sexta-feira, 1 de julho de 2016
A decadência da grande imprensa brasileira
Nunca a grande mídia brasileira, sobretudo a imprensa associada, esteve numa decadência avassaladora. Desde que houve uma crise política durante o governo Dilma Rousseff, os jornalistas da grande mídia perderam a cabeça de vez e passaram a publicar até mentiras e meias-verdades para forçar a derrubada do governo e a substituição pelo confuso e retrógrado governo de Michel Temer.
Rede Globo e seus veículos noticiosos associados, como CBN, Globo News, a revista Época e, sobretudo, o jornal O Globo, estabelecem o coro feroz junto à revista Veja - de um reacionarismo ainda mais rabugento, trapaceiro e rancoroso - , a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo, em que o jornalismo se torna um brinquedo a serviço das vontades pessoais de seus donos, representantes de elites dominantes do país.
Mesmo outros veículos que hesitam entre um falso progressismo e explosões reacionárias doentias, como a Isto É, a TV Bandeirantes e mesmo a rádio baiana Metrópole FM, também se inserem nesse contexto, até porque também seguem o tendenciosismo da exploração da informação.
A Bandeirantes, por exemplo, tem o exemplo do jornalismo policialesco do Brasil Urgente, comandado por José Luiz Datena. Já na Rádio Metrópole, é notório o culto da personalidade que cerca seu dono e principal locutor, Mário Kertèsz, que como prefeito de Salvador havia armado um estarrecedor esquema de corrupção (a origem da Rádio Metrópole teria sido a aquisição das ações devido ao esquema de desvio de dinheiro público).
O jornalismo perdeu a qualidade em todos os sentidos. Os redatores e repórteres se tornaram submissos e passaram a escrever muito mal. Os editores e chefes de redações viraram apenas funcionários de plantão que só estão preocupados em vender um produto. Graças a isso, o jornalismo, quando não sofre erupções reacionárias, segue uma maresia de matérias acríticas e de recusa a abraçar questionamentos e reivindicações sérias.
Dá até para perceber que o redator-chefe é normalmente uma pessoa mal-humorada que só pensa no faturamento do produto jornalístico. Ele vê a notícia como mercadoria e normalmente adota uma linha editorial inofensiva e inócua. Só em casos como a presença, num poder governamental, seja ele federal, estadual ou municipal, de políticos contrários aos interesses do dono de cada veículo midiático, é que a maresia acrítica dá lugar a outro extremo, o criticismo cego e caluniador.
Daí o caso do segundo mandato de Dilma Rousseff, que fez a outrora moderna imprensa brasileira cair para um obscurantismo oposicionista típico de jornalecos e radiocas de regiões rurais interioranas. Literalmente, a máscara caiu e aquela "imprensa cosmopolita" demonstrou ser, na verdade, um reles coronelismo jornalístico.
Durante o governo Lula, quem primeiro revelou seu reacionarismo foi a Folha de São Paulo, controlada pela família Frias (seu atual titular, da família, é Otávio Frias Filho). Jornal que, entre os anos 1980 e 1990, construiu uma imagem de "moderno" e "progressista", passou a fazer uma oposição feroz a Lula que deu impulso a uma linha editorial caluniadora e falaciosa.
A Folha não só deixou a máscara cair como permitiu que seus contestadores fossem para a memória do passado para revelar às novas gerações que o jornal paulista havia emprestado suas viaturas para transportar presos políticos para o DOI-CODI, tenebroso órgão de repressão da ditadura militar.
Diante desse reacionarismo, a Folha também teve seu projeto de modernização, chamado "Projeto Folha", revelado como um processo de "limpeza ideológica" que expulsou vários esquerdistas, em prol de uma linha editorial neoliberal.
Destaca-se também a figura de Pedro Alexandre Sanches, jornalista cultural criado pelo Projeto Folha que, defendendo uma visão mercadológica da cultura brasileira, foi militar tendenciosamente na imprensa de esquerda para nelas tentar impor uma visão que aprendeu nas redações junto a Otávio Frias Filho, abordando a cultura popular de forma ao mesmo tempo caricatural e mercantilista, embora com argumentos falsamente modernistas.
Na Folha, nota-se também que, nos últimos meses, foi contratado para ser colunista na Folha um estudante que, diante da histeria anti-PT, destacou-se como um pretenso ativista através do Movimento Brasil Livre, Kim Kataguiri que, pelo seu péssimo entendimento de História e sua linguagem mediocremente panfletária de sua coluna, é visto com estranheza até por jornalistas da Folha. Kim costuma ser definido pejorativamente como "cidadão de kimta katiguria".
A Veja, no entanto, é campeã de reacionarismo. Com uma linha editorial rancorosa que contagia até seções culturais - as críticas de cinema eram quase sempre feitas sob um cinismo niilista e cegamente iconoclasta - , a revista do Grupo Abril se "consagrou" pelo raivoso reacionarismo de nomes como Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi, que sempre escreveram como se fossem trolls das redes sociais.
O reacionarismo de Veja combate todos os movimentos sociais. Estudantes, trabalhadores, camponeses, tribos indígenas, nada escapa da metralhadora giratória de Veja, que surgiu moderada em 1968, havia sido conservadora nos anos 1980 e, uma década depois, caiu no reacionarismo que se observa hoje.
MENTIRA PUBLICADA NA CAPA DE UMA EDIÇÃO DE VEJA.
