sexta-feira, 31 de março de 2017
As "lições" do pretenso sábio Divaldo Franco
No "movimento espírita", um dos maiores exemplos de texto empolado, malabarismo de palavras e pretenso saber é o suposto médium Divaldo Franco, ele mesmo que, depois de Francisco Cândido Xavier, exerceu o culto à personalidade. Mas, diferente de Chico Xavier, que não foi muito sutil na sua função de deturpador do Espiritismo, Divaldo busca uma postura mais astuta e verossímil, personificando o verborrágico orador com ares professorais dos anos 1930-1940.
Nesta entrevista dada em 04 de dezembro de 2016 durante o XXIII Congresso Espírita Nacional na Espanha, Divaldo mostra seu pretenso profetismo. Aparentemente, ele diz coisas agradáveis, misturando pedantismo científico e otimismo igrejeiro, e esperançosas, mas nada que ofereça um grande diferencial, até pelos apelos igrejeiros de "fraternidade", típico dos católicos mais conservadores. E ainda apela para mesóclises (Michel Temer que o diga).
Em dado momento, ele estabelece também seus juízos de valor, acusando os emigrantes da África e do Oriente Médio que morrem no Mediterrâneo de terem sido tiranos europeus do passado, e fala na tese inconcebível do "resgate coletivo", em que multidões se transformam em "gado expiatório" diante de acontecimentos infelizes. E contradiz criticando o masoquismo do ser humano, quando o próprio "espiritismo" brasileiro pede para as pessoas "amarem o sofrimento".
Divaldo Franco atualiza para nossos tempos o perfil do antigo sofista reprovado pelo filósofo Sócrates, dos velhos sacerdotes que Jesus de Nazaré tanto criticava e do deturpador de texto empolado alertado por Allan Kardec e pelos espíritos de São Luís e Erasto.
Segue a reprodução de parte da entrevista, publicada em português lusitano, que mostra o malabarismo discursivo do pretenso sábio Divaldo Franco que, diferente dos verdadeiros sábios, mais afeitos à dúvida, se arroga de suas pretensas certezas para a humanidade.
Convidamos as pessoas para ler com atenção o texto, com o devido cuidado para não sucumbir às tentações das paixões religiosas, que direcionam as pessoas para os perigos de uma devoção cega e fantasiosa movida pelo aparato de tão belas palavras:
Entrevista a Divaldo Franco concedida à ADEP, em Calpe, XXIII Congresso Espírita Nacional (Espanha), em 4 de Dezembro de 2016
13 – Na mensagem de Joanna de Ângelis, de 2006, intitulada “A grande transição”, ela refere que viriam convulsões sociais e geológicas inimagináveis. Poderemos colocar a questão de terramotos que afectem centrais nucleares na Europa, por exemplo ou noutro local?
DF – Eu baseio-me no sermão profético de Jesus, Marcos, 13, quando Jesus, olhando o templo de que se orgulhavam os próprios companheiros, estabeleceu que não ficaria pedra sobre pedra, que não fosse derrubada. travessando o Vale de Cédron, os discípulos perguntaram: “Diz-nos, quando acontecerão essas coisas”? Ele, então, apresenta o sermão profético, que é o dos mais belos, ao lado do Apocalipse. Pelo facto de ser participante do cristianismo, eu acredito que tudo aquilo quanto Ele esmiuçou, aconteceu, e algo mais acontecerá. Acredito que seremos vítimas de uma grande convulsão. Quando os americanos falam sobre a grande falha entre Los Angeles e S. Francisco, é perfeitamente lógico: vai acontecer, o problema é saber quando, e também em toda a Terra.
As grandes falhas que estão a ser preenchidas lentamente, e que resultam dos tsunamis, desde o terrível tsunami nos países asiáticos, estão previstas na própria geologia. O nosso globo é ainda um planeta em formação. Vemos que, o magma do nosso planeta está num estado de grande exaltação e, de vez em quando, há explosões vulcânicas. Porém a maior gravidade não é o fenómeno sísmico, mas os gases venenosos que podem ser levados pelo vento e, naturalmente ceifarem multidões, em simultâneo.
14 – Quem são os Espíritos das pessoas que morrem no Mar Mediterrâneo, em busca de uma vida melhor?
DF – No campo das deduções e de acordo com o meu pensamento, penso que aqueles que estão hoje, de volta à Europa, são os antigos colonizadores que deixaram, até hoje, a América Latina na miséria.
Como foi negado todo o direito aos seus residentes, como aculturaram os selvícolas, destruindo culturas veneráveis, pela Lei de Causa e Efeito aqueles estão retornando hoje à pátria, no estado de miséria, e que ameaçam os próprios países de onde saíram, para, um dia, buscarem a fortuna para o conforto europeu. Mas, também me recordo dos grandes problemas que estão a acontecer no antigo Levante, graças às tropas muçulmanas. “O Homem é o lobo do Homem” e, verificamos que estamos a transformar este lobo em cordeiro. Como sou optimista, acredito que em breve, o lobo e o cordeiro beberão no mesmo regato, em fraternidade. Já vemos muitas dessas uniões, através da educação que é proporcionada, e nós vemos isso na Internet, diariamente. Porque não, na realidade, amanhã?
15 – Os EUA têm bombardeado o mundo inteiro desde o fim da II guerra mundial. Como se manifestará a Lei de Causa e Efeito sobre este povo?
DF – A tradição assinala que os americanos de hoje são os romanos de ontem. Nós podemos ver na arquitectura, na moeda, na forma de legislar, aliás o seu Direito vem do Direito Romano. Esta geração, que é uma Roma renascida, pode dar lugar a outro tipo de vida, e é provável que esse efeito venha de maneira que nós não podemos perceber. Não necessariamente pela violência, mas, pode haver algo mais terrível e doloroso do que o transtorno da depressão profunda, o transtorno do pânico, o Alzheimer, o distúrbio de Parkinson, o cancro com mais de 50 biótipos específicos?
Então, não será moeda por moeda, isto por aquilo, mas um resgate pessoal, colectivo ou entre as Nações.
16 – Existe uma percepção geral, de receio, de que algo de grave vai acontecer em breve. Que dizer sobre isso?
DF – As entidades que por mim se comunicam, têm uma visão muito mais profunda. Há uma tendência masoquista na criatura humana, de ser infeliz. Mesmo quando tudo está bem, há uma certa insegurança, a perda do bem-estar devido a situações lamentáveis. Já foram tantas datas marcadas para o “fim do mundo”, que eu prefiro não acreditar no “fim do mundo”, mas simplesmente no fim de uma Era, tanto geológica como Humana, de conflitos e distúrbios, um mundo melhor. Muitas vezes, são os escombros que nos oferecem as bases de uma nova cultura. Desta cultura amorfa, caracterizada pelo egocentrismo e celebrada pelo individualismo, nascerá uma cultura de solidariedade, de Amor, de fraternidade. Já vemos o anteprojecto, nas pessoas generosas e boas.
17 – O Homem ainda vai bater mais no fundo, moralmente falando?
DF – Acredito que teremos saudades do Bem, chegaremos a um ponto em que sentiremos uma grande nostalgia, em relação ao nosso “poder”, nossa aparência, nossas glórias.
Teremos uma imensa necessidade de voltar à simplicidade, ao estado natura, desde que o Amor celebre em nós a presença de Deus.
18 – Nestas circunstâncias, o que é que é esperado por parte da atitude dos espíritas e não espíritas, claro?
DF – A resignação dinâmica. Não poderemos mudar o mundo, mas mudar-nos-emos. Aceitaremos as injunções dolorosas, de uma maneira dinâmica: aceitamos, mas não ficamos com elas. Trabalharemos para mudá-las. Arrancaremos as velhas árvores e colocaremos novas. Utilizaremos o seu tronco, para fazer as mudanças que, serão as mudanças renovadoras da Humanidade. Creio, pessoalmente, na larga existência, na criatura humana, intrinsecamente boa. As suas tendências, os seus instintos de defesa, na caverna, ainda predominam, mas, é uma questão de tempo, de educação e de paciência.
19 – Uma mensagem final à população mundial, por favor.
DF – Acredito que quem ama é feliz. Vale a pena amar. Se por acaso não há uma correspondência, não seja isso o motivo de desalento. Seja você, quem ama. O Sol beija o pântano, com a mesma ternura com que acaricia a pétala de rosa. Não é importante que os outros nos tratem bem. É indispensável que tratemos bem os outros. Ao invés de lamentarmos o insucesso, aprendamos com ele, a não repetir o erro. Ao invés de nos queixarmos que os outros são maus, façamos uma autoanálise e, observemos se de uma ou de outra forma, nós não contribuímos para aquele acontecimento funesto ou desagradável. A minha mensagem é de optimismo. Vale a pena viver.
Viver é uma bênção de Deus. A noite tempestuosa cede lugar a uma madrugada de refazimento.
Meia-noite e um segundo, da treva densa, já é o amanhecer. Sejamos o amanhecer da Nova Era, e que possamos tornar felizes o mundo, sendo também, por nossa vez, felizes.
quinta-feira, 30 de março de 2017
Faça o que eu digo, não faça o que eu faço
A doutrina original de Allan Kardec revela que sua forma deturpada feita no Brasil, em que pese o aparato de "mensagens positivas" e "ações amorosas", apresenta conceitos mistificadores, valores conservadores e falta de sinceridade.
Afinal, os "espíritas" se dizem tão fiéis aos postulados kardecianos e os traem o tempo inteiro, e ainda vão reprovar a mentira dos outros? É como ver o argueiro no olho do outro e ignorar a trave do próprio olho. Os "espíritas" preferem ignorar as traves de seus próprios olhos, presos na cegueira igrejista herdada do Catolicismo do Brasil-colônia.
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A Mentira (Mensagem instrutiva)
Por Divaldo Franco - Livro Luz e Esperança - Atribuído ao espírito Joana de Angelis
AFIRMA O REFRÃO POPULAR, com sabedoria, que "a mentira tem pernas curtas", sendo facilmente alcançada pela verdade.
Todavia, enquanto se movimenta, gera insegurança e alastra a perturbação, produzindo desequilíbrio e desconfiança.
A mentira resulta da imaturidade moral do homem e desenvolve-se com os resíduos das paixões inferiores.
Miasma pernicioso, contamina as criaturas inadvertidas, às vezes logrando afligir temperamentos mais reservados, conforme os termos com que vai elaborada e as circunstâncias em que se apresenta.
Torna-se uma nuvem que, momentaneamente, tolda os contornos da paisagem, facultando que se manifestem males sem conta.
Irmã da calúnia, faz-se o primeiro passo para a degradação do comportamento humano.
É, todavia, mais prejudicial para aquele que a utiliza, porquanto termina enfermá-lo, desarticulando-lhe a visão correta dos acontecimentos e das coisas.
Acostumando-se a uma observação negativa ou exagerada, o mentiroso avança no rumo da alienação, pois que sempre se lhe impõem novas ginásticas mentais, a fim de acobertar os deslizes anteriores que se permitiu.
É a memória o órgão que primeiro o denuncia.
Facilmente engendrando estória que disfarça com a vestimenta da verdade, o narrador esquece dos detalhes apresentados, quase que de mediato, enquanto que os registram aqueles que os ouvem.
A princípio, a mentira faz-se escutada, e o seu protagonista pode até gozar de credibilidade; no entanto, os fatos, em si mesmos, se encarregam de pôr cobro ao delito.
Vezes há em que circunstâncias inesperadas elucidam a questão, derruindo o edifício sem alicerce que a mentira levantou, sem que ninguém as haja provocado.
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Nunca te apoies em falsas argumentações, nem jamais te apresentes envolto nas teias constritoras que a mentira tece.
Quem mente permanece receoso, inseguro.
A desconfiança que decorre da consciência do erro, fá-lo inquieto e sempre na defensiva.
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Sê aberto à verdade e age com inteireza moral.
Melhor que sejas incompreendido com a verdade do que mimado pelos artifícios da mentira.
Tu és o que pensas e não o que verbalizas.
Tua vida refletirá o que constróis de dentro para fora.
Assim não te permitas as chamadas "mentiras brancas", consideradas necessárias, de modo a não te acostumares com elas, terminado por mentir por hábito.
Não é necessário que sejas rude, nem que te exibas como verdadeiro.
Basta que sejas honesto com o bem e amigo da verdade.
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Jesus foi muito preciso, quando enunciou: "Seja o teu falar: sim, sim; não, não."
Acostuma-te a ser fiel à verdade e ela estará à tua frente, abrindo-te os caminhos por onde palmilharás, sem que receies ser por ela seguido, corrigindo as tuas informações e dando a dimensão do teu comportamento, como sucede ao mentiroso.
quarta-feira, 29 de março de 2017
A falsa estabilidade do "espiritismo" visto de fora
Tudo parece reinar na santa paz aos olhos dos leigos, quando se refere ao "espiritismo" brasileiro. Fica muito fácil, mesmo com a melhor das intenções, criar uma narrativa aparentemente equilibrada e imparcial, mas que claramente mostra a forçada coexistência entre o Espiritismo original de Allan Kardec e a forma deturpada feita no Brasil e popularizada por Francisco Cândido Xavier.
Oficialmente, o que o senso comum entende como Doutrina Espírita no Brasil nunca sai disso: uma visão oficialesca, digna de meros releases fornecidos por empresas. Uma visão "de fora" que prevalece e que, na prática, desqualifica e rebaixa Allan Kardec, transformado num mero refém de seus principais deturpadores, o próprio Chico Xavier e seu seguidor Divaldo Franco.
As pessoas se contentam com essa visão, extremamente superficial e equivocada, das coisas, em que uma boa teoria esconde práticas cuja irregularidade cada vez mais se confirma. Observa-se que muitas das mensagens "mediúnicas" se assemelham mais ao respectivo "médium" do que do próprio falecido, e apresenta aspectos comprometedores que destoam da personalidade do referido finado.
Livros como O Que é Espiritismo, da Série Primeiros Passos da Editora Brasiliense e de autoria de Maria Laura Viveiros de Castro (na verdade, uma "segunda visão", pois um volume homônimo da mesma série foi lançado por Roque Jacintho) - ironicamente, quase o mesmo título de um pouco conhecido livro de Allan Kardec - e Do Outro Lado: a História do Sobrenatural e do Espiritismo, seguem essa orientação um tanto pedestre, embora bem intencionada.
O problema destes trabalhos não é a forma como são feitos, mas a fonte a que recorrem quando o assunto é Doutrina Espírita. Eles vão logo à FEB, a roustanguista Federação "Espírita" Brasileira, que certamente vai lhes oferecer uma visão corporativista, pronta, um release supostamente didático, mas cheio de visões que, embora oficiais, são mentirosas.
Devemos levar em conta que essa orientação vem desde os anos 1980, quando o "espiritismo", aparentemente, chegou a um "bom termo". Na verdade, uma estabilidade forçada, na qual um princípio ideológico passou a prevalecer, a coexistência do Espiritismo original de Kardec e sua forma deturpada e igrejista no Brasil.
Foi a consagração da "fase dúbia", autoproclamada "kardecista" (termo hoje desmoralizado entre os espíritas autênticos, que preferem se definir "kardecianos" e não "kardecistas") e que havia sido forjada a partir dos anos 1960, através de suposta mensagem de Bezerra de Menezes pedindo para "kardequizar" (termo ainda de apelo igrejista, como corruptela para "catequizar"), mas foi oficialmente implantada nos anos 1970, depois da morte de Antônio Wantuil de Freitas.
A atual fase do "espiritismo" brasileiro parece fechar o seu ciclo, com a sutil ascensão de um neo-roustanguismo expresso por palestrantes como Orson Peter Carrara, Richard Simonetti e Rogério Coelho, veículos como o "Correio Espírita" e supostos espíritos como um tal de "poeta alegre" que se manifesta em Portugal, comprovando explicitamente a inclinação do "movimento espírita" ao Catolicismo medieval e sua Teologia do Sofrimento, que já era defendida por Chico Xavier.
