ÚLTIMOS MOMENTOS DO CIRCO GRAN AMERICANO EM NITERÓI - Um grupo de trapezistas se apresenta, na tarde de 17 de dezembro de 1961, pouco antes do trágico incêndio.
O mito de Francisco Cândido Xavier é de que ele nunca acusou pessoa alguma, era um "homem de bem" e dotado do mais infinito dom de perdoar e compreender. Só que não é isso que a realidade mostrava dele.
Chico Xavier, em 1961, deixou que lideranças do "espiritismo" brasileiro "dessem cabo" no sobrinho Amauri Xavier Pena, cuja biografia oficial é uma história muito mal contada, causando sua morte naquele ano, muito prematura para um rapaz que apenas bebia muito e ainda era assistido por um sanatório "espírita" definido como "de bom conceito" e existente até hoje.
Pois o "homem que a ninguém jamais acusou" fez na verdade uma acusação de extrema gravidade contra centenas de vítimas de uma tragédia, e, o que piora cada vez mais as coisas, atribuiu a responsabilidade a uma outra pessoa, falecida cerca de três décadas antes.
A TRAGÉDIA DE NITERÓI
Em dezembro de 1961, era anunciada na imprensa e nos cartazes de rua a realização de um espetáculo do Gran Circo Norte-Americano, programado para o domingo dia 17, a partir do final da tarde, Seria um dos mais populares espetáculos circenses em apresentação em Niterói, então capital do Estado do Rio de Janeiro, numa área situada no entorno da Praça dos Expedicionários, entre a Av. Feliciano Sodré e a Av. Jansen de Mello.
Uma discussão nos bastidores, porém, teria sido a origem da tragédia. O funcionário Adilson Marcelino Alves, o Dequinha, que tinha problemas mentais e era acusado de furto, foi demitido por decisão de Danilo Stevanovich, da família dona do circo. O circo estreou sua temporada niteroiense no dia 15, com lotação esgotada e uma equipe de sessenta artistas e 150 animais.
Danilo cancelou a venda dos ingressos para aquele dia 15. Mas garantiu a realização do espetáculo nos dias seguintes. Dequinha rondava o circo durante as apresentações e tentou entrar sem pagar, mas foi impedido pelo funcionário Manuel Felizardo, que Dequinha acusava de ter colaborado para sua demissão.
Felizardo agrediu Dequinha e o expulsou da área. Dequinha jurou vingança e combinou o incêndio com dois comparsas. Pardal e Bigode. Um deles o advertiu das consequências trágicas do crime, mas Dequinha não abriu mão da vingança.
Assim, durante uma apresentação de trapezistas, vinte minutos antes do fim do espetáculo, uma integrante do grupo percebeu o fogo que se espalhou por toda a lona, feita de material inflamável. O pânico generalizado e o incêndio, juntos, causaram cerca de 372 mortes, entre pessoas queimadas ou pisoteadas. Mas um número incontável de feridos morreu em diversos hospitais ou dentro das ambulâncias.
Os três envolvidos foram presos. A tragédia causou comoção e até o presidente João Goulart e o primeiro-ministro Tancredo Neves (era então um governo parlamentarista) foram a Niterói para tratarem da tragédia. O cirurgião plástico Ivo Pitanguy foi tratar das queimaduras dos sobreviventes.
Destaca-se aqui a atuação do pequeno-empresário José Datrino, que ao assistir as vítimas, ficou tão comovido e triste com a tragédia que resolveu abrir mão de seu dinheiro e se transformar no Profeta Gentileza, permanecendo quatro anos em Niterói assistindo as famílias das vítimas. Tornou-se amigo de muitas delas e passou a pregar a generosidade como princípio humano.
O LIVRO ACUSADOR.
CHICO XAVIER ACUSOU AS VÍTIMAS DE "GAULESES SANGUINÁRIOS"
Em 1966, Francisco Cândido Xavier lançou um livro chamado Cartas e Crônicas, atribuído ao espírito Irmão X. Segundo Chico, esse teria sido o codinome que o espírito de Humberto de Campos teria adotado para evitar "novos dissabores", tese que sabemos não faz o menor sentido.
Sabemos, através deste blogue, que o "espírito Humberto de Campos" dos livros lançados por Chico Xavier contradiz, em estilo, bagagem de informações e linguagem, O Humberto de Campos que esteve entre nós e faleceu em 1934 tinha uma narrativa coloquial, descontraída e de linguagem e referenciais cultos.
