quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Omissão da imprensa de esquerda em analisar caso Divaldo Franco-João Dória Jr. pode trazer efeitos ruins ao Brasil

JOÃO DÓRIA JR. ESTEVE O TEMPO TODO VINCULANDO O VOCÊ E A PAZ E DIVALDO FRANCO À SUA IMAGEM, MAS NEM A IMPRENSA ESQUERDISTA VIU.

Pode custar caro para a mídia esquerdista a omissão em relação à necessidade de investigar a relação do evento Você e a Paz e do "médium" Divaldo Franco com a "farinata" do prefeito de São Paulo, João Dória Jr.. Mais uma vez o silêncio da chamada mídia alternativa e dos sites progressistas pode fornecer arsenal para a reação direitista, o que pode ser bem pior para o país.

Sabe-se que a "farinata" de João Dória Jr. foi oficialmente lançada no evento Você e a Paz. Embora seja um evento ecumênico, ele é idealizado pelo "médium espírita" Divaldo Franco. Em várias e várias fotos, o prefeito da capital paulista aparece exibindo a camiseta, com o logotipo do evento e o nome do "médium" destacado abaixo da referida marca.

Várias fotos da Internet mostram Dória Jr. com a camiseta e isso não é coincidência. O prefeito de São Paulo não exibiu a camiseta porque foi a única disponível para ele vestir, já que ele é conhecido por usar, na maioria das vezes, paletós e camisas sociais. Ele também não exibiu a camiseta do Você e a Paz porque gostou do logotipo azul tal qual um adolescente usa a camiseta do Iron Maiden por ela ser "muito radical".

Aquilo é um compromisso de divulgação, que sugere vínculos de imagem. Isso não é invencionice nossa, são regras da publicidade. É como ocorre quando jogadores de futebol exibem a marca do patrocinador enquanto fazem entrevista coletiva, isso ocorre não porque o jogador achou o logotipo do anunciante "muito maneiro", mas porque tem o compromisso de divulgar sua marca.

A imprensa progressista, normalmente investigativa, não questionou sequer o porquê de João Dória Jr. vestir a camiseta do Você e a Paz e não a da Arquidiocese de São Paulo, cujo arcebispo dom Odilo Scherer foi, até agora, o único alvo da mídia de esquerda quando criticava o apoio de alguma figura religiosa ao alimento suspeito chamado "farinata", que, sabe-se, é feito de restos de comida.

O absoluto silêncio da mídia de esquerda a certos totens, aparentemente associados a uma imagem supostamente feliz do povo pobre, lembra a omissão que foi dada diante do fenômeno do "funk", ritmo musical que faz apologia da pobreza de forma glamourizada e traveste valores retrógrados como se fossem "progressistas", como o endeusamento das mulheres-objetos sob o pretexto de "empoderamento feminino".

O apoio da mídia de esquerda ao "funk" - ritmo que, na verdade, é apadrinhado pelas Organizações Globo e, segundo denúncias, é financiado por órgãos da CIA (entidade ligada ao governo dos EUA), como a Fundação Ford e a Soros Fund Management) - representou a queda em uma armadilha, o que abriu caminho para as pregações ideológicas dos reacionários da grande imprensa, que impulsionaram até o nascimento de páginas brasileiras de fake news.

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" AJUDOU NA QUEDA DE DILMA ROUSSEFF

O apoio do "funk" pelas forças progressistas foi tão grave que muitos começam a desconfiar se o "baile funk" ocorrido na manifestação pró-Dilma Rousseff em Copacabana, em 17 de abril de 2016, não teria sido um "presente de grego" dos oposicionistas anti-PT, já que o organizador do "baile", o DJ e empresário Rômulo Costa, tem relações com o mesmo PMDB carioca do deputado Eduardo Cunha e havia escolhido o direitista Luciano Huck como divulgador maior do "funk" no Brasil.

E mesmo os "rolezinhos" e o "funk ostentação" (cena paulista cujos intérpretes exaltam bens de consumo supérfluos e caros) foram também armadilhas que deixaram as esquerdas confusas, e que depois abriram caminho para a ação de grupos como o Movimento Brasil Livre, de tendência fascista, do qual se destacam figuras que deveriam ser desprezadas de tão medíocres, como Kim Kataguiri e Fernando Holiday.

A pregação intelectual que se observou na mídia esquerdista em favor do "funk" acabou deixando este setor midiático em situação ridícula. A influência de intelectuais vindos da mídia hegemônica para serem contratados em veículos esquerdistas - inclusive o funkeiro MC Leonardo, redescoberto por um cineasta ligado à Globo e à organização direitista Instituto Millenium, que virou colunista do periódico esquerdista Caros Amigos - abriu caminho para a réplica direitista.

Enquanto esquerdistas ficavam complacentes com o processo de idiotização cultural que transformava o povo pobre em caricatura de si mesmo, a mídia mais reacionária elevava comentaristas normalmente medíocres e mesquinhos, como Reinaldo Azevedo, Rachel Sheherazade e Rodrigo Constantino, passaram a levantar a bandeira da "cultura popular de verdade".

Isso criava uma situação surreal. Intelectuais que tinham compromisso autêntico com as classes populares passaram a defender expressões musicais de valor duvidoso e patrocinadas pela mídia hegemônica. Já comentaristas de visão elitista que normalmente desprezam de forma cruel as classes populares passaram a se queixar de que elas eram vítimas de imbecilização cultural.

O que aconteceu, então? Os comentaristas de esquerda foram desqualificados. As classes populares, influenciadas pela pregação intelectual, deixaram o ativismo social em prol do entretenimento popularesco, sobretudo com o "funk". Os comentaristas reacionários, no entanto, passaram a ser levados a sério e, com isso, tiveram moral de sobra para esculhambar o PT e reivindicar a saída de Dilma Rousseff do poder.