A oposição a Dilma Rousseff, Lula e, no conjunto da obra, do Partido dos Trabalhadores, tem na Veja seu veículo mais virulento, em que mentiras e difamações, sobretudo contra os dois governantes, são feitas de maneira impune.
Numa das mentiras que viraram capa, inventou-se que Lula iria pedir asilo à Itália (com base na ideia de que o país europeu é berço da Máfia) para fugir da prisão e, em outra capa, Lula apareceu em foto-montagem vestindo roupa de presidiário. Diante dessa linha editorial, Veja acumula grandes estoques de exemplares encalhados toda semana, com a edição corrente chegando às bancas vendo pilhas da edição anterior que fracassou nas vendas.
O efeito da histeria anti-PT, no entanto, se tornou mais bem-sucedido através da Rede Globo, cujo histórico revela uma coleção de episódios sombrios que vêm desde quando ela era apenas um projeto de concessão de um canal de TV para a Rádio Globo do Rio de Janeiro, em 1957, oito anos antes de sua inauguração, desenvolvida com parceria ilegal com o grupo estadunidense Time-Life.
A Rede Globo foi fortalecida durante a ditadura militar, que ela apoiou, na mesma época em que a progressista TV Excelsior praticamente morreu estrangulada pelas pressões econômicas e burocráticas do regime militar.
Além disso, a Globo é conhecida, fora do âmbito jornalístico, de manipular o comportamento humano. No final dos anos 1970, relançou o mito do "médium" Chico Xavier baseado no que o jornalista da BBC, Malcolm Muggeridge, fez com Madre Teresa de Calcutá.
Culturalmente, a Globo chamou o ex-músico da Jovem Guarda, Michael Sullivan, para fazer um "desmonte" da MPB. Ele era compositor de sucessos de Xuxa Meneghel, apresentadora que representou o processo de sexualização do público infantil além de seu impulso para o consumismo e para a antecipação do estilo de vida adolescente na infância.
Nos anos 2000, a Globo investiu no sucesso do "funk carioca" como um processo de domesticação das populações pobres e de sabotar os debates sobre cultura popular no Brasil. Também nos anos 2000, usou a gíria "balada" para testar seu êxito na dominação das mentes do público jovem através do apresentador Luciano Huck.
Politicamente, a Globo é também conhecida por boicotar a cobertura noticiosa do movimento Diretas Já, em 1983 e 1984, por ignorar o favoritismo de Leonel Brizola para o governo do Estado do Rio de Janeiro e manipulou seus noticiários para influenciar os brasileiros a votarem, em segundo turno, no conservador Fernando Collor para a presidência da República, derrotando o rival Lula.
Normalmente, a Globo faz sua enérgica oposição ao PT e outras forças progressistas de maneira comedida, embora muitas vezes agressiva e eventualmente escancarada. Mas a coisa se intensificou quando, diante da denúncia de blogueiros progressistas de que um dos donos das Organizações Globo, João Roberto Marinho, estaria envolvido na construção ilegal de uma casa triplex em uma área de proteção ambiental, em Paraty, no Sul Fluminense, a empresa reagiu.
Foi aí que a Globo se nivelou a Veja e uma campanha violenta para tirar Dilma Rousseff do poder fez muitos cidadãos convertidos para um neoconservadorismo doentio vestirem a camiseta da Seleção Brasileira de Futebol, ignorando que a CBF tem um grave histórico de corrupção para pedir o fim desta prática no Governo Federal.
Foi diante dessa pressão que se abriu o processo de impeachment de Dilma Rousseff, com votações na Câmara dos Deputados (presididas pelo corrupto Eduardo Cunha) e do Senado Federal, com o respaldo de setores corrompidos do Poder Judiciário - através de figuras de valor ético duvidoso como Sérgio Moro e Gilmar Mendes - e que culminaram no atual governo de Michel Temer.
Esse processo, articulado pelo poder midiático, político e judiciário ligado às elites conservadoras, demonstra caraterísticas de um plano golpista, fato que é reconhecido mundialmente por jornalistas, acadêmicos e cientistas políticos mais conceituados e não necessariamente de esquerda e muito menos vinculados ao PT.
O aspecto risível, no entanto, está em comentaristas da revista Época e da Globo News, entre outros veículos da mídia reacionária, mesmo os não ligados à Globo, tentarem impor sua visão surreal à realidade, tentando desqualificar a visão da imprensa estrangeira, que, comprometida com a honestidade dos fatos, tem conhecimento de causa para perceber que o governo Temer foi instaurado por meio de um golpe político-jurídico.
A imprensa brasileira, que mostra seu grau de desequilíbrio emocional com Reinaldo Azevedo escrevendo artigos rancorosos e usando linguagem jocosa, ou Merval Pereira e Cristiana Lobo, da Globo News, mostrando surtos de raiva ou choro, é que não quer saber da realidade brasileira, até porque ela vai de encontro aos interesses dos grupos empresariais que controlam os meios de Comunicação no Brasil.
É através desse comportamento narcisista de impor suas mentiras pessoais à realidade que salta aos olhos do mundo inteiro que faz com que a imprensa brasileira entre num processo irrecuperável de decadência, com seus principais veículos demonstrando uma atuação cada vez mais desastrosa e vergonhosa diante da tarefa de transmitir informação à sociedade.
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