segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O "mundo" da plutocracia está ruindo no Brasil


A rebelião de antigas supremacias sociais em reconquistar o poder, por enquanto, recuperou seus privilégios e, mesmo diante de tantas confusões, tenta se manter de pé mesmo à mercê de tantos escândalos graves.

É claro que isso traz um risco de um novo cenário fascista que pode trazer sérios holocaustos para o Brasil, já que a "revolta do bolor" traz de volta a hegemonia de setores retrógrados ou conservadores diversos, forçando o Brasil a andar para trás e apresentando a Idade Média ao nosso país.

O Brasil só fez aumentar sua crise quando afastou Dilma Rousseff do poder. Gente bem mais corrupta conquistou o cenário político atual, mas a prevalência de forças conservadoras e reacionárias faz com que seus seguidores permitissem todo tipo de irregularidade em nome do status quo.

Até parece que tudo começou com Francisco Cândido Xavier, um realizador de pastiches e plágios literários grotescos que sofreu a mais absoluta impunidade devido ao prestígio religioso que alcançou. Um dos piores arrivistas do país, Chico Xavier era um Aécio Neves do seu tempo, no sentido de praticar gravíssimas irregularidades e não receber punição alguma da Justiça.

O "espírito do tempo" de hoje é a recuperação desesperada do status quo. O Brasil virou um país de uma sociedade plutocrática e psicopata. Vários aspectos podem ser enumerados como posturas típicas da sociedade representada, de forma direta ou indireta, pelo poder retrógrado do governo de Michel Temer:

1) Pessoas já estabelecem critérios seletivos de justiça, radicalizando a já sutil impunidade da Justiça brasileira que condena os pobres e libera os ricos. Uma sociedade que se sente no direito de desejar a morte de petistas, mas se ofende quando se fala que feminicidas ricos têm câncer ou algum sério risco de falecer de infarto;

2) Pessoas masoquistas que, apoiando barbaridades como a PEC 241 do governo Temer, aceitam reduzir os salários dos trabalhadores, a venda das empresas brasileiras aos estrangeiros e a censura de conteúdo letivo na Escola Sem Partido sob a desculpa de "resolver a crise" e "trazer o progresso para o país";

3) Personalidades de extrema-direita como Jair Bolsonaro e seus filhos acabam tendo reputação expressivamente positiva entre a população, mesmo quando eles são denunciados (com provas documentais) por corrupção;

4) As pessoas estão desprezando princípios éticos e admitindo casos de corrupção, rupturas legais, interpretações legislativas tendenciosas e parciais, desde que se mantenha a reputação de pessoas dotadas de algum status quo maior: idade, dinheiro, fama, diploma, religião, poder político etc;

5) Surtos reacionários que revelam preconceitos de classe, raça, gênero e ideologia revelam uma assustadora liberdade de uma parcela da sociedade de transmitir visões segregacionistas que, em certos casos, são consideradas crime pela Lei;

6) Há uma cega adoração a pessoas que possuem algum status quo maior, seja atribuída à experiência de vida, experiência profissional, acúmulo de dinheiro, acúmulo de fama, projeção religiosa, prestígio político etc, a ponto de muitas pessoas se irritarem quando alguém diz que essas elites estão erradas.

Até nas famílias comuns os pais de família, iludidos com a idade e um simples acúmulo de décadas de vida, procuram sempre ficar com a palavra final para tudo, se aborrecendo quando contrariados, numa atitude diferente dos filhos, que normalmente estão preparados para desilusões e renúncias. É surpreendente que muitos pais têm medo de ouvir um "não" dos filhos, mais do que os filhos de ouvirem um "não" dos pais.

É assustador esse resgate de valores conservadores diversos, que variam do prestígio religioso a movimentos fascistas. Depois da libertinagem trazida pela bregalização cultural patrocinada pela grande mídia, ocorre o extremo oposto, com o resgate desesperado do que há de mais conservador na sociedade brasileira, sob os mais diversos aspectos.

No "espiritismo", nota-se a ascensão de ideias ultraconservadoras, como se os "espíritas" saíssem do armário mais uma vez e, depois de uma fase dúbia em que, desde os anos 1970, passaram a praticar igrejismo dissimulado com bajulações a Allan Kardec, aos poucos a doutrina brasileira da FEB e similares se torna praticamente a seita da Teologia do Sofrimento.

Sim, muitos textos publicados na Internet ou trazidos em "centros espíritas" e publicações escritas apelam para a aceitação do sofrimento e das desgraças, usando os mesmos argumentos dessa teoria católica-medieval, que defende o sofrimento humano como "aprendizado para a alma", o mesmo argumento já trazido no Catolicismo medieval e por seus seguidores da Teologia do Sofrimento.

Há até mesmo a literatura reacionária de Robson Pinheiro, o mais novo astro das supostas psicografias, e que escreveu livros usando alegações de "influências espirituais" para suas teses anti-petistas que cairiam muito bem nas páginas da revista Veja.

Mas o problema é que esse resgate de forças reacionárias que toma conta do país acontece com o consentimento de irregularidades diversas, como a "corrupção do bem" - no "espiritismo", por exemplo, a falsidade ideológica é até estimulada em nome das "mensagens de amor" - , a corrupção política, o desrespeito às leis e a prática de crimes, como o homicídio, sobretudo mediante bandeiras moralistas como "defesa da honra masculina" ou "direito à propriedade".

É uma sociedade que não mede escrúpulos em ser agressiva, estúpida, violenta, intransigente e intolerante, ou mesmo egoísta, impondo um "mundo cão" no qual é impossível lutar por melhorias. As pessoas do lado de baixo da pirâmide social é que têm que se adaptar para enfrentar um contexto social tão trevoso, e sobre estas se fazem as cobranças mais desmedidas e injustas, enquanto as oportunidades oferecidas são muito escassas e de difícil conquista.

Azar da plutocracia. O que ela faz é uma provisória retomada do poder, mesmo que seja para arrombar as portas da ética, da justiça social e do respeito humano. Isso porque, se a vida está instável e imprevisível para quem está no lado de baixo da pirâmide, quem está em cima não está menos invulnerável nesse cenário imprevisível e extremamente caótico.

De desentendimentos sérios entre os plutocratas até mesmo o risco de latrocínios, já que a exclusão social a ser implantada no governo de Michel Temer obrigará as elites a fazerem manobras rápidas para entrar nas garagens para evitar o assédio mortal dos assaltantes mais violentos, a sociedade "de cima" é que está vendo o mundo ruir e, por isso, tenta uma salvação desesperada reconquistando antigos privilégios.

Diante desse quadro, em que mesmo o governo Temer não tem garantias de completar o mandato, as elites correm o risco de enterrar os seus filhos, diante de uma explosão de um caos sem controle, já que a arrogância e a agressividade dos agentes sociais que tiraram Dilma do poder cobra um preço caro para os privilegiados que, diante de uma festa empolgante, terão uma ressaca extremamente dura e trágica, pelos naturais efeitos das injustiças sociais cometidas até com certo radicalismo.

sábado, 29 de outubro de 2016

O perigo "filosófico" do mito do "inimigo de si mesmo"


Parece lindo o mito do "inimigo de si mesmo", que deixa as pessoas movidas por paixões levianas diante de tanto misticismo religioso. A ideia de "vencer a si mesmo", que muitos incautos acreditam ser até "filosofia", torna-se na verdade uma grande armadilha retórica.

O problema não é combater os conflitos internos, mas isso é uma questão da natureza da vida humana e não um efeito de uma suposta auto-rivalidade. O problema, quando se fala no mito do "inimigo de si mesmo", é justamente a contradição que isso pode causar em quem prega esse princípio moralista.

Você pode imaginar que os religiosos que pregam o "combate da pessoa contra si mesma" são os mesmos que apelam para o "amor próprio". Tão presunçosos em serem "filósofos" - e um religioso, em especial um "espírita", sempre é um zero em Filosofia - , os religiosos só conseguem confundir as pessoas, com um obscurantismo ideológico que mais se perde do que encontra a verdade.

Imagine. Uma ideologia religiosa que diz para a pessoa se amar e que, em outro momento, diz que a pessoa é inimiga de si mesma. Evidentemente, as contradições que ocorrem tentam ser reparadas no discurso por um malabarismo retórico que transforma "não" e "sim" em "sinônimos", mais confundindo do que esclarecendo as coisas.

Além disso, é muito vago e abstrato pregar para a pessoa "vencer a si mesma". A vida é tão complexa que isso simplesmente é inútil e conselhos assim são pura perda de tempo. E, se a religião se apoia na Teologia do Sofrimento, que é o caso do "movimento espírita", o mito do "inimigo de si mesmo" acaba sendo trabalhado como uma criminalização da individualidade humana.

É muito perigoso defender esse mito. Isso acaba criando o auto-ódio, a auto-repulsa, porque a ênfase no "combate a si mesmo", com toda a enrolação das desculpas verossímeis, inviabiliza ou torna difícil ao sofredor admitir qualquer chance de recuperar a auto-estima e o amor-próprio.

Se o indivíduo é "seu inimigo", como ele poderá "amá-lo"? "Amai os vossos inimigos"? Quantos passeios retóricos em que nunca se chega ao caminho da coerência mas é feito de tudo, pelo desfile engenhoso das palavras bonitas, para que se tenha a falsa impressão de que a coerência foi finalmente conquistada.

Afinal, não se sabe se o sofredor, sofrendo, é beneficiado, ou se, beneficiado, estará sofrendo, ou se seu inimigo é ele mesmo ou seu algoz, se seu algoz é seu amigo, se o sofredor deve agradecer a Deus pela desgraça obtida ou pela oportunidade de progresso perdida etc. Nada fica claro, tudo vira um engodo sem sentido, cujo único sentido é a beleza das palavras que soam com água com açúcar nos corações de muitas pessoas.

Há um grande perigo em dar um sentido "filosófico" à ideia do "inimigo de si mesmo". Até porque, se ele parte para uma contradição no qual o indivíduo tanto é convidado a se amar e valorizar quanto a ser combatido como sendo um pior inimigo, então não existe verdade. São contradições sérias que dão uma sensação imediata de indecisão e incoerência.

Não há como os religiosos correrem e explicarem "não é bem assim". Até porque eles lançarão mão de juízos de valor e de um desfile pomposo de palavras bonitas e organizadas, que só servem para vender livros de auto-ajuda ou de conteúdo religioso.

A primeira sensação é que fica e o choque que o indivíduo tem diante da ideia de que ele é seu pior inimigo torna-se muito sério para que o indivíduo depois possa desenvolver um amor-próprio. Além disso, nos casos do suicídio, então, como o suicida nada tem a perder diante do juízo de valor alheio, porque ele já está perdido, tanto faz se ele é considerado carrasco de si mesmo.

O problema maior é o próprio moralismo religioso por trás do mito do "inimigo de si mesmo", uma ideia tão abstrata que os religiosos acabam usando para condenar a individualidade, para fazer o indivíduo não necessariamente viver melhor numa coletividade, mas ser apenas "mais um no rebanho".