Mesmo assim, a "fase dúbia" persiste, sobretudo através de Divaldo Franco e sua verborragia, típica dos professores das velhas escolas ultraconservadoras da República Velha, mas tido como "moderno" e "futurista" ao vender a falsa imagem de "entendedor de Kardec". Mas se temos o projeto político retrógrado do presidente Michel Temer, autoproclamado "ponte para o futuro", então se considera "futurista" um orador igrejista nos padrões dos velhos oradores empolados de cem anos atrás.
E esse rol de contradições e equívocos da mais extensa gravidade, que praticamente desmoralizam e ridicularizam o trabalhoso legado kardeciano, construído com muito trabalho e sob pressões adversas, não é observado pelos leigos que se tornam "espíritas de primeira viagem" aceitando como se fosse o Espiritismo autêntico um engodo de conceitos igrejeiros com outros apenas razoavelmente científicos.
Os leigos não conseguem entender por que existe tanta contradição e até se revoltam quando existem questionamentos aprofundados que desfazem o "ambiente de paz" de um "espiritismo" contraditório, tosco e retrógrado, mas forçadamente estabilizado em um falso equilíbrio que apenas esconde sob o tapete as contradições entre uma teoria kardeciana "correta" e um igrejismo entusiasmadamente praticado nos moldes do Catolicismo medieval.
É essa falta de percepção que permite, em outras áreas das atividades humanas, que o Brasil mergulhe na onda de retrocessos terríveis, tudo porque as pessoas se contentam com prestígios sociais aqui e ali. O prestígio do diploma, da toga, da fama, da fé religiosa, do dinheiro, ou mesmo do porte de arma e da forma física ou de um carisma "doméstico" numa turma de amigos, ilude a sociedade que ainda é movida pela ditadura do status quo, da "religiosização" dos privilégios sociais.
Pois são esses privilegiados, transformados em semi-deuses por conta de alguma vantagem social - do porte de um revólver à presunção de estar próximo a Deus, passando pelas conhecidas vantagens da grana, do poder, do diploma, da fama, da toga etc - , que no entanto se converteram nos "anjos caídos" que acabam levando o Brasil ao "inferno" que vive nos últimos tempos. E os "espíritas" têm boa parte de responsabilidade com isso, graças à deturpação do legado de Kardec.
terça-feira, 28 de março de 2017
Por que a atividade de médium se corrompeu no Brasil?
"MÉDIUNS" NO BRASIL EXPRESSAM CULTO À PERSONALIDADE E POUCOS PERCEBEM.
As pessoas estão tão tomadas da tentação confortável e da sensação cômoda das paixões religiosas que não conseguem perceber as coisas. A falácia de que "não precisa de discernimento, porque tudo é amor" faz com que muitos caiam em perigosas armadilhas trazidas pelo deslumbramento religioso.
Uma delas é a idolatria, que atinge níveis piegas e bastante mórbidos, aos chamados "médiuns". A atividade, da forma como foi feita no Brasil, tornou-se desmoralizada e corrompida, eliminando de vez o caráter intermediário que deveria ser para o ofício de médium, hoje transformado em figura pitoresca, para não dizer aberrante.
O "médium" deixa de ser médium e vira anti-médium. Vira o centro das atenções. Vira o espetáculo principal, a grife, e essa constatação não se dá por alguma questão de intolerância ou rancor, mas por observações bastante objetivas. Até porque se observa mais rancor, apego e obsessão entre os seguidores desses supostos médiuns.
É bom deixar claro que esse culto aos "médiuns", que ainda por cima viram dublês de ativistas e intelectuais, embora vinculados a pregações e proselitismos bastante igrejistas e medievais, contrariam gravemente as recomendações que Allan Kardec deixou em sua obra e no Conselho Universal dos Ensinos dos Espíritos.
Isso porque Kardec consideraria esse culto uma forma de mistificação e desvio de foco. Neste caso, entendemos que até a filantropia é um desvio de foco, uma forma de abafar irregularidades, e é algo que se compara, sobretudo, à concessão de cestas básicas por um candidato a um cargo político, que serve de desvio para a incompetência que tal aspirante representa.
Em tempos de Kardec, o médium era uma figura tão discreta, de atuação eventual e muito rara de se encontrar - em tese, qualquer um pode ser médium, mas a atividade exige responsabilidades e cautelas que poucos realmente podem praticar - que ele era conhecido apenas pelo sobrenome. O médium que recebeu o espírito Erasto, por exemplo, era conhecido apenas como "senhor d'Ambel" (monsieur d'Ambel).
No Brasil, "médium" acabou tendo nome, nome do meio, sobrenome. E foi tomado pelo culto à personalidade, um tipo de vaidade tão perigoso que nenhum pretexto de humildade que a mitificação religiosa apresenta pode desmentir essa prática presunçosa. Se vê que até mesmo a "caridade" é exaltada pelos seguidores desses "médiuns" não pelos resultados obtidos, que em verdade são medíocres, mas pela imagem "glorificada" desses supostos paranormais.
O que fez a atividade se corromper, a partir do caso de Francisco Cândido Xavier, ele mesmo uma figura pitoresca que foi transformada em ídolo religioso nas mãos do ambicioso Antônio Wantuil de Freitas (ainda se espera que os chiquistas "santifiquem" esse homem, pelo menos para ter coerência com seu fanatismo), além do culto à personalidade, é a mediunidade fingida.
OS MORTOS NÃO PODEM FALAR, OS "MÉDIUNS" FALAM POR ELES.
Sim, porque as mensagens "mediúnicas" trazidas a partir de Chico Xavier e ampliadas por seus seguidores - lembrando em conta da suspeita grande quantidade de "médiuns" existente no Brasil, muito maior do que a lógica natural da atividade sugere - sempre apresentam algum aspecto comprometedor que contradiz a natureza pessoal do falecido, por mais que mostrem semelhanças também.
O caso mais aberrante foi, sem dúvida alguma, o de Humberto de Campos, embora existam outros tão aberrantes como Olavo Bilac e Auta de Souza, cujos estilos "desaparecem" nas obras de Chico Xavier que usam seus nomes.
Humberto teria feito um comentário irônico que provavelmente desagradou Chico - o de reprovar a concorrência da "literatura dos mortos" com a dos vivos, o que significou a reprovação do autor maranhense a Parnaso de Além-Túmulo - e o "médium", ainda em sua juventude, teria resolvido se vingar, assim que o próprio escritor faleceu, prematuramente, em 1948. Há que se convir que Chico Xavier tinha um fetiche por mortos prematuros.
Chico então transformou Humberto num dos "mortos do além" que o autor maranhense reprovava em vida. Nota-se que os primeiros pastiches literários atribuídos ao "espírito Humberto de Campos" parodiavam os textos de Memórias, primeiro volume biográfico lançado pelo escritor e membro da Academia Brasileira de Letras no final de sua vida.
Mas Chico já havia "transformado" Humberto de Campos em alguém diferente do que foi em vida. Foi uma grande molecagem de um rapaz de 25 anos, arrivista, ambicioso e que contou com o apoio de Wantuil e de uma equipe de redatores e editores da FEB. O "espírito Humberto" se revelava diferente até na forma de escrita.
O Humberto de Campos que esteve entre nós tinha escrita ágil, descontraída, fluente, com linguagem culta e correta, porém acessível. o "espírito Humberto" tinha escrita mais pesada, melancólica, cansativa e com linguagem forçadamente erudita, mas prolixa e com eventuais vícios de linguagem (como cacófatos, conforme identificou Milton Barbosa, advogado dos herdeiros do escritor).
Diante de tantas denúncias de irregularidades na obra de Chico Xavier, que puxou uma "escola" ruim de mediunidade para outros "médiuns", que viraram "donos de mortos", famosos ou não, a identificação de fraude, vista de forma hesitante até por acadêmicos, é fácil de ser constatada por causa do que recomendou o espírito de São Luís, em mensagem divulgada, através de outro médium, a Allan Kardec, e incluída em O Livro dos Médiuns, cap. 24, item 266:
"Por mais legítima confiança que vos inspirem os Espíritos dirigentes d vossos trabalhos, há uma recomendação que nunca seria demais repetir e que deveis ter sempre em mente aos vos entregar aos estudos: a de pensar e analisar, submetendo ao mais rigoroso controle da razão todas as comunicações que receberdes; a de não negligenciar, desde que algo vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro, de pedir as explicações necessárias para formar a vossa opinião".
Há muitos alertas no referido livro que desmontam a imagem glamourizada que "médiuns" como Chico Xavier, Divaldo Franco e João Teixeira de Faria, o João de Deus - este "médium curandeiro", que atua de forma irregular quanto à Ciência Espírita, porque a cura mediúnica é possível, mas não da forma como se faz no Brasil, à margem da ciência médica e sem qualquer diálogo com a mesma - , tidos como pretensos filantropos.
Uma delas foi transmitida pelo espírito Erasto: "Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé". Daí as "colônias espirituais", "crianças-índigo" ou o próprio "espiritismo" catolicizado em si mesmo.
A verdade que se tem é que os mortos não podem falar, pois os "médiuns" falam por eles, imitando habilidosamente o seu estilo. É como se fizessem um produto pirata, procurando caprichar nas semelhanças ao original, mas que sempre apontam um aspecto comprometedor, em muitos casos ridículo de tão explícito, em outros maliciosamente sutil mas nunca totalmente oculto.
Isso é terrível. E o mais terrível é quando os próprios familiares dos falecidos acabam acreditando nos supostos médiuns, que se impõem pela suposta filantropia, pela falsa erudição, pela presunção de "porta-vozes de Deus", uma série de carteiradas que deixam os contestadores em boa parte desarmados, por uma sensação de subserviência que entendem erroneamente como a "inabalável força do amor".
Aqui invertemos às coisas. Enquanto, no lado de Kardec, existem avisos como "analise as coisas pelo rigoroso controle da razão" e "embora às vezes falem em coisas boas, mensagens podem apresentar ideias falsas e mistificadoras", no Brasil, porém, há as alegações contrárias: "para quê lógica, se tudo é amor?", "embora eles cometam erros na compreensão da obra de Kardec, pelo menos se destacam na bondade (sic)".
Deixa-se de lado o questionamento rigoroso em nome da complacência religiosa, da licenciosidade da fé, que permite ao já deturpado "espiritismo" brasileiro uma série de contradições e equívocos livremente transmitidos e espalhados. São ideias que vão contra a lógica e a coerência, e não raro usam nomes de mortos para fazer propaganda política, criando artifícios para atrair o apoio dos familiares que, em verdade, são lesados por essa "brincadeira".
Isso é que derruba a atividade de "médium", que aliás é apoiada pelos veículos mais retrógrados da imprensa especializada e por setores elitistas da sociedade, pouco inclinados aos interesses sociais. Só isso poderia inspirar alguma desconfiança à imagem glorificada e glamourizada dos anti-médiuns, dotados de culto à personalidade e da carteirada religiosa para tentar abafar qualquer questionamento.
As pessoas estão tão tomadas da tentação confortável e da sensação cômoda das paixões religiosas que não conseguem perceber as coisas. A falácia de que "não precisa de discernimento, porque tudo é amor" faz com que muitos caiam em perigosas armadilhas trazidas pelo deslumbramento religioso.
Uma delas é a idolatria, que atinge níveis piegas e bastante mórbidos, aos chamados "médiuns". A atividade, da forma como foi feita no Brasil, tornou-se desmoralizada e corrompida, eliminando de vez o caráter intermediário que deveria ser para o ofício de médium, hoje transformado em figura pitoresca, para não dizer aberrante.
O "médium" deixa de ser médium e vira anti-médium. Vira o centro das atenções. Vira o espetáculo principal, a grife, e essa constatação não se dá por alguma questão de intolerância ou rancor, mas por observações bastante objetivas. Até porque se observa mais rancor, apego e obsessão entre os seguidores desses supostos médiuns.
É bom deixar claro que esse culto aos "médiuns", que ainda por cima viram dublês de ativistas e intelectuais, embora vinculados a pregações e proselitismos bastante igrejistas e medievais, contrariam gravemente as recomendações que Allan Kardec deixou em sua obra e no Conselho Universal dos Ensinos dos Espíritos.
Isso porque Kardec consideraria esse culto uma forma de mistificação e desvio de foco. Neste caso, entendemos que até a filantropia é um desvio de foco, uma forma de abafar irregularidades, e é algo que se compara, sobretudo, à concessão de cestas básicas por um candidato a um cargo político, que serve de desvio para a incompetência que tal aspirante representa.
Em tempos de Kardec, o médium era uma figura tão discreta, de atuação eventual e muito rara de se encontrar - em tese, qualquer um pode ser médium, mas a atividade exige responsabilidades e cautelas que poucos realmente podem praticar - que ele era conhecido apenas pelo sobrenome. O médium que recebeu o espírito Erasto, por exemplo, era conhecido apenas como "senhor d'Ambel" (monsieur d'Ambel).
No Brasil, "médium" acabou tendo nome, nome do meio, sobrenome. E foi tomado pelo culto à personalidade, um tipo de vaidade tão perigoso que nenhum pretexto de humildade que a mitificação religiosa apresenta pode desmentir essa prática presunçosa. Se vê que até mesmo a "caridade" é exaltada pelos seguidores desses "médiuns" não pelos resultados obtidos, que em verdade são medíocres, mas pela imagem "glorificada" desses supostos paranormais.
O que fez a atividade se corromper, a partir do caso de Francisco Cândido Xavier, ele mesmo uma figura pitoresca que foi transformada em ídolo religioso nas mãos do ambicioso Antônio Wantuil de Freitas (ainda se espera que os chiquistas "santifiquem" esse homem, pelo menos para ter coerência com seu fanatismo), além do culto à personalidade, é a mediunidade fingida.
Sim, porque as mensagens "mediúnicas" trazidas a partir de Chico Xavier e ampliadas por seus seguidores - lembrando em conta da suspeita grande quantidade de "médiuns" existente no Brasil, muito maior do que a lógica natural da atividade sugere - sempre apresentam algum aspecto comprometedor que contradiz a natureza pessoal do falecido, por mais que mostrem semelhanças também.
O caso mais aberrante foi, sem dúvida alguma, o de Humberto de Campos, embora existam outros tão aberrantes como Olavo Bilac e Auta de Souza, cujos estilos "desaparecem" nas obras de Chico Xavier que usam seus nomes.
Humberto teria feito um comentário irônico que provavelmente desagradou Chico - o de reprovar a concorrência da "literatura dos mortos" com a dos vivos, o que significou a reprovação do autor maranhense a Parnaso de Além-Túmulo - e o "médium", ainda em sua juventude, teria resolvido se vingar, assim que o próprio escritor faleceu, prematuramente, em 1948. Há que se convir que Chico Xavier tinha um fetiche por mortos prematuros.
Chico então transformou Humberto num dos "mortos do além" que o autor maranhense reprovava em vida. Nota-se que os primeiros pastiches literários atribuídos ao "espírito Humberto de Campos" parodiavam os textos de Memórias, primeiro volume biográfico lançado pelo escritor e membro da Academia Brasileira de Letras no final de sua vida.
Mas Chico já havia "transformado" Humberto de Campos em alguém diferente do que foi em vida. Foi uma grande molecagem de um rapaz de 25 anos, arrivista, ambicioso e que contou com o apoio de Wantuil e de uma equipe de redatores e editores da FEB. O "espírito Humberto" se revelava diferente até na forma de escrita.