"FUNK" É APRECIADO POR ELITES E ATÉ POR SOCIOPATAS ANTI-PT

Depois da saída de Dilma Rousseff, os funkeiros deram seu "beijinho no ombro" (gesto de desprezo) para os esquerdistas. Mesmo quando havia funkeiros "apoiando" Lula quando ele discursava contra a Operação Lava Jato, eles se comportavam como se fossem "olheiros" a serviço de anti-petistas.

Um episódio de estupro coletivo de uma jovem por fãs de "funk proibidão" passou "despercebido" pela "feminista" Valesca Popozuda, que foi para a Disney World passear com uma campeã do Big Brother Brasil (programa da Rede Globo já criticado pela mídia de esquerda). Funkeiros apareciam à vontade em programas da Rede Globo de Televisão e até na elitista revista Caras.

Tudo isso aconteceu já com Michel Temer no poder, embora na condição de interino. E o "funk" mais parecia estar à vontade no establishment da mídia hegemônica, a ponto de vários intérpretes do gênero organizarem festas de aniversário milionárias. As elites sociais, hostis às forças progressistas, também recebem bem o "funk", criando "bailes funk" em condomínios de luxo ou em casas noturnas de grande porte. Sociopatas com profundo ódio ao PT também contam com muitos fãs de "funk".

HOJE É TEMER, AMANHÃ PODE SER BOLSONARO

A lição amarga disso foi que o apoio das forças de esquerda ao "funk" e outras formas de idiotização cultural, baseado no pretenso estigma da "felicidade dos pobres", deu no efeito contrário: ao defender essas formas postiças de "cultura popular", as esquerdas fizeram com que o povo pobre fosse desviado para esse tipo de entretenimento, alienante e consumista, esvaziando os movimentos populares e abrindo caminho para os movimentos de direita, como as passeatas do "Fora Dilma".

Além disso, já havia o silêncio da imprensa investigativa ao "funk", e a mídia de esquerda nunca preencheu a lacuna deixada por Tim Lopes, que, apesar de ter sido jornalista da Globo, destoava dos interesses editoriais da emissora, atuando como se fosse repórter independente. Tim foi assassinado em 2002 por um grupo de criminosos depois que investigava denúncias de exploração sexual de menores num "baile funk".

Diante dessa lacuna deixada em aberto, o que se viu na mídia esquerdista sobre o "funk" foram só textos apologistas, muito bem escritos, mas ideologicamente tendenciosos, que só exaltavam uma imagem idealizada da "periferia feliz" e daquilo que os críticos chamam de "orgulho de ser pobre", sendo muito mais textos de propaganda travestidos de reportagem, monografia e documentário do que de textos de caráter informativo e investigativo.

Essa complacência das esquerdas ao "funk" se deve à inclinação fácil das forças progressistas que, apesar de serem solidárias às classes populares, ainda mantém preconceitos de ordem paternalista e elitista. São, majoritariamente, ativistas e intelectuais de classe média, que ainda vem como "santo" qualquer oportunista que se apoie numa visão idealizada de pobreza popular.

O silêncio em relação ao envolvimento de Divaldo Franco e seu Você e a Paz na perigosa "farinata" de João Dória Jr. - da qual especialistas apontam risco de intoxicação alimentar fatal e os movimentos sociais definem a iniciativa como ofensa à dignidade humana - lembra a antiga complacência ao "funk".

Afinal, em relação aos "médiuns espíritas", assim como no "funk", repousa, no imaginário dos esquerdistas mais complacentes, a imagem dócil desses dois fenômenos como supostos paladinos das classes populares, mesmo quando os dois apelam para processos de domesticação social das classes populares, seja através da idiotização cultural do "funk" ou do suporte religioso do Assistencialismo que trata os pobres de maneira meramente paliativa e paternalista.

A falta de investigação na imprensa sobre o caso Divaldo Franco-João Dória Jr. pode refletir num futuro dano à democracia. Assim como a complacência das esquerdas ao "funk" favoreceu a queda de Dilma Rousseff e a ascensão de forças políticas reacionárias que só agravaram os problemas já vividos pelas classes mais pobres, o silêncio em relação ao apoio de Divaldo Franco à "farinata" pode favorecer ainda mais as seitas evangélicas de tendência neopentecostal.

Com isso, os evangélicos mais reacionários podem se aproveitar do caso para desqualificar os movimentos sociais, complacentes com os "espíritas" que "apoiam comida estragada", e daí para Silas Malafaia, Marco Feliciano e Edir Macedo crescerem ainda mais em popularidade é um pulo. Pior: pode sobrar até mesmo para o crescimento de forças fascistas que já espalham panfletos em várias partes do Brasil e de um obscurantismo social que se manifesta nas redes sociais.

Aumentam manifestações de racismo, machismo e outros preconceitos sociais, e Jair Bolsonaro, mesmo com suas gafes e encrencas, consegue se ascender como um presidenciável viável. Os setores fascistas da sociedade se acham triunfantes e se sentem fortalecidos, pela omissão dos progressistas, em se tornarem alternativas à crise política de hoje, diante da complacência fácil e do coração mole das esquerdas.

Hoje o Brasil está perdendo muito com Michel Temer, por causa da aceitação fácil da imbecilização cultural do "funk". Amanhã o Brasil pode perder mais com Jair Bolsonaro, por causa da complacência fácil com a imagem de "contos de fadas" dos "médiuns espíritas" que não são sequer questionados pelos seus erros e atitudes estranhas.

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