domingo, 12 de abril de 2015

Por que Fernando Collor foi mais espiritualmente favorecido que Juscelino Kubitschek?


Dias atrás, foram publicados aqui textos sobre as sinas dos ex-presidentes do Brasil, Juscelino Kubitschek de Oliveira e Fernando Collor de Mello, criando dois pesos e duas medidas em favor justamente ao pior dos dois.

Juscelino Kubitschek, político moderado, de muitas realizações e uma inclinação progressista mesmo dentro do contexto do conservador PSD, era amigo de Francisco Cândido Xavier, a quem tratava com solidariedade, respeito e consideração, e declarou a Federação "Espírita" Brasileira entidade de "utilidade pública".

Todo esse empenho em favor da FEB e de Chico Xavier, no entanto, rendeu muito azar a Juscelino. Ele foi um dos primeiros políticos cassados pelo AI-1 da ditadura militar, perdeu para sempre a chance de ser novamente presidente e começar o mandato na Brasília que inaugurou, e também perdeu a chance de ser membro da Academia Brasileira de Letras.

Além disso, ele teve o infortúnio de sofrer um estranho acidente de carro, em condições pouco prováveis para tanto, do qual faleceu junto a seu motorista. As más energias também fizeram a sua filha biológica, Márcia Kubitschek, adoecer e abreviar sua vida, aos 56 anos, em 2000.

Já Fernando Collor parece que ganhou a "sorte grande", e ele nem se dedicou tanto a Chico Xavier. Mas ao que parece Collor era o tipo de político que teria agradado Emmanuel, porque, envolvido em um sério esquema de corrupção, com prováveis desdobramentos com o crime organizado, passou por cima de todos os obstáculos e hoje exerce o cargo de senador da República.

Collor era amigo de um grupo de playboys que se envolveram no assassinato de uma criança, Ana Lídia, em 1973. Ele provavelmente não participou do crime, mas outros filhos de políticos, sobretudo Alfredo Buzaid Filho, o Buzaidinho, morto em um acidente de carro em 1975, óbito que só foi confirmado 11 anos depois. Ele teria decidido por tirar a vida da menina, que, segundo católicos, teria influenciado alguns milagres anos depois.

O filho de Arnon de Mello (que, numa discussão armada contra um desafeto político, assassinou, em 1963, outro parlamentar que queria apartar a briga) e Leda Collor (filha do ex-ministro de Getúlio Vargas, Lindolfo Collor), que militaram no IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), entidade financiada pela CIA para declarar "cientificamente" a "falência" do governo João Goulart, pretexto para defender o golpe militar de 1964.

Fernando Collor foi político da ARENA e tornou-se "coronel" midiático de Alagoas. Apesar de carioca, Collor adotou o Estado nordestino como seu domicílio político. E construiu sua ascensão política nacional sob a ajuda dos conservadores periódicos paulistas Veja e Folha de São Paulo.

Os dois periódicos plantaram a imagem um tanto falsa de "caçador de marajás", mito criado pela suposta iniciativa de Collor combater a corrupção de funcionários públicos acusados de enriquecimento ilícito.

A Rede Globo ampliou o mito e o fez eleger presidente da República numa campanha sórdida em que, no primeiro turno, o incompetente Collor faltava aos debates e, no segundo turno, ele era manipulado pela rede televisiva para ser o "favorito", em noticiários fraudulentos e através de um factoide que desfavoreceu o rival Luís Inácio Lula da Silva.

Collor realizou um governo medíocre, confiscando as poupanças dos brasileiros, enfraquecendo a economia nacional, estrangulando os salários dos trabalhadores, ameaçando privatizar o ensino superior público, favorecendo empreiteiros, depredando a cultura nacional, causando a merecida indignação nacional.

Tendenciosismos à parte da UNE (que vivia má fase) e da Rede Globo (que "influenciou" as passetas exibindo uma minissérie sobre movimentos estudantis de 1968), Collor foi merecidamente expulso do poder, no final de 1992, proibido de exercer direitos políticos por oito anos.