O Humberto de Campos que esteve entre nós tinha escrita ágil, descontraída, fluente, com linguagem culta e correta, porém acessível. o "espírito Humberto" tinha escrita mais pesada, melancólica, cansativa e com linguagem forçadamente erudita, mas prolixa e com eventuais vícios de linguagem (como cacófatos, conforme identificou Milton Barbosa, advogado dos herdeiros do escritor).
Diante de tantas denúncias de irregularidades na obra de Chico Xavier, que puxou uma "escola" ruim de mediunidade para outros "médiuns", que viraram "donos de mortos", famosos ou não, a identificação de fraude, vista de forma hesitante até por acadêmicos, é fácil de ser constatada por causa do que recomendou o espírito de São Luís, em mensagem divulgada, através de outro médium, a Allan Kardec, e incluída em O Livro dos Médiuns, cap. 24, item 266:
"Por mais legítima confiança que vos inspirem os Espíritos dirigentes d vossos trabalhos, há uma recomendação que nunca seria demais repetir e que deveis ter sempre em mente aos vos entregar aos estudos: a de pensar e analisar, submetendo ao mais rigoroso controle da razão todas as comunicações que receberdes; a de não negligenciar, desde que algo vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro, de pedir as explicações necessárias para formar a vossa opinião".
Há muitos alertas no referido livro que desmontam a imagem glamourizada que "médiuns" como Chico Xavier, Divaldo Franco e João Teixeira de Faria, o João de Deus - este "médium curandeiro", que atua de forma irregular quanto à Ciência Espírita, porque a cura mediúnica é possível, mas não da forma como se faz no Brasil, à margem da ciência médica e sem qualquer diálogo com a mesma - , tidos como pretensos filantropos.
Uma delas foi transmitida pelo espírito Erasto: "Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé". Daí as "colônias espirituais", "crianças-índigo" ou o próprio "espiritismo" catolicizado em si mesmo.
A verdade que se tem é que os mortos não podem falar, pois os "médiuns" falam por eles, imitando habilidosamente o seu estilo. É como se fizessem um produto pirata, procurando caprichar nas semelhanças ao original, mas que sempre apontam um aspecto comprometedor, em muitos casos ridículo de tão explícito, em outros maliciosamente sutil mas nunca totalmente oculto.
Isso é terrível. E o mais terrível é quando os próprios familiares dos falecidos acabam acreditando nos supostos médiuns, que se impõem pela suposta filantropia, pela falsa erudição, pela presunção de "porta-vozes de Deus", uma série de carteiradas que deixam os contestadores em boa parte desarmados, por uma sensação de subserviência que entendem erroneamente como a "inabalável força do amor".
Aqui invertemos às coisas. Enquanto, no lado de Kardec, existem avisos como "analise as coisas pelo rigoroso controle da razão" e "embora às vezes falem em coisas boas, mensagens podem apresentar ideias falsas e mistificadoras", no Brasil, porém, há as alegações contrárias: "para quê lógica, se tudo é amor?", "embora eles cometam erros na compreensão da obra de Kardec, pelo menos se destacam na bondade (sic)".
Deixa-se de lado o questionamento rigoroso em nome da complacência religiosa, da licenciosidade da fé, que permite ao já deturpado "espiritismo" brasileiro uma série de contradições e equívocos livremente transmitidos e espalhados. São ideias que vão contra a lógica e a coerência, e não raro usam nomes de mortos para fazer propaganda política, criando artifícios para atrair o apoio dos familiares que, em verdade, são lesados por essa "brincadeira".
Isso é que derruba a atividade de "médium", que aliás é apoiada pelos veículos mais retrógrados da imprensa especializada e por setores elitistas da sociedade, pouco inclinados aos interesses sociais. Só isso poderia inspirar alguma desconfiança à imagem glorificada e glamourizada dos anti-médiuns, dotados de culto à personalidade e da carteirada religiosa para tentar abafar qualquer questionamento.
segunda-feira, 27 de março de 2017
Eduardo Cunha viveu dias de Humberto de Campos
Eduardo Cunha, o ex-deputado, está vivo. E muito vivo, e bem disposto. Disposto a denunciar seus antigos aliados no governo que ajudou a instalar, o do presidente Michel Temer, se caso o ex-presidente da Câmara dos Deputados não for beneficiado por alguma liberdade condicional.
Mas Eduardo Cunha desempenha papéis de um "morto". Ele não exerce mais a vida política e até o cartaz que ele tinha quando comandou a sessão de abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 17 de abril de 2016, foi reduzido a nada.
Político inexpressivo, ele foi eleito em 2014 para o cargo de deputado federal simbolizando uma onda conservadora que há tempos domina o Estado do Rio de Janeiro, unidade federativa brasileira marcada por um profundo processo de decadência, não apenas política, econômica e policial, mas também sócio-cultural envolvendo diversos aspectos.
Só para se ter uma ideia, é a região com maior número de cyberbullies no Brasil e cujo reacionarismo permitiu que fossem eleitos nomes como Jair Bolsonaro e o próprio Eduardo Cunha, e por isso a crise que atinge o Rio de Janeiro, Estado e capital, a colocam há um bom tempo em situação vergonhosa para o resto do Brasil, perdendo a reputação de vanguarda que antes cariocas e fluminenses expressavam para todo o país.
A outra experiência de "morto" de Eduardo Cunha, no entanto, é inusitada. Um livro chegou a ser lançado, meses depois da promessa do ex-deputado em lançar um livro fazendo denúncias sobre os bastidores do impeachment e do cenário político nacional.
Intitulado Diário da Cadeia, o livro foi editado pela Record e apresenta como crédito de autoria a expressão "Eduardo Cunha (Pseudônimo)". O ex-deputado Eduardo Cunha negou que tenha escrito a obra e acionou a Justiça do Rio de Janeiro para impedir a distribuição do livro pela Record, recolher exemplares que já foram enviados às livrarias e retirar qualquer referência a Eduardo Cunha na página da editora.
A editora retirou imediatamente as referências do site e tentou recurso para revogar a decisão. Na ação judicial, o peemedebista declarou não ser responsável pelo livro e considera a obra "gravíssima tentativa de ganho comercial a partir de sua reclusão". Cunha acrescenta que, sem a "identificação que possibilite o conhecimento da autoria", a obra "ofende o preceito da vedação ao anonimato".
A juíza Ledir Dias de Araújo também menciona a vedação ao anonimato e diz que o caso não é coberto pela proteção a pseudônimos. "A obra foi escrita como se tivesse sido pela pessoa do autor da ação, o que ele nega. Logo, não se pode ter a presente obra como lícita", conclui a magistrada, que pediu para a Record identificar e qualificar o autor. Por sua vez, o editor da Record, Carlos Andreazza, admitiu que o livro é uma obra de ficção.
O advogado de Eduardo Cunha, Ticiano Figueiredo Oliveira, diz que a decisão "é justa porque não fere o entendimento do Supremo (Tribunal Federal) em relação às biografias, mas deixa claro que o uso de pseudônimo para fraudar uma autobiografia deve ser coibido".
HUMBERTO DE CAMPOS
Evidentemente, a situação foi facilitada porque Eduardo Cunha está vivo, podendo pessoalmente mover uma ação contra um livro apócrifo. Além disso, evidentemente Diário da Cadeia não mostra "mensagens de amor" e nem usa como desculpa o "pão dos pobres", o que permite que a Justiça brasileira, ainda muito hesitante em relação a problemas religiosos, suspender a comercialização do livro.
Menos sorte teve Humberto de Campos, o eminente escritor maranhense que chegou a ser membro da Academia Brasileira de Letras, bastante popular em seu tempo, mas hoje condenado a um semi-esquecimento, até pelas circunstâncias que envolveram seu nome.
Humberto teve seu nome usurpado dois anos após seu falecimento. O primeiro livro, Palavras do Infinito, de 1936, parodiava o livro Memórias, que havia sido lançado em 1933, mas já apresentava as diferenças gritantes que uma simples leitura atenta consegue separar, sem dificuldade, a obra do Humberto que esteve entre nós daquela atribuída ao suposto espírito.
Entre essas diferenças, está o conteúdo por demais igrejista que destoa da temática laica do autor maranhense. Mas a própria forma de escrita também aponta diferenças, pois a escrita do suposto espírito é pesada, melancólica e cansativa de ser lida, enquanto a que Humberto deixou em vida era ágil, de leitura prazerosa e linguagem culta, mas bastante acessível.
A sorte é que o suposto médium Francisco Cândido Xavier, protegido do ambicioso Antônio Wantuil de Freitas, já havia se tornado uma figura pitoresca quando lançou uma suposta antologia poética de "autores do além". Uma obra intitulada Parnaso de Além-Túmulo, que foi remendada cinco vezes, pondo em xeque a tendência natural de "obra acabada da espiritualidade".
A atribuição de obra coletiva alimentava o sensacionalismo, principalmente pelo "FlaXFlu" ideológico que se deu ao omitir que o livro havia sido obra coletiva, sim, mas de Chico Xavier, Wantuil, editores e redatores da Federação "Espírita" Brasileira e consultores literários cariocas. Portanto, uma multidão terrena forjando uma obra que imitava autores do passado, já falecidos, mas bem longe de refletir os respectivos estilos pessoais, apontando falhas graves neste sentido.
O "FlaXFlu" se deu sob a atribuição de que Chico Xavier "fazia tudo sozinho". Isso garantia o sensacionalismo em qualquer das duas hipóteses: se a "psicografia" era uma fraude, Chico seria "muito sofisticado" para representar diversos estilos literários. Se fosse autêntica, Chico seria reconhecido como "amigo de literatos do além". Ponto para o sensacionalismo tramado pelo senso marqueteiro de Antônio Wantuil.
Com Humberto de Campos, o sensacionalismo foi só aumentado, diante de um nome literário de sucesso, mas com fama secundária. Não se escolheria Machado de Assis, porque seria ir longe demais e despertaria suspeitas. Mas a própria escolha de Humberto causou problemas e Chico Xavier teve apenas a sorte de ter uma Justiça seletiva, muito hesitante diante de ídolos religiosos.
Daí o caso gerou empate e Chico Xavier, que havia seduzido a mãe do falecido escritor, Ana de Campos Veras, não tardou também a usar de seus métodos de manipulação da mente humana para dominar o filho do mesmo nome do autor maranhense, convidando para a "emboscada do bem" que foi uma doutrinária e uma caravana em Uberaba, no Triângulo Mineiro, em que o "médium" explorou a fascinação obsessiva (condenada por Allan Kardec) ao abraçar o antes cético Humberto Filho.
Diante disso, Humberto de Campos, em sua obra deixada em vida, foi aos poucos condenado ao esquecimento, e rebaixado a uma "propriedade" de Chico Xavier. Os livros "espirituais" publicados sob seu nome destoam explicitamente do estilo pessoal do saudoso literato, facilitando reconhecimento de fraude. Mas as obras, pelo prestígio religioso do "médium", são publicadas impunemente até hoje. Humberto de Campos não está aí para reclamar.
domingo, 26 de março de 2017
"Bondade" que sobrepõe a imagem do benfeitor é duvidosa
O "espiritismo" brasileiro tem uma desculpa pronta para levar todas as deturpações e outras irregularidades para a frente: a "caridade". Em muitos casos, se autopromove como a "religião da bondade", com apelos que chegam ao ponto da pieguice mais enjoativa mas suficiente para deixar as pessoas conformadas com esse "atenuante" da doutrina que traiu Allan Kardec.
Quantos palestrantes realizam todo um balé de palavras bonitas! Quantos apelos à fraternidade e à paz, com palavras do mais puro gosto de mel! Quantos apelos à beleza, à simplicidade, ao amor! Quantos, quantos e quantos discursos que desarmam até o mais ácido questionador da deturpação da Doutrina Espírita, se ele não estiver preparado para enfrentar esses cantos-de-sereias!!
O Brasil, país tão atrasado que hoje abriga espíritos cujo comportamento sugere que muitos brasileiros tenham sido reencarnações de espíritos retrógrados - dos aristocratas do Império Romano aos macartistas dos EUA, passando por medievais e nazi-fascistas - , o que se comprova pelo "espírito do tempo" marcado pelas ações que geraram esse quadro político, midiático e sócio-econômico viciado dos últimos anos, ainda não consegue entender a verdadeira natureza da bondade.
A bondade é vista aqui como um empreendimento vinculado a uma instituição religiosa de "livre escolha". Esse empreendimento é de propriedade de um ente chamado Deus e qualquer pessoa pode adquirir essa franquia, de forma "livre" e "ilimitada", desde que haja algum vínculo institucional ou uma relação com algum ídolo religioso.
As pessoas acabam caindo em tentações movidas pela paixão religiosa. De repente, diante de certos projetos filantrópicos, se esquecem dos beneficiados, diante da exaltação do benfeitor. E, no "espiritismo", a "caridade" é usada mais para legitimar os deturpadores que, em termos de prática espírita, fazem tudo errado, mas se sobressaem por causa da "bondade", a ponto dos críticos da deturpação do Espiritismo aceitarem de bom grado os deturpadores.
Quando a "bondade" expõe o benfeitor sobre o beneficiado, é bom desconfiar. No "espiritismo", pouco se fala de beneficiados, embora a realidade mostre que a doutrina ajudou muito pouco, investindo em meras ações paliativas que nem de longe transformam a vida das pessoas. Os necessitados são quase sempre os mesmos. E projetos pedagógicos se limitam a formar cidadãos corretos, mas beatos e inócuos, simpáticos porém medíocres.
Fala-se demais do benfeitor. Claro, é uma forma de minimizar as responsabilidades que o deturpador deveria assumir pela traição ao pensamento de Allan Kardec, algo que muitos subestimam, mas é um ato de desonestidade explícita.
Ignora-se que Allan Kardec fez sozinho todo seu sistema de valores, procurando selecionar as mensagens espirituais que solicitou de outros médiuns. Vale lembrar que os médiuns a serviço de Kardec eram pessoas discretas e quase anônimas, sem o culto à personalidade e o messianismo associados a gente como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco.
Kardec pagou suas próprias viagens, sem patrocínio alheio. Passava altas horas da noite respondendo dúvidas e questionamentos. Recorria à própria esposa, Amelie Gabrielle Boudet, para pedir conselhos em situações difíceis. Nos momentos finais da vida, ainda escrevia sofrendo febre alta e portando um aneurisma cerebral.
Tudo isso foi feito com muita dificuldade para depois a Doutrina Espírita servir para as diversões igrejistas dos grandes detupadores Chico Xavier e Divaldo Franco, seguidores nunca assumidos do pioneiro deturpador Jean-Baptiste Roustaing, o primeiro que quis "catolicizar" o legado kardeciano.
Os dois "médiuns" fizeram tudo errado, transformaram o Espiritismo num engodo, num bacanal religioso marcado por péssimos romancistas, cientistas fracassados e paranormais de fraca concentração mental que recorrem à "mediunidade de faz-de-conta", inserindo apelos religiosos para afastar qualquer desconfiança de fraude, porque raramente alguém tem coragem de investigar "mensagens de amor".
A "bondade" serve de escudo para deturpadores, que se armam de projetos "filantrópicos" aparentemente "admiráveis", mas que pouco trazem de benefícios. Em muitos casos, os benefícios são menores do que certos projetos filantrópicos bancados por gente rica e famosa, que, com toda a ostentação de seus benfeitores, ainda faz "algo mais" do que os tão festejados "espíritas". Como educação cultural e um ensino de História com um pouco mais de análise crítica.
Um bom termômetro disso é Uberaba, a cidade adotiva de Chico Xavier. Tão "beneficiada" pelo suposto carisma do anti-médium mineiro, tão "protegida" por suas "boas energias" e tão transformada" por sua aparente filantropia, a cidade do Triângulo Mineiro caiu 106 posições, em Índice de Desenvolvimento Humano, nos levantamentos de 2000 e 2010 e, no centenário de nascimento do "bondoso homem", Uberaba ficou em 210º lugar com índices de pobreza e violência.
