domingo, 7 de maio de 2017

A falta de coerência dos "espíritas"


Há palestrantes "espíritas" que estufam o peito, forjam firmeza, em textos de palavras certeiras ou em oratórias de voz grave e dicção precisa, que se gabam em defender a "coerência espírita", falando em "verdade", "rigor de conduta" e outras coisas.

No entanto, são eles justamente os que traem aquilo que falam. Num momento, falam de Erasto e seus avisos contra os "inimigos internos" da Doutrina Espírita. Noutro, exaltam deturpadores severos como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco e suas pregações igrejistas pegajosas.

A "fase dúbia" que vigora há 40 anos no "movimento espírita", quando a crise da FEB fez parte dos roustanguistas (seguidores de Jean-Baptiste Roustaing) fingirem mudanças apenas para agradar espíritas autênticos como Herculano Pires e Deolindo Amorim, criando um engodo que mistura cientificismo e igrejismo, aponta uma série de contradições.

Isso coloca o "espiritismo" numa situação muito mais grave e delicada do que outras seitas religiosas, que têm lá suas fantasias e, no caso das seitas neopentecostais, uma concepção retrógrada da sociedade, como se quisesse transferir o Brasil de hoje para os tempos do Velho Testamento.

Mas nenhuma religião comete tantas contradições como o "espiritismo" brasileiro, que hoje paga o preço caro de, primeiro, optar pelo roustanguismo, para depois fingir recuperação das bases doutrinárias, sem abandonar o igrejismo roustanguista.

A coisa chega ao ponto de certos palestrantes capricharem na hipocrisia, criticando a "vaticanização do Espiritismo", falando que "não há espiritismos, mas um único Espiritismo, o de Kardec" e, no entanto, defendem ideias que são explicitamente roustanguistas.

Tem palestrante que critica até aquele "pretenso espírita" que continua adorando imagens de santos, reza terços demais e se comporta como um beato católico extremo, mas tem pressa de ler a obra de Kardec. "Esse cara, com toda a misericórdia que ele merece, não é espírita", diz o palestrante, se esquecendo que seu ídolo Chico Xavier teve justamente essas qualidades infelizes.

Os palestrantes "espíritas" falam da hipocrisia dos outros. Falam do argueiro dos que não concordam com "seu espiritismo" e com o "padre Kardec" que eles tanto acreditam. Não veem a trave de seus olhos, se esquecendo que as ideias que professam são do mais típico roustanguismo, com o mais tipico igrejismo, com a mais entusiasmada vaticanização.

Ah, quantos são os grileiros da razão, que ainda esperam serem chamados até de "filósofos". Acham que estão a poucos passos de Deus, e no seu balé de palavras bonitas inserem ideias contraditórias e sem nexo. Põem na conta de Allan Kardec, e, no seu "pendura" ideológico, os "espíritas" ainda se acham detentores de uma coerência que não tem.

Afinal, dizer uma coisa e dizer outra, dar o mesmo apreço a personalidades de ideias antagônicas, achar que só falar em "amor e fraternidade" pode equilibrar abordagens contraditórias e uma leviandade que os próprios "espíritas", na sua vaidade movida pelo prestígio religioso, ignoram completamente. Kardec ficaria envergonhado com seus "seguidores" brasileiros.

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