sexta-feira, 29 de julho de 2016

Vamos ter também romances sobre Pokemon Go?


O mercado literário brasileiro segue a tendência do contexto surreal que o país vive nos últimos anos. O hábito de ler livros é desnorteado em nome de uma cruzada contra o Conhecimento, diante da supremacia de tendências literárias que estão mais para uma literatura "água com açúcar" que nada acrescenta às mentes das pessoas, já emburrecidas pela grande imprensa cada vez mais estúpida.

Autores emergentes que escrevem obras comprometidas com a transmissão de conhecimentos e de questionamentos não conseguem sequer vender e-Books, que costumam ser mais baratos. Em compensação, autores surgidos do nada que escrevem romances religiosos, por exemplo, têm chance de figurar, mesmo provisoriamente, nas listas dos 20 mais vendidos.

Vimos que, nos últimos anos, o mercado literário sempre lançou algum modismo para barrar os livros informativos, evitando que as pessoas, através da leitura, saibam mais. Houve os romances sobre vampiros e as biografias de cachorros com nomes de roqueiros, dois anos atrás.

Depois, veio a aberração dos "livros para colorir", que quase nenhum texto tinham. Era aberrante que eles chegaram a estar na lista dos mais vendidos de "não-ficção", o que faria uma pessoa mais sensata perguntar o que desenho de árvores incolores tem a ver com a realidade em que vivemos, que seria o foco dessa categoria literária.

Aí vieram os Youtubers, um modismo em que qualquer pessoa com forte apelo entre o público juvenil através dos vídeos do portal social da Internet decide escrever um "diário" em forma de livro e vende como bala em porta de escola. Alguns são realmente bons, como Kéfera Buchmann e Isabela Freitas, mas há também coisas lamentáveis.

Mas aí vieram os romances de jogos de Minecraft, para criar mais uma barricada livresca para a marcha do Conhecimento, uma forma de despejar um monte de títulos e modismos para evitar que até mesmo livros jornalísticos mais mainstream - como os de Fernando Morais, por exemplo - fiquem muito tempo nas listas dos mais vendidos.

Diante desse cenário, também propiciam as vendas dos livros religiosos em geral, com "histórias lindas" aqui e ali, supostas obras proféticas (como uma tal 2036), livros de auto-ajuda e esoterismo (que vão na onda) e, é claro, a literatura "espírita", hoje representada, nos livros mais badalados, pelas obras de Robson Pinheiro (que inaugurou o "espiritismo coxinha"), o Data-Limite Segundo Chico Xavier de Juliano Pozati e o pedantismo verborrágico da série Divaldo Franco Responde.

Com isso, autores emergentes que querem lançar novas questões e transmitir informações que dificilmente aparecem na grande mídia, não conseguem vender nem divulgar adequadamente seus trabalhos. E, da forma que a nossa sociedade anda entorpecida pela grande mídia e um tanto estupidificada com o sadomasoquismo de seu antipetismo cego e de sua indiferença à catástrofe política do governo Michel Temer, são esses autores os mais discriminados.

Ficamos esperando se haverá também, como no Minecraft, uma série de obras literárias inspiradas no jogo de Pokemon Go, a onda do momento. Para um mercado que acolheu "livros para colorir" como se fosse literatura de não-ficção, tudo pode esperar. Vamos sugerir até que cada livro venha com um sorvete de brinde para o leitor jogar em sua testa.

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