Nos últimos anos, os assassinatos que ocorreram em Uberaba atingiram índices tão preocupantes que foi feita até foto-montagem com a famosa "dama encapuzada com seu foice" andando por uma rua da cidade. E ocorreram até passeatas pedindo Justiça e mais policiamento. Os "espíritas" devem achar isso "injusto", porque em Uberaba só morre de violência quem tiver sido patrício de Roma...
A verdade é que, infelizmente, a "bondade" é usada para abafar a gravidade dos deturpadores da Doutrina Espírita, que praticam o roustanguismo seu de cada dia, com o igrejismo mais viscoso, cheio de fantasias em torno de "crianças-índigo", "colônias espirituais" e a redução da emotividade humana a um mero entretenimento.
E tudo isso apoiado não no legado de Kardec, mas na medieval Teologia do Sofrimento católica, aquela que diz que "é bonito sofrer". Até porque é necessário haver desgraçados para que se acione a "indústria de bondade" que garante a propaganda de exaltação aos deturpadores convertidos em "missionários". Kardec estaria envergonhado se visse tudo isso.
sábado, 25 de março de 2017
Texto "espírita" e igrejeiro diz "reprovar" Teologia do Sofrimento
O "espiritismo" brasileiro cai em contradição o tempo inteiro. Perdeu totalmente o compromisso com a coerência, não pelas divergências em si, mas pelo fato de que as divergências são muito grandes e graves. Só a "profecia da Data-Limite" de Francisco Cândido Xavier não é unanimidade entre os seguidores do anti-médium mineiro.
A Teologia do Sofrimento, que se torna uma corrente dominante no "movimento espírita" e que era defendida abertamente - mas sem assumir o nome - por Chico Xavier, através de suas ideias publicadas em seus livros, também causa controvérsia, não bastasse os chorosos "espíritas" se recusarem a assumir essa ideologia, alegando que "não defendem o sofrimento".
Mas, no lado da Igreja Católica, da qual se originou a Teologia do Sofrimento, também existem alegações de que "ninguém quer defender o sofrimento". A Teologia do Sofrimento também tem, em seus postulados, a ideia de que "ninguém merece sofrer", mas que "o sofrimento é o caminho mais curto para a felicidade". A ideologia já é uma série de falácias na sua versão católica, ganhando novos contextos com a adesão entusiasmada do "espírita" Chico Xavier.
Um texto de um palestrante "espírita", José Reis Chaves, igrejista e de formação católica, aparentemente "reprova" a Teologia do Sofrimento, que ele refere à "teologia antiga" que "confunde sofrimento com virtude" e associa "prazer e alegria com pecado".
Ele se choca com os textos que muitos "espíritas" consagrados fazem, que, embora digam promover a esperança, o otimismo e a alegria, criminalizam a vontade humana e definem o sofrimento como "aprendizado" ou "desafio", recomendando aos sofredores aceitarem as desgraças e abrirem mão de seus desejos e necessidades. Falam até em "amar o sofrimento" como se isso garantisse o ingresso rápido ao Céu.
Pois o texto abaixo, embora o autor seja também de um "espiritismo" igrejeiro e catolicizado, demonstra o quanto o "espiritismo" brasileiro tornou-se uma Torre de Babel na qual as contradições se multiplicam de forma assustadora, criando uma confusão doutrinária muito grande. Fica difícil querer ser fraterno com esse rol de contradições e desentendimentos doutrinários. Vejamos o texto:
DEUS É VINGATIVO?
Por José Reis Chaves - Jornal O Tempo, 26 de dezembro de 2011.
Para teólogos do passado, Deus é vingativo e até sádico
Sacrifícios de sangue agradam apenas aos espíritos atrasados
Praticando o mal, traçamos o nosso destino provisório de sofrimento, pois vamos colhendo o que semearmos como nos ensinam as escrituras sagradas de todas as religiões. E, assim, vamos caminhando, até que consigamos a difícil passagem pela porta estreita, segundo o Mestre dos mestres, para quem muitos querem, mas não conseguem passar por ela, e ao que eu acrescento que, por enquanto, muitos nem sequer querem passar por essa porta. Mas não faltará o momento de eles o desejarem e por ela conseguirem passar, como aconteceu com o filho pródigo da parábola, que, só após colher os amargos e disciplinares frutos da má semeadura que fez, despertou para a sua libertação.
Deus, ao criar o homem, sabia de nossos reveses. Mas sabia também que o tempo, que é seu e sem fim, nos seria dado suficientemente para que nós, espíritos imortais, pudéssemos usá-lo pelas eternidades afora, até que conseguíssemos, um dia, a nossa difícil libertação. Realmente, Deus jamais criaria um filho seu para um sofrimento irremediável e sem fim, já que Ele só cria com sabedoria e amor infinitos. Portanto, jamais o Nazareno quis dizer que quem não passasse pela porta estreita não mais passaria por ela.
O nosso sofrimento não significa castigo e menos ainda coisa agradável a Deus. Essa ideia dos teólogos do passado admite, mesmo que inconscientemente, que Deus é vingativo e até sádico. Mas na verdade jamais Deus se deleitaria com o sofrimento de uma pessoa ou de um animal. O apóstolo Paulo ensina que o mesmo fogo (dor) que queima uma obra, provocando dano em alguém, salva a ele como que através do fogo (1 Coríntios 3:15). E o fogo bíblico é diferente, esotérico, figurado e purificador do espírito, o que nos traz à memória o Purgatório da Igreja, elogiado por Kardec. O sofrimento, pois, nada mais é do que a colheita da má semeadura. Ele serve apenas de disciplina para a correção do erro, e não é, eu repito, nada agradável a Deus, como aquela teologia antiga ensinava, por confundir sofrimento com virtude, e prazer e alegria com pecado.
De fato, os teólogos do passado, inclusive alguns que escreveram textos bíblicos, por influência da mitologia, dos sacrifícios de religiões pagãs feitos aos deuses ou demônios (espíritos humanos) atrasados, que eles confundiam com o Espírito do próprio Deus, e, principalmente, por causa do sacrifício de Jesus na cruz, entenderam e ensinaram que Deus se compraz com rituais de sangue derramado, o que eu tenho denominado de "teologia do sangue". Esse foi um dos grandes erros dos teólogos judeus e cristãos antigos que ainda é aceito por muitos religiosos, e que foi veementemente condenado por Jesus: "Basta de sacrifícios, eu quero misericórdia!".
Se Jesus, cuja vontade é a de Deus, detesta sacrifícios e quer misericórdia, como, pois, Deus poderia nos dar por destino irremediável o nosso sacrifício infernal da "Divina Comédia", de Dante, anulando, por completo, a sua tão decantada misericórdia infinita?
Não nos esqueçamos de que Jesus morreu na cruz, justamente em consequência de Ele ter vindo trazer para nós regras de como nos libertarmos, o quanto antes, do sofrimento e da dor. E são essas regras, ou seja, o Evangelho, o que nos salva, e não os sacrifícios agradáveis apenas aos espíritos atrasados!
sexta-feira, 24 de março de 2017
"Espiritismo" brasileiro e a parábola do bom samaritano
A deturpação da Doutrina Espírita atinge níveis alarmantes. Seus palestrantes passam a defender mais a Teologia do Sofrimento, indiferentes às angústias alheias. Criam todo um malabarismo de belas palavras para defender as desgraças alheias, em muitos casos até dissimulando a apologia do sofrimento com tantas falácias e sofismas.
Os palestrantes "espíritas", que vivem fazendo turismo, vendendo livrinhos, palestrando para os mais ricos sem deles fazerem cobranças, mas, em vez disso, fazendo adulações e lisonjarias, não sabem o que é sofrer, e o quanto até mesmo os casos de superação que existem não podem ser objeto de adoração, porque isso seria brincar com o sofrimento alheio.
A prova que o "espiritismo" aderiu à Teologia do Sofrimento, corrente católica medieval cuja seguidora mais famosa foi Madre Teresa de Calcutá, também adotada pelos "espíritas" como figura de devoção, se dá até mesmo nas ideias trazidas por Francisco Cândido Xavier, muito comparado com a referida "santa".
E isso é claro em Chico Xavier. A apologia ao sofrimento foi feita pelas próprias palavras do "médium". Ele chegou a defender que as pessoas sofressem "sem mostrar sofrimento", o que quer dizer "sofrer, mas fingir que está tudo bem", como se a desgraça pudesse fugir com um sorriso. Muito fácil dizer para a pessoa que leva uma pisada no calo e sai pulando de alegria. Pimenta nos olhos dos outros é refresco.
A situação é muito grave e tornou-se o efeito nefasto da "fase dúbia" do "movimento espírita" no Brasil, que fingiu querer recuperar as bases doutrinárias originais, mas radicalizou-se no igrejismo, tornando-se ainda mais inclinada a Jean-Baptiste Roustaing, o deturpador pioneiro, por mais que o nome de Kardec seja o mais pronunciado, o mais bajulado e o mais elogiado.
Há palestrantes "espíritas" que parecem o personagem cômico Rolando Lero, interpretado pelo saudoso Rogério Cardoso, a começar pelo próprio Divaldo Franco, que finge ser kardeciano exemplar. Há todo um malabarismo de belas palavras, com perfumes de orvalhos e sabor de mel, mas que representam uma séria afronta ao pensamento do pedagogo francês, tamanho o ranço católico-jesuíta-medieval que foi herdado dos tempos do Brasil colonial.
De que adianta exaltar a "surpreendente atualidade" de Kardec ou a "urgência contundente" do espírito Erasto, ou, sobretudo, a "contemporaneidade" dos ensinamentos de Jesus, se todos os seus conselhos são desobedecidos em prol de um igrejismo medieval e uma soberba motivada pelo prestígio religioso.
Muito fácil fingir, até mesmo com uma retórica elaborada, que se cumpre a "rigorosa fidelidade" e o "mais absoluto respeito" aos postulados kardecianos. Cita-se tudo: Erasto, Conselho Universal dos Ensinos dos Espíritos, e até se "denuncia" os "falsos médiuns", descrevendo até as caraterísticas, como um corrupto que denuncia a corrupção dos outros.
Mas o malabarismo de palavras é desmentido pelos atos e pelas atitudes, mas há o costume dos brasileiros deixarem para lá, sob a falácia de que "tudo é amor, tudo é bondade", como se amor e bondade pudessem ser cúmplices de práticas tão irregulares que despertam suspeitas diante de uma observação mais apurada, como nas supostas mediunidades que apresentam detalhes comprometedores em relação à natureza pessoal do morto em questão.
FARISAÍSMO
Os "espíritas" recuaram tanto com seu igrejismo que, se queriam apenas modernizar as tradições jesuíticas do Brasil colônia, sucumbiram a retrocessos piores. O "espiritismo" virou a "lixeira" da Igreja Católica, assimilando valores medievais que os católicos não apreciam mais, e muitos textos demonstram a inclinação mais explícita dos "espíritas" à Teologia do Sofrimento.
Os palestrantes "espíritas" já estão cometendo os mesmos procedimentos dos antigos sacerdotes já severamente criticados por Jesus de Nazaré: a falsa modéstia, o discurso empolado, a pretensa erudição e a própria ilusão de que o Céu lhes está ao alcance. Até o aparato de caridade, que tanto os protege e serve de pretexto para se aceitar qualquer deturpação do Espiritismo, é desmascarado em ações filantrópicas pouco expressivas que beneficiam mais o benfeitor do que o necessitado.
São posturas típicas dos antigos fariseus. Há até mesmo o espetáculo das medalhas, das condecorações, dos tesouros terrenos que, aos olhos fantasiosos dos vaidosos "espíritas", antecipam as premiações celestiais, nas quais até Jesus é simbolicamente forçado a receber os "ilustres oradores e escritores" quando eles regressarem à "pátria espiritual". Que se pare até o Universo para receber os "espíritas" que encerrarem a sua missão encarnatória.
Tudo o que se vê nas práticas "espíritas" foi condenado por Jesus, Kardec e Erasto. O discurso empolado, o culto à personalidade que transformou a atividade de médium numa grande aberração, criando não médiuns, no sentido de intermediário, mas anti-médiuns, como atrações principais de um espetáculo de orgias religiosas. Contrariando o C. U. E. E., o "médium" vira até grife para quem quiser recorrer para obter uma comunicação de alguém já falecido.
E aí chega a questão do sofrimento humano. Os "espíritas" se tornaram insensíveis, tanto quanto os católicos medievais, pouco se importando com a desgraça alheia. O que se vê de apelos como "vamos aceitar o sofrimento" ou então "encare a desgraça com amor", chegando mesmo a justificar o prejuízo do outro com falácias do tipo "o que é um prejuízo de décadas diante dos lucros da vida eterna?".
É um sentimento desumano que se observou até nos auxílios fraternos. Os "espíritas" preferem justificar a desgraça alheia do que combatê-la, e, quando sugerem alguma "solução", ela é sempre restritiva: abandone seus desejos, abra mão de suas necessidades, reveja seus planos de vida, recomece a vida do zero, se contente com as imposições do "Alto" (leia-se atribuição divina às adversidades cotidianas).
A ilusão de que os "espíritas" acreditam manter contato com as "esferas superiores da espiritualidade" lhes faz até fazerem juízos de valor como se até mesmo o mais ordinário funcionário de um "centro espírita" entendesse mais da vontade de um indivíduo do que este próprio. Os tratamentos espirituais fracassam de trazer mais azar do que proteção espiritual e os "espíritas" inventam que tais terapias "deram certo, mas os 'irmãos pouco esclarecidos' é que incomodaram".
A insensibilidade foi tal que houve um caso de uma pediatra "espírita" de Rondonópolis, interior do Mato Grosso, que recusou-se a atender a uma menina de sete anos por ela ter sido vítima de estupro. Em seu juízo de valor, a médica, depois alvo de processo judicial, atribuiu a culpa do crime à vítima, sob a desculpa de "expiar crimes de vidas passadas". Em seu cinismo, a médica chegou a dizer que a menina exercia uma "energia sexual" que permitiu o ato do tio que a estuprou.
E quem imagina que esse juízo de valor é coisa só de "peixe pequeno", ou seja, de "maus espíritas", é bom observar que mesmo entre os "grandes" essa prática sempre existiu. Que perversidade enorme cometeu Chico Xavier em 1966, que apelava para outros "nunca julgarem quem quer que fosse", ao ter usado seu dedo acusados contra as pessoas humildes que estavam num circo em Niterói, que sofreu o famoso incêndio criminoso às vésperas do Natal de 1961!
O "bondoso médium" acusou as pobres vítimas de terem sido gauleses do tempo do Império Romano que tinham prazer em ver hereges e inadimplentes sendo queimados em fogueiras em tristes espetáculos exibidos para plateias sanguinárias. Para piorar, Chico Xavier botou a cruel acusação na conta de Humberto de Campos - espírito usurpado pelo "médium" desde três décadas antes e mal disfarçado pelo codinome "Irmão X" - , através do livro Cartas e Crônicas.
O BOM SAMARITANO
Certamente, o bom samaritano não seria "espírita". Talvez um agnóstico. Se traduzirmos a situação do pobre cidadão que foi assaltado e espancado por ladrões enquanto caminhava de Jerusalém para Jericó, para o moralismo do "espiritismo" brasileiro, veríamos o quanto os "espíritas" a cada dia têm dificuldade de esconder sua insensibilidade.
Diante do cidadão prostrado de dor, chega um palestrante "espírita", que, vendo-o nesta situação, passa de largo e reflete para si o seguinte julgamento: "Este deve ter sido um bandido, em outra vida, a saltear as pessoas nas ruas, que está pagando pelo que mereceu, sofrendo reajustes espirituais".