Não se pode ver sabedoria neste mito. Ele só serve para dar um "tom poético" ao moralismo religioso, travesti-lo de falsa filosofia e deslumbrar as pessoas com um discurso hipnótico e envolvente. E serve, acima de tudo, para as vaidades dos pregadores religiosos, artífices das belas palavras, mas inimigos da lógica e do bom senso e, por conseguinte, da verdadeira Filosofia.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Globo pode ter usado atriz em competição religiosa contra Record

CAMILA PITANGA E A FUNCIONÁRIA DA CASA ONDE O "MÉDIUM" JOÃO DE DEUS ATUA, EM ABADIÂNIA, GOIÁS.

Para quem está apegado às paixões religiosas é tudo natural e saudável. Mas causa estranheza o fato de Camila Pitanga ter ido a um "centro espírita" para apenas agradecer o fato de não ter sofrido o mesmo acidente que matou seu amigo e colega Domingos Montagner, seu par romântico na novela Velho Chico, que se encerrou há algumas semanas.

Ateia e esquerdista, Camila não precisava recorrer ao "médium" João Teixeira de Faria, o João de Deus, para agradecer. E ainda assim gastar dinheiro com viagem, ela e o pai, o veterano ator Antônio Pitanga. para ir à Abadiânia Goiás, só para isso.

A atriz poderia ter ficado em casa, agradecido no íntimo de sua vida particular, sem qualquer tipo de alarde. Teria sido muito mais saudável e, acima de tudo, louvável. E a escolha de recorrer a João de Deus pode ter vindo de outro alguém porque Camila, por si só, não iria espontaneamente recorrer para onde recorreu.

A novela Velho Chico teve um ator "espírita", Carlos Vereza, que entrou para fazer um outro padre, depois que o ator Umberto Magnani, que fazia um padre, faleceu vítima de acidente vascular cerebral. Vereza é conhecido por ter feito o médico "espírita" Adolfo Bezerra de Menezes no cinema.


ALIADA DA REDE GLOBO, A REVISTA VEJA TAMBÉM PARTICIPA DA COMPETIÇÃO RELIGIOSA ENTRE "MOVIMENTO ESPÍRITA" E A IGREJA UNIVERSAL.

Isso poderia ser coincidência, mas Carlos Vereza também está a serviço do poder midiático. De tendência ideológica oposta a de Camila - esta é enteada de uma parlamentar do Partido dos Trabalhadores, enquanto Vereza é anti-petista radical - , o ator também é membro do Instituto Millenium, instituição que aglutina o que há de mais retrógrado na mídia brasileira.

O Instituto Millenium, surgido há cerca de 15 anos, revelou figuras como Rodrigo Constantino e Guilherme Fiúza, que estão entre alguns dos mais reacionários escritores do país. Outros reacionários, como Reinaldo Azevedo, o dono da Folha de São Paulo, Otávio Frias Filho, e Carlos Alberto di Franco (membro da mesma neo-medieval Opus Dei, que tem o governador paulista, o tucano Geraldo Alckmin, como filiado), também integram o "instituto".

Não é segredo algum que o "espiritismo" virou a religião da Rede Globo. De formação católica, a Globo vê no "espiritismo" uma espécie de "catolicismo à paisana", aproveitando as deturpações que a doutrina da FEB, de raiz roustanguista, desenvolveu ao longo do tempo.

Sabe-se que a atual postura dúbia do "movimento espírita", a de bajular Allan Kardec e simular cientificismo mas praticar o igrejismo mais entusiasmado, um "roustanguismo sem Roustaing e com Kardec", fez a religião popularizada por Francisco Cândido Xavier se tornar, praticamente, um catolicismo ao mesmo tempo ultraconservador e discreto, uma religião que pode se passar por um movimento espiritualista "sem compromissos".

Isso é ótimo para a competição midiático-religiosa que a Rede Globo trava contra os movimentos neopentecostais desde o final da década de 1970. Para enfrentar R. R. Soares - que arrendou programas em diversos canais, sobretudo a TV Bandeirantes - e, principalmente, Edir Macedo (que no alvorecer dos anos 90 adquiriu a Rede Record), a Globo ajudou a reciclar o mito de Chico Xavier.

Foi aí que o mito de Chico Xavier, antes trabalhado de forma confusa e "crua" pela FEB, o que não impedia a ocorrência de escândalos como as famosas polêmicas com críticos literários, passou a ser explorado de maneira limpa, como uma propaganda publicitária bastante habilidosa e muitíssimo bem planejada.

A Globo tomou como fonte de inspiração o documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), que o jornalista católico britânico Malcolm Muggeridge produziu, escreveu e apresentou sobre Madre Teresa de Calcutá. O documentário criou os paradigmas hoje consagrados de mito religioso e dos estereótipos de caridade que mais deslumbram do que ajudam. Uma caridade que serve mais como conto-de-fadas do que para o progresso da humanidade.

Daí o mesmo roteiro encenado por Madre Teresa e Chico Xavier: acolhidos pela multidão ao chegar a uma "casa de caridade", abraçando pessoas pobres, acolhendo velhinhos doentes, carregando bebês no colo, ver crianças humildes tomando sopinha e dando entrevistas usando frases de efeito sobre os valores da Teologia do Sofrimento, corrente católica medieval que fazia apologia das desgraças humanas como "caminho mais rápido" de "purificação espiritual".

Era ótimo, para a Globo, usar um "espírita", e não um católico assumido, para enfrentar os "bispos" neopentecostais porque a competição religiosa se torna mais implícita. Há quem não considere o "movimento espírita" brasileiro como uma religião, mas como um "movimento espiritualista" ou mesmo como "filosofia" e "ciência" e isso cria um verniz "descompromissado" para a Globo passar a perna nos pastores eletrônicos da concorrente.

O "espiritismo" brasileiro é uma religião conservadora, uma reciclagem de dissidências católicas jesuítas que foram passadas para trás pela própria Igreja Católica. Embora os "espíritas" façam de tudo para manter o falso vínculo com Allan Kardec, o "espiritismo" brasileiro deixa claras as suas raízes jesuítas medievais, enquanto o pedagogo francês desenvolveu o Espiritismo original impulsionado por ideais iluministas.

A grande mídia, ultraconservadora, que retomou o poder depois da campanha difamatória que ajudou a tirar Dilma Rousseff do poder, apoia o "espiritismo", que também tem exemplos de reacionarismo explícito, como a entrevista do programa Pinga-Fogo, da TV Tupi de São Paulo, em 1971, em que Chico Xavier diz, com todas as suas palavras, que defendia a ditadura militar (que vivia então sua pior fase) e esculhambava pessoas humildades, como operários e camponeses.

Recentemente, o "médium" Robson Pinheiro criou uma série de livros que não fariam feio se fossem publicados aos poucos, como os velhos folhetins, na revista Veja, famosa pelo seu reacionarismo extremamente doentio. Obras como O Partido: Projeto Criminoso de Poder e A Quadrilha: O Foro de São Paulo, representam a "urubologia do além-túmulo" na medida em que tentam justificar interpretações anti-esquerdistas a supostos planos espirituais.

O próprio João de Deus foi blindado pela revista Veja, já que o tratamento de câncer do suposto médium curandeirista foi capa de uma de suas edições. A escolha de João por usar médicos da Terra para o tratamento foi criticada duramente, mas o "médium" tentou argumentar fazendo a seguinte pergunta: "Barbeiro corta o próprio cabelo?".

Só que a História registra que, em situações bem mais graves, o jovem médico russo Leonid Rogozov, que atuava na Antártica, sofrendo de uma grave apendicite, teve que realizar, nos anos 60, sua própria cirurgia, já que não poderia chamar uma equipe médica que demoraria a chegar ao Polo Sul e também não poderia viajar, porque as variações climáticas poderiam fazer o apêndice se explodir e matar o enfermo.

Então Rogozov só precisou de alguns assistentes de sua equipe para lhe passarem os equipamentos, mas toda a cirurgia foi feita pelo próprio enfermo, numa situação difícil e delicada. A operação foi um grande sucesso e o médico se recuperou em duas semanas, voltando a trabalhar normalmente em seguida. Rogozov só faleceu décadas mais tarde, pelos efeitos naturais da velhice.

Vergonha para João de Deus, que tinha situações mais cômodas para fazer uma auto-cirurgia. Mesmo assim, a desculpa colou. E a Globo usou uma atriz de grande carisma e alta visibilidade, como Camila Pitanga, para fazer a propaganda do "espiritismo" como um meio de neutralizar a influência da Igreja Universal do Reino de Deus.

Daí a comparação de duas capas da mídia associada, como a revista Veja que fornece "pautas" para o Jornal Nacional, numa comunhão de interesses entre as Organizações Globo e o Grupo Abril. Tanto Globo e Abril estão preocupados com a vitória eleitoral do "bispo" Marcelo Crivella para a prefeitura do Rio de Janeiro e resolveram explorar o factoide de 1990, quando Crivella apenas se envolveu numa confusão menor diante das obras de uma igreja da IURD no Rio de Janeiro.

A capa de Veja sugere que Crivella teria cometido um "crime", com aquelas fotos típicas de identificação criminal. e dava como manchete apenas as fotos que o "bispo" havia "escondido há 26 anos" sem dar detalhes sobre o episódio muito mal esclarecido. Pouco tempo atrás, a revista dramatizava o câncer de João de Deus, para evitar desconfianças sobre sua "mediunidade" ao recorrer à medicina terrestre para curar de uma grave doença.

Embora em muitos aspectos "espíritas" e neopentecostais se afinem em interesses, como a condenação ao aborto até em casos de estupro ou doença da gestante e a Escola Sem Partido - cujo programa ideológico aparece nas obras de Emmanuel e é adotado até na Mansão do Caminho de Divaldo Franco - , as duas facções religiosas estabelecem uma competição acirrada para ver quem derruba a Igreja Católica na supremacia da fé no Brasil.

Embora a Rede Record tenha feito crescer a influência dos evangélicos no Brasil, o "espiritismo" é que conta com maior blindagem nos meios jurídicos, entre as celebridades e nos setores de classe média alta da sociedade brasileira. 

Os evangélicos detém maior número de fiéis, mas não conseguem esconder vários escândalos. Já os "espíritas", mesmo com baixa popularidade de dois por cento da população brasileira, conseguem se livrar de escândalos e gozam de uma reputação aparentemente inabalável.

O fato dos "espíritas" tentarem cooptar os ateus - vistos como "virgens da crença em Deus" - é uma forma de aglutinar fiéis e concorrer com os neopentecostais na busca pela supremacia religiosa. E Camila Pitanga, pelo seu carisma e popularidade, tornou-se, sem querer, uma garota-propaganda do "espiritismo da Globo" para enfrentar a Igreja Universal e suas novelas bíblicas.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Pioneiro dos 'fakes', Chico Xavier é endeusado nas redes sociais


Pioneiro dos fakes, Chico Xavier só poderia ser idolatrado nas redes sociais. É assustadora a adesão de chiquistas no YouTube e no Facebook, criando redutos de fundamentalismo religioso e deslumbramento cego que atingem níveis preocupantes.

