sábado, 4 de abril de 2015

Artigo critica "profecia" da "Data-Limite", mas se apega a mito de Chico Xavier


Um artigo publicado no blogue Da Terra para as Estrelas se empenha em contestar o tendenciosismo do documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, mas mantém uma postura ingênua sobre a Doutrina Espírita e um certo apego ao mito de Francisco Cândido Xavier, embora condenasse os "exageros" dos chiquistas mais exaltados.

O texto, de Rayanne Mendes, acerta quando critica o pseudo-cientificismo do documentário e de outras manifestações de cunho esotérico e ufologista, questionando a "previsão" de que os "irmãos de outro planeta" apresentarão "novas tecnologias" hoje inimagináveis "sob a permissão de Jesus".

O texto não poupa críticas a Geraldo Lemos Neto, que aparentemente se apropriou de uma conversa com Chico Xavier para divulgar sua suposta profecia. A autora do texto acrescenta que quase não são usados registros com o anti-médium mineiro expondo as ideias atribuídas a ele.

O maior erro, porém, é que a autora ainda se apega ao mito de Chico Xavier e não estabelece discernimento entre o Espiritismo de Allan Kardec e a sua forma deturpada feita no Brasil. Para Rayanne, tudo é "espiritismo" e "ciência", mesmo quando ela reprova a exploração fatalista do documentário.

Há ainda um melindre em relação a Chico Xavier, um apego exagerado a seu mito, de qualquer maneira. Há uma obsessão violenta por parte dele, como se ele tivesse sido "mais espírita" que Allan Kardec. E redirecionam o mito chiquista de um lado para outro, mas sempre mantendo ele no seu pedestal.

Essa obsessão varia conforme as pessoas. Há quem queira ver Chico Xavier um santo e alega até que viu sua estátua junto ao seu mausoléu "chorar". Há quem queira ver Chico Xavier um profeta, um conselheiro sentimental, um psicólogo, um cientista, e há quem queira ver Chico Xavier discípulo de Allan Kardec, algo que o anti-médium mineiro nunca foi, em nenhum momento.

Esse é o problema do referido texto, e talvez um certo medo de analisar as coisas. O título dá a crer que o texto tenta lançar a "verdade" sobre o tendencioso documentário, mas só lança perguntas. É mais um texto hesitante, que acerta ao questionar, mas não lança a tal "verdade" prometida.

Além disso, o texto peca pelo apego ao mito de Chico Xavier, dentro de uma corrente que não apela para "falsas interpretações" e acredita que só se deve venerar o anti-médium pela "exatidão" de suas palavras. E duvida do suposto profetismo, mesmo quando ele corrobora um desejo do anti-médium de ver o Brasil "a nação mais poderosa do mundo".

Pois a suposta profecia de "Data-Limite" já era anunciada no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. É até surpreendente que ninguém gosta de ver outros interpretando "mal" as palavras de Chico Xavier, mas aceita confortavelmente que ele escreva livros botando na responsabilidade de autores do além, no caso o coitado do Humberto de Campos que também morreu e não está aqui para reclamar.

Pois uma pesquisa de conteúdo, a mais cautelosa, criteriosa e imparcial, mas sempre prestando atenção a detalhes de estilo, saberá muito bem que Humberto de Campos seria incapaz de escrever os livros que se atribuem ao seu espírito. A diferença de estilo, de forma e conteúdo dos livros do "espírito Humberto" e dos que o autor escreveu em vida é gritante.

Isso não passa pela cabeça dos chiquistas ou mesmo de críticos dos "deslizes espíritas" de vários níveis, dos febianos aos leitores de José Herculano Pires. Ainda há o cuidado de tornar Chico Xavier intocável, mesmo com os erros que ele cometeu, que não foram poucos e alguns eram bem graves.

Não bastassem os erros como deturpar a Doutrina Espírita, pegar carona no sofrimento dos familiares dos mortos e estimular a falsa mediunidade, Chico Xavier causou muita confusão e muitos desentendimentos, por causa dos sérios problemas que causou.

Ele mais desuniu que uniu e muitas ideias equivocadas, como a glamourização do sofrimento, foram lançadas pela própria mente de Chico Xavier, tido como "incapaz" de ferir alguém com palavras. Ele é o único que pôde errar sem ser responsável pelos próprios erros.

Chico Xavier virou uma espécie de Luís Inácio Lula da Silva ao avesso, já que o ex-presidente costuma "apanhar" até pelas suas virtudes. Lula é condenado até pelo que acertou, enquanto Chico Xavier é inocentado até dos erros que comprovadamente ele cometeu.

E isso faz com que muitos se apeguem ao mito de Chico Xavier e seu estereótipo de "bom velhinho". O Brasil se mantém prisioneiro na corrente do sentimentalismo religioso, apegado a Chico Xavier como alguém que se apega a um simples vaso de porcelana.

Esse mito é explorado de certas maneiras, seja o Chico Xavier "católico", seja o "profeta", seja o "cientista", seja o "kardecista", mas em tudo isso há a obsessão comum de se apegar ao seu estereótipo. Todos estão acorrentados em torno do mito do anti-médium mineiro.

As pessoas desunidas em divergências, seja Rayanne Mendes ou Geraldo Lemos Neto, acabam unidas na obsessão por Chico Xavier e no seu apego da imagem materialista do velhinho frágil, na esperança de idealizar nele uma "superioridade espiritual" que nunca existiu mas que se apoia nos estereótipos que cada um tem sobre humildade, devoção, simplicidade e outros estigmas.

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