Depois disso, outro palestrante "espírita", que parece mais cordato, passa e chega a parar para ver a vítima de assalto sofrendo de dor. Ainda assim, só lhe dirige palavras de falsa doçura: "Homem, aceite sua dor, se felicite pelo flagelo que sofre, porque ele é o atalho de bênçãos permanentes. É no azar que as pessoas se tornam as maiores sortudas da eternidade". E, dito isso, vai embora.
O samaritano seria provavelmente alguém que pode ter sua religiosidade, mas não tem apegos institucionais neste sentido. Mas pode também ser um ateu. Em todo caso, é um sujeito que, desapegado das paixões místicas e míticas do deslumbramento religioso, vê o sofrimento humano de maneira realista e, vendo o sujeito prostrado, para e o leva para algum lugar de socorro.
Mesmo não tendo recursos para remediar as feridas, o sujeito faz por onde auxiliar a vítima. Ele o levaria a um pronto-socorro para limpar as feridas e colocá-las as gazes e esparadrapos necessários. Sem fazer juízo de valor nem obrigá-lo a aceitar o sofrimento, o "bom samaritano" moderno o ajudou sem que considerasse a bondade como um subproduto da fé religiosa.
No caso das vítimas do incêndio no Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, o empresário José Datrino, depois convertido no Profeta Gentileza, deu um banho de generosidade em Chico Xavier, que muitos acreditam ser a "bondade personificada". Sem apelar para juízos de valor, o ex-empresário sempre assistiu os familiares, acolhendo-os de maneira realmente consoladora.
Portanto, a verdadeira caridade se observa fora do prestígio religioso, no qual a falsa humildade dos ídolos da fé espetacularizada tanto pregam e pouco praticam, sendo mais um marketing dotado de pieguice e sentimentalismo extremos. A solidariedade humana passa longe dos "espíritas" que se preocupam mais em fazer juízos de valor, iludidos com a pretensão de estarem próximos do "Alto".
quinta-feira, 23 de março de 2017
"Espiritismo" e terceirização do mercado de trabalho
O Brasil vive um cenário de degradação social que já estava latente desde os anos 1990, quando a grande mídia fez deteriorar a cultura popular como forma de enfraquecer o potencial mobilizador do povo pobre. Isso culminou no cenário devastador que encontramos hoje em dia.
Uma das bandeiras do catastrófico governo do presidente Michel Temer, que simboliza a ascensão dos "poucos que tudo podem" ao poder, é a proposta de reforma trabalhista, em relação quase siamesa com outra proposta, a reforma previdenciária.
Na reforma trabalhista, um dos carros-chefes é a terceirização total do mercado de trabalho, não mais exclusiva para atividades-meio, mas ampliada para qualquer atividade-fim. Para entendermos isso, basta uma explicação ligeira.
Quando uma empresa, digamos, um shopping center, contrata um serviço de dedetização de suas instalações, de forma a eliminar baratas e outros insetos, ela está usando uma atividade-meio. Um hospital contratando trabalhadores para reformar suas instalações, é a mesma coisa. Já quando uma fábrica contrata operários para montar um produto, está usando uma atividade-fim.
A catástrofe que a terceirização total vai causar no mercado de trabalho, junto com outros cancelamentos como o fim das garantias sociais, a redução sutil dos salários - em que gratificações não incluídas no salário propriamente dito passam a fazer parte dele - e o aumento da carga horária, ainda é visto com indiferença pelos brasileiros médios, felizes com a ilusão de que a recessão de 2013 será salva com os retrocessos anunciados e de que o Brasil viverá uma prosperidade sem fim.
A situação que se anuncia é gravíssima. É como se o Brasil voltasse a um cenário híbrido de escravidão e de primórdios da Revolução Industrial. Carga horária pesada, condições sub-humanas de emprego, salários sutilmente reduzidos (a pessoa recebe o salário normal, mas deixa de receber ticket-alimentação ou outras ajudas de custo, agora integrantes da remuneração normal), e alto risco de acidentes de trabalho que não têm socorro pela saúde pública, forçando o acidentado a pagar só para botar um curativo ou usar muletas.
E a reforma da previdência? Nem todas as cidades têm alta expectativa de vida e muitos municípios brasileiros têm como limite etário neste critério justamente a idade proposta para a aposentadoria, a de 65 anos. Ou seja, nestas cidades, quando a aposentadoria for liberada, o trabalhador já estará falecido.
'TRABALHE E ORE"
O "espiritismo" brasileiro já defende, há tempos, a precarização da vida da pessoa. Sob a desculpa de que existe reencarnação e vida espiritual, os "espíritas" pouco se importam com a vida de desgraças de certas pessoas. Acham que, só porque existe "o outro lado" e se renasce, a pessoa pode jogar fora uma encarnação inteira que poderá fazer tudo de novo em outra encarnação.
Não, não pode. Um intervalo de cerca de 80 anos que, em tese, o corpo físico pode abrigar um espírito, é ouro, e deveria ser aproveitado da melhor maneira. A maré de azar que traz o confuso "espiritismo" brasileiro, pelas próprias irregularidades, faz com que o sofredor que recorre a essa doutrina igrejeira sofra cada vez mais na vida, impedido de exercer suas habilidades e até missões de evolução pessoal.
Apostando numa vida "qualquer nota", o "espiritismo" brasileiro é marcado por pregações vindas dos livros do igrejeiro Emmanuel trazidos por Francisco Cândido Xavier. "Trabalhe e ore" era o apelo mais comum, como se o encarnado fosse um escravo a encarar as circunstâncias tal como elas se impõem.
O "espiritismo" está cada vez mais medieval e voltado à Teologia do Sofrimento, o que faz com que as reformas do governo Temer sejam até aceitas. "Aceite o trabalho", é o que se limitam a dizer. Pedem alegria, esperança e empenho, paciência e jogo de cintura, mas não falam em qualidade de vida, apelando para o sofredor aceitar, se possível, viver de pão e água e ficar na oração.
O salário reduziu? "Que bom", dizem os "espíritas", é só se desapegar do que é necessário e se apegar ao supérfluo, que são as frases secas e duras de Chico Xavier, que muitos pensam ser "de profunda beleza". O horário de trabalho aumentou? "Que legal", é só cortar o lazer e deixar o tempo só para a prece para agradecer as desgraças e os flagelos do dia a dia!
E a aposentadoria virou um benefício póstumo? "Que maravilhoso", sinal de que os proventos da Previdência Social passam agora a serem enviados para o "outro lado", quem sabe podendo haver um câmbio para converter os reais da aposentadoria nos valores do Bônus-Hora na cidade de Nosso Lar!
Já pediam para agradecer a Deus pelo patrão prepotente ou corrupto, pelas dificuldades acima dos limites suportáveis, pelas contas que se acumulam com taxas aumentando o valor, enquanto o salário segue a direção contrária. Qualquer coisa, é só cortar a comida e passar a se alimentar de "luz". Ou então nos livros de Chico Xavier, que os "espíritas" dizem ser um "alimento para a alma". Talvez possamos a aprender a mastigar e engolir papel...
quarta-feira, 22 de março de 2017
O triste Brasil em que uma minoria acha que pode tudo
DIVALDO FRANCO, SÉRGIO MORO E JOÃO ROBERTO MARINHO - Exemplos de pessoas que se valem por privilégios sociais.
O Brasil vive o desespero de uma minoria dotada de algum privilégio social - de um simples porte de armas ao prestígio religioso, passando pelo poder do dinheiro, da toga, da fama, do diploma, da política ou mesmo de um carisma social entre a "galera" - que acha que pode tudo e tenta fazer de tudo para evitar sua decadência, motivada por tamanhos abusos.
Entende-se o contexto que se deu a partir de maio de 2016, mas que estava latente ainda nos anos 1990, durante o governo de Fernando Collor, como a revolta da plutocracia. Originalmente plutocracia significa "governo dos ricos", mas o termo se expandiu para "supremacia dos privilegiados".
No próprio governo Collor, pretensos "heróis" do século XXI tentam hoje se manter no sucesso e, de preferência, manter algum carisma e evidência na mídia. Do sexismo de Solange Gomes ao tendenciosismo televisivo de Gugu Liberato, passando pelos arrivismos de Guilherme de Pádua, assassino da atriz Daniella Perez beneficiado pela impunidade e que se casou recentemente pela terceira vez, e do empresário baiano Mário Kertèsz, símbolo da corrupção política na Bahia.
Os anos 90, símbolo dessa deterioração de valores, em que "musas de banheira" podem se passar por "feministas" só mostrando o corpo, assassinos de mulheres podem retornar à fama como subcelebridades e políticos corruptos podem se fantasiar de radiojornalistas, antecipou em muitos aspectos o contexto político e social de hoje. E isso com uma trilha sonora de "música brasileira" caricata e malfeita que quer se impor como o "futuro da MPB".
Vivemos uma época em que poucos acham que podem tudo. De deturpar a Doutrina Espírita e se passar por "discípulos fiéis" de Allan Kardec até grandes empresários da mídia que não só sonegam impostos como ainda abocanham o dinheiro público arrecadado com os impostos dos outros (fala-se, portanto, dos empresários da Rede Globo), a ilusão do prestígio social inspira a seus detentores uma série de artifícios, falácias e abusos para protegerem seu status e seus interesses.
É até risível que o arquiteto e ex-prefeito de Curitiba (a chamada "República de Curitiba" da Operação Lava Jato), Jaime Lerner, cria da ditadura militar, falar que os brasileiros adoram ir à Europa sem aproveitar as lições urbanísticas de lá. É só perceber o que se resultou da capital paranaense: uma cidade desigual, retrógrada, violenta (sobretudo contra mulheres), reacionária ao extremo. E não foi por desprezo a Lerner, pois a cidade foi entregue aos seus herdeiros políticos.
A ilusão do prestígio contagia até o valentão da Internet, que, por ser considerado "divertido" por uma parcela de internautas nas redes sociais, acredita que pode promover ataques de cyberbullying e criar blogs ofensivos para depois, "civilizadamente", comparecer a eventos sociais e profissionais de ponta, posando de "anjinho" e falando em "respeito humano", "ética" e "bom senso".
Existe até mesmo um "alto clero" da plutocracia, que são os rentistas, os juristas, os religiosos, sem excluir os "espíritas" (que aliás estão até em situação mais grave, porque desrespeitam responsabilidades assumidas em transmitir conhecimento e coerência). Gente do topo do topo da pirâmide social, agraciada pelo controle da circulação de dinheiro, pelo aparente monitoramento das leis, pelo suposto contato com Deus.
Nada lhes ameaça, mas eles se acham no direito de ameaçar os outros. A Operação Lava Jato recebe muitas críticas pelo caráter seletivo das investigações e condenações, sempre atuando de forma hesitante quando o suspeito de corrupção, apesar das provas, for alguém ligado à plutocracia. Se for alguém do Partido dos Trabalhadores (PT), a condenação ocorre até sem provas.
As elites surtaram e hoje temos a livre expressão de preconceitos sociais cruéis. Gente que se esquece de que racismo é crime e despeja comentários racistas nas redes sociais. Um machismo ao mesmo tempo recreativo, no culto às mulheres-objetos, hipócrita (geralmente os machistas riem quando são assim acusados) e vingativo (ainda se matam muito mulheres por causa de um tolo ciúme) e que chega até mesmo a situações surreais.
Só um exemplo desse surrealismo. Se um homem fuma demais e presume-se que ele pode contrair câncer já aos 50 anos, se ele for músico de rock pesado, a sociedade moralista até torce para ele morrer cedo. Se ele é um ator de teatro de vanguarda, a mesma sociedade fica triste, mas se conforma. Mas se ele é um homem de status que assassinou a própria mulher, a sociedade se revolta.
Infelizmente, o estranho moralismo brasileiro acredita que feminicidas conjugais "não podem morrer" (mulher é "troféu" que pode ser quebrado, marido é "deus" que não pode falecer um dia?) e, se de fato morrem, a imprensa não noticia, omite, mesmo se o dito cujo tenha dominado os noticiários nacionais quando era levado para a prisão ou para o julgamento, ou mesmo quando libertado da prisão.
O Brasil sucumbiu a esse atraso social tão terrível que o país está vulnerável e praticamente incomunicável com os novos tempos. Houve alerta de celebridades, incluindo a atriz Susan Sarandon (atualmente na série Feud: Bette and Joan) e o cantor Harry Belafonte (do clássico "Banana Boat Song") sobre os abusos da plutocracia política e jurídica no Brasil, além de técnicos de alto gabarito da ONU, e o país reagiu com indiferença e negligência.
Para piorar, os "espíritas", tão tidos como "progressistas" e "esclarecedores", estão cada vez mais pregando a Teologia do Sofrimento, corrente de origem medieval da Igreja Católica, que trata a desgraça humana como virtude e "trampolim" para as graças divinas. Esse "quanto pior, melhor" do "movimento espírita" mostra o quanto a doutrina brasileira está sintonizada com o cenário de retrocessos sociais profundos.
O Judiciário, o Ministério Público e a Justiça Federal também cometem abusos, como se eles também fossem detentores de poderes divinos. Manipulam as leis conforme as conveniências enquanto eventualmente realizam rituais de "condução coercitiva" desnecessários para convocar suspeitos da Lava Jato para depor. Nesses rituais, policiais invadem a casa do suspeito, reviram os objetos da casa e intimidam familiares, como se estivessem nos tempos do DOI-CODI da ditadura militar.
Fizeram isso com Lula, com policiais furtando objetos e revirando a casa, assustando a esposa Marisa Letícia. Consta-se que isso foi um passo para a morte dela, que era uma ex-fumante e voltou a fumar, e depois sofreu um AVC. Para piorar, ainda recebeu uma "bênção" do anti-médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, que agravou ainda mais a doença da ex-primeira-dama, que parecia até sob controle mas, "por coincidência", sucumbiu para a morte depois dessa "bondade espírita".
Recentemente, fizeram o mesmo com o jornalista Eduardo Guimarães, só porque ele havia revelado informações de bastidores da outra condução. Ele, que tem uma filha que mantém tratamento contra uma grave doença, teve a casa invadida e revirada e foi detido de maneira agressiva. O porteiro foi proibido de comunicar a entrada da PM no prédio, e Eduardo não pôde comunicar a prisão para seu advogado e se manteve detido incomunicável com as demais pessoas. Eduardo foi depois liberado.
Diante da banalização das encrencas e confusões de celebridades e subcelebridades, políticos e empresários, o "alto clero" social de religiosos, banqueiros e juristas tenta estar acima do bem e do mal, mesmo também com sérias contradições e equívocos graves colocados debaixo do tapete. A ilusão de superioridade social os faz ainda mais acreditarem que podem tudo e que nada pode contra eles.
A situação é mais assustadora quando se notam que os chamados brasileiros comuns estão felizes, como se vivessem o melhor dos dias. Não percebem a catástrofe brasileira que está em volta, E ainda riem quando se observam, se não na grande imprensa, mas na Internet, que os abusos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, mais o Ministério Público e a própria grande mídia, como se isso fosse um programa humorístico e não uma ameaça à segurança político-institucional do Brasil.
As pessoas que detém privilégio até para tirar a vida de outrem ou invadir páginas na Internet, ou mesmo as mais "moderadas" que apenas vivem da "boa palavra" do discurso religioso, se incluem nessa ilusão dos poucos que acham que podem tudo.
No "espiritismo", a postura persistente de se contradizer, deturpando os ensinamentos de Allan Kardec em prol de um igrejismo retrógrado, tendenciosamente apoiado por "mensagens positivas", mas alegando "rigorosa fidelidade" ao pedagogo francês, revela o quanto o prestígio religioso é usado para abafar os questionamentos da desonestidade doutrinária que mancha o Espiritismo na forma como ele é praticado no Brasil.