É bom deixar claro que a suposta psicografia de Francisco Cândido Xavier consiste numa fraude por uma simples questão de observação. Afinal, nas suas obras tidas como "mediúnicas", observam-se graves irregularidades que destoam severamente dos aspectos pessoais dos falecidos, desde o estilo de escrita até a caligrafia da assinatura.

Semelhanças não justificam autenticidade, por si. Afinal, se existem cem semelhanças e, no entanto, uma única diferença contradiz a natureza pessoal do alegado espírito, não há como legitimar porque se trata de uma farsa. Como num produto pirata, por exemplo.

Daí que só mesmo o deslumbramento religioso alimentado por uma engenhosa campanha de marketing de Antônio Wantuil de Freitas e, depois, da parceria da FEB com a Rede Globo de Televisão, Chico Xavier pôde estar associado, tendenciosamente, à ideia de "bondade máxima" e "perfeição espiritual", virtudes facilmente questionáveis se observarmos os bastidores de suas atividades.

Tudo isso foi um discurso construído, manipulado, devido ao fato de que o Brasil possui uma emotividade religiosa forte, mesmo que ela se revele abertamente piegas, ultraconservadora e, outrossim, reacionária. Pois os defensores de Chico Xavier nas redes sociais se revelam altamente reacionários.

Isso influi pelo fato de que nas redes sociais o reacionarismo cresceu de forma a fazer campanha contra o governo Dilma Rousseff e permitir o retrógrado governo de Michel Temer que abrirá caminho, provavelmente, a um futuro governante do traiçoeiro PSDB, responsável por grandes desvios de dinheiro público para os cofres tucanos localizados em "paraísos fiscais" no exterior.

Os reacionários das redes sociais, chamados de "midiotas" ("midiota" é um neologismo que mistura as palavras "mídia" e "idiota"), demonstram ser pessoas subservientes com o status quo, seja ele político, acadêmico, econômico, empresarial, lúdico (fama), tecnocrático e midiático.

Eles possuem um perfil conservador que revela valores machistas, racistas e de outros preconceitos sociais. Um exemplo é defender que nerds (tipo de jovens de baixo status social) devem namorar somente mulheres siliconadas. A roupagem moderna da linguagem e do visual, além de um apetite "punk" de reagir às críticas não os faz menos reacionários, em níveis ideológicos medievais.

Vários desses reacionários usam fakes para empastelar fóruns na Internet, desmoralizar petições de abaixo-assinados, humilhar vítimas em seus perfis sociais, haquear e até criar blogues ofensivos. Uns apenas restringem seu reacionarismo a uma ação furiosa de humilhação. Outros já partem para outros crimes, como os de difamação e calúnia, entre outros crimes praticados nas redes digitais.

Os chiquistas ficam apenas na ação furiosa, mas não são raros aqueles que chegam a ameaçar e caluniar os discordantes, ou mesmo usar de ironia com palavras falsamente dóceis. Diante de um internauta que criticou o superficialismo e a pieguice das músicas "espíritas", um fundamentalista disparou: "a música do Kardec (sic) é tão doce".

Há até o famoso contraste, movido pela ilusão das aparências, entre Chico Xavier cegamente endeusado e o ex-presidente Lula cegamente hostilizado. Iludidos com a aparência do "velhinho frágil" de um e do "proletário robusto" de outro, usam das atribuições artificiais das aparências para adotar sentimentos extremados dotados de muito juízo de valor e inúmeras fantasias.

É só observar as coisas. No YouTube, existem vídeos que mostram Lula como um "grosseirão", como um "cometedor de gafes", como um "líder mafioso" e existe até um vídeo supondo que ele "ameaçou de morte" o juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato. Um monte de mentiras do mal e calúnias gratuitas, publicadas impunemente no portal de vídeos.

No mesmo portal, Chico Xavier é alvo de "mentiras do bem". Há o vídeo que de forma debiloide usa um sonho de 1969 para confirmar como "profecia" relatos de militares dos EUA que viram naves extra-terrestres anos antes, em 1964 e 1967. Uma "profecia" que "confirma" o que ocorreu antes dela!!

Mas isso é só um detalhe. A "profecia" da "data-limite" cria uma multitude de vídeos no YouTube, uma série de entrevistas que são pura perda de tempo, divagações pseudo-científicas a partir de um sonho comum, que qualquer um tem quando dorme, mas em se tratando de Chico Xavier vale a sua carteirada de ter seu devaneio onírico promovido a "profecia científica", para delírio dos incautos.

São tolices que crescem como bolas de neve, com falsas análises científicas e falsas abordagens filosóficas, criando um engodo discursivo pseudo-intelectualizado que faz com que Chico Xavier tenha uma falsa superioridade em tudo, praticamente sendo promovido a "dono da verdade absoluta" sob a aceitação bovina de seus seguidores.

Isso é muito grave e faz com que as redes sociais, antes tidas como redutos de esclarecimento e revolução social, se reduzirem a antros de fundamentalismo religioso e reacionarismo de toda espécie. Isso é muito nocivo, na medida em que as novas tecnologias se tornam instrumento do mais puro obscurantismo ideológico.

domingo, 23 de outubro de 2016

Dinheiro, leis e influência: o que os conservadores precisam para se manterem

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), REDE GLOBO E FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL (FMI) - Tudo o que os conservadores precisam para prevalecer na sociedade.

Por que os valores conservadores prevalecem? Por que a plutocracia não conhece infortúnios nem limitações pesadas, o que permite que religiosos que expressam os interesses elitistas sempre recomendem aos sofredores sofrerem mais e aos algozes o fiado moral que só trará sua conta em outras encarnações? Por que as elites retrógradas tentam resistir ao tempo e, quando perdem o poder, o retomam à força, mas favorecidas pelas circunstâncias?

O Brasil vive uma retomada conservadora que era impensável cinco anos atrás. Uma volta ao obscurantismo, que nas eleições para prefeito e vereador no Brasil se destacam com a vitória, no primeiro turno, do empresário João Dória Jr. para a Prefeitura de São Paulo, e de Carlos Bolsonaro, filho do ultradireitista Jair Bolsonaro, para vereador no Rio de Janeiro.

É um processo muito perigoso, porque os retrocessos sociais já estão em jogo, num país que ainda não teve as antigas feridas da ditadura militar cicatrizadas. Um país que até aceitou um cenário político mais progressista, em 2003, mas condicionado com alianças conservadoras, repetindo o hábito de acolher parcialmente o novo sem que haja ruptura com o que é velho e obsoleto.

É um terrível cacoete que existe no Brasil. Sempre que existe uma coisa inovadora, seja ela vinda de fora ou aqui implantada por gente idealista, essa novidade é deturpada de forma que se adeque aos padrões decadentes e obsoletos da tendência mais antiga. Essa tendência não é totalmente superada, sua essência está toda inserida, não necessariamente de maneira explícita, na novidade que é acolhida.

Sempre houve o acordo entre o mofo e o fungicida. O fungicida tem que agir de preferência fora do local do mofo. O cheiro de mofo tem que permanecer, ainda que de forma mais sutil. É um hábito que forças retrógradas de algum setor sempre imponham condições para uma novidade ser introduzida, sacrificando sua essência e seu poder de impacto.

No "espiritismo", isso ocorreu. A novidade de Allan Kardec foi praticamente reduzida a uma mera formalidade, quando a deturpação de Jean Baptiste Roustaing recebeu a preferência no "movimento espírita", já que as ideias de Os Quatro Evangelhos condiziam mais com a formação católica dos fundadores "espíritas" brasileiros, que se fundamentou no Catolicismo medieval trazido pelos jesuítas portugueses.

Em outras palavras, o "espiritismo" que se construiu no Brasil quase nada tem da formação iluminista do pedagogo de Lyon e seu cientificismo aberto para debates. Em vez disso, o "espiritismo" brasileiro se limitou a acolher dissidências católicas assim que o Catolicismo mundial adaptou-se às mudanças do tempo, como o crescimento das zonas urbanas e as descobertas tecnológicas.

As mudanças desagradaram os católicos que permaneceram nas suas concepções medievais, sob influência do velho Catolicismo português que foi introduzido no Brasil através da Companhia de Jesus, cujos missionários incluíram a figura do padre Manuel da Nóbrega, que o "movimento espírita" adotou, através de Francisco Cândido Xavier, sob o codinome de Emmanuel.

A frustração em relação ao cancelamento das missões da Companhia de Jesus no Brasil foi compensada quando o "espiritismo", inicialmente com um roustanguismo mais explícito - hoje ele é dissimulado - , passou a acolher espíritos de jesuítas, através do exemplo do "mentor" de Chico Xavier.

Como é de praxe, o "novo" que se condiciona pelos postulados velhos e obsoletos (mas estranhamente considerados "de muita serventia") sempre se impõe como sendo "novo", como uma casa de fachada nova que, escondendo uma construção velha e quase ruinosa, tem que se impor sempre como uma "casa nova".

E isso é que sustentou o "espiritismo", que, mesmo na sua fase recente, a tendência dúbia, que tenta caprichar no aparato de "espiritismo autêntico", bajulando Allan Kardec, usurpando Erasto e adulando personalidades científicas, pratica um igrejismo medieval entusiasmado, em muitos momentos piegas e com um misticismo acima da medida.

E por que o "espiritismo", como outras tendências conservadoras travestidas de "novas", sempre prevalecem e tentam resistir a questionamentos e oposições diversas? Com certeza, não é por méritos naturais, mas por condições que o Brasil tem de fazer prevalecer valores antiquados que, depois de uma fase progressista, voltam com apetite redobrado através do governo retrógrado de Michel Temer.

O que existe são os três pilares que a sociedade conservadora, no Brasil, possui para manter a prevalência de seus mitos, dogmas e práticas. São três recursos que fazem com que mesmo valores aberrantes e práticas escandalosas, quando associados a setores dominantes, são socialmente aceitos. Eles são:

1) DINHEIRO - Com o dinheiro, o poder das classes dominantes se recicla e consegue contornar crises e impasses, sobretudo porque uma boa grana garante prestígio e supremacia, além de garantir a atenuação das condenações criminais diversas. É também sinônimo de sucesso e mérito, bem mais do que as virtudes morais.

2) LEIS - O artifício legal socializa os abusos cometidos pelas classes dominantes, e não apenas as leis do papel, a roupagem legislativa e jurídica que conhecemos, mas também as normas sociais, mesmo as mais implícitas. Ela regula os costumes que fazem com que até quem está no lado de baixo da pirâmide social procure agir da melhor forma possível para favorecer os interesses dominantes e os valores mais conservadores.

3) INFLUÊNCIA - Muitas das "leis" sociais são propagadas, consolidadas e mantidas pela mídia, de forma sutil e até mesmo inconsciente. Isso vem pela própria prática cotidiana, pelo modo conservador de ver o mundo que cria "tradições" que veículos dominantes de comunicação transmitem para o público. É a grande mídia que lança dogmas e totens que a sociedade deve apoiar, e protege ídolos que podem não ter talento nem outros méritos naturais, mas que servem aos interesses estratégicos de entretenimento, política e outros setores das atividades humanas.

