EM SEU TEMPO, O FILÓSOFO SÓCRATES SE PASSAVA POR IGNORANTE. HOJE, MUITOS SE PASSAM POR SÁBIOS.
A ignorância dos brasileiros é preocupante. Não se trata daquela "ignorância poética", nem da "ignorância" estratégica do filósofo Sócrates, um dos intelectuais da Grécia Antiga. É aquela ignorância que nem a vaidade travestida de falsa modéstia de pessoas que se dizem sábias e se gabam de "estarem sempre aprendendo" consegue esconder.
Há uma grande confusão mental das pessoas. E isso atinge sobretudo pessoas com mais de 50 anos, grisalhas, com alguma grande experiência profissional, com filhos criados e netos nascidos, e que são justamente as que estão mais transtornadas, confusas, imaturas, imprudentes e, acima de tudo, inseguras com os tempos de hoje.
É bom deixar claro que esse cenário de "coroas" e "vovós" que pouco têm a nos ensinar é reflexo de um cenário social brasileiro que nunca foi definitivamente positivo ou edificante nos últimos 52 anos. Temos que ter paciência e admitir essa situação, até porque se nossos "grisalhos" são em maioria imaturos, é porque eles foram maus jovens há cerca de 45 anos, quando era praticamente proibido ter ideais de vida.
Era o cenário da ditadura militar, que revelou sua imprudência política e econômica e sua crueldade social. Que fez degradar o ensino básico e superior, fazendo com que os alunos da época, sobretudo secundaristas e universitários, fossem proibidos de ter projetos de vida senão a crua sobrevivência do processo bruto de ganhar dinheiro e ter família. Quase um robô social, um mero tijolo do edifício social do país.
Parece ofensivo dizer para alguém que senhores e senhoras de cerca de 60, 65 anos hoje são em maioria imaturos e inseguros. Mesmo para quem é mais jovem. "Meu pai, empresário tal, com tantos anos de experiência, não pode ser imaturo. Ele me ensinou muita coisa, ele é sábio com mais de 30 anos de estrada", brada um rapaz. "Minha mãe, advogada, sempre foi uma filósofa para minha vida", brada outro. Até os próprios "coroas" reagem segurando diplomas em suas mãos.
Na verdade, as crises que hoje ocorrem na humanidade se devem a "coroas" ineficientes que falharam ao conduzir as novas gerações. Eram pessoas que perderam a juventude na corrida frenética do dinheiro e pela hierarquia social que, quando atingiram seus objetivos, mostraram o vazio de suas personalidades que só pensaram em "sobreviver" e viviam a ilusão da "racionalidade excessiva".
Gente realmente sábia e segura da vida, com mais de 50 anos de idade, é coisa muito mais rara de se haver. Primeiro, porque quem poderia ser sábio foi castrado por uma realidade de trabalho desgastante. Segundo, porque quem ocupa os altos postos da pirâmide social são justamente incompetentes para transmitir alguma sabedoria e maturidade. Poucos que estão no lado médio da pirâmide restaram para transmitir conhecimentos e lições com alguma profundidade.
NINGUÉM SABE COISA ALGUMA
Ninguém sabe, na verdade, o que é sabedoria. Portanto, também não entende o rigor das leis nem o sentido de Filosofia. Nos tempos recentes, em que se viu uma performance confusa do Judiciário e do Ministério Público, com o uso seletivo, tendencioso e distorcido das leis, com um Sérgio Moro admitindo aceitar provas ilícitas para combater supostos corruptos, e tendo apelado para divulgar ilegalmente escutas telefônicas só para desmoralizar Lula e Dilma Rousseff.
Ninguém perguntou sobre provas contra Dilma Rousseff, acusada indevidamente de crime de responsabilidade. O ódio faz com que haja pessoas caluniando gratuitamente ela e seu antecessor Lula. Inventam-se crimes que nunca cometeram, a ponto de haver até uma piada que diz que os anti-petistas "acharam os criminosos e seguem procurando pelo crime".
Ninguém pergunta: existem documentos que confirmam isso ou aquilo? Em vez disso, a grande mídia, como a "admirável" Rede Globo e a "respeitável" revista Veja, fazem todo um exibicionismo do suposto triplex de Lula em Guarujá, toda uma cobertura sensacionalista que transformou, de graça, uma vaga suspeita em fato consumado, e a nossa "grande imprensa", que se diz tão zelosa com o "dever de informação", cometeu uma gafe estratosférica.
A Polícia Federal simplesmente constatou, no relatório, que Lula nunca foi dono do tal triplex e o máximo que ele fez foi apenas verificar o apartamento que apenas teve o interesse de comprar com seu salário, não com um suposto desvio de verbas públicas ou uma fortuna exorbitante. Mas Lula simplesmente desistiu de comprar o apartamento e mesmo assim virou "dono" do imóvel, avaliado num valor dez vezes menor que o imóvel dos donos da Rede Globo.
