Usar a "bondade" como finalidade, princípio e diferencial do "espiritismo" brasileiro pode parecer lindo, mas é um grande desvio de foco. É o bom-mocismo usado para camuflar a desonestidade doutrinária, usando a "caridade" como pretexto para continuarem valendo as deturpações e mistificações.
Há um ditado popular que, embora percorressse o terreno pantanoso das referências religiosas, diz com interessante metáfora: "quando a esmola é demais, o santo desconfia". Da mesma forma, quando o "espiritismo" fala demais em "bondade" e "caridade", é bom desconfiar.
Os brasileiros não seguem as recomendações do espírito Erasto, que no tempo de Allan Kardec advertiu para os inimigos internos da Doutrina Espírita. Em certo momento, Erasto fala que os espíritos levianos (entendemos eles tanto encarnados como desencarnados) podem às vezes mostrar coisas boas, mas é justamente aí que se deve tomar muita cautela.
Segundo Erasto, é a partir dessas "coisas boas" que há o aperitivo para a deturpação, as mistificações e a inserção de ideias contrárias à lógica e ao bom senso. O que significa que, dentro do "espiritismo" de moldes igrejeiros, a "bondade" é apenas um gancho para forçar o apoio à deturpação e à mistificação.
A ideia é, diante dos questionamentos feitos contra a deturpação da Doutrina Espírita, seus partidários espalharem por aí que "é verdade que Allan Kardec foi mal entendido e muito mal estudado", para depois dizer "mas temos que reconhecer que os 'espíritas' sempre agem por bondade e amor ao próximo".
Se uma instituição hospitalar presta um mau serviço, deixa pessoas prostradas e amontoadas no corredor, causa demora no atendimento e ainda assim atende mal, se esse hospital faz propaganda de bom-mocismo, dizendo que "não tem fins curativos" e prima pela "bondade" e pelo "amor", você acreditaria? Mas o "espiritismo" faz isso e as pessoas põem a mão no fogo pelos deturpadores.
Pronto. A estratégia do bom-mocismo está lançada. As pessoas vão dormir tranquilas porque, "pelo menos", os maus espíritas "são bondosos" e escrevem suas obras deturpadoras visando o "pão dos pobres". As pessoas não sabem as armadilhas em que estão caindo ao exaltar a "bondade" de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco.
No primeiro momento, acredita-se que Chico Xavier e Divaldo Franco são "maiores símbolos de amor e bondade", com aquela concepção igrejista de "bondade" que muitos acreditam e não sabem que se trata de uma concepção domesticada, uma "bondade" que não mexe nas estruturas de poder e privilégio que promovem injustiças.
Felizes, os que acreditam nessa "bondade" que nada transforma de profundo - apenas "transforma" no sentido de criar cidadãos-carneirinhos para o "sistema" - vão dormir tranquilos. Dizem admitir que Chico Xavier e Divaldo Franco são deturpadores, mas "pelo menos fazem caridade". Parece lindo, mas é o ovo da serpente.
Depois, as pessoas, acreditando na "bondade" e na "confiabilidade" deles, vão ser tentadas a ouvi-los. "Quem sabe eles trazem coisas boas, lindas lições de vida", dizem. E aí, pegam os vídeos ou livros de Chico Xavier e os de Divaldo Franco e vão ver as palestras e entrevistas deste.
Pronto. Acreditando que eles são "bondosos", acredita-se que eles são "confiáveis". Acreditando desta forma, surge a vontade de rever suas ideias. Com isso, é tentado a acreditar em ideias deturpadas, porque elas evocam a "esperança", a "superação" e a "fraternidade".
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Isso é o que Erasto estava tentando evitar, com seus avisos dados num tom desagradável para muitos. A "bondade" é um gancho para legitimar a deturpação e a "caridade" apenas um aparato para reforçar esse apelo.
E aí as pessoas não conseguem perceber o ditado da "esmola que é demais". Quando se fala demais em "bondade", como se fosse um mantra, é bom desconfiar, porque a verdadeira bondade não precisa de tanta ostentação nem de muito apelo discursivo.
O "espiritismo" apela demais pelo discurso e pelo aparato de "bondade", e isso não é bom, escondendo uma pretensão de dominação por trás de tão encantadora retórica. Além disso, a bondade autêntica nunca precisa do espetáculo festivo das palavras e dos atos de fachada.
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