Diante disso, foi até fácil a retomada do poder pelas forças conservadoras. No âmbito do dinheiro, as classes dominantes financiaram um ativismo de fachada, feito por grupos pateticamente reacionários como Movimento Brasil Livre e Revoltados On Line, líderes do que o "movimento espírita", de forma constrangedora, definiu como "começo da regeneração da humanidade" e "início do caminho de libertação do Brasil".

No âmbito das leis, a corrupção de setores do Supremo Tribunal Federal e do Ministério Público fazem com que o uso da legislação se torne parcial, tendencioso e feito ao sabor das conveniências, nem sempre favorecendo o interesse público e levando ao grau extremo a impunidade que os criminosos de colarinho branco já recebiam nos tempos da ditadura militar.

No âmbito da mídia, a Rede Globo e outros veículos, como Folha de São Paulo e a panfletária revista Veja, servem para influenciar a população no seu reacionarismo, embora até programas policialescos como Cidade Alerta (Record) e Brasil Urgente (Band) incitam o ódio com a glamourização da violência e tabloides como o carioca Meia Hora ofereçam ao público doses de sensacionalismo barato e de todo tipo de valor grotesco e aberrante.

São esses três elementos que sustentam a sociedade conservadora que se enriquece às custas do subdesenvolvimento do Brasil. É essa pequena parcela da população brasileira, beneficiada pelos ventos políticos dos últimos cinco meses, que se sente privilegiada com a postura subalterna e ainda miserável que o Brasil se mantém na comunidade das nações, com graves injustiças sociais que o "sistema" não quer que sejam combatidas de verdade. As elites ganham muito com elas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

O sofredor não está na Terra para "turismo". E o palestrante "espírita"?


O "espiritismo" comprova cada vez mais estar voltado para a Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica que estabelece que as desgraças são o caminho da "purificação da alma". Isso é provado pela série de textos de "conselhos morais" que sempre impelem o deserdado da sorte a aceitar sua sina e até abrir mão de seus potenciais.

Fala-se até que o espírito não está na Terra para "turismo". Mas os "espíritas" pouco se importam se a pessoa desperdiça a vida com o acúmulo de desgraças. "Só viveu sofrendo? Pouco importa! Tem a verdadeira vida, a reencarnação, não custa recomeçar...", é a resposta mais provável.

Fica uma grande contradição. Os "espíritas" dizem que a pessoa não está na vida para ter moleza, mas tem que caprichar no "aprendizado", que é o eufemismo para o acúmulo de desgraças que chega na vida, como um remédio tomado em excesso.

Assim como o remédio é receitado com uso excessivo, para garantir o lucro da indústria farmacêutica, que se enriquece às custas de pacientes que usam remédios como quem pega um doce na geladeira, o "espiritismo" vira uma "indústria de sofredores" para garantir a lotação dos "centros espíritas" e a venda em massa de produtos associados.

"Abra mão de tudo, se for necessário. Deixe de lado seus talentos, recomece os planos de vida do zero", "reavalie seus desejos de forma radical". Essas são as recomendações que levam no exagero o sofrimento e as necessidades de reavaliar desejos, vontades e habilidades.

Na dose certa, as adversidades ensinam a pessoa, sim, a fazer uma revisão do que ela quer fazer ou deseja ter na vida. Mas o "espiritismo" não quer saber de dose certa: o excesso é "dose certa". Tendo como maior postulado a Teologia do Sofrimento católica, mais do que os ensinamentos morais do professor Allan Kardec, o sofrimento é "somente um detalhe".

É fácil negar a individualidade no "espiritismo". A anulação do indivíduo, induzido a ser diferente do que é, e, às vezes, abrindo mão até de aprendizados, pois, dependendo do caso, a pessoa que sofre desilusões e aprende a ser diferente, quando entra em contato com o "espiritismo", sofre adversidades que o empurram para voltar às ilusões abandonadas.

Tivemos queixas de rapazes que se desiludiram na adolescência, não conseguindo conquistar moças de perfil sexualmente atraente, aprenderam a gostar de moças com perfil mais modesto e personalidade mais interessante, e, quando se tornaram "espíritas", passaram a atrair somente as chamadas "periguetes", que levam a efeitos mais grotescos a obsessão pelo sexo que os rapazes abandonaram.

O sujeito vira brinquedo das adversidades, e, do contrário que os "bondosos espíritas" dizem, nem de longe isso traz o aprendizado. Ou, se traz, é pela dor e pela degradação típica de quem sofre danos morais em situações que dariam um livro de Franz Kafka.

É até irônico que os "espíritas" reprovam tanto o suicídio, mas para eles pouco importa se o sofredor suporta adversidades pesadas e tem um caminho apertado para a superação. Não se trata de mil portas fechadas e uma janela aberta, mas um pequeno buraco que mais parece o vão livre entre a porta e o chão.

E se o sofredor não está na Terra para "fazer turismo", o que faz então os palestrantes "espíritas", viajando no bem bom, com o dinheiro da "caridade" e os generosos patrocínios das elites da fortuna terrena, percorrendo as mais belas cidades do Brasil e do mundo, ganhando condecorações e fazendo palestrinhas tolas que divagam sem necessidade sobre o amor e a felicidade, qualidades das quais é inútil se perder na avalanche de teorias infindáveis, palavras mortas que só servem para enfeite.

É muito fácil dizer para o sofredor "se mexer", ainda que só lhe reste o direito de respirar - se ele não viver no Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo ou Porto Alegre, que, com poluição e multidões de fumantes inveterados e narcisistas, nem direito à respiração se tem - , enquanto o palestrante "espírita" está feliz com o mercado das lindas palavras, recebendo medalhas e diplomas. Como é bom usar belas palavras como passaporte para o turismo da vaidade sob o manto da fé.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Endeusamento de Chico Xavier e Madre Teresa de Calcutá tem fins financeiros


A religião é um repositório de ilusões e paixões humanas nas quais se combinam sensações de emotividade extrema, juntando pieguice, fantasias e falsa modéstia. É um fenômeno no qual as mesmas paixões da fortuna e do luxo se voltam para valores simbólicos e não-materiais, mas sujeitas ao mesmo envaidecimento e a um triunfalismo pior do que o dos ricos da matéria.

O religioso não admite que pode errar. Ele se julga protegido por uma aura de superioridade que se considera imune a qualquer questionamento ou impasse. Religiões nunca entram em falência. Os religiosos sempre se consideram com a posse da palavra final e com a certeza de que, se não têm ainda o passaporte para o Céu, estão num caminho relativamente curto para isso.

A religião não é um mal em si, se ela se manifestar dentro dos seus limites, sem forçar proselitismo, sem se achar acima da realidade. Mas quando a religião se julga acima da realidade, se impõe para a aceitação por outrem e determina os limites para o raciocínio questionador e científico, ela se torna, portanto, um mal.

É o que se vê, por exemplo, na chamada "bancada da Bíblia", predominantemente de seitas evangélicas do tipo "neopentecostal", derivadas ou dissidentes da veterana Igreja Nova Vida, mas também com o sutil e eventual apoio de católicos e "espíritas".

Pois é essa bancada, no Congresso Nacional, que está promovendo uma marcha-a-ré histórica, apoiando a instalação ilegal e ilegítima de Michel Temer, e através dele implantando uma pauta de medidas retrógradas que envolvem a redução sutil de direitos trabalhistas e o freio aos avanços sociais conquistados.

Embora Michel Temer tenha que cometer recuos aqui e ali - ele voltou atrás da extinção do Ministério da Cultura e do aumento para doze horas na carga horária de trabalho - , a influência da "bancada da Bíblia" já sinaliza que novos retrocessos estão a caminho, o que faz muitos especialistas compararem o cenário político brasileiro de hoje à Idade Média ou à Alemanha nazista.

A religião, portanto, vive de suas ilusões e de seus mecanismos arrivistas. E a competição acirrada que envolve sobretudo neopentecostais e "espíritas", que disputam a superação da hegemonia católica e a supremacia religiosa no Brasil, revela todo um processo ganancioso que se apoia sob o verniz da fé e sob o pretexto da fraternidade.

E aí se observa, sobretudo, os interesses comerciais em jogo. No caso dos neopentecostais, é bastante óbvio, ante a máquina midiática que foi construída, através da aquisição, nos anos 90, da veterana Rede Record (a TV Record paulista é a mais antiga emissora de TV em atividade no Brasil), a partir dos dízimos, uma espécie de estelionato religioso no qual os pastores persuadem seus fiéis a doar uma relativa soma de dinheiro, sob a promessa da "salvação divina".

No caso do Catolicismo e do "espiritismo", se observa sobretudo quando se tenta promover determinados ídolos religiosos como "espíritos perfeitos", visando interesses financeiros estratégicos, envolvendo produtos relacionados e até mesmo finalidades turísticas.

Madre Teresa de Calcutá não foi canonizada pelo Vaticano por ser a perfeição que oficialmente lhe é atribuída, até porque ela foi denunciada, ainda no fim da vida, por ter deixado seus alojados nas "casas de caridade" em condições terrivelmente desumanas. Ela foi canonizada porque é considerada uma grande fonte de renda para a Igreja Católica.

Livros sobre o "belo exemplo" de Madre Teresa, exemplares da "milagrosa medalha" - um artefato inócuo, como comprovou o caso Monica Besra, na Índia, e mostra fortes indícios na intoxicação alimentar creditada como "câncer terminal" do engenheiro Marcílio Andrino - e gravuras da "santa" podem ser comercializados com o dinheiro sendo enviado para a "caridade" (leiam-se as contas bancárias dos sacerdotes, já beneficiados em vida pelos desvios financeiros de Madre Teresa).

No "espiritismo", observa-se o mesmo com Francisco Cândido Xavier. Depois de uma propaganda confusa e sujeita a escândalos, através da FEB, entre 1932 e 1970 (da farsa literária do Parnaso de Além-Túmulo ao desfecho do caso Otília Diogo), Chico Xavier passou a ser, aos poucos, promovido nos mesmos moldes publicitários que promoveram Madre Teresa através do documentário inglês Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), de Malcolm Muggeridge, lançado em 1969.

Com os mesmos elementos do documentário de Muggeridge, Chico Xavier foi relançado como um "grande filantropo", copiando os mesmos truques publicitários: chegada a uma casa de caridade acolhido pela multidão, segurar criança no colo, passar a mão nas cabeças dos doentes, conversar com velhinhos pobres, dar depoimentos pseudo-filosóficos etc. Se toda propaganda política fosse assim, até os "ficha-suja" poderiam ser santificados com uma campanha assim.

Se Madre Teresa virou "santa" para o bem do comércio de artigos católicos a ela relacionados, Chico Xavier é declarado "espírito de luz" sob o mesmo propósito: vender, vender e vender livros, assim como produzir materiais derivados que levam seu nome, cheios de estórias "lindas", "lições de vida", "mensagens de amor" e tudo o mais, fora os livros "científicos" da "profecia da data-limite", que fazem do nome Chico Xavier uma máquina de fazer dinheiro.

