segunda-feira, 25 de julho de 2016

Muito fácil os "espíritas" exigirem paciência dos outros


No "espiritismo", há uma grande manobra discursiva. Você, que não é palestrante, não é conselheiro, não é o anti-médium dotado de fama e prestígio, está na plateia e não no plenário dos "centros espíritas" você é o "eu" que os "espíritas" dizem para deixar os desejos e os anseios de lado, mudar totalmente os planos de vida e aguentar alegremente todo tipo de desgraça.

Você é que tem que abrir mão dos talentos, das necessidades, dos planos de vida tão trabalhosamente feitos. Jogue tudo fora e, depois que você aprendeu as lições amargas das desilusões da vida, que lhe fez abandonar muitas ilusões, é a vez de você ser escravo das ilusões dos outros, o que faz com que suas desilusões tivessem sido em vão.

É como se você tivesse sido vítima de uma brincadeira. E o "espírita", com discurso "benevolente", diz que você está "sendo testado a todo momento", e tudo o que você deve ter é paciência, disciplina, aguentar a barra pesada não se sabe até quando, ceder em tudo, até mesmo nas suas habilidades.

Há uma grande diferença entre encontrar desafios e suportar desgraças. No primeiro caso, os desafios não vão contra anseios nem talentos, antes os remodelassem e aperfeiçoassem. E, quando a pessoa é tomada de vontades e interesses que no fundo não lhes beneficiam, os desafios surgem por meio de desilusões que regulam desejos e vontades estabelecendo limites, como um remédio dado em doses moderadas pela receita médica.

No segundo caso, o remédio é dado acima da dose necessária. As desgraças sucessivas desafiam qualquer esforço, afrontam qualquer esperança, violentam qualquer perseverança em superar uma dificuldade. Obrigam a pessoa a abrir mão do que mais precisa, obrigando-a a fazer o que não sabe, a amar o que não gosta, já que a vontade e a vocação são combatidos como se males fossem.

"TER" E "SER"?

A traiçoeira Teologia do Sofrimento, originária dos tempos medievais do Catolicismo, em que o legado de Jesus de Nazaré foi deturpado ao extremo - chegaram a promovê-lo como um suposto "senhor dos exércitos", para justificar a carnificina das Cruzadas - , pedia para as pessoas aguentarem o sofrimento "com paciência", porque esse é o caminho das "bênçãos futuras".

Um texto é ilustrativo da Teologia do Sofrimento "espírita", com todos os clichês discursivos desta ideologia, como a ideia de que você tem que aguentar todo tipo de desgraça - descrita sob o eufemismo de "desafios" e "testes" - , acima da dose necessária, ainda que desperdice uma encarnação inteira sem poder trabalhar seus talentos nem habilidades.

A ideia de "ter" e "ser" chega a ser hipócrita, porque há muitos casos de pessoas que fazem os tais "tratamentos espirituais" para resolver os problemas da vida e contrair benefícios menos materialistas e o que recebe são justamente "oportunidades" ligadas a caprichos materialistas.

O sujeito quer trabalhar numa autarquia, tendo um projeto humanista para a sociedade, e a "oportunidade" que aparece é trabalhar numa empresa privada corrupta, que lhe oferece mais fama e vantagens materiais do que oportunidade para ajudar as pessoas.

A mulher quer se casar com um homem de caráter, acaba se casando com um empresário arrivista, que lhe garante mais bens materiais do que amor. E o homem que quer se casar com uma mulher de caráter acaba somente atraindo mulheres-objeto, símbolos justamente do "sensualismo" tão condenado pelo "espiritismo" brasileiro.

Independente de querer ter ou não alguma coisa, o próprio "espiritismo", pelas suas energias confusas, não prece medir a dose certa para o sofrimento humano. Sua falta de noção do tempo limitado de uma encarnação e sua falta de discernimento quanto à vida futura faz com que seus pregadores façam juízos de valor aqui e ali, vendo como "frescura" a agonia do outro, que aos olhos "espíritas" deve continuar sofrendo com paciência e ficar sorrindo o tempo todo.

O MITO DE "VENCER A SI MESMO"

É muito, muito perversa a ideia que os "espíritas", tão "bondosamente", falam do mito de "vencer a si mesmo". Isso denota a influência maligna da Teologia do Sofrimento no "espiritismo" brasileiro, através de Francisco Cândido Xavier.

O texto que referimos se refere a Chico Xavier como "vencedor de si mesmo" e as "recomendações" são sempre de "combater a arrogância e teimosia". E mais uma vez o "espiritismo" se contradiz em tantas e tantas coisas.

A pessoa que quer um trabalho digno, mas obtém um emprego que traz fama e prestígio e não dignidade, obtendo visibilidade mas não podendo dar uma contribuição honesta para o próximo, de nenhum modo pode ser considerada uma pessoa que vive desafios para superar a busca de autopromoção.

