segunda-feira, 30 de outubro de 2017
"Médiuns espíritas" já são mais blindados do que políticos do PSDB
O caso de João Dória Jr. mostrando a camiseta do Você e a Paz que praticamente ninguém viu provou a