O aparato de "caridade" e a eventual "gratuidade" de produtos e eventos "espíritas" não desmente o arrivismo financeiro. Afinal, já existem outros meios de captar recursos, sem falar que muitas das doações de roupas e outros objetos servem para serem revendidos. Na "Cidade da Luz", em Salvador, José Medrado também apela para "dízimos" à maneira de seus vizinhos da Igreja Universal do Reino de Deus.

Há workshops, filmes de dramaturgia ou documentários, há lançamentos de novos livros que, em grandes quantidades, compensam a inserção de filmes e livros "espíritas" para o carregamento gratuito nas redes sociais. A "gratuidade" é apenas um aparato, uma isca para atrair fiéis, porque o comercialismo tem outros meios de arrecadação, que fazem com que "médiuns" profissionalmente modestos possam ter um conforto além do normal.

Isso mostra o quanto a religião "espírita" não é muito diferente de outros exploradores da fé, apenas se diferindo no status ainda intocável de mercadores das belas palavras, beneficiados pela blindagem midiática, jurídica e política que os faz imunes mesmo diante de denúncias sérias e graves. Ser "santo" no Brasil tem duas condições favoráveis: ser do PSDB e ser "espírita". Podem errar a vontade que ninguém mexe.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Globo indicou João de Deus para Camila Pitanga?

CAMILA PITANGA PERDEU O AMIGO E COLEGA DE CENA DOMINGOS MONTAGNER, QUE MORREU AFOGADO DURANTE UM MERGULHO.

Estranhos fatos ocorrem. Uma atriz que havia declarado seu ateísmo e parecia não seguir religião alguma, depois que sofreu uma tragédia foi agradecer justamente a uma seita igrejista, o oposto de sua natureza, por ter sobrevivido a um acidente.

Sabe-se que Camila Pitanga, durante um intervalo de filmagem da novela Velho Chico, da Rede Globo, conversava com o amigo e colega de cena Domingos Montagner que, apesar de veterano aos 54 anos, estava em plena ascensão e com uma comédia cinematográfica em lançamento.

Foi Domingos dar um mergulho e um forte movimento das águas o fez se afogar, morrendo pouco depois, Camila ia nadar, também, mas Domingos a impediu, salvando sua vida. A morte de Domingos Montagner causou comoção nacional e o ator não viveu para gravar suas últimas cenas, que a produção da novela resolveu substituir por uma câmera subjetiva.

Lamentamos com profunda sinceridade a tragédia, já que foi um desfecho triste para um ator como Domingos Montagner, que se revelou uma grande figura humana e um excelente profissional da atuação. Tanto que a impressão de sisudez de seus personagens de novela se comprova falsa, pela constatação de que ele teve origem como palhaço de circo, tinha grande desenvoltura como ator de teatro e era muito descontraído e jovial nos bastidores.

Mesmo assim, é muito estranho Camila Pitanga, ateia e sem religião, recorrer justamente a um "centro espírita" de Abadiânia, Goiás, para falar justamente com o "médium" João de Deus, um latifundiário, um igrejista, com atividades "mediúnicas" tão duvidosas que, quando ele esteve gravemente doente, não fez cirurgia espiritual de si mesmo, mas recorreu a um hospital de elite.

"O barbeiro corta o próprio cabelo?", alega João de Deus, se esquecendo de que existem casos surpreendentes de auto-cirurgia, e mostram o quanto o "espiritismo" que se diz tão forte sempre arruma desculpa quando se fraqueja de forma vergonhosa. Há uma lista de 10 mais incríveis casos de auto-cirurgias feitas por "barbeiros" que não têm medo de "cortar o próprio cabelo".

Um dos famosos casos foi o do médico russo Leonid Rogozov, lotado em uma base na Antártica, descobriu que estava sofrendo, em 1964, de uma apendicite aguda. Ele não podia viajar para um hospital porque a apendicite poderia se romper, causando a morte, devido a variações climáticas.

Ele resolveu então fazer uma cirurgia de risco, com ajuda de um meteorologista, o motorista da equipe e os próprios assistentes do médico. A cirurgia foi bem sucedida e o médico teve duas semanas de recuperação, que foi completa a ponto do médico ter condições de trabalhar depois de então.

Camila se dirigiu à Casa Dom Ignacio de Loyola, acompanhada do pai, o ator e cineasta Antônio Pitanga. Antônio é a segunda personalidade que teve sua comemoração de uma efeméride profissional um tanto abalada pelas circunstâncias tristes de entes queridos.

Este ano, o ator e dublador Nizo Neto, filho de Chico Anysio, não pode celebrar os 30 anos do filme Curtindo a Vida Adoidado, no qual dublou o personagem-título, Ferris Bueller (interpretado por Matthew Broderick), porque perdeu o filho Ryan Brito, afogado depois de uma ingestão de ayahuasca. A ex-mulher de Nizo, a atriz Márcia Brito, recorreu a um "médium" que mandou uma suposta mensagem de Ryan, com aquele mesmo apelo religioso de sempre.

Antônio Pitanga está a comemorar, sobretudo com documentário sobre sua vida e carreira, os 55 anos de lançamento do filme Barravento, de Glauber Rocha, lançado no final de 1961 e que tinha o pai de Camila Pitanga como protagonista. Neste caso, a tragédia não foi direta, mas a filha se sentiu abalada com a morte de Domingos, com a qual estabeleceu uma relação comparável a de amigos de infância.

É estranho, portanto, que Camila tenha recorrido a um "centro espírita" e um suposto médium de trajetória irregular para agradecer o fato de ter sobrevivido. Nem precisava gastar dinheiro para tal viagem, poderia agradecer numa meditação, sem um destinatário definido. Até visitar uma igreja católica seria menos arriscado do que recorrer a uma doutrina irregular e cheia de contradições graves, que é o "espiritismo".

O grande problema é que os "centros espíritas" acabam se beneficiando com a adesão de famosos cuja visita acaba se tornando uma propaganda para a seita igrejista que adula Allan Kardec. Dentro da competição religiosa, é ótimo, para o envaidecimento dos "espíritas", acolher ateus que acabam se subordinando a uma "conversão espírita", um processo que existe, embora os "espíritas", meio "sem querer querendo", digam que nunca obrigam os outros à aderir a esta religião.

NOVELA TERIA SIDO AMALDIÇOADA?

A própria novela Velho Chico já surgiu cheia de problemas e incidentes sérios. Segundo a jornalista Fabíola Reipert, do portal R7, a novela era para ser exibida às 18 horas, com orçamento baixo, mas foi para as 21 horas por insistência do autor Benedito Ruy Barbosa. Com orçamento baixo, a exibição das 18 horas teria cortado boa parte das viagens arriscadas a lugares nas margens do Rio São Francisco.

Tanta coisa poderia ser evitada. A novela já teve seu argumento apresentado aos executivos da Globo em 2009, mas ficou engavetada. O casal protagonista nem iria ser Domingos e Camila, mas Eriberto Leão e Letícia Sabatella, que recusaram os papéis. Escolhida para substituir Letícia, Camila teve dificuldades para se acostumar ao papel na novela.

Houve desentendimentos entre o diretor Luiz Fernando Carvalho e Benedito Ruy Barbosa. O autor chegou a fazer comentários homofóbicos, dizendo que sua obra não era "novela de bicha", teve uma filha demitida da equipe por brigar com Luiz Fernando e este, vendo que a novela estava com baixíssima audiência, ainda recusou as sugestões de mudanças propostas por Sílvio de Abreu, diretor do núcleo responsável pela novela.

O estresse das gravações foi tanto que a morte de Domingos Montagner não foi a primeira perda trágica na novela. O ator Umberto Magnani, ultimamente em plena ativa e que, na novela, fez um padre, sofreu um acidente vascular cerebral e morreu pouco depois. Sua ausência foi compensada por outro personagem, outro padre interpretado por Carlos Vereza, "espírita" que havia feito o médico Adolfo Bezerra de Menezes no cinema.

O próprio trocadilho com Francisco Cândido Xavier, embora parecesse uma mera coincidência, também deve ser ao menos cogitado. Chico Xavier é muito cultuado por produtores de TV e, sobretudo, de novelas, e os próprios folhetins televisivos oferecem o padrão de narrativa usado por romances supostamente mediúnicos.

Quanto à escolha de Camila Pitanga de recorrer ao "médium" João de Deus para um simples agradecimento, é possível que tenha sido uma indicação de alguém da Globo. Uma moça que havia assumido seu ateísmo não teria feito por conta própria uma escolha de ir a um "centro espírita" em lugar distante, vendo que o "espiritismo" tem um ranço igrejeiro e deísta acentuados.

sábado, 15 de outubro de 2016

Por que a bondade, no "espiritismo", pode ser cúmplice da desonestidade?


No país da Operação Lava Jato, em que os projetos progressistas dos governos de Lula e Dilma Rousseff são combatidos com toda sua fúria, quando distribuir renda de forma mais próxima da justiça social plena é sinônimo de "corrupção", há uma complacência quanto às irregularidades do "movimento espírita" que chegam a níveis extremos e preocupantes.

É só observar, nas redes sociais, o quanto os internautas, na sua incompreensão que combina momentos de intolerância e outros de complacência, dependendo da causa envolvida, acham que "vale tudo" no "espiritismo" brasileiro, pois o que importa é o "trabalho do bem e do amor ao próximo".

Isso é muito perigoso, porque é uma interpretação leviana da ideia vaga de que "a bondade pode tudo". É possível alguém vir com uma falácia de que a bondade perdoa a fraude, a desonestidade, o roubo, a falsidade ideológica, de forma a ser aplaudido e virar uma pretensa unanimidade com tais ideias, em verdade bastante duvidosas.

A blindagem com que Francisco Cândido Xavier teve ao longo dos anos, principalmente desde os anos 1970, quando ele virou um "símbolo de filantropia" graças à máquina manipuladora da Rede Globo, mostra o quanto colocar a bondade e o amor ao próximo como desculpas para certas práticas desonestas é uma armadilha terrível para as pessoas.

Isso gera um descaso terrível. Observar, por exemplo, os livros que usam indevidamente o nome de Humberto de Campos, mas não correspondem ao seu estilo original, e aceitar tudo isso de maneira impune só por causa das "mensagens de amor", é uma aberração gigantesca de arrancar os cabelos.

Alguém aceitaria um trote telefônico em que o sequestrador, imitando a voz de um filho seu que, na verdade, foi assassinado, transmitisse palavras de amor, mensagens positivas de paz e caridade? Você aceitaria que a bondade justificasse atrocidades e enganos mil, feitos para prejudicar as pessoas?

É assustador ver as pessoas dizendo "não importa que mistifiquem e criem mensagens de gosto duvidoso, se elas sempre apelam para o bem, tudo é válido", diante de fraudes na literatura, artes plásticas e nas cartas que se atribui aos mortos, mas que vieram da imaginação fértil de supostos médiuns e consultas das mais habilidosas para "rechear" as mensagens de informações sobre seus supostos autores espirituais.

É muito chocante que as pessoas aceitem tudo em nome da "fraternidade". Mensagens que são agradáveis apenas pelo desfile das palavras, pouco importa quem fez. Um suposto médium usar o nome de alguém, se promover às custas do prestígio de um morto, criar da própria mente uma mensagem qualquer e botar no crédito do falecido de sua escolha e ainda virar unanimidade com isso.