Alguma coisa tem que acontecer, porque o alto da pirâmide está pegando fogo e não se pode apagar o incêndio com sopros de nada. As pessoas "de cima" estão tomadas de completa ilusão, que as faz prepotentes ou triunfantes em tudo, passando por cima de encrencas causadas por seus próprios erros, não raro propositais.
Os "espíritas" não estão fora dessa, pela deturpação do legado kardeciano que é feita em um bombardeio de livros e palestras para milhares e milhares de pessoas durante anos. Com tarefas assim feitas de forma tão maciça e durante longo tempo, é impossível aceitar que os deturpadores da Doutrina Espírita tenham feito isso "sem querer".
A plutocracia está forçando a marcha-a-ré social do Brasil, para, pelo menos, os padrões de democracia castrada de 1974. Isso para não dizer outros retrocessos que vão para antes de outras conquistas históricas, como antes do trabalhismo de 1930-1945, antes da Lei Áurea e até antes do Grito da Independência. O Brasil está naufragando numa onda de retrocessos sem fim, e é ainda mais assustador ver nas ruas a felicidade despreocupada das pessoas, uma despreocupação que preocupa.
O Brasil vive o desespero de uma minoria dotada de algum privilégio social - de um simples porte de armas ao prestígio religioso, passando pelo poder do dinheiro, da toga, da fama, do diploma, da política ou mesmo de um carisma social entre a "galera" - que acha que pode tudo e tenta fazer de tudo para evitar sua decadência, motivada por tamanhos abusos.
Entende-se o contexto que se deu a partir de maio de 2016, mas que estava latente ainda nos anos 1990, durante o governo de Fernando Collor, como a revolta da plutocracia. Originalmente plutocracia significa "governo dos ricos", mas o termo se expandiu para "supremacia dos privilegiados".
No próprio governo Collor, pretensos "heróis" do século XXI tentam hoje se manter no sucesso e, de preferência, manter algum carisma e evidência na mídia. Do sexismo de Solange Gomes ao tendenciosismo televisivo de Gugu Liberato, passando pelos arrivismos de Guilherme de Pádua, assassino da atriz Daniella Perez beneficiado pela impunidade e que se casou recentemente pela terceira vez, e do empresário baiano Mário Kertèsz, símbolo da corrupção política na Bahia.
Os anos 90, símbolo dessa deterioração de valores, em que "musas de banheira" podem se passar por "feministas" só mostrando o corpo, assassinos de mulheres podem retornar à fama como subcelebridades e políticos corruptos podem se fantasiar de radiojornalistas, antecipou em muitos aspectos o contexto político e social de hoje. E isso com uma trilha sonora de "música brasileira" caricata e malfeita que quer se impor como o "futuro da MPB".
Vivemos uma época em que poucos acham que podem tudo. De deturpar a Doutrina Espírita e se passar por "discípulos fiéis" de Allan Kardec até grandes empresários da mídia que não só sonegam impostos como ainda abocanham o dinheiro público arrecadado com os impostos dos outros (fala-se, portanto, dos empresários da Rede Globo), a ilusão do prestígio social inspira a seus detentores uma série de artifícios, falácias e abusos para protegerem seu status e seus interesses.
É até risível que o arquiteto e ex-prefeito de Curitiba (a chamada "República de Curitiba" da Operação Lava Jato), Jaime Lerner, cria da ditadura militar, falar que os brasileiros adoram ir à Europa sem aproveitar as lições urbanísticas de lá. É só perceber o que se resultou da capital paranaense: uma cidade desigual, retrógrada, violenta (sobretudo contra mulheres), reacionária ao extremo. E não foi por desprezo a Lerner, pois a cidade foi entregue aos seus herdeiros políticos.
A ilusão do prestígio contagia até o valentão da Internet, que, por ser considerado "divertido" por uma parcela de internautas nas redes sociais, acredita que pode promover ataques de cyberbullying e criar blogs ofensivos para depois, "civilizadamente", comparecer a eventos sociais e profissionais de ponta, posando de "anjinho" e falando em "respeito humano", "ética" e "bom senso".
Existe até mesmo um "alto clero" da plutocracia, que são os rentistas, os juristas, os religiosos, sem excluir os "espíritas" (que aliás estão até em situação mais grave, porque desrespeitam responsabilidades assumidas em transmitir conhecimento e coerência). Gente do topo do topo da pirâmide social, agraciada pelo controle da circulação de dinheiro, pelo aparente monitoramento das leis, pelo suposto contato com Deus.
Nada lhes ameaça, mas eles se acham no direito de ameaçar os outros. A Operação Lava Jato recebe muitas críticas pelo caráter seletivo das investigações e condenações, sempre atuando de forma hesitante quando o suspeito de corrupção, apesar das provas, for alguém ligado à plutocracia. Se for alguém do Partido dos Trabalhadores (PT), a condenação ocorre até sem provas.
As elites surtaram e hoje temos a livre expressão de preconceitos sociais cruéis. Gente que se esquece de que racismo é crime e despeja comentários racistas nas redes sociais. Um machismo ao mesmo tempo recreativo, no culto às mulheres-objetos, hipócrita (geralmente os machistas riem quando são assim acusados) e vingativo (ainda se matam muito mulheres por causa de um tolo ciúme) e que chega até mesmo a situações surreais.
Só um exemplo desse surrealismo. Se um homem fuma demais e presume-se que ele pode contrair câncer já aos 50 anos, se ele for músico de rock pesado, a sociedade moralista até torce para ele morrer cedo. Se ele é um ator de teatro de vanguarda, a mesma sociedade fica triste, mas se conforma. Mas se ele é um homem de status que assassinou a própria mulher, a sociedade se revolta.
Infelizmente, o estranho moralismo brasileiro acredita que feminicidas conjugais "não podem morrer" (mulher é "troféu" que pode ser quebrado, marido é "deus" que não pode falecer um dia?) e, se de fato morrem, a imprensa não noticia, omite, mesmo se o dito cujo tenha dominado os noticiários nacionais quando era levado para a prisão ou para o julgamento, ou mesmo quando libertado da prisão.
O Brasil sucumbiu a esse atraso social tão terrível que o país está vulnerável e praticamente incomunicável com os novos tempos. Houve alerta de celebridades, incluindo a atriz Susan Sarandon (atualmente na série Feud: Bette and Joan) e o cantor Harry Belafonte (do clássico "Banana Boat Song") sobre os abusos da plutocracia política e jurídica no Brasil, além de técnicos de alto gabarito da ONU, e o país reagiu com indiferença e negligência.
Para piorar, os "espíritas", tão tidos como "progressistas" e "esclarecedores", estão cada vez mais pregando a Teologia do Sofrimento, corrente de origem medieval da Igreja Católica, que trata a desgraça humana como virtude e "trampolim" para as graças divinas. Esse "quanto pior, melhor" do "movimento espírita" mostra o quanto a doutrina brasileira está sintonizada com o cenário de retrocessos sociais profundos.
O Judiciário, o Ministério Público e a Justiça Federal também cometem abusos, como se eles também fossem detentores de poderes divinos. Manipulam as leis conforme as conveniências enquanto eventualmente realizam rituais de "condução coercitiva" desnecessários para convocar suspeitos da Lava Jato para depor. Nesses rituais, policiais invadem a casa do suspeito, reviram os objetos da casa e intimidam familiares, como se estivessem nos tempos do DOI-CODI da ditadura militar.
Fizeram isso com Lula, com policiais furtando objetos e revirando a casa, assustando a esposa Marisa Letícia. Consta-se que isso foi um passo para a morte dela, que era uma ex-fumante e voltou a fumar, e depois sofreu um AVC. Para piorar, ainda recebeu uma "bênção" do anti-médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, que agravou ainda mais a doença da ex-primeira-dama, que parecia até sob controle mas, "por coincidência", sucumbiu para a morte depois dessa "bondade espírita".
Recentemente, fizeram o mesmo com o jornalista Eduardo Guimarães, só porque ele havia revelado informações de bastidores da outra condução. Ele, que tem uma filha que mantém tratamento contra uma grave doença, teve a casa invadida e revirada e foi detido de maneira agressiva. O porteiro foi proibido de comunicar a entrada da PM no prédio, e Eduardo não pôde comunicar a prisão para seu advogado e se manteve detido incomunicável com as demais pessoas. Eduardo foi depois liberado.
Diante da banalização das encrencas e confusões de celebridades e subcelebridades, políticos e empresários, o "alto clero" social de religiosos, banqueiros e juristas tenta estar acima do bem e do mal, mesmo também com sérias contradições e equívocos graves colocados debaixo do tapete. A ilusão de superioridade social os faz ainda mais acreditarem que podem tudo e que nada pode contra eles.
A situação é mais assustadora quando se notam que os chamados brasileiros comuns estão felizes, como se vivessem o melhor dos dias. Não percebem a catástrofe brasileira que está em volta, E ainda riem quando se observam, se não na grande imprensa, mas na Internet, que os abusos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, mais o Ministério Público e a própria grande mídia, como se isso fosse um programa humorístico e não uma ameaça à segurança político-institucional do Brasil.
As pessoas que detém privilégio até para tirar a vida de outrem ou invadir páginas na Internet, ou mesmo as mais "moderadas" que apenas vivem da "boa palavra" do discurso religioso, se incluem nessa ilusão dos poucos que acham que podem tudo.
No "espiritismo", a postura persistente de se contradizer, deturpando os ensinamentos de Allan Kardec em prol de um igrejismo retrógrado, tendenciosamente apoiado por "mensagens positivas", mas alegando "rigorosa fidelidade" ao pedagogo francês, revela o quanto o prestígio religioso é usado para abafar os questionamentos da desonestidade doutrinária que mancha o Espiritismo na forma como ele é praticado no Brasil.
Alguma coisa tem que acontecer, porque o alto da pirâmide está pegando fogo e não se pode apagar o incêndio com sopros de nada. As pessoas "de cima" estão tomadas de completa ilusão, que as faz prepotentes ou triunfantes em tudo, passando por cima de encrencas causadas por seus próprios erros, não raro propositais.
Os "espíritas" não estão fora dessa, pela deturpação do legado kardeciano que é feita em um bombardeio de livros e palestras para milhares e milhares de pessoas durante anos. Com tarefas assim feitas de forma tão maciça e durante longo tempo, é impossível aceitar que os deturpadores da Doutrina Espírita tenham feito isso "sem querer".
A plutocracia está forçando a marcha-a-ré social do Brasil, para, pelo menos, os padrões de democracia castrada de 1974. Isso para não dizer outros retrocessos que vão para antes de outras conquistas históricas, como antes do trabalhismo de 1930-1945, antes da Lei Áurea e até antes do Grito da Independência. O Brasil está naufragando numa onda de retrocessos sem fim, e é ainda mais assustador ver nas ruas a felicidade despreocupada das pessoas, uma despreocupação que preocupa.
terça-feira, 21 de março de 2017
Por que as paixões religiosas são um grave perigo?
As paixões religiosas, que no caso do "espiritismo" blindam seus ídolos "mediúnicos", são vistas como um sentimento salutar de natural emotividade religiosa e expressão digna e positiva de fé e devoção. No entanto, não é assim que a realidade se mostra.
O que se vê é o endeusamento cego dos "médiuns", cuja atividade já é uma aberração, pois se corrompeu a função de médium como se havia originalmente nos tempos de Allan Kardec e está devidamente documentado em seus livros.
Os médiuns a serviço de Allan Kardec eram tão discretos que só eram conhecidos pelo sobrenome. Vários deles não deixaram imagens e seus dados biográficos deixados para os nossos dias são vagos de tão discretos. E eles só faziam a comunicação dos mortos com os vivos, sem no entanto bancarem dublês de filantropos e pretensos pensadores.
Aqui o que se vê é o culto à personalidade. O "médium" virou anti-médium, porque rompeu com a função intermediária. O "médium" virou grife, virou o centro das atenções, e isso se torna explícito pelo próprio modo das pessoas encararem tal atividade.
Quando as pessoas vão para eventos "espíritas" em que o "médium" está presente, é justamente ele a atração principal. O palestrante de palavras bonitas, o showman da religiosidade, o puro entretenimento da fé que coloca debaixo do tapete a gravidade da deturpação da Doutrina Espírita.
No evento "Você e a Paz", no qual várias pessoas fazem palestras e há até atrações musicais, o "médium" Divaldo Franco mostra que não tem a natureza intermediária. Ele sempre é a atração principal, o astro do espetáculo, daí o termo anti-médium, porque já virou o centro das atenções.
Até para receber mensagens de falecidos, esquecemos do Conselho Universal dos Ensinos dos Espíritos, que com tanto trabalho Allan Kardec deixou para a posteridade. Nele se aconselha maior cautela com as mensagens espirituais que, de preferência, devem ser acolhidas mais de uma vez, de diferentes médiuns, situados em locais distantes e sem relação entre si.
Esse conselho dado por Kardec não garante a veracidade da mensagem, mas diminui riscos de fraudes. Além disso, temos que tomar cuidado, pois, no Brasil, no caso das vítimas do incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), forjou-se a divulgação de "psicografias" vindas de médiuns de diferentes Estados brasileiros, mas unificados numa mesma perspectiva igrejista vigente em todo o Brasil.
Mas os brasileiros perderam a cautela, há muito deixaram o mito de Francisco Cândido Xavier crescer como bola de neve, criando uma avalanche de igrejismo que praticamente soterrou o legado kardeciano no Brasil.
Chico Xavier criou uma péssima escola "espírita", permitindo um vale-tudo de mensagens apócrifas, caridade paliativa na qual o benfeitor se ostenta demais e os benefícios são poucos e superficiais, e o "médium" passou a ser um ídolo, dotado do mais aberrante culto à personalidade mascarado pelo verniz de simplicidade garantido pelo prestígio religioso.
Isso é um risco trazido pelas paixões religiosas, que criam um deslumbramento doentio, uma emotividade cega na qual se permite tudo, desde que seja "pelo pão dos pobres". Qualquer denúncia é só um "espírita" mostrar o pôster de uma criança pobre chorando que tudo volta às boas.
As paixões religiosas fizeram com que os esforços de crítica à deturpação da Doutrina Espírita ou às irregularidades de sua suposta mediunidade fossem interrompidos no meio. Em vários casos, permitiu-se que os deturpadores triunfassem, sob a desculpa de que eles "simbolizam o amor e a caridade".
Humberto de Campos Filho, o desconfiado filho do autor maranhense, foi seduzido por Chico Xavier depois que atendeu ao convite, em 1957, deste para assistir a uma doutrinária. O abraço que Chico deu ao jornalista e produtor de TV foi a oportunidade do "médium" usar a tática de fascinação obsessiva, condenada por Kardec, que fez o cético filho do escritor desabar em lágrimas soluçantes.
Na ocasião, também foram exibidas práticas de assistencialismo, forma tendenciosa de donativos e ações aparentemente filantrópicas que servem mais de propaganda do "benfeitor" do que de um meio de promover benefícios, já que os resultados são sempre superficiais e escassos.
Mulheres faziam sopas em um galpão e uma espetacular e ostensiva caravana era realizada em Uberaba, local do evento, para apenas doar mantimentos. Sopas e donativos são ações consideradas necessárias em países devastados pela guerra, mas em situações de paz têm seu valor de eficácia considerado bastante duvidoso.
Há no Brasil uma visão que glamouriza a caridade paliativa visando mais o vínculo institucional religioso. Falam que é uma caridade "transformadora", mas seus resultados são sempre inexpressivos. Isso revela uma visão conservadora e um tanto elitista, na qual o valor da caridade não é medido pelo alcance dos benefícios, mas pelo prestígio religioso do aparente benfeitor.