O suposto espírito tinha narrativa solene, melancólica e de referenciais meramente sacerdotais ou bíblicos. Portanto, definitivamente, não há a menor semelhança entre o "autor espiritual" de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho com o escritor de Carvalhos e Roseiras, também membro da Academia Brasileira de Letras.
Em Cartas e Crônicas, o suposto Irmão X (codinome que parodia um pseudônimo que Humberto usou em vida, o Conselheiro XX) atribuiu às mais de 500 vítimas do incêndio do circo em Niterói de terem sido, em outra encarnação, patrícios que viviam na Gália.
A Gália era uma região do Império Romano correspondente à atual França, e que sentiam prazer em ver plebeus sendo queimados vivos em uma arena circense. A suposição de Chico Xavier apostou no ano de 177 e, "coincidentemente", na cidade de Lyon, terra de Allan Kardec, o homem que Chico fingia admirar mas o desprezava severamente.
Não foram desenvolvidas técnicas e métodos seguros para o reconhecimento definitivo das reencarnações. Além disso, especialistas alertam que supor uma reencarnação antiga é um processo perigoso para a maioria das pessoas. E, vale frisar, é impossível que rigorosamente todas as vítimas da tragédia de Niterói tenham sido cidadãos da Gália no ano de 177.
Há sérias irregularidades na hipótese de Chico Xavier. Mesmo que a hipótese "reencarnacional" fosse verdadeira (provavelmente não é), Chico contrariou seus próprios princípios de "perdoar pelo esquecimento" e de "não fazer julgamentos". No livro, Chico "julgou" as vítimas da tragédia do circo, e relembrando o passado, atribuiu ao infortúnio de 1961 como uma revanche dos "resgates morais". Chico contrariou a si mesmo, neste episódio.
A mediunidade no Brasil é uma prática corrompida, feita sem que qualquer estudo sério pudesse permitir o contato com as pessoas do mundo espiritual. Chico está associado a práticas fraudulentas, inclusive assinando atestados para tomar como "autênticos" processos de materialização que não passavam de ilusionismos baratos, embora menos interessantes que os espetáculos de mágica feitos em circos.
O que as pessoas não percebem é que Chico Xavier fez uma acusação gravíssima contra os infelizes que morreram ou sofreram sequelas naquela tragédia, e também contra seus familiares. E, pior ainda, a "sábia revelação" de Chico poderia incitar o ódio da sociedade contra essas vítimas e suas famílias, diante do triste hábito do "espiritismo" eventualmente transformar vítimas em "culpadas".
Com esse livro, Chico Xavier fez muitas crueldades. Sem ter segurança dos critérios de avaliação de encarnações passadas, Chico acusou as vítimas da tragédia de Niterói de terem sido "gauleses sanguinparios", generalizando seu julgamento e desrespeitando o sofrimento das vítimas e de seus familiares. Logo o Chico Xavier, que sempre recomendava a "perdoar pelo esquecimento".
Essa acusação era infundada, pelo fato de não haver garantias científicas seguras para verificar encarnações anteriores de alguém. E, mais grave ainda, Chico Xavier mais uma vez ofendeu os herdeiros e a memória de Humberto de Campos, atribuindo a responsabilidade dele pelo "julgamento".
Semelhante atitude rendeu um processo judicial por danos morais contra o "médium" de São José do Rio Preto, Woyne Figner Sacchetin, que no livro O Voo da Esperança, fez a mesma acusação, que Chico Xavier fez às vítimas da tragédia de Niterói, às vítimas do acidente da TAM no Aeroporto de Congonhas, em 2007.
Woyne usou o nome de Alberto Santos Dumont para dizer que as vítimas do acidente aéreohaviam sido "gauleses sanguinários" Na tragédia de 17 de julho de 2007, o avião do voo TAM 3054, em pista de pouso para decolagem, se chocou com um depósito, causando uma explosão que matou todos os ocupantes do avião e algumas pessoas que estavam na área do depósito.
Se Woyne Figner foi processado por ofensa gravíssima - e isso contra pessoas consideradas financeiramente abastadas - , Chico Xavier fez uma crueldade ainda mais grave, porque sua acusação ofendeu pessoas que não tinham dinheiro para mover qualquer ação judicial.
Infelizmente, é o mesmo Chico Xavier que seus seguidores fazem questão de se manter santificado e renovado em sua imagem supostamente "pura" de "espírito iluminado", estereótipo que comove muitas e muitas pessoas, mas que não correspondem à realidade. No episódio Cartas e Crônicas, Chico Xavier cometeu a mais cruel das crueldades, em diversos aspectos.
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