O mais deplorável é que a esperteza de Chico Xavier em enganar as pessoas chegou a convencer tanto a mãe quanto o filho de Humberto de Campos. Usou de galanteios fraternais para conquistar o apoio de Ana de Campos Veras, mãe do escritor, e mostrou pequenas atividades filantrópicas para convencer o cético Humberto de Campos Filho. Foi mais fácil que tirar doce de uma criança!

Quando a bondade vira apenas uma qualidade subsidiária da religião, fica mais fácil então colocar o "amor ao próximo" a serviço da desonestidade doutrinária e das fraudes diversas. Até mesmo a falsidade ideológica, quando um suposto médium lança uma mensagem, em carta, livro, pintura, falsete vocal etc, que o falecido alegado não iria, por sua natureza pessoal, fazer, pode ser aceita, impunemente, sob a desculpa da "fraternidade".

Isso é terrível, e se trata de um dos piores vícios existentes no Brasil, uma teimosia doentia das pessoas em achar que a bondade é um "vale tudo" religioso, bastando que palavras como "fraternidade", "caridade", "misericórdia", "esperança", "amor" e outros valores positivos circulem nesse desfile de palavras bonitinhas da retórica religiosa, em especial a "espírita".

As pessoas não conseguem perceber se essa "bondade" realmente beneficia ou prejudica as pessoas. O fato dos familiares de Humberto de Campos terem aceito os pastiches literários de Chico Xavier e passassem a adorar o "bondoso médium", não significa que a soma da aparente bondade com a desonestidade resultem em qualidades melhores. A desonestidade não se torna honesta quando feita "em nome da bondade".

A falsidade ideológica salta aos olhos. Supostas obras atribuídas a Humberto, Auta de Souza, Olavo Bilac ou, da lavra de outros supostos médiuns, Raul Seixas, Getúlio Vargas, Tancredo Neves, Leila Lopes e Ryan Brito, mostram muitas irregularidades que praticamente transformam a mediunidade, da forma como é feita no Brasil, uma atividade praticamente desacreditada e desmoralizada.

Quanto à filantropia, se ela fosse realmente um motivo para legitimar qualquer desonestidade, então teríamos que santificar, também, os políticos corruptos, sobretudo os "coronéis" das zonas rurais, que fazem gigantescas lavagens de dinheiro com aparentes atos de caridade. Mas ninguém vira santo porque usa a filantropia para obter votos em verdadeiro estelionato eleitoral.

Cabe, portanto, pensarmos fora do deslumbramento religioso, e vermos o horror que é usar a bondade como cúmplice da desonestidade doutrinária e das fraudes associadas, porque isso significa engano de qualquer maneira, e ludibriar nunca é um ato positivo, sobretudo quando religiosos se aproveitam disso para se ascenderem diante da boa-fé das multidões.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O Rio de Janeiro que já não é modelo para coisa alguma


Um Rio de Janeiro velho, cansado, desgastado, viciado. O Rio de Janeiro dos fumantes inveterados dos mercados com preguiça de renovar estoques, da poluição e das ruas sujas e fedorentas, do fanatismo doentio do futebol que faz torcedores gritarem feito trogloditas até mesmo durante a noite.

Este é o Estado e sua respectiva capital que não servem de modelo para coisa alguma. E que enfrenta sua tragédia até em áreas antes consideradas glamorosas, na última segunda-feira, um confronto entre traficantes e policiais transformou o entorno de Copacabana e Ipanema em praças de guerra, vivendo um pesadelo tipicamente suburbano em pleno coração da Zona Sul carioca.

São problemas demais para atribuir a uma "complexidade normal da vida moderna". Nem para cidade pós-moderna serve, porque são tantos os dramas, tragédias, transtornos, gafes e outras decadências, que a única constatação que se deve admitir é que o Estado do Rio de Janeiro regrediu a um atraso que envergonharia até Estados isolados da Região Norte do país.

A pistolagem correu solta na Baixada Fluminense e chegou, em plena luz do dia, ao bairro de Madureira, que meses atrás era usado pelo prefeito Eduardo Paes para virar a "Zona Sul dos pobres", com uma prainha pequena, a do Parque Madureira, de funcionamento estranho - só abre às nove da manhã, contrariando recomendações médicas quanto ao sol da manhã - e limitado, e com uma área que não atende à demanda que normalmente se dirige ao imenso litoral "do Leme ao Pontal".

Em plena tarde, havia sido assassinado o ex-presidente da Portela, Marcos Falcon, por pistoleiros que saíram tranquilamente num bairro movimentado como o de Madureira. E até agora, duas semanas depois do crime, ninguém foi recapturado. Enquanto isso, na "provinciana" Aracaju, assaltantes que invadiram uma rádio FM, na noite de um sábado, foram identificados e capturados em menos de uma semana.

Para piorar as coisas, a aparente felicidade dos cariocas, capazes de dormirem tranquilos até depois do anúncio da PEC 241, a "PEC do Teto" que irá cortar gastos públicos e transformar a vida dos brasileiros num caos, sob a desculpa de "garantir o crescimento econômico" e "combater a crise", nem de longe pode ser considerada sinal de perseverança e otimismo.

Isso porque a decadência aparece em todos os setores. No transporte coletivo, se observa a retirada gradual de circulação dos modernos ônibus de piso baixo, que beneficiavam sobretudo idosos, um reflexo do desgaste do modelo de 2010, implantado de maneira autoritária por Eduardo Paes e sob a blindagem de busólogos que praticavam grosserias e humilhações nas redes sociais.

A retirada de ônibus de piso baixo, reflexo tanto das reduções arbitrárias e nada funcionais de percursos - linhas que chegavam à Gávea reduziram seu percurso para a estação do metrô de Siqueira Campos, em Copacabana, mais para o lado do Leme - quanto do fim dos grandes eventos esportivos como a Copa e as Olimpíadas, também ocorre para pagamento de dívidas das empresas de ônibus envolvidas. A retirada também é feita por empresas intermunicipais.

Coitados dos idosos que precisam fazer força nas pernas para entrar nos ônibus. Isso num sistema injusto, já marcado pela pintura padronizada que confunde os passageiros, permite a corrupção e faz com que ônibus provoquem acidentes sem que viva alma possa identificar de imediato qual empresa foi envolvida. É a mesma pintura escondendo empresas que mudam de nome, que trocam de linha, que sucateiam a frota, sem que o passageiro saiba.

Só isso impede o carioca de passear ou se deslocar para qualquer finalidade. Mesmo trabalho. Mas há os excessos de automóveis, numa cidade cujos políticos reclamam da sobreposição de itinerários da ligação Zona Norte-Zona Sul, mas nunca reclamam da sobreposição de comerciais de automóveis numa verdadeira overdose publicitária servida a toda hora, desde o café da manhã, com pessoas ainda com sono, passando manteiga nos automóveis que devoram nas refeições.

Culturalmente, o carioca parece ter inveja dos gados bovinos que pasteiam pelo interior do Brasil. Se até na cultura rock, antes um foco de rebeldia e ousadia, o apego à mesmice do hit-parade atinge níveis preocupantes, vide a vergonhosa experiência da Rádio Cidade, hoje "escondida" na Internet, o que dizer da avassaladora monocultura do "sertanejo" e do "funk" que predominam o imaginário juvenil?

É um cenário cultural que as pessoas aceitam como carneiros no curral. Um mercado literário que desvaloriza o conhecimento, perdido em auto-ajudas, livros religiosos (a maioria de péssima qualidade, mas que promete "lindas lições") e besteirol de youtubers, que ainda mantém "livros para colorir" nos mais vendidos de não-ficção (?!?!), e um mercado teatral marcado por franquias de contos de fadas e desenhos animados.

Os próprios "heróis culturais" do público médio, no outrora moderno Rio de Janeiro, se tornam nomes do "sertanejo" e do "forró eletrônico", para não dizer o "funk". Ou subcelebridades como as ex-musas do Big Brother Brasil, que viram trend topics no Twitter até quando dão um simples espirro na rua, endeusadas por uma legião de fanáticos assustadoramente grande.

Sabe-se que o Rio de Janeiro também é o maior reduto de cyberbullying, a onda de ataques na Internet movida por internautas intolerantes, que não aceitam a expressão de quem discorda do estabelecido pela mídia, pelo mercado e pela política.

Variando entre humilhações gratuitas (que incluem até blogues de paródia difamatória) a comentários de falso desdém ("Xiii, lá vem o chato com aquele papo contra (o estabelecido), os "cães de guarda" do establishment só começam a decair hoje pela repercussão extremamente negativa que causaram e pelo fato de que até a sociedade conservadora tem que admitir que eles foram "longe demais".

O Rio de Janeiro sucumbe em todos os aspectos, porque virou a meca do consumismo, perdendo o caráter humanista que marcou a sua capital, antes a cidade-Estado do Distrito Federal e da Guanabara, há quase 60 anos. É uma cidade desumana, em que as relações sociais reduziram ao status constrangedor de mercadoria, as amizades servem mais para compartilhar um consumo, sem mais saber ou discernir valores e finalidades sociais da mera curtição comprada no mercado.

Os namoros viraram um mero consumismo sexual sob o ingresso caro em bares e boates e sob o combustível traiçoeiro do álcool. Amizades são medidas pela personalidade convencional, numa alegria forçada, como se fosse um diálogo de dois humoristas de stand up comedy, que têm o agravante de usar o fanatismo do futebol como medida para tais relações. Perguntam o time de alguém antes de perguntar o seu nome.

Se a pessoa não gosta de futebol, ela é discriminada. E, o que é assustador, o fanatismo do futebol impulsiona muitos cariocas a perturbar a sono de muitos cidadãos, que precisam dormir cedo para ir ao trabalho, em muitos casos acordando na madrugada seguinte.

As torcidas do Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo, em qualquer horário de uma partida com qualquer um destes times, gritam em altíssimos decibéis a cada gol realizado. Pouco importa se é quinze para meia-noite, por exemplo. A vizinhança mais parece arquibancada do Maracanã, do Engenhão ou do São Januário.

É esse o Rio de Janeiro que ainda tem fumantes inveterados soltando fumaça para não-fumantes inalarem em ruas semi-fechadas por prédios, de caminhões de lixo sem tratamento para conter o fedor, de supermercados com operadores de caixas lentos e uma demora inexplicável de renovar estoques de produtos, algo que está ficando raro na Salvador que costuma ser famosa pela "preguiça".

Não há como considerar o Rio de Janeiro como Estado-modelo de coisa alguma. Nem ao menos sua antes imponente capital. Como não dá para considerar São Paulo desta forma, ainda mais pela vocação eleitoral extremamente conservadora, que elegeu no primeiro-turno o nada carismático (a não ser entre os ricos) João Dória Jr.. Ou na outrora civilizada Curitiba, de proto-fascistas raivosos e de machistas ciumentos que matam suas namoradas em lugares públicos à luz do dia.