São as paixões religiosas que, representando um processo de orgias, seduções e até mesmo êxtases - não o êxtase sexual, mas o da comoção fácil dos beatos religiosos, que o "espiritismo" brasileiro copiou do Catolicismo - , que deixa as pessoas reféns de fantasias doentias e incompreensões da realidade que nunca se resolvem, presas à adoração extrema a um ídolo religioso.
O "espiritismo", com isso, importou para si a beatitude e o "mistério da fé" do Catolicismo medieval, e com isso seus valores retrógrados, incluindo a Teologia do Sofrimento. É o preço que as paixões religiosas fizeram, a partir da própria corrupção do conceito de médium, deixou, não bastasse a deturpação grave que se fez com o legado de Kardec, erroneamente associado a uma série de conceitos igrejeiros e moralistas que o pedagogo francês nunca iria defender em momento algum.
segunda-feira, 20 de março de 2017
Chico Xavier foi um engenhoso truque de marketing
WANTUIL DE FREITAS - O "CRIADOR" DE CHICO XAVIER.
Muitos se derretem diante do mito de Francisco Cândido Xavier, conhecido como Chico Xavier. Sem qualquer motivo lógico e objetivo, o mito dele é adorado pelos caprichos da emoção extrema vinculada às paixões religiosas, através de estereótipos de bondade, humildade e generosidade que as pessoas acolhem sem questionar.
Poucos sabem e menos ainda estão dispostos a admitir que o mito de Chico Xavier nunca passou de uma grande estratégia de marketing, primeiro montada minuciosamente pelo presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, para atrair dinheiro e público para a federação.
Essa constatação choca muitos e os leva às lágrimas soluçantes. "Não, não é isso, Chico, todo amor e bondade, truque publicitário?", dirá o menos raivoso dos chiquistas. "Preste atenção na obra dele antes de dar qualquer julgamento", diria um "espírita" ainda mais dedicado.
Sim, prestamos atenção na obra de Chico Xavier e chegamos a essa conclusão: é estratégia de marketing, sim. Um sujeito que começou como um beato católico envolvido em pastiches literários (que não eram feitos por ele sozinho, vale lembrar) para se transformar, em mais de meio século, em um quase-deus, só pode ser fruto de uma engenhosa estratégia de marketing.
É surpreendente que as pessoas que tanto adoram Chico Xavier não adorem também Antônio Wantuil de Freitas, seu "mentor" terreno. Foi Wantuil que transformou o "médium" num popstar da religiosidade, criando uma "pegadinha" que deu certo durante mais de sete décadas.
Se você prestar atenção em Chico Xavier, abrindo mão de paixões religiosas - mesmo aquelas que se disfarçam sob um verniz de objetividade e razão - e de tantas idealizações que fantasiam demais o anti-médium mineiro, se verá que ele nunca foi mais do que um católico ortodoxo e ultraconservador, cuja obra "mediúnica" é cheia de irregularidades e cuja "bondade" não trouxe efeitos concretos e amplos para a sociedade.
Foi Wantuil que fez o mito de Chico Xavier crescer, fazendo-o passar por cima de qualquer escândalo. Wantuil tinha um senso publicitário muito esperto, e ainda teria feito um recurso muito comum para arrivistas: recorreu à umbanda, fazendo "despachos" para limpar o caminho para a ascensão vertiginosa de uma causa, alcançando níveis nunca cogitáveis em situações normais.
Casos como os do DJ de "funk", o DJ Marlboro, e o empresário Mário Kertèsz também indicam que também fizeram "despacho" para se ascenderem acima até mesmo do que poderiam alcançar se se esforçarem para tanto. O direitista Kertèsz chegou a cooptar as esquerdas da Bahia para seu domínio e DJ Marlboro conseguiu se infiltrar em eventos de vanguarda, lembrando que o "funk" não é mais do que um ritmo dançante puramente comercial e de retaguarda.
Wantuil teria tido a ideia da antologia poética que uma grande equipe de editores da FEB e consultores literários bolou, sob a redação de Chico Xavier e do próprio Wantuil. Tornou-se conhecido como Parnaso de Além-Túmulo que, em que pese as semelhanças genéricas feitas à primeira vista com os estilos originais dos autores mortos alegados, nota-se em todos os poemas a expressão de linguagem e pensamento pessoais de Chico Xavier e, às vezes, de Wantuil.
O sensacionalismo da antologia poética era um gancho para faturar em cima de uma polêmica forjada, sendo que criar controvérsia é um ótimo marketing para atrair visibilidade. A confusão garante muito mais fama e prestígio do que a própria busca por unanimidade. E Parnaso de Além-Túmulo tornou-se ainda mais sensacionalista depois que ganhou uma resenha de duas partes feita por Humberto de Campos, ainda vivo em 1932.
E foi uma revanche de Chico Xavier - que não gostou de Humberto ter desaconselhado a existência de uma produção literária do além - que impulsionou outra sugestão de Wantuil, a de usar o nome do autor maranhense para alimentar mais sensacionalismo, uma ação estratégica que só não usurpou o nome de Machado de Assis para não pegar mal, preferindo um escritor popular, mas de prestígio mais mediano e pouco conhecido pelo chamado leitor médio.
Afinal, já basta que um escritor fundador da Academia Brasileira de Letras, Olavo Bilac, tenha tido seu nome incluído no Párnaso, sob protestos de intelectuais renomados, que identificaram sérios pastiches e graves erros de expressão poética. Um crítico literário, João Dornas Filho, havia afirmado, com indignada ironia:
"Olavo Bilac, um homem que no estágio de imperfeição nunca assinou um verso imperfeito, depois de morto ditou a Chico Xavier sonetos inteirinhos abaixo dos medíocres".
O próprio mito de que Chico Xavier lançava livros sem colaboradores - fato desmentido por Alceu Amoroso Lima, que constatou que Parnaso de Além-Túmulo foi concebido por uma equipe de editores e redatores - criava um "Fla X Flu" ideológico, no qual se sustentava o seguinte maniqueísmo:
1) Se Chico Xavier realizou pastiches dos mais diversos estilos e expressões literárias, então ele, que era um caipira de mediana formação escolar, teria um suposto talento de intelectual dos mais sofisticados, merecendo a entrada na Academia Brasileira de Letras, como diziam alguns;
2) Se Chico Xavier realmente fez psicografia, então ele tinha excelentes relações com os espíritos das mais renomadas personalidades literárias, o que o faria possuidor de ampla cultura autodidata, através da comunicação com o "outro lado".
Ambas as teses se disputavam em polêmicas, embora a segunda saísse quase sempre vitoriosa. Mas ambas não resolvem os problemas da irregularidade nas expressões literárias trazidas pelo "médium". Mesmo assim, elas foram um prato cheio para alimentar o sensacionalismo em torno de Chico Xavier.
E aí, foram forjados projetos "filantrópicos", pois o assistencialismo - prática tendenciosa de caridade, mais para promover o benfeitor do que os benefícios aos necessitados - é um ótimo meio de abafar críticas e receber a blindagem da chamada sociedade civil, e aí o mito sensacionalista de Chico Xavier aos poucos desenvolveu esse estereótipo igrejeiro e institucional, quase burocrático, de "bondade".
Wantuil procurou passar por cima de vários escândalos: procurou abafar os escândalos ligados à materialização e psicofonia; fez campanha contra o livro de jornalismo investigativo de Attila Paes Barreto, O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia; teria feito mandinga para afastar quem pudesse denunciar as irregularidades de Chico Xavier; e apoiou a campanha difamatória contra o sobrinho Amauri Xavier, que iria fazer semelhantes denúncias.
O então presidente da FEB teve um senso de oportunidade e oportunismo e lançou até mesmo o chamado "apelo à emoção" - Argumentum Ad Passiones, termo que voltou à moda nos debates intelectuais por conta do fenômeno da pós-verdade (seria Chico Xavier pioneiro desta forma de falácia?) - para fazer ascender ainda mais seu pupilo, se deixando valer das fraquezas emocionais de muitos brasileiros, que os fazem cair às tentações das paixões religiosas.
O que Wantuil não fez a FEB faria depois com a ajuda da Rede Globo, corporação midiática famosa por tantas manipulações no consciente e inconsciente coletivo. E aí vem a imagem mais conhecida de Chico Xavier, associada ao "amor e caridade", construída a partir de um discurso midiático inspirado no que a BBC, por meio de Malcolm Muggeridge, fez com Madre Teresa de Calcutá.
As pessoas deveriam cair na realidade. Deixar as paixões religiosas e perceber que muito de sua adoração a um ídolo religioso se deve a uma retórica bem construída em diversas etapas, um processo de manipulação ideológica em que a emoção encontra um campo de abordagem ilimitado, em que a própria realidade lógica é posta em xeque, pois o que valem são as fantasias do "coração". Ver que, neste caso, prevalece o absurdo e a fantasia, é que é chocante.
Muitos se derretem diante do mito de Francisco Cândido Xavier, conhecido como Chico Xavier. Sem qualquer motivo lógico e objetivo, o mito dele é adorado pelos caprichos da emoção extrema vinculada às paixões religiosas, através de estereótipos de bondade, humildade e generosidade que as pessoas acolhem sem questionar.
Poucos sabem e menos ainda estão dispostos a admitir que o mito de Chico Xavier nunca passou de uma grande estratégia de marketing, primeiro montada minuciosamente pelo presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, para atrair dinheiro e público para a federação.
Essa constatação choca muitos e os leva às lágrimas soluçantes. "Não, não é isso, Chico, todo amor e bondade, truque publicitário?", dirá o menos raivoso dos chiquistas. "Preste atenção na obra dele antes de dar qualquer julgamento", diria um "espírita" ainda mais dedicado.
Sim, prestamos atenção na obra de Chico Xavier e chegamos a essa conclusão: é estratégia de marketing, sim. Um sujeito que começou como um beato católico envolvido em pastiches literários (que não eram feitos por ele sozinho, vale lembrar) para se transformar, em mais de meio século, em um quase-deus, só pode ser fruto de uma engenhosa estratégia de marketing.
É surpreendente que as pessoas que tanto adoram Chico Xavier não adorem também Antônio Wantuil de Freitas, seu "mentor" terreno. Foi Wantuil que transformou o "médium" num popstar da religiosidade, criando uma "pegadinha" que deu certo durante mais de sete décadas.
Se você prestar atenção em Chico Xavier, abrindo mão de paixões religiosas - mesmo aquelas que se disfarçam sob um verniz de objetividade e razão - e de tantas idealizações que fantasiam demais o anti-médium mineiro, se verá que ele nunca foi mais do que um católico ortodoxo e ultraconservador, cuja obra "mediúnica" é cheia de irregularidades e cuja "bondade" não trouxe efeitos concretos e amplos para a sociedade.
Foi Wantuil que fez o mito de Chico Xavier crescer, fazendo-o passar por cima de qualquer escândalo. Wantuil tinha um senso publicitário muito esperto, e ainda teria feito um recurso muito comum para arrivistas: recorreu à umbanda, fazendo "despachos" para limpar o caminho para a ascensão vertiginosa de uma causa, alcançando níveis nunca cogitáveis em situações normais.
Casos como os do DJ de "funk", o DJ Marlboro, e o empresário Mário Kertèsz também indicam que também fizeram "despacho" para se ascenderem acima até mesmo do que poderiam alcançar se se esforçarem para tanto. O direitista Kertèsz chegou a cooptar as esquerdas da Bahia para seu domínio e DJ Marlboro conseguiu se infiltrar em eventos de vanguarda, lembrando que o "funk" não é mais do que um ritmo dançante puramente comercial e de retaguarda.
Wantuil teria tido a ideia da antologia poética que uma grande equipe de editores da FEB e consultores literários bolou, sob a redação de Chico Xavier e do próprio Wantuil. Tornou-se conhecido como Parnaso de Além-Túmulo que, em que pese as semelhanças genéricas feitas à primeira vista com os estilos originais dos autores mortos alegados, nota-se em todos os poemas a expressão de linguagem e pensamento pessoais de Chico Xavier e, às vezes, de Wantuil.
O sensacionalismo da antologia poética era um gancho para faturar em cima de uma polêmica forjada, sendo que criar controvérsia é um ótimo marketing para atrair visibilidade. A confusão garante muito mais fama e prestígio do que a própria busca por unanimidade. E Parnaso de Além-Túmulo tornou-se ainda mais sensacionalista depois que ganhou uma resenha de duas partes feita por Humberto de Campos, ainda vivo em 1932.
E foi uma revanche de Chico Xavier - que não gostou de Humberto ter desaconselhado a existência de uma produção literária do além - que impulsionou outra sugestão de Wantuil, a de usar o nome do autor maranhense para alimentar mais sensacionalismo, uma ação estratégica que só não usurpou o nome de Machado de Assis para não pegar mal, preferindo um escritor popular, mas de prestígio mais mediano e pouco conhecido pelo chamado leitor médio.
Afinal, já basta que um escritor fundador da Academia Brasileira de Letras, Olavo Bilac, tenha tido seu nome incluído no Párnaso, sob protestos de intelectuais renomados, que identificaram sérios pastiches e graves erros de expressão poética. Um crítico literário, João Dornas Filho, havia afirmado, com indignada ironia:
"Olavo Bilac, um homem que no estágio de imperfeição nunca assinou um verso imperfeito, depois de morto ditou a Chico Xavier sonetos inteirinhos abaixo dos medíocres".
O próprio mito de que Chico Xavier lançava livros sem colaboradores - fato desmentido por Alceu Amoroso Lima, que constatou que Parnaso de Além-Túmulo foi concebido por uma equipe de editores e redatores - criava um "Fla X Flu" ideológico, no qual se sustentava o seguinte maniqueísmo:
1) Se Chico Xavier realizou pastiches dos mais diversos estilos e expressões literárias, então ele, que era um caipira de mediana formação escolar, teria um suposto talento de intelectual dos mais sofisticados, merecendo a entrada na Academia Brasileira de Letras, como diziam alguns;
2) Se Chico Xavier realmente fez psicografia, então ele tinha excelentes relações com os espíritos das mais renomadas personalidades literárias, o que o faria possuidor de ampla cultura autodidata, através da comunicação com o "outro lado".
Ambas as teses se disputavam em polêmicas, embora a segunda saísse quase sempre vitoriosa. Mas ambas não resolvem os problemas da irregularidade nas expressões literárias trazidas pelo "médium". Mesmo assim, elas foram um prato cheio para alimentar o sensacionalismo em torno de Chico Xavier.
E aí, foram forjados projetos "filantrópicos", pois o assistencialismo - prática tendenciosa de caridade, mais para promover o benfeitor do que os benefícios aos necessitados - é um ótimo meio de abafar críticas e receber a blindagem da chamada sociedade civil, e aí o mito sensacionalista de Chico Xavier aos poucos desenvolveu esse estereótipo igrejeiro e institucional, quase burocrático, de "bondade".
Wantuil procurou passar por cima de vários escândalos: procurou abafar os escândalos ligados à materialização e psicofonia; fez campanha contra o livro de jornalismo investigativo de Attila Paes Barreto, O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia; teria feito mandinga para afastar quem pudesse denunciar as irregularidades de Chico Xavier; e apoiou a campanha difamatória contra o sobrinho Amauri Xavier, que iria fazer semelhantes denúncias.
O então presidente da FEB teve um senso de oportunidade e oportunismo e lançou até mesmo o chamado "apelo à emoção" - Argumentum Ad Passiones, termo que voltou à moda nos debates intelectuais por conta do fenômeno da pós-verdade (seria Chico Xavier pioneiro desta forma de falácia?) - para fazer ascender ainda mais seu pupilo, se deixando valer das fraquezas emocionais de muitos brasileiros, que os fazem cair às tentações das paixões religiosas.
O que Wantuil não fez a FEB faria depois com a ajuda da Rede Globo, corporação midiática famosa por tantas manipulações no consciente e inconsciente coletivo. E aí vem a imagem mais conhecida de Chico Xavier, associada ao "amor e caridade", construída a partir de um discurso midiático inspirado no que a BBC, por meio de Malcolm Muggeridge, fez com Madre Teresa de Calcutá.
