quarta-feira, 8 de abril de 2015

Profissão Repórter tenta renovar mitos e clichês do "espiritismo"

 

Infelizmente, o "movimento espírita" brasileiro, com todas as suas irregularidades e todo o repertório ideológico, dogmático e ritualístico herdado do Catolicismo português, por sua vez de influência medieval, continua persistindo a qualquer preço, apesar da crise.

O Profissão Repórter de ontem foi mais um exemplo da exploração dos mesmos clichês do "espiritismo" brasileiro, e, em que pese o programa se comprometer com a honestidade jornalística, embora seja transmitido pela Rede Globo famosa por suas artimanhas midiáticas, é impossível a equipe de Caco Barcellos não penetrar na área do sensacionalismo.

A exploração que os espíritas fazem do sofrimento das famílias que perderam seus filhos, o exibicionismo dessas angústias, transformando em sensacionalismo os prantos das mães, pais, tios e outros parentes que perderam gente ainda jovem, acontece em nível assustador.

A exploração dos dramas familiares acaba impedindo que elas sofram discretamente suas angústias, já que redimensiona o sofrimento e o realimenta para um exotismo que vira propaganda de "centros espíritas" e transforma médiuns em anti-médiuns, porque eles passam a ser o "centro das atenções", não mais intermediários do contato entre vivos e mortos.

Eles acabam transformando as tragédias juvenis em exotismo, em sensacionalismo quase sensual, transformando pessoas que morrem jovens em fetiches e se autopromovendo às custas das lágrimas dos parentes saudosos. Essa exploração da tristeza humana mostra uma crueldade travestida de bondade, que é praxe no chamado "movimento espírita" brasileiro.


O "metodo Chico Xavier" acaba imperando, o que transforma o "centro espírita" numa grife de "psicografias", todas elas sendo feitas de maneira duvidosa, apresentando quase sempre a caligrafia do suposto médium respectivo e expressando a mesma mensagem de apelo religioso.

Procedimentos de bastidores como recolher informações de familiares em consultas ou mesmo em contatos informais, processos subestimados pelos pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora, fazem com que quase todas as supostas psicografias, de cunho bastante irregular, fossem tidas como "verídicas" e "autênticas".

Existe até uma piada, entre os contestadores do "movimento espírita", em que a autenticidade da mensagem supostamente psicográfica é medida não pelos aspectos pessoais, mas pelo apelo religioso e sentimentalista de seu texto. "Começou com 'querida mamãe', nem precisa ler, põe a carta como autêntica", diz a piada.

O que acontece nos "centros espíritas" é que os supostos médiuns acabam obsediando os jovens falecidos, e, num processo de falsidade ideológica, se passando por eles. Dupla ofensa à memória dos falecidos, uma profanação que nenhum pretexto de "caridade" justifica.

Primeiro, a perturbação do sossego espiritual, cobrando dos falecidos um depoimento que, na verdade, eles nem dão. Segundo, a pretensão de inventar um depoimento, já que o espírito não se encoraja a dar sua mensagem, por motivos diversos. Terceiro, é o apego forçado que os "médiuns" impõem a esses espíritos, que não eram necessariamente religiosos, a uma mensagem igrejista.

E por que não se justifica a caridade com isso? É porque expõe os prantos dos familiares, transforma os dramas pessoais em ostentação. Perturba o sossego dos vivos e dos mortos, transforma a tragédia humana num sensacionalismo, e permite que mensagens apócrifas sejam lançadas e tidas como "verídicas" quando na verdade não são.

É até surpreendente como acadêmicos que analisam as atividades do "movimento espírita", como Alexander Moreira Almeida e Jorge Cecílio Daher Jr., tentem apresentar um semblante de seriedade quando adotam métodos de pesquisa falhos cujo único objetivo é salvar a reputação do duvidoso Francisco Cândido Xavier.

Isso porque o processo de mediunidade no Brasil é irregular, cheio de mistificações, fraudes, procedimentos sinistros e estranhos. Não existe um trabalho de pesquisa e estudo da Ciência Espírita, em vez de se subordinar à realidade lógica da ciência, é a Ciência que precisa se ajoelhar às mistificações e fraudes ocorridas no "espiritismo" brasileiro.

O programa Profissão Repórter mostra o depoimento de Alexander Moreira, sobre as supostas psicografias, e ele põe a "brasa para sua sardinha", alegando que 98% das "psicografias" de Chico Xavier são "verídicas", o que não procede.

Isso porque há falhas diversas em seus métodos e procedimentos, deixando passar uma contradição grave que, com exclusividade, analisamos aqui com o caso Jair Presente, analisando aberrações que em nenhum modo permitiriam considerar que suas supostas mensagens espirituais fossem verídicas, como pensam os acadêmicos "espíritas" da UFJF.

Além desse depoimento, a equipe de Caco Barcellos mostra também casos de supostas curas espirituais em Goiás e no ABC paulista, mostrando os mesmos clichês do caso Dr. Adolph Fritz, com as mesmas práticas de usar tesoura e faca sem qualquer cuidado de esterilização e fazer uma suposta cirurgia em poucos minutos, através de métodos duvidosos.

O programa acaba legitimando práticas mediúnicas feitas com total desconhecimento da Ciência Espírita, se valendo da "tradição" religiosa conservadora ainda dominante em nosso país, que prefere apostar no ocultismo, no sobrenatural e no surreal, como se eles desafiassem a compreensão humana e a ciência dos homens da Terra.

Grande equívoco. Não são essas práticas que desafiam a compreensão humana e a ciência da Terra. A compreensão humana e a científica é que têm medo de verificar as irregularidades que existem nessas práticas que tentam se acobertar sob o manto da fé para "justificar" sua falta de lógica e bom senso.

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