O Brasil precisa se reinventar à revelia das mesmas cidades-modelos que sofrem decadências vertiginosas. Essas decadências não podem servir de "modelo" para o resto do país, só porque vêm destas cidades. Nem toda "novidade" vinda do Rio, de São Paulo ou Curitiba, é sempre positiva. Há muito lixo exportado por estas cidades que cabe ao resto do país rejeitar.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Renato Russo e a pieguice "espírita"

RENATO RUSSO, NOS TEMPOS DO GRUPO PUNK ABORTO ELÉTRICO.

O desconhecimento da paranormalidade e da comunicação com o mundo espiritual e a total ignorância quanto à vida no além-túmulo fazem com que a divulgação de mensagens atribuídas a espíritos falecidos quase sempre seja um processo fraudulento e de credibilidade duvidosa.

De Getúlio Vargas a Ryan Brito, passando por Raul Seixas, Mamonas Assassinas e Ayrton Senna, para não dizer literatos como Humberto de Campos e Auta de Souza, ou Olavo Bilac e Casimiro de Abreu, todos eles, na verdade, nunca se comunicaram com a gente na Terra. O que nos chegou sob sua suposta responsabilidade eram apenas cartas apócrifas, criadas pelos próprios "médiuns", e nunca passando de um mero marshandising religioso do "movimento espírita".

Nem a farsante Madre Teresa de Calcutá havia mandado a mensagem espiritual atribuída a ela pelo "médium" Robson Pinheiro, porque ela, que no fim da vida tomou conhecimento das denúncias de suas irregularidades pelo trabalho sério de Christopher Hitchens, passou a sentir a consciência pesada que só se agravou no além-túmulo, tornando-a completamente incapaz de escrever aquele "lindo livro" com "mensagens serenas de pura sabedoria".

Nem mesmo a compreensão da boa teoria salva os "médiuns". Vemos os "tarimbados" Divaldo Franco e José Medrado lançando mil teorias sobre "mediunidade", algumas delas aparentemente corretas, e suas práticas foram tão somente de pastiches literários e uso de falsidade ideológica ou lançamento de pseudônimos para produzir obras "espirituais" de propaganda igrejista.

Muitos desses "médiuns" dizem ler O Livro dos Médiuns, citam o Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos, aconselham, vejam só, a evitar os "falsos médiuns" e até lançam livros inteiros sobre mediunidade, dando a impressão de que entendem e praticam o rigor e a cautela recomendados por Allan Kardec.

No entanto, o resultado de seus produtos "mediúnicos" é um desastre. Não é a carteirada religiosa que garante a autenticidade, muito pelo contrário, vemos o prestígio de muitos "médiuns", a contar do exemplo do próprio Francisco Cândido Xavier, ser usado para proteger fraudes, simulacros, irregularidades diversas que fazem das "psicografias" serem, na verdade, paródias do que os espíritos dos falecidos haviam sido ou feito em vida.

Chico Xavier abriu o caminho a essa prática irresponsável, e merecidamente recebeu críticas das mais duras e enérgicas de especialistas literários sérios. Muitos acham que ser religioso é mole, que pode se posar de vítima diante de críticas e fazer choradeira para comover a opinião pública, mas a verdade é que Chico Xavier não teve razão e sua produção literária atribuída aos espíritos de grandes literatos nunca passou de pastiches e plágios, atingindo níveis de paródias.

Até hoje muitas pessoas se assustam quando se contesta a veracidade do suposto espírito Zílio, que o "médium" Nelson Moraes, protegido pelo seu prestígio religioso, diz ter sido Raul Seixas. Mas a verdade é que, nas obras do tal "Zílio", o que se vê é um falso Raul Seixas que demonstra ser abobalhado, ingênuo e inseguro, diferente do roqueiro cínico que havia sido no final da vida, quando lançou o disco A Panela do Diabo com o vocalista do Camisa de Vênus, Marcelo Nova.

Renato Russo e Cazuza tiveram a mesma coisa. Cazuza foi apenas citado por Robson Pinheiro e seu "Ângelo Inácio", pois talvez seria demais botar na conta do cantor supostos romances igrejeiros. Mas o Cazuza que apareceu num livro de Robson Pinheiro mais parecia um clone do Sérgio Mallandro, um garotão abobalhado que parecia fazer gracinhas no Qual É A Música de Sílvio Santos.

Renato Russo, que faleceu há exatos 20 anos, é explorado pelos "espíritas" de forma que soasse como uma paródia do poeta reflexivo que se tornou a partir de As Quatro Estações, álbum de 1989 da Legião Urbana que rompe com a natureza punk herdada pelo Aborto Elétrico.

A carteirada religiosa dos "espíritas", que lhes permite usar os nomes de espíritos falecidos de maneira impune e abusiva (há "centros espíritas" que usam nomes de Auta de Souza, Humberto de Campos e até Carlos Chagas), permitiu até mesmo que uma letra de Wilton Oliver, supostamente atribuída a Renato Russo, intitulada "Do Além", fosse gravada pela cantora Carolina Garcia diante de seus seguidores que acreditam que aquilo foi feito pelo falecido cantor da Legião.

As letras "espirituais" soam piegas. Tentam imitar o estilo poético de Renato Russo pós-1989, mas num claro apelo igrejista, que não condiz ao que Renato havia escrito em vida, ele que havia sido também cético, questionador e em muitos momentos amargo e sombrio.

A veia punk herdada pelo Aborto Elétrico - foi nos tempos deste grupo que Renato compôs "Que País é Este?" com acordes inspirados em "I Don't Care" dos Ramones - continuou sobrevivendo, mas em contexto bem diferente, na Legião Urbana. Vide o verso "os assassinos estão livres" de "Teatro dos Vampiros".

É muito diferente do igrejismo piegas e gosmento que se vê nas letras "espirituais" trazidas por Wilton Oliver. Soam pastiches, paródias, como na leva de muitas bandas ruins de Rock Brasil que surgiram na cola da Legião Urbana fazendo falsa poesia, abusando de trocadilhos e falsa melancolia piegas e vazia de sentido.

Vejamos estas letras, que comprovam o pastiche e a paródia do lirismo de Renato Russo que só servem para propaganda igrejista, para o mershandising religioso. Há até o apelo "vamos ser menos ateus", uma paródia de apelo igrejeiro para "Deus, somos todos ateus" de "Depois do Começo", escrita em vida por Renato. Começamos com "Do Além", a letra que os "espíritas" tiveram coragem de musicar e gravar:

DO ALÉM

Eu vim de lá
Eu vim contar
A história mais feliz
A quem quiser sorrir
Falar do que tem dentro de mim 

Vim dar do que é meu
Da parte de Deus
E um sonho pra sonhar
Um canto pra cantar
Eu vim de lá

Vim pra dizer das coisas que aprendi
De um mundo mais feliz
Vim fazer o bem
Vim dar mais do mel
Bem menos do fel
Mais vidas pra lembrar
E um sonho pra sonhar além
Do além

HOJE MAIS QUE ONTEM

Bom olhar o sol nascer 
além das montanhas 
e afastar a sombra pra lá de mim. 
Bom ver o mar e o céu azul 
num rosto amigo ver Jesus. 
Bom saber que o amor está aqui.

Quantos segredos guardei 
e poucas vezes perdoei. 
Quantos erros esqueci de perdoar. 
Eu poderia lamentar, 
mas prefiro tentar outra vez.

Tudo se renova em espírito e verdade, 
mais justiça, 
enfim, mais amor em mim.

Vejo mais fraternidade, 
não estamos sós, 
na beleza do infinito eu estou aqui. 
Acredite em mim, 
simplesmente vivo.

Só a verdade me liberta. 
Eu tenho sede, 
eu tenho pressa, 
eu acredito na promessa, 
acredito nas palavras de amor e fé, 
meu coração guarda as tuas palavras. 
Não existe perigo, 
tu estás comigo 
e com meus irmãos.

MENOS ATEU

Eu só desejo a você o que for necessário
É o que desejo a você.
A primeira vez era só incompreensão
A gente não sabia, mas alguém falou da lei de amor
E nos mostrou então a salvação é caridade
E desde então escolhemos a verdade.
Olha, o sol já vem, já vem, já vem
Vem, vem somar o sorriso teu
Do primogênito ao derradeiro,
Somos todos filhos de Deus - Refrão
Eu só desejo a você o que for necessário
É o que desejo a você
Que a paciência que te falta hoje,
amanhã você possa ter
Que você possa plantar a felicidade
E você saiba doar tudo aquilo que se tem
Que você faça somente o bem
Olha, o sol já vem, outra vez já vem
Vamos brincar no quintal de Deus
Vamos ser mais honestos
Vamos ser menos ateus.
O que nasce do amor só pode ter bondade
Não acredito na imperfeição
Não acredito na maldade
Eu sei, temos nosso ninho
Mas, se vamos brincar no quintal de Deus
Vamos ser mais honestos
Vamos ser menos ateus.

domingo, 9 de outubro de 2016

Vitória eleitoral da direita e PEC 241 sepultam utopia do "Coração do Mundo"


O "espiritismo" demonstra cada vez mais ser uma religião retrógrada, reacionária, medieval e ultraconservadora, não só por exemplos como a "psicografia-coxinha" de Robson Pinheiro ou os apelos chorosos dos palestrantes "espíritas" para os sofredores "suportarem as desgraças", "terem fé na vida" e "abrir mão de suas paixões (eufemismo para as necessidades humanas)", mas pelo fracasso da utopia do "Coração do Mundo", supostamente prometida para a partir de 2019.

A vitória eleitoral da direita, sobretudo quando os cariocas, teimosos em ignorar as lições amargas de um Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro, fizeram o filho deste, Carlos Bolsonaro, como vereador mais votado da campanha de 2016, revela não um tempo de esclarecimento e de progresso, mas tão simplesmente um período obscurantista, que cientistas políticos e juristas sérios já classificam como a Idade Média brasileira e comparam o momento atual à ascensão do nazismo na Alemanha.

A agenda política do presidente Michel Temer é das mais retrógradas. Sua ênfase é o "controle" de gastos públicos, através de uma proposta de emenda à Constituição Federal, a PEC 241, a "PEC do Teto", que na verdade limitará os investimentos à Educação, Saúde e Assistência Social.

Esse corte de gastos faz parte de um pacote chamado Plano Temer e apelidado de "Ponte para o Futuro", que, pelo conteúdo ultraconservador, é pejorativamente conhecido como "pinguela para o passado". Ele inclui projetos que sutilmente apelam para a precarização do trabalho e para a autorização dos empresários em desrespeitar direitos trabalhistas.

Mesmo com desmentimentos aqui e ali, a pauta reacionária é evidente e, no conjunto da obra, visa enriquecer os mais ricos e deixar os pobres perderem suas conquistas históricas. Trabalhadores perderão garantias como o 13º salário e o adicional de férias, a licença-paternidade e a assistência médica gratuita, poderão ganhar menos no salário líquido que já não é dos melhores e poderão levar a pior em negociações trabalhistas, quando a falta de mediação da lei encorajará os patrões a fazerem prevalecer seus interesses.