Da mesma forma, não se pode dizer que está combatendo o "sensualismo" se o modesto rapaz nerd que é impedido de namorar uma destacada moça da sala, que ele considera não só bela, mas de personalidade interessante, consegue atrair uma moça vulgar e grosseira, tipo "periguete", cobiçada por outros homens e que acaba de encerrar uma relação de namoro com um valentão ciumento e vingativo.

Os "espíritas" vão tentar argumentar que são "oportunidades insólitas", que o patrão corrupto é que mais precisa de ajuda, que a "boazuda" precisa de carinho, que o nerd que é agredido pelo ex-namorado da "boazuda" cumpre "reajuste espiritual" etc. Os "espíritas" são verdadeiros malabaristas discursivos. Vide a verborragia de Divaldo Franco.

É um grande perigo esse mito de "vencer a si mesmo" de abrir mão, se "preciso", até das próprias necessidades, transformando a vida humana numa asfixia existencial, é o duplo sentido dessa palavra, tão tida como "confortadora", mas dotada da mais aberrante crueldade.

Afinal, "vencer a si mesmo" tem um significado oculto, mas muito mais verdadeiro: "derrotar a si mesmo". É a linguagem usada em todo tipo de competição: "vencer" é "derrotar". "Derrote-se", "derrube-se", "lute contra o pior inimigo que é você mesmo". Essa ideia vem da Teologia do Sofrimento e não há sentido lógico que faça os "espíritas" negarem essa herança.

Isso nada diz quem vive no mau-caratismo e está mergulhado em arrogâncias e privilégios abusivos. Até porque o próprio "espiritismo" apela para nunca reclamarmos nem maldizermos, mas esses apelos se dirigem mais aos sofredores.

Quem está "em cima" vive tranquilo e nem está aí para pensar se está sendo humilde ou arrogante. Até porque o "espiritismo" prega o "fiado espírita", a pessoa pode abusar hoje que só pagará "pelo que fez" nas próximas encarnações. Uma lógica materialista de pagar os erros cometidos.

E OS "ESPÍRITAS"?

Aí entra a questão do "eu" e do "outro". Muito fácil você, que não é o palestrante nem o escritor de livros, ser aconselhado a aguentar o sofrimento sem reclamar, sem maldizer, sem pedir qualquer coisa, mesmo que seja uma coisa digna. Antes a pessoa nadasse em dinheiro por causa de um trabalho indigno cujo patrão é amigo de "espíritas iluminados".

Mais fácil ainda é o palestrante "espírita", ele que se julga detentor da "boa palavra", o que parece fascinante, mas não obstante tais pessoas que agem assim não são mais do que versões humanas da mancenilheira, considerada a árvore mais venenosa do mundo.

Ele diz para os "outros" abrirem mão de desejos, de vontades, de talentos, mudar constantemente os planos de vida para muitas vezes abrir mão do necessário, embora em certos casos o fútil e o supérfluo possam prevalecer.

Para o "espírita", é muito fácil, no seu juízo de valor, acreditar que o sofredor tenha que perder uma encarnação inteira sem fazer algo de proveitoso. Quando muito, só de aceita a oferta de sopinhas para os pobres, como se isso adiantasse muita coisa. De resto, que ele fique no "sensualismo" do "funk", dos espetáculos de UFC, na fama fácil da empresa corrupta, e brinque de ser "caridoso" nesses ambientes em que a futilidade cega as almas.

Mas o "espírita" não imagina que ele é o que reclama mais, é maledicente, é orgulhoso, vaidoso, teimoso. Ele pede para outrem ceder em suas teimosias e caprichos, mas é justamente o palestrante "espírita" que mantém a teimosia de exaltar dois senhores antagônicos, Allan Kardec e Chico Xavier, sob os opulentos prêmios das condecorações, muitas vezes dadas por aristocratas e corruptos embriagados de orgulho, arrogância e intransigência.

Os sofredores que recebem os "sábios conselhos" é que tem que aguentar uma realidade que sucumbe aos níveis surreais, em que os privilegiados agora desafiam a realidade, a ética, a lógica para proteger seus benefícios e vantagens e os sofredores aguentam desgraças além das doses necessárias para a evolução e reestruturação moral de suas vidas.

É fácil o "espírita" dizer em palestras, blogues e livros para o sofredor suportar as dificuldades, mesmo as mais pesadas. Fácil pedir ao "outro" paciência e apelar para ele não reclamar. Mas o "espírita" que recebe prêmios e medalhas das elites corruptas e opulentas não vê que, neste caso, sua "boa palavra" não é mais do que a mancenilheira na vida dos outros, lindos discursos que arruínam as vidas das pessoas com base na visão "espírita" da Teologia do Sofrimento católica.

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