domingo, 25 de fevereiro de 2018

Ideologia de gênero é mais espiritualista que homofobia "espírita"


OS CASAIS LGBT PAULO GUSTAVO E THALES BRETAS, DANIELA MERCURY E MALU VERÇOSA E FERNANDA GENTIL E PRISCILA MONTANDON.

Extremamente infeliz o comentário de Divaldo Franco, que manifestou sua homofobia radical durante um "congresso espírita" de Goiania, numa entrevista coletiva ao lado do juiz Haroldo Dutra Dias. Divaldo chamou a ideologia de gênero de "imoralidade ímpar" e falou num tom de reacionarismo ranzinza que derrubou a figura melíflua e sempre sorridente que aparecia nas fotos.

No entanto, a postura de Divaldo Franco condiz à corrente hegemônica no "movimento espírita", a dos "místicos", que cada vez mais levaram o Espiritismo para o abismo do igrejismo, ainda que à custa de bajulações tendenciosas à figura do precursor Allan Kardec, muito bajulado e pouco estudado.

Seja Francisco Cândido Xavier, Divaldo Pereira Franco, João Teixeira de Farias - o João de Deus - e outros "médiuns" ou palestrantes (estes sob o ofício de juristas, advogados, funcionários públicos etc) que expressam algum igrejismo de raiz roustanguista, ter posturas reacionárias como a homofobia, o elogio às manifestações do "Fora Dilma" e a exaltação a figuras reacionárias como o juiz Sérgio Moro, não podem ser vistos como aspectos pontuais entre os "espíritas místicos".

Lembremos de Chico Xavier, para prevenir do risco de um Fla X Flu "espírita" admitir que Divaldo é reacionário, mas sugerir que "Chico não pensaria assim, ele pelo menos era progressista". Engano. Chico Xavier também foi muito reacionário, defendeu a ditadura militar na sua pior fase e ele mesmo manifestou sua homofobia, definindo o homossexualismo como "confusão mental das pessoas encarnadas".

MATERIALISMO

O que poucos percebem é que as justificativas que os "espíritas" como Divaldo e o periódico "Correio Espírita" se utilizam para condenar a ideologia de gênero - como se chama a ideologia que abraça a causa LGBT, embora também seja simpatizante de causas feministas, por exemplo - é comprovadamente materialista.

O "Correio Espírita" descreve o homossexualismo como uma "desistência" de espíritos encarnados cumprirem uma missão carnal através de uma opção sexual, desafiando a condição biológica original. Já Divaldo Franco descreve a ideologia de gênero como "alucinação", aludindo a crianças que não sabem discernir e veem os órgãos genitais como "desconhecidos".

Só que essas abordagens são puramente materialistas. Elas levam mais em conta o aspecto físico, se esquecendo que, em muitos casos, relações homossexuais podem ter mais amor do que muitas relações heterossexuais que mais parecem operações bélicas ou acordos mercantis celebrados nos altares das igrejas, muitos casos movidas por interesses mesquinhos e até desumanos.

A ideologia de gênero, portanto, permite relações espiritualizadas. Casos como o do ator Paulo Gustavo - que convence no papel feminino de Dona Hermínia na sua criação Minha Mãe é uma Peça - , casado com o dermatologista Thales Bretas, a cantora baiana Daniela Mercury e sua esposa jornalista Malu Verçosa e as namoradas e jornalistas esportivas Fernanda Gentil e Priscila Montandon.

Daniela e Fernanda tiveram experiência com relacionamentos com maridos. As relações terminaram amigavelmente e cada uma resolveu assumir relação com outra mulher. Nota-se nos dois casos, assim como no de Paulo Gustavo com seu marido, que as relações são marcadas pelo respeito humano e pelo amor, sendo portanto uma sintonia espiritual mais ativa do que, por exemplo, a do presidente Michel Temer com sua jovem esposa Marcela, claramente um "casamento por conveniência".

As relações homossexuais são muitas vezes movidas pela liberdade de escolha do que casamentos heterossexuais movidos pelo jogo de interesses ou por aspectos pontuais, porque nestes a escolha é de natureza material, e não espiritual, constituindo no convívio conjugal de pessoas que não se amam, visando alguma vantagem financeira, social ou mesmo superestimando pequenos fetiches sexuais.

E quantos casais homossexuais se formam porque as relações heterossexuais ou foram fracassadas ou simplesmente não aconteceram. Nos EUA, a atriz de Top Gun, Kelly McGillis, que havia sido vítima de estupro e passou por dois casamentos fracassados com homens, encontrou a felicidade quando se casou com uma garçonete que conheceu quando esta trabalhava no restaurante administrado pela outra. A causa LGBT tende a ter mais humanismo do que tudo que se diz de Divaldo Franco.

A hipocrisia do "espiritismo" brasileiro então se revela quando eles, ao condenarem o aborto, achassem mais preferível que a estuprada se casasse com o estuprador, visando os princípios da "Lei de Causa e Efeito". Que espiritualismo teremos que esperar numa religião que prefere que estuprador e estuprada se casem, vivendo o resto da vida em conflitos, do que pessoas do mesmo sexo que se apaixonam e se sentem muito bem formando um casal?

Com isso, os "espíritas" dessa linha igrejeira de Chico Xavier, Divaldo Franco e afins comprovaram seu reacionarismo de caráter puramente materialista, na qual se preocupam mais com a formação corporal das pessoas do que com as opções espirituais. Com isso, a preocupação com a evolução do espírito está em segundo plano, na medida em que o espírito terá que viver e encarnação como um castigo, aceitando as imposições da matéria, sem poder intervi-la para viver melhor.

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