quarta-feira, 15 de março de 2017

Uma professora que "prega" a Teologia do Sofrimento igualzinho Chico Xavier


O sensacionalismo de Francisco Cândido Xavier, que rendeu um processo judicial que, por sorte, mostrou juízes pouco atentos à verdadeira natureza do problema - algo que não difere hoje, diante das atuações de um Sérgio Moro da vida - , além de ser brindado pela impunidade, ainda foi favorecido por diversas circunstâncias.

Uma delas foi o falecimento prematuro da anônima professora Irma de Castro Rocha, a Meimei, com apenas 24 anos, devido a grave doença. Seu marido, o ex-atleta Arnaldo Rocha, apaixonado pela mulher, acabou sendo seduzido pela fascinação obsessiva de Chico Xavier, a ponto de ter se tornado seu parceiro até o fim da vida do "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba.

Diante disso, vieram supostas mensagens de Meimei, algumas em livros inteiros. O habitual conteúdo igrejista, em que pese a alegada autora ter sido católica fervorosa em vida, mesmo assim não procede quanto à veracidade mediúnica, já que, diante dessa amostra que damos abaixo, o ensaio "A lenda da Caridade", presente no livro Seara de Fé, de 1981 (Editora IDE), a linguagem lembra bastante a de Chico Xavier.

As ideias também refletem o pensamento pessoal de Chico Xavier que, por mais glorificado e adorado que possa ser, não pode impor suas ideias pessoais para outros autores do além-túmulo. O pensamento de Chico Xavier não é universal, e nele se identificam valores claramente conservadores, não raro bastante retrógrados.

Observa-se que o texto atribuído a Meimei prega a Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica que teve em Chico Xavier seu devoto mais fervoroso, mais do que muito católico ortodoxo assumido. Até hoje nenhum "espírita" assumiu a opção da Teologia do Sofrimento, mas Chico Xavier mostrou em boa parte de sua obra ideias que se comprovam próprias dessa corrente, como se observa neste texto.

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A LENDA DA CARIDADE

Francisco Cândido Xavier - Seara de Fé - Atribuído a autores diversos, neste caso Irma de Castro, a Meimei

 Diz interessante lenda do Plano Espiritual que, a princípio, no mundo se espalham milhares de grupos humanos, nas extensas povoações da Terra.

 O Senhor endereçava incessantes mensagens de paz e bondadeàs criaturas, entretanto, a maioria de desgarrou no egoísmo e no orgulho.

 A crueldade agravava-se, o ódio explodia...

 Diligenciando solução ao problema, o Celeste Amigo chamou o Anjo Justiça que entrou, em campo e, de imediato, inventou o sofrimento.

 Os culpados passaram a resgatar, os próprios delitos, a preço de enormes padecimentos.

 O Senhor aprovou os métodos da Justiça que reconheceu indispensáveis ao equilíbrio da Lei, no entanto, desejava encontrar um caminho menos espinhoso para a transformação dos espíritos sediados na Terra, já que a dor deixava comumente um rescaldo de angústia a gerar novos e pesados conflitos.

 O Divino Companheiro solicitou concurso ao Anjo Verdade que estabeleceu, para logo, os princípios da advertência.

 Tribunas foram erguidas, por toda parte, e os estudiosos do relacionamento humano começaram a pregar sobre os efeitos doma ledo bem, compelindo os ouvintes à aceitação da realidade.

 Ainda assim, conquanto a excelência das lições propagadas repontavam dúvidas em torno dos ensinamentos de virtude, suscitando atrasos altamente prejudiciais aos mecanismos da elevação espiritual.

 O Senhor apoiou a execução dos planos ideados pelo Anjo da Verdade, observando que as multidões terrestres não deveriam viver ignorando o próprio destino.

 No entanto, a compadecer-se dos homens que necessitavam reforma íntima sem saberem disso, solicitou cooperação do Anjo do Amor, à busca de algum recurso que facilitasse a jornada dos seus tutelados para os Cimos da Vida.

O novo emissário criou a caridade e iniciou-se profundatransubstanciação de valores.

Nem todas as criaturas lhe admitiam o convite e permaneciam, na retaguarda, matriculados ns tarefas da Justiça e da Verdade, das quais hauriam a mudança benemérita, em mais longo prazo, mas todas aquelas criaturas que lhe atenderam as petições, passaram a ver e auxiliar doentes e obsessos, paralíticos e mutilados, cegos e infelizes, os largados à rua e os sem ninguém.

 O contato recíproco gerou precioso câmbio espiritual.

 Quantos conduziam alimento e agasalho, carinho e remédio para os companheiros infortunados recebiam deles, em troca, os dons da paciência e da compreensão, da tolerância e da humildade e, sem maiores obstáculos, descobriram a estrada para a convivência com os Céus.

 O Senhor louvou a caridade, nela reconhecendo o mais importante processo de orientação e sublimação, a benefício de quantos usufruem a escola da Terra.

Desde então, funcionam, no mundo, o sofrimento, podando as arestas dos companheiros revoltados: a doutrinação informando aos espíritos indecisos quanto às melhores sendas de ascensão às Bênçãos Divinas; e a caridade iluminando a quantos consagram ao amor pelos semelhantes, redimindo sentimentos e elevando almas, porque, acima de todas as forças que renovam os rumos da criatura, nos caminhos, humanos, a caridade é a  mais vigorosa, perante Deus, porque é a única que atravessa as barreiras da inteligência e alcança os domínios do coração.

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