As pessoas deveriam cair na realidade. Deixar as paixões religiosas e perceber que muito de sua adoração a um ídolo religioso se deve a uma retórica bem construída em diversas etapas, um processo de manipulação ideológica em que a emoção encontra um campo de abordagem ilimitado, em que a própria realidade lógica é posta em xeque, pois o que valem são as fantasias do "coração". Ver que, neste caso, prevalece o absurdo e a fantasia, é que é chocante.
domingo, 19 de março de 2017
O grande mal de reprovar a deturpação e proteger o deturpador
Isso é que dá não ouvir os conselhos de Erasto. Mesmo os críticos da deturpação espírita adotam posturas tão melindrosas e hesitantes que eles acabam caindo na tentação bastante perigosa da complacência, do consentimento com o erro.
O governo Michel Temer é a expressão de uma série de posturas contraditórias que antes adormeciam no inconsciente das pessoas, presas em paixões materiais ou simbólicas - as paixões religiosas se incluem em tudo isso - , nos quais os privilégios sociais diversos se revelam qualidades frágeis diante de tantos e tantos escândalos que não devem ser subestimados.
O "espiritismo" também é um subproduto disso, e o Brasil tornou-se um terreno fértil e bem sucedido para os deturpadores da Doutrina Espírita. Tanto que a maior parte dos debates sobre a deturpação do conteúdo do Espiritismo feita no Brasil é sempre feita de forma a proteger o deturpador, o que é uma grande e perigosa armadilha.
Se Francisco Cândido Xavier, um dos maiores e gravíssimos deturpadores, o "inimigo interno" alertado um século antes pelas mensagens do espírito Erasto, tem alguma grande qualidade, foi sem dúvida alguma a de levar vantagem em tudo usando o prestígio religioso e técnicas de manipulação da mente através do Ad Passiones, o "apelo à emoção".
Muitos acham o "apelo à emoção" uma atitude linda e saudável, mas ela é das mais doentias e sombrias. Vale lembrar que especialistas de diversos campos do Conhecimento, como a Linguística e a Psicologia, consideram o Ad Passiones um tipo de falácia, que é a transmissão de um tipo de ideia mentirosa ou falsa através de um processo de persuasão que dê ao interlocutor a impressão de que tal ideia é verdadeira.
Enquanto as pessoas ficam incomodadas quando as críticas contra Chico Xavier, Divaldo Franco e afins se tornam mais enérgicas, confundindo-as com "ataques", nos esquecemos dos alertas urgentes que Erasto havia trazido, que é ter maior vigilância quando espíritos mistificadores passam a transmitir "coisas boas".
Aceitamos os deturpadores porque eles oferecem um espetáculo de "filantropia" e "palavras de amor" que serve para o entretenimento fútil de pessoas que não conseguem ser bondosas por conta própria, precisando de um ídolo religioso para simbolizar um estereótipo de "bondade" que pode não ser real, mas traz simbologias que deixam as pessoas comovidas, desperdiçando lágrimas com esse verdadeiro marketing da caridade.
Há falhas gravíssimas, erros dos mais preocupantes que, num país menos imperfeito, faria com que seus praticantes não fossem poupados por uma vírgula sequer das desculpas que, no Brasil, se dá tão ferrenhamente aos deturpadores da Doutrina Espírita, a ponto deles gozarem de forte blindagem. Aqui, para qualquer farsante ganhar impunidade absoluta, basta ser rico, do PSDB e "espírita", ou pelo menos qualquer um dos três requisitos.
Poucos percebem os erros aberrantes que envolvem as estrelas do deturpado espiritismo brasileiro. As pessoas são tomadas de um processo obsessivo chamado "fascinação", já descrito em O Livro dos Médiuns de Allan Kardec.
Relendo o caso do "abraço" de Chico Xavier a Humberto de Campos Filho, antes bastante cético quanto à suposta psicografia atribuída ao espírito do pai, o que se observa não é um lindo exemplo de misericórdia, alegria e caridade, mas uma combinação de artifícios que envolveram caridade paliativa (também conhecida como "assistencialismo") e a fascinação obsessiva. Vejamos o que Humberto descreveu em Irmão X: Meu Pai:
"Chegamos a tempo de conseguir entrar na sala superlotada, onde pouco depois, começaria a sessão, com a presença de Chico. Lá pelas tantas, vozes partidas da mesa, por ele presidida, pediam que Humberto de Campos Filho se aproximasse para falar com o médium. É fácil imaginar minha emoção. Sei que meus olhos estavam inundados pelas lágrimas quando nos abraçamos, comovidamente. De início, foi o Chico que falou, dizendo coisas tocantes e carinhosas. À certa altura, era outro alguém... Talvez meu pai?... E o que ouvi teve o efeito de um impulso que fez disparar uma sucessão de soluços, que pareciam que jamais iriam parar.
No dia seguinte, um sábado, ainda com a impressão de que meu espírito havia tomado um banho de luz, fomos participar da distribuição de mantimentos.
Sem mais nem menos, tive a nítida impressão de que estava em alguma cidade da Galileia, nos primórdios do cristianismo.
Em um enorme galpão, sem paredes laterais, senhoras e moças, alegres e sorridentes preparavam a sopa que, mais tarde, seria distribuída entre os pobres. Pilhas de cenouras, montes de batatas, iam sendo descascadas e levadas para os caldeirões que, a um canto, fumegavam cheirosamente.
Ao cair da tarde, nos incorporamos à caravana, liderada pelo Chico, que ia distribuir sacolas de mantimentos pelos casebres da periferia. Ao lado do Waldo Vieira, caminhamos naquele pôr-de-sol, com a certeza de que uma legião de espíritos luminosos também caminhavam conosco. Lá pelas tantas, Chico entrou numa palhoça, de um só cômodo. Ficamos à porta, com espaço bastante para ver Chico sentar-se na beirada de uma cama estreita e miserável. Nela estendido, um pobre velho, pouco mais que um monte de ossos, sob uma cabeça coberta por uma grande barba e cabelos desgrenhados. O coitado fez menção de erguer-se mas Chico, colocando a mão no seu peito, não deixou. De onde estávamos não era possível ouvir o que ele dizia. Mas o que disse fez o pobre homem se transformar em um enorme sorriso, cheio de gratidão e alegria. E, ao mesmo tempo, sentimos uma onda de perfume, de jasmins colhidos naquele instante, invadir completamente aquela tapera..."
Dentro do moralismo e do deslumbramento religioso e elitista de muitos, a tendência é achar que esse trecho revela uma demonstração de amor ao próximo, perdão, reconciliação e todas as qualidades positivas que alguém pode imaginar. Só que isso é enganoso, no contexto de que Chico Xavier é um sério e gravíssimo deturpador da Doutrina Espírita. Confrontemos com os alertas trazidos pelo espírito de Erasto, em O Livro dos Médiuns:
"Os médiuns levianos, pouco sérios, chamam, pois, os Espíritos da mesma natureza. É por isso que as suas comunicações se caracterizam pela banalidade,a frivolidade, as idéias truncadas e quase sempre muito heterodoxas, falando-se espiritualmente.(8) Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé.
Deve-se então eliminar sem piedade toda palavra e toda frase equívocas, conservando no ditado somente o que a lógica aprova ou o que a Doutrina já ensinou.
As comunicações dessa natureza só são perigosas para os espíritas que agem isolados, os grupos recentes ou pouco esclarecidos, porque, nas reuniões de adeptos mais adiantadas e experientes, é inútil a gralha de se adornar com penas de pavão, pois será sempre impiedosamente descoberta".
No Brasil, a tarefa de médium já é corrompida pelo "culto à personalidade". Vejamos o que isso significa, antes que pessoas se revoltem na atribuição desta qualidade sombria a pessoas "de notável humildade" como Chico Xavier e Divaldo Franco.
O culto à personalidade ou o culto de personalidade geralmente é usado na propaganda política. É uma estratégia baseada na exaltação das virtudes, reais ou supostas, de um referido líder, assim como a divulgação positiva de sua figura.
Esse processo pode ser usado também em outros âmbitos. Em Salvador, temos o exemplo, no rádio baiano, da pessoa de Mário Kertèsz, um pseudo-radiojornalista que havia sido político lançado pela ARENA (partido da ditadura militar) e que é popularmente conhecido como o "Paulo Maluf baiano", por conta de sua atuação política que misturava arrivismo com corrupção. Na Rádio Metrópole FM, a figura de Mário, proprietário da emissora, é cultuada de maneira quase divinizada.
Na religião, há muitos exemplos de culto à personalidade ocorridos em seitas diversas. E o "movimento espírita" não está livre de tal constatação, uma vez que a figura do "médium" já é corrompida pelo fato de que ele deixa de ser um mero intermediário para ser não só o centro das atenções, mas objeto de adoração que chega ao ponto do mais cego fanatismo.
Notem que os "médiuns", eles em si deturpadores de tudo relacionado à Doutrina Espírita - como a veiculação de valores que entram em conflito com os postulados kardecianos e a suposta mediunidade que não passa de um faz-de-conta para propaganda religiosa da doutrina igrejeira a que se reduziu "nosso espíritismo" - , tentam, pelo menos, três apelos para conquistar a confiança das pessoas de senso moral pouco vigilante:
1) AD PASSIONES - Fazem todo tipo de apelo à emoção: "estórias lindas", "casos de superação pessoal", além de supostas atividades filantrópicas que pouco ajudam e mais parecem promover o "benfeitor" às custas dos mais carentes. Na narrativa aqui reproduzida de Humberto de Campos Filho, nota-se que a "caravana" mais chama a atenção pelo exibicionismo do que pela caridade, pouca, que realiza, pois investe apenas em ações meramente paliativas, até positivas, mas insuficientes.
No apelo à emoção, o "médium" sempre lança um repertório ideológico que arranca comoção das pessoas. Algo que parece lindo e saudável, moralmente revigorante, mas tal impressão é enganosa e perigosa. Tão enganosa que, diante do menor questionamento, os seguidores dos "médiuns" explodem de raiva, revoltados, até com muito ódio, diante da menor desilusão.
Esse apelo produz paixões religiosas que acabam alimentando a vaidade e o prestígio de "médiuns" que se valem dessa mitologia que os cercam, de pretensos filantropos, sob a qual constroem seu prestígio, seu poder e, diante da prática dissimuladora tão comum no Brasil, exercem seu domínio transmitindo uma suposta imagem de humildade e comedimento.
2) COITADISMO - O coitadismo ou o vitimismo faz a festa dos deturpadores. Se torna uma espécie de "contra-ataque" pelo avesso. O arrivista Chico Xavier sempre usava do coitadismo para levar vantagem nos escândalos que produziu. Sim, isso mesmo. Afinal, em vez de se lançar como poeta de produção própria, foi Chico Xavier usurpar os nomes dos literatos mortos e a partir daí gerou muita e muita confusão.
Mas aí, diante das críticas severas que recebeu, o esperto Xavier fazia uma manobra, que é não reagir a essas críticas. "Não vamos botar querosene nesse incêndio", dizia ele, em várias ocasiões. Ele se fazia de vítima, bancava o coitadinho e isso era ótimo para forjar humildade. Era também o uso da Teologia do Sofrimento em proveito próprio, se promovendo pelo silêncio mediante o sofrimento, mas desta vez com chance de levar alguma vantagem.
O coitadismo faz a festa dos deturpadores da Doutrina Espírita de forma a fazê-los triunfantes diante da imagem de vítimas que força a piedade dos outros. Com isso, desvia-se o foco da distorção dos postulados da doutrina de Allan Kardec de forma que até os que reprovam a deturpação poupem os deturpadores.
É um processo inverso do dos políticos do PT, tidos como "criminosos sem crime", porque a deturpação do Espiritismo, tido como um "crime sem criminosos". No caso do PT, se culpa pessoas que não cometeram crime e mesmo assim são criminalizadas. No "espiritismo" brasileiro, absolve-se pessoas que cometeram crime (de falsidade ideológica, por exemplo, no caso da usurpação de pessoas mortas para produção de mensagens) e, mesmo assim, são inocentadas.
3) ASSISTENCIALISMO PARA LEVAR VANTAGEM - Vamos comparar o que ocorre nas campanhas eleitorais das cidades do interior. Candidatos em campanha realizando fornecimento de cestas básicas, com o objetivo de impressionar a opinião pública e garantir larga vantagem em votos.
Durante a República Velha ou mesmo até recentemente, em muitas regiões do Brasil, essa prática era consentida e garantia a longevidade de domínio de oligarquias políticas regionais. Só mais recentemente, com leis de combate à corrupção, como a Lei da Ficha Limpa, essa prática tornou-se oficialmente um crime eleitoral.
No entanto, essa prática garante uma blindagem absoluta aos deturpadores do Espiritismo, de forma que a deturpação ganha um atenuante. Os brasileiros inverteram os conselhos de Erasto que havia dito: "no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé".
Em vez disso, os brasileiros preferem acreditar: "É certo que certos espíritas cometem deslizes quanto ao pensamento de Allan Kardec e até entendem tudo errado, mas devemos dar consideração a eles porque eles são bondosos e ajudam muita (sic) gente". Nada que um Ad Passiones não resolva, não é mesmo?
O GRANDE PERIGO
Reprovar a deturpação mas aceitar os deturpadores é uma armadilha bastante perigosa, porque é um caminho que acaba voltando para a própria deturpação, porque a crença de que os deturpadores são "bondosos", além de esconder todo um processo leviano de mistificação e manipulação religiosa, dá todo o cartaz a esses arrivistas da fé, que praticamente se colocam acima do próprio Allan Kardec.
Acreditar na "bondade" dos deturpadores é algo muito perigoso. Permite-se que a "bondade" possa estar a serviço da fraude, da mistificação, do arrivismo, da mentira, da incoerência. Mesmo os mais racionais críticos da deturpação espírita se sentem tentados a recuar ao verem ilustrações piegas com Chico Xavier colocado dentro de um coraçãozinho vermelho ou Divaldo Franco cercado de alegres crianças pobres.
Isso é muito perigoso e malicioso, e pode fazer com que os esforços para recuperar a coerência dos ensinamentos de Kardec sejam seriamente corrompidos. Isso por causa de armadilhas que não surgem de uma só vez, mas aos poucos. Vejamos:
a) Se você não se aprofunda nem torna rigorosos os questionamentos contra a deturpação espírita por achar que "pelo menos Chico Xavier e Divaldo Franco praticam bondade", então você torna incompletos tais questionamentos, numa postura que parece "objetiva" mas demonstra uma total hesitação e perda de vigilância. Com tal postura, os avisos de Erasto foram jogados no lixo.
b) Como você gosta de Chico Xavier e Divaldo Franco, apesar de, a princípio, admitir que eles deturparam o legado kardeciano, você então aposta algumas fichas neles e em seus similares e, com suas ressalvas aos deturpadores, você admite dar algum crédito a eles.
c) Diante disso, você, como acha que Chico e Divaldo são "bondosos" e "ajudam as pessoas", você é tantado a ler seus livros, porque eles "só podem trazer coisas boas". Lendo os livros, será levado a acreditar que suas ideias "não ofendem" e passa a ver que sonhar com "colônias espirituais" e "crianças-índigo" lhe parece mais agradável. Com isso, suas antigas críticas à deturpação acabam sendo jogadas no lixo.
Daí que, reprovando a deturpação em favor de alguma admiração aos deturpadores - ou algum respeito, diante do discurso dissimulador dos ressalvadores de plantão, que dão a impressão de "agirem sem complacência, mas de forma objetiva" - , a deturpação volta à tona e todos os esforços de recuperar as bases kardecianas acabam ficando em vão.
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