O imóvel referido é de responsabilidade da filha de João Roberto Marinho, principal executivo das Organizações Globo, que mantém com os irmãos José Roberto e Roberto Irineu. Os três são filhos de Roberto Marinho e já administravam a corporação quando o pai, ainda vivo, já estava doente e impossibilitado de conduzir os negócios. O apartamento, uma mansão localizada em Parati, ainda foi construído ilegalmente, em área de proteção ambiental.
EMOÇÃO SEM RACIOCÍNIO
Mas é esse o Brasil que transformou um plagiador de livros em "ícone máximo da bondade". Em sucessivos apelos à emoção, transforma-se um farsante em "espírito iluminado", e se forja um passaporte simbólico para o Paraíso, confiantes que o farsante transformado em ídolo religioso de máximo prestígio irá seguir direto para o reino dos puros sem precisar voltar para aprender algo na vida.
A cegueira emocional é muita, excessiva. Pessoas presas em suas convicções, mas tentando criar argumentos racionais aqui e ali para justificar interesses nada racionais. Pensa-se muito para criar um motivo para a estupidez, "filosofa-se" demais para sustentar pontos de vista dos mais ridículos, o que é motivo para muitas brigas na Internet, porque o insensato de ocasião quer sempre ficar com a palavra final, nem que seja criando blogues ofensivos para seus discordantes.
É por isso que muitas coisas não são resolvidas. Há um "Fla-Flu" ideológico em que os mais coerentes têm apenas um direito a se expressar, de preferência para plateias pequenas ou demandas minúsculas. Não têm direito à visibilidade plena, ou, se têm, são neutralizados pelas conveniências das situações, que favorecem outros com visibilidade ou prestígio maior.
Já quem é incoerente pode não ter tanto carisma quanto sonhava, mas, se perde a tão desejada unanimidade, sempre possui a visibilidade plena, o prestígio inabalável, a palavra final, e a prevalência oficial de seus pontos de vista. Pode ser vaiado com um certo barulho, que seu prestígio será sempre inabalável. Pode sumir de cena e voltar como se nada de ruim tivesse acontecido.
Isso cria complicações. Daí juristas corrompendo as leis, mas ficando nisso mesmo. Daí a grande mídia, mentindo e ficando nisso mesmo. Daí subcelebridades cometendo gafes, e ficando nisso mesmo. Daí Chico Xavier se apropriando indevidamente de Humberto de Campos, Auta de Souza e outros mortos, escrevendo da mente própria usando os nomes deles. E fica nisso mesmo.
O QUE NINGUÉM SABE É QUE NINGUÉM SABE
Ninguém busca a verdade, a coerência, a consistência, a autenticidade. E o sentido de Filosofia é dos mais anti-filosóficos que existem, vide o caso das palestras "filosóficas" que a turma da "data-limite", como Juliano Posati, Geraldo Lemos Neto e companhia, tentam fazer para explorar as pessoas.
"Filosofia", neste sentido tão comum, é uma masturbação retórica de assuntos abstratos, valores moralistas, delírios cósmicos e devaneios esotéricos, no qual a palavra "conhecimento" é usada e abusada sem que as pessoas realmente tenham conhecimento do que essa palavra significa.
Além disso, que busca de verdade é essa nesse matagal de palavras enfileiradas, bonitinhas, nesse processo tão confuso que foi consagrado desde que a impunidade premiou um caipira mineiro que plagiava livros, fazia pastiches literários e usava levianamente o nome de outrem para pura autopromoção, usando da falácia do Ad Passiones (apelo à emoção) para obter popularidade e, de forma arrivista, criar a ilusão de "pureza espiritual" para o deleite de seus seguidores.
Não se sabe o que é Filosofia no Brasil, poucos realmente compreendem o que é isso. Muitos cursos de Filosofia são pouco confiáveis, por esconder noções esotéricas, misticismo barato diante da interpretação malfeita de textos filosóficos autênticos. Mancha-se a abordagem filosófica com igrejismo, horóscopo, ufologia e moralismo para empurrar conceitos nada filosóficos como se fossem "lições de sabedoria plena".
Inversamente ao filósofo Sócrates, que fingia ignorância para contra-argumentar seus interlocutores, muitos brasileiros têm mania de dizerem que são "sábios" e mesmo quando apelam para Sócrates na imitação de sua pseudo-ignorância - falsos sábios também adoram dizer "o que sei é que nada sei" - revelam essa mania de pedantismo e falso saber.
É por causa disso que o Brasil sucumbe a retrocessos imensos, pois esse coquetel de dissimulação, pedantismo, arrogância, falsa modéstia, vaidade, fingimento, desculpas esfarrapadas, malabarismo discursivo e tantas outras manobras de falsidade e oportunismo só faz a sociedade ficar mais confusa, imatura, insegura. A boa aparência não esconde o mau conteúdo, embora tente salvar reputações. Só que o tempo mostrará que essas reputações salvas se tornarão inúteis para o progresso em geral.
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