Só que, depois de 2000, Fernando Collor de repente foi reabilitado. Foi apoiado pela revista Isto É na sua campanha de volta ao Senado (só anos depois a revista passou a se opor a ele). É sempre tido como "mal menor" nas queixas sobre corrupção. Conquistou a confiança de desafetos, incluindo o próprio Lula e o antigo líder do "Fora Collor", Lindbergh Farias.

As "boas energias" envolveram até mesmo os ídolos neo-bregas (ídolos de qualidade duvidosa do "pagode romântico" e "sertanejo"), que hoje tentam se passar por "grandes nomes da MPB" gravando covers oportunistas que camuflam o péssimo repertório autoral que gravam até hoje.

E se a "urucubaca" vitimou até um José Wilker que interpretou Juscelino Kubitschek na TV, morto depois dele, que era ateu, consultar um "centro espírita", a "sorte grande" beneficiou um Guilherme de Pádua, que matou a atriz Daniella Perez no dia do impeachment collorido. De Pádua foi recentemente promovido a uma subcelebridade do crime, atração do circo sensacionalista de nossa decadente televisão.

POR QUE ISSO OCORREU?

Isso é muito, muito estranho. Por que um político considerado generoso, simpático e alegre, como Juscelino, famoso por seus sorrisos largos, um político tolerante, paciente e conciliador, que agiu com bondade ao "movimento espírita", foi vitimado pelo azar e pelos infortúnios que o levaram à morte?

O próprio Juscelino teria sido um modelo de líder político, se a ridícula "profecia" de Chico Xavier tivesse sido realmente algo sério, se valesse mesmo a sua fantasiosa tese de um Brasil destinado a liderar "de qualquer maneira" a comunidade das nações do planeta.

No entanto, por que será que Fernando Collor, um "aventureiro" político, um demagogo da pior espécie, um fanfarrão com discurso pedante, que havia plagiado um texto de José Guilherme Merquior, certa vez, é agora apoiado até mesmo por setores das esquerdas e visto também pela mídia de direita como tendo sido um "corrupto menor"?

Collor viu seus obstáculos ruírem. Perdeu dois irmãos que depuseram sobre o esquema de corrupção do seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias. O próprio PC foi assassinado e as provas do crime foram perdidas porque o local onde ele e a namorada Suzana Marcolino foram encontrados mortos tiveram seus vestígios apagados por um trabalho de limpeza.

Isso realmente é muito estranho. E, recentemente, Collor tentou "fazer bonito" num discurso no Senado Federal condenando o Poder Judiciário que abriu investigações sobre o envolvimento do senador no esquema de corrupção da Petrobras.

Que "boas energias" são essas que o "espiritismo" transmite? Por que o caridoso Juscelino, apto para trabalhar pelo progresso do país, foi vítima de tantos infortúnios os quais não pode sequer evitar com seu habitual jogo de cintura?

E por que o fanfarrão político Collor, que nunca foi um político competente e, como senador, é um completo desastre, limitado a um orador temperamental e pseudo-legalista, tem sempre as circunstâncias a seu favor, a ponto de haver até quem sentisse saudade de vê-lo presidente da República.

Ninguém diz que os anos 1990 no Brasil foram os "anos dourados", mas a julgar pelo conjunto de valores trazidos por essa época de fisiologismo político, imbecilização cultural e degradação sócio-econômica, há quem julgue que a Era Collor teria sido uma "era de ouro" para a sociedade brasileira. Tese absurda, mas há quem acredite nisso, não sem entusiasmo ou euforia.

Collor e seu legado, assim como o "espírito" de seu tempo, foram favorecidos por um astral que se afina com os desígnios do "espiritismo" brasileiro, sem falar que o "marajá das Alagoas" que presidiu o Brasil entre 1990 e 1992 se encaixava perfeitamente nos padrões políticos desejados pelo traiçoeiro jesuíta Emmanuel.

Isso mostra o quanto nosso "espiritismo" é irregular. O próprio "espiritismo", que aprisiona os ideais de amor e fraternidade nas retóricas maçantes de letras "desencarnadas", influi nos retrocessos que o Brasil vive. A religião acaba favorecendo mais os retrógrados do que os avançados, pelo rol de irregularidades, entre fraudes e ideais conservadores que desenvolve em sua doutrina.

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