quarta-feira, 15 de abril de 2015

A questão do fundamentalismo ou da intolerância


Muitos "espíritas" andam chocados com o crescimento de críticas à sua doutrina na Internet. O pavor é imenso e as reações variam do pesar silencioso à raiva rancorosa de quem se julgava incapaz de tal sentimento.

A tentativa de crescimento do "espiritismo" brasileiro, no vácuo deixado pelo desgaste do Catolicismo e dos escândalos que atingem as seitas ditas "evangélicas", junto aos barões da grande mídia - como são conhecidos popularmente os empresários dos veículos mais poderosos de rádio, TV e imprensa escrita e digital - , é atropelada por uma enxurrada de questionamentos severos.

Um conhecido pregador "espírita" tentou desqualificar esses questionamentos como se fossem de "intolerância religiosa", afirmando que ele e seus pares seguem fielmente a coerência na Doutrina Espírita, fiéis a Allan Kardec no que define como "renovação do ser humano".

Confuso, o pregador tenta misturar conceitos igrejistas com o cientificismo de Allan Kardec, e fala em "coerência de comportamento" em relação a uma doutrina que comete mil incoerências, que tenta não se responsabilizar pelos erros de "pseudoespíritas" ou "pseudomédiuns" quando tudo isso vem desde as "altas decisões" da Federação "Espírita" Brasileira.

Todos os erros são cometidos, vários deles graves e vindos de gente "ilibada" e "íntegra". Indícios de fraudes surgem associados a Chico Xavier e Divaldo Franco e que são devidamente comprovadas pelo raciocínio lógico, e não por manifestações agressivas de rancor e intolerância religiosa.

O "espiritismo" brasileiro, que se julga "fiel" a Allan Kardec e aos ensinamentos contidos sobretudo em O Livro dos Espíritos, praticou as piores traições ao pensamento e às recomendações do professor lionês, vindas da cúpula, vindas de representantes nacionais ou regionais, de líderes e discípulos, apoiadas por Chico Xavier e tudo.

Investigam-se uma série de irregularidades e os líderes "espíritas" se perdem, querendo jogar a culpa para terceiros, defendendo os "verdadeiros espíritas" que no fundo também fizeram erros grotescos, mas que o status quo e a reputação atingida entre os homens da Terra permite sejam inocentados até de seus mais sérios delitos.

As crises que o "espiritismo" passou e passa correspondem a seus dois maiores e piores erros: a deturpação da Doutrina Espírita por conceitos vindos do Catolicismo de herança portuguesa e medieval, e o desconhecimento das práticas mediúnicas, pela falta de estudos e pelo preço determinado pelo afastamento do rigor científico de Kardec.

Evidentemente, seus "líderes", com suas palavras dóceis, com seu coitadismo e vitimismo, tentam dizer que o "espiritismo" sofre "perseguição", por causa de seu trabalho de "renovação moral" e "ação pelo bem", mas sabe-se que isso é um acalanto para boi dormir.

Não cometemos intolerância religiosa, como os críticos do "espiritismo" não cometem, mas sim a intolerância a uma série de práticas, visões, crenças e métodos que traem qualquer tipo de coerência lógica, que vão contra os princípios de transparência, de realismo, de racional. Tudo é feito sob o manto da fé cega que se diz "raciocinada" e mais parece uma fé sem razão que se acha com razão para tudo.

O grande risco, numa situação dessas, não é a intolerância religiosa, que não pode ser confundida com a intolerância ao absurdo, ao surreal e ao fraudulento, que é o que se queixa do "movimento espírita", mas o risco dos "espíritas" partirem para desenvolver seu fundamentalismo.

O "espiritismo", aliás, se atola em uma série de incoerências, e isso não é obra de uns e outros membros mais falhos, mas através de um princípio único, vindo desde a apreciação de Jean-Baptiste Roustaing, antes entusiasmada e hoje envergonhada, até os efeitos do Pacto Áureo de 1949 e dos procedimentos fraudulentos envolvendo sobretudo Francisco Cândido Xavier.

O próprio "espiritismo" preferiu promover a união em torno da corrente religiosista, abandonando o cientificismo de Kardec. Há o caso do marido traidor, quando ele arruma amantes, se diverte e se sente feliz com ela, traindo seriamente sua esposa, mas depois ele, chorando, volta ao lar para dormir ao lado dela e dizer que promete "ser mais fiel" a ela.

Pois o "espiritismo" tornou-se esse marido traidor, se aventurando em dogmatismo religioso, misticismo barato, pretensa mediunidade que "dá branco" na hora H, deixando Allan Kardec de lado nos momentos mais delicados, mas depois os "espíritas" fazem beiço e choram, dizendo que são fiéis a Kardec ou, quando muito, que prometem ser mais fiéis a ele.

E tudo vira um círculo vicioso, um faz-de-conta de tudo quanto é lado, de uma cúpula que erra e que não é responsável pelos próprios erros, de uma religião unida que é obrigada a separar o joio do joio, pensando preservar o bom trigo. No malabarismo das palavras, até os mais corruptos adotam pose de vítimas, tornando-se dóceis nos seus argumentos.

Os erros são denunciados a cada vez, porque o próprio "espiritismo" se deixou corromper, acumulou erros, contradições, equívocos porque criou condições para isso. Quando lhe convinha, transformava a tragédia dos jovens mortos em sensacionalismo. Quando lhe convinha, usava modelos fotográficos e travesseiros para cobrir de pano branco ou cobertor e colar uma foto de alguém morto, e dizer que foi materialização.

Quando lhe convinha, os "espíritas" julgavam as vítimas de crimes como se fossem algozes romanos. Quando era de sua conveniência, os "espíritas" faziam acusações injustas e manifestos de rancor, mesmo quando juravam incapazes disso.

É bom deixar claro, por exemplo, que se um Woyne Figner Sacchetin foi processado por acusar injustamente as vítimas do acidente da TAM de terem sido romanos sanguinários e botou tudo na conta de Santos Dumont, Chico Xavier fez a mesmíssima coisa contra as vítimas do incêndio num circo em Niterói, usando o nome de Humberto de Campos e saiu impune nessa, porque tinha "melhor reputação" que o outro.

É certo que esse vitimismo dos "espíritas" assusta, e muito, porque se teme que haja um movimento fundamentalista em torno do "espiritismo da FEB" e hoje a religião está por trás dos piores movimentos de intolerância sócio-cultural no mundo, destruindo desde patrimônios históricos até casas populares e matando de palestinos a homossexuais brasileiros.

O fundamentalismo surge quando a fé cega não consegue criar seu território nem construir sua ascensão rumo à supremacia, jurando vingança porque o mundo que esta fé acredita não corresponde mais ao que passa a existir na atualidade. E quando as demandas relgiosas começam a ficar escassas, o fundamentalismo passa a ser ameaçador.

O "espiritismo" tem agora é que aceitar com autocrítica os seus erros, que foram imensos e muitíssimo graves. Quando anunciou ser a vanguarda da espiritualidade brasileira, assumiu responsabilidaes e compromissos que, no entanto, deixou de cumprir. E isso ao longo de 131 anos. Daí ser muito tarde para qualquer vitimização. Se o "espiritismo" hoje sofre sua crise, ela é o efeito natural de suas próprias e tristes escolhas.

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