A comemoração da mídia reacionária - sobretudo a Rede Globo, que endeusa Chico Xavier e Divaldo Franco e manipula as mentes das pessoas, e cujos donos são extremamente ricos e abocanham grana até da sonegação de impostos a percentuais generosos das ligações do Criança Esperança - com a decadência do PT nas urnas, há uma semana, mostra o quanto o Brasil está caminhando para trás. E com o apoio do próprio "espiritismo", diga-se de passagem.

A interpretação fantasiosa do sonho de Francisco Cândido Xavier sobre a tal "data-limite", que sugeria uma restrição ao egoísmo humano para que se evite uma catástrofe na humanidade, além de ser desastrada, cheia de falhas de caráter geológico e sociológico (o vulcânico Chile seria poupado de catástrofes ambientais planetárias e os eslavos iriam viver - isto é, morrer - no calor do Nordeste brasileiro), não parece ter um pingo de probabilidade de ocorrer.

Em teoria, mesmo que a humanidade fosse melhorar por volta de 2052 ou 2057, além de ser de uma forma completamente diferente do que sonhavam Chico Xavier e Divaldo Franco, eles nunca teriam razão, até porque eles não são proprietários da verdade, nada do que eles disseram terá confirmação profética, a humanidade seguirá em frente à revelia de seu legado igrejista medieval.

Mas o que se observa é que a humanidade está longe de melhorar. Em muitos aspectos, por culpa do próprio misticismo religioso, já que a religião é um movimento em que um seleto número de pessoas parece sentir pressa em atingir o paraíso, e não raro perde a cabeça na ânsia de se evoluir ou fazer valer suas visões "corretas" de vida, o que faz com que alguns cometam injustiças e até violências, mesmo sob os pretextos cristãos aparentemente mais nobres.

Aumenta-se o feminicídio conjugal como nos anos 1970 e 1980, numa época em que a imprensa se recusa a admitir e noticiar que Doca Street e Pimenta Neves estão a poucos passos do caixão. O machismo que impõe tragédia às mulheres não admite sua própria tragédia, diante da violência furiosa dos machistas diante da separação conjugal, que também traz efeitos adversos a eles, por causa dos atos destrutivos que provocam na sociedade e dos vícios dos próprios machistas, que não são um primor de cuidados com a saúde ou prudência no trânsito.

Aumentam os moradores de ruas nas grandes cidades, com zonas urbanas sendo cada vez mais extensões de favelas, já que a exclusão social tira as pessoas das casas, com aluguéis cada vez mais caros, diante de políticas salariais mais injustas, que só tendem a piorar diante do voraz apetite privatista e rentista do governo Michel Temer e seus aliados no ramo político, empresarial, jurídico e midiático.

Aumenta a decadência da cultura popular, antes um pólo de expressão dos anseios do povo, cada vez mais tomada por empresários inescrupulosos que promovem a imbecilização das classes populares como um meio de ganhar mais dinheiro.

Juntamente a isso, há o oportunismo do "funk", o ritmo que leva a imbecilização cultural às últimas consequências e também é apoiado pela Rede Globo, tentando parasitar o que resta das forças sóciopolíticas de esquerda, para depois apunhalá-las quando não houver mais chance de recuperação do lulo-petismo e não for preciso vincular as lutas progressistas ao ridículo "balançar do popozão".

E quem imagina que o cenário é de regeneração humana e fim da impunidade, nota-se que um verdadeiro "trem da alegria" surge com anti-petistas aumentando as riquezas pessoais e antigos líderes das passeatas verde-amarelas, como os do Movimento Brasil Livre, Revoltados On Line, Vem Pra Rua, Acorda Brasil (este liderado por um descendente de Dom Pedro II, imperador endeusado pelo "movimento espírita") e outros, acumulando sua fortuna aos poucos.

A grande mídia já está nadando em dinheiro, com o governo Temer, que costuma impor limites aos gastos públicos e investimentos sociais, torrando dinheiro com verbas desnecessárias aos grupos de comunicação, como Globo, Folha e Veja, empresas privadas que já possuem um gigantesco patrimônio financeiro. Os donos da Rede Globo, os três filhos de Roberto Marinho, já figuram nas listas dos mais ricos do mundo, pelo patrimônio faraônico que possuem.

Há também a decadência do Poder Judiciário e do Ministério Público, com juristas como Gilmar Mendes exibindo sua prepotência, já que o referido juiz, apenas porque não gostou de críticas ou de citações de fatos, resolveu processar a atriz Mônica Iozzi e obrigar a retirada de um livro só porque narrou um bate-papo entre o juiz e o âncora do Jornal Nacional, William Bonner.

Mas já temos o exemplo cheio de equívocos e contradições na pessoa de Sérgio Moro, juiz paranaense que se comporta, indevidamente, como se fosse um tira de Hollywood. Um sujeito que admite colher provas ilícitas para a investigação da "corrupção" e que trata de forma desigual a corrupção do PT e a do PSDB, mas que é tido como "herói nacional" com uma surpreendente rede de apoio da sociedade brasileira.

O Brasil está numa situação extremamente calamitosa. Fala-se em catástrofe política que pode gerar traumas futuros e outros efeitos devastadores. E os próprios "espíritas" acabam coniventes com esse cenário desolador, na medida em que se preocupam apenas em dizer para os sofredores "aceitarem desgraças" e dizer que o atual momento em que vivemos é de "regeneração". Só se for regeneração dos antigos privilégios e abusos das elites que detém algum tipo de poder na sociedade.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Por que o Brasil insiste tanto no atraso?

PROPAGANDA DE MENSAGEM RACISTA PUBLICADA NA REVISTA A CIGARRA, DE 1919.

É chocante a realidade que o Brasil vive e que permite retrocessos mil em nosso país. A volta da plutocracia ao poder e a sutil implantação de uma agenda retrógrada - apesar dos desmentimentos do presidente Michel Temer, que representa as forças conservadoras - revela uma situação surreal vivida no país, que deixa o resto do mundo perplexo e de queixo caído.

Juristas com compreensão parcial e tendenciosa podem fazer prevalecer suas decisões nos rumos do país, respaldados por uma decadente mídia cujos empresários não só vivem de riquezas abusivas - como os donos das Organizações Globo e dos grupos Folha, Abril e Estadão - como são sonegadores de impostos e usurpadores de verbas públicas.

Como é que se aceita isso? As pessoas que se indignaram com os governos do Partido dos Trabalhadores, superestimando seus erros e desprezando seus acertos, se vestindo com a camiseta da (corrupta) CBF para pedir a saída de Dilma Rousseff, agora estão felizes diante de um país desgovernado comandado por um presidente ilegítimo, sem respaldo popular e com um projeto político instável e cheio de propostas retrógradas.

O espírito do tempo dos brasileiros é dos piores possíveis. Se apoia uma "cultura popular" que nada tem de popular e é movida por ídolos caricaturais que, apesar da origem humilde, mais parodiam do que expressam as classes populares e ainda são sustentados ou patrocinados por oligarquias regionais e grandes empresários de mídia.

É um período de profundo fanatismo religioso, de uma mal disfarçada recusa ao saber e de uma complacência com as interpretações levianas das leis, quando isso favorece os interesses das multidões "indignadas" ou das elites detentoras de privilégios. É uma tentadora inclinação para o atraso que faz até com que a família fascista Bolsonaro seja vista com simpatia por considerável número de pessoas.

Nas redes sociais, o caráter retrógrado é preocupante. O reacionarismo da maioria dos internautas no Facebook, O deslumbramento religioso e as calúnias anti-PT circulando livremente no YouTube. Tudo muito subjetivista, para o bem e para o mal.

Há até mesmo dois pesos e duas medidas. No caso de Madre Teresa de Calcutá, denunciada por que se constatou que suas "casas de caridade" eram verdadeiros holocaustos, depósitos de doentes em condições degradantes, virou santa por ter em seu favor apenas um suposto segundo milagre - o primeiro se revelou uma farsa - que, por sinal, foi um factoide ocorrido no Brasil.

Dilma Rousseff, a ex-presidenta, no entanto foi julgada por crimes que não cometeu, através de medidas fiscais normais em qualquer governo da República, e que haviam sido feitos para favorecer investimentos sociais. E o ex-presidente Lula é condenado por supostas "grandes propriedades" que são um modesto sítio e um barco tipo de pesca, além de um triplex que na verdade ele e sua mulher Marisa não quiseram adquirir.

Sérgio Moro é considerado "herói", da mesma forma que um atrapalhado e gaguejante juiz Deltan Dallagnol, que diante de desastrados arquivos de Power Point, disse que Lula é o "comandante máximo da corrupção da Petrobras", algo que só serve para alimentar a catarse rancorosa dos anti-petistas.

Mas é o mesmo contexto jurídico que, há cerca de 70 anos atrás, deixou passar a fraude escancarada do pseudo-Humberto de Campos de Francisco Cândido Xavier, um embuste que claramente nem de longe corresponde ao estilo original do autor maranhense, mas que deixou os juízes indiferentes, deixando um empate que favoreceu o tenebroso mito de Chico Xavier, hoje apoiado até pela Rede Globo.

Quando se trata de ídolos religiosos, qualquer irregularidade é aceita sem reservas. Para piorar, as pessoas ainda se conformam quando pregadores religiosos, do alto de suas vaidades pessoais de pretensos donos da verdade, dizem que raciocinar é perigoso, falando num duvidoso "tóxico do intelectualismo", quando quase nunca se fala em "tóxico da religiosidade".

São atrasos imensos, não bastassem a prevalência de preconceitos sociais sutilmente defendidos, que até Chico Xavier colocou, no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de autoria dele e de Antônio Wantuil de Freitas, mas atribuído, de forma oportunista, a Humberto de Campos. Nele, negros e índios são vistos como "condenados morais" e os judeus atribuídos à condenação de Jesus de Nazaré, seguindo abordagem do Catolicismo medieval.

Mas em O Consolador, há ainda o comentário machista de Emmanuel, que ironizou o feminismo dizendo que o "feminismo legítimo" se encontra dentro do lar e da prece. A velha fórmula da mulher religiosa e escrava do lar, ou, quando muito, de "suaves" papéis femininos na sociedade patriarcalista, cujo exemplo inclui até mesmo a primeira-dama Marcela Temer.

Ver que Chico Xavier ainda é visto como "futurista" e "progressista" ao lado de seu discípulo Divaldo Franco é constrangedor e até mesmo asqueroso. Afinal, são dois tipos antiquados, cujo conteúdo ideológico em suas pregações sempre foi ultraconservador, apenas dissolvido no sabor doce da retórica religiosa e nas imagens agradáveis associadas à devoção da fé.

Só isso pede para as pessoas reverem seus valores. O Brasil está apegado a valores retrógrados que consagraram a chegada ao poder do impopular e conservador Temer. Não dá mais para pensar no "novo" como valores velhos tidos como atemporais e fantasiados de "inovadores".

É preciso deixar a zona de conforto de antigos privilégios, antigos totens, antigos dogmas e antigos paradigmas que só servem para manter estruturas enferrujadas de superioridade social que cada vez mais perdem o sentido. O que poucos sabem é que forçar uma volta ao passado pelo saudosismo doentio de antigos valores e antigas hierarquias pode significar um preço muitíssimo caro que os próprios conservadores vão ter que pagar em breve.