terça-feira, 19 de abril de 2016
Quando Divaldo Franco pegou carona no sucesso de Paulo Coelho
O "espiritismo" é tendencioso, quando quer. Vide as supostas psicografias de gente famosa falecida, de valor bastante duvidoso e apelo igrejista muitas vezes impróprio, dando a impressão de que o falecido virou "garoto-propaganda" da fé religiosa.
De vez em quando, surgem livros evocando personalidades famosas, de Getúlio Vargas a Cazuza. Em outros, há "coincidências" de pensamento em relação a obras literárias comuns, o que dá um forte indício de plágio.
O exemplo comparativo que apresentamos, com base em postagem do blogue Obras Psicografadas, de Vítor Moura, se relaciona a uma obra do "sábio" Divaldo Franco, intitulada A Busca da Perfeição, de 2002, um trecho que os colaboradores Cristina e Toninho Bacarat apontaram como indício de plágio do livro Histórias para Pais, Filhos e Netos, do famoso escritor Paulo Coelho, antigo parceiro do roqueiro Raul Seixas.
Embora, em primeiro momento, não se possa identificar o trecho como plágio, já que tanto no livro de Divaldo quanto no de Paulo os relatos se baseiam em estórias de domínio público, a finalidade plagiadora pode ser sutilmente observada pelo fato de que o livro do "médium" foi lançado um ano depois do livro do escritor e letrista, o que indica uma apropriação oportunista.
Isso quer dizer que a obra, atribuída a um suposto espírito denominado apenas "Eros", pode ter feito um plágio, sim, pelo contexto da fonte da qual se acusa a cópia, e a sutileza pode ter vindo da experiência plagiadora de Divaldo Franco, cujos primeiros livros plagiavam outro plagiador, Chico Xavier.
Daí que os plágios, que já seguiam o método do próprio Chico de reescrever o trecho trocando parágrafos, inserindo sinônimos e redistribuindo frases e palavras, tinham que ser mais sutis, usando do aparato de um conto de domínio público para não deixar vazar vestígios mais explícitos de plágio.
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Paulo Coelho, “Histórias para pais, filhos e netos” (2001)
Uma viúva de uma aldeia pobre em Bengala não tinha dinheiro para pagar o ônibus para seu filho, de modo que o garoto, quando foi matriculado na escola, iria ter que atravessar sozinho uma floresta. Para tranqüilizá-lo, ela lhe disse:
- Não tenha medo da floresta, meu filho. Peça ao seu Deus Krishna para acompanhá-lo. Ele escutará sua oração.
O garoto fez o que a mãe dizia; Krishna apareceu e passou a levá-lo todos os dias à escola.
Quando chegou o dia do aniversário do professor, o menino pediu à mãe algum dinheiro para levar um presente.
- Não temos dinheiro, filho. Peça ao seu irmão Krishna para lhe arranjar um presente para o professor.
No dia seguinte, o menino contou seu problema a Krishna. Este lhe deu uma jarra cheia de leite.
Animado, o menino entregou a jarra ao professor. Mas, como os outros presentes eram mais bonitos, o mestre não deu a menor atenção.
- Leve esta jarra para a cozinha – disse o professor para um assistente. O assistente fez o que lhe fora ordenado. Ao tentar esvaziar a jarra; porém, notou que ela tornava a se encher sozinha. Imediatamente foi comunicar o fato ao professor que, aturdido, perguntou ao menino:
- Onde arranjou esta jarra e qual é o truque que a mantém cheia?
- Quem me deu foi Krishna, o Deus da floresta. O mestre, os alunos, o assistente, todos riram.
- Não há deuses na floresta, isto é superstição! – disse o mestre. – Se ele existe, vamos lá fora para vê-lo!
O grupo inteiro saiu da sala. O menino começou a chamar por Krishna, mas este não aparecia. Desesperado, ele fez uma última tentativa: -Irmão Krishna, meu mestre quer vê-lo. Por favor, apareça!
Nesse momento, escutou-se uma voz que vinha da floresta. Ela ecoou pela cidade e foi ouvida por todos:
- Como é que ele deseja me ver, meu filho? Ele nem sequer acredita que eu existo!
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Divaldo Pereira Franco, “A Busca da Perfeição”, Espírito Eros (2002)
Conta-se que, Ramakrishna, tanto quanto o seu discípulo Vivekananda, entre as histórias comovedoras de que gostavam, sempre narravam uma em que ressaltam a simplicidade e a pureza de coração.
Tratava-se de um menino pobre, filho de humilde viúva, que residia fora da aldeia e que, para chegar à Escola, necessitava atravessar um bosque espesso.
Aquele era um lugar temerário, em razão da presença de animais ferozes e de salteadores impenitentes.
As crianças, economicamente bem aquinhoadas que o atravessavam, sempre se faziam acompanhar por servos que as protegiam.
Sentindo-se desamparado, e receando os perigos da floresta, oportunamente a criança pediu à mãe a proteção de um adulto, ao que ela respondeu, lacrimosa:
- É-me impossível consegui-lo, porquanto não dispomos sequer do necessário para o pão, quanto mais um serviço de tal natureza.
Reflexionando um pouco, e muito comovida com o pedido do filho, concluiu:
- Pede ao teu Irmão Krishna, para que ele te ajude e aguarde, à entrada do bosque, quando vás e quando voltes da Escola, e te conduza pelo caminho difícil, pois que ele é o Senhor da Vida.
A criança confiante suplicou ao incomparável Benfeitor, que no dia imediato lhe apareceu e, a partir de então, aguardava-o à borda do bosque pela manhã, na ida à Escola e, à tarde, na volta ao lar.
Dialogavam pelo caminho, sorriam e amavam a vida,
Quando o seu mestre aniversariou, todas as crianças foram convocadas a levar-lhe um presente.
O órfão solicitou à genitora uma dádiva, que lamentou não o poder atender.
Enquanto porém, ele caminhava pela floresta com Krishna, esse perguntou-lhe pela razão da tristeza que lhe ensombrava a face.
Esclarecido, o Anjo bom ofereceu-lhe uma jarra de leite, para que a brindasse ao professor.
Ao chegar à Escola, o menino acercou-se do mestre, e tentou ofertar-lhe o mimo. Mas esse, que era preconceituoso e aos pobres tratava com desprezo, comentava os valiosos presentes recebidos dos alunos ricos, enquanto que não dava importância ao órfão, que insistia para entregar sua dádiva.
Irritado com o pequeno, solicitou ao ajudante que derramasse o leite em outro vasilhame e lhe devolvesse a jarra, mandando embora o importuno.
Ao fazê-lo, porém, o cooperador percebeu, perplexo, que, à medida que transferia o líquido precioso de uma para outra vasilha, essa novamente se repletava.
Indagada, a criança explicou que fora presente de Krishna, ante a surpresa geral e a incredulidade de todos.
Na sua ingenuidade, o menino falou que diariamente o Sábio o conduzia pela floresta enquanto conversava com ele.
Solicitado a que levasse todos ao sítio do encontro, seguiram-no e, chegando à borda do bosque, ele pôs-se a chamar pelo Avatar, que não apareceu.
Sofrendo o apodo e a zombaria do mestre e dos colegas, que o abandonaram, e se foram, às gargalhadas, deixando-o confuso, pôs-se a chorar.
Nesse momento, ele ouviu a voz do Mestre:
- Não lhes apareci, porque eles não possuem um coração simples nem puro como tu o tens, para identificar a Verdade e defrontá-la.
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