações pessoais, os talentos próprios, mas existem mil formas de trabalhá-las. Sabe aquela empresa corrupta cujo patrão é prepotente? Mostre sua criatividade e promova a fraternidade cristã que todos vão gostar e o coração do seu chefe irá derreter". Como se fosse fácil fazer isso, tal como pedir para a guilhotina em queda não cortar o pescoço do condenado.

Os "espíritas", da mesma forma que confundem individualidade com individualismo, confundem desgraça com desafio. Isso revela um moralismo bastante severo, que acaba aceitando as condições que levam as pessoas ao suicídio, demonstrando a hipocrisia da doutrina igrejeira que, sob a desculpa da "vida futura", consente e até defende que pessoas fiquem acumulando desgraças e percam o controle de seu próprio destino.

A péssima psicologia que se encontra no apelo de "vencer a si mesmo" é até um discurso perigoso. Afinal, as apologias ao "carregamento da cruz cristã" e outros valores próprios da Teologia do Sofrimento só conseguem inspirar, no sofredor em aflição, o desejo de se exterminar. Ainda mais porque ele, no seu desespero, é informado de que é "seu pior inimigo" e aí ele, já com baixa autoestima, encontra mais estímulo para tirar sua própria vida.

Daí a contradição em que os "espíritas" se metem diante da criminalização do suicídio, quando seu moralismo apela para aceitar justamente os fatores que levam as pessoas a tirarem suas vidas. E ainda mais quando os mais aflitos, ao buscarem socorro para suas dificuldades extremas, contraem ainda mais e mais desgraças. Usar a "vida futura" para aceitar o sofrimento não resolve, até porque isso cria uma ânsia nos desesperados que cada vez mais são estimulados ao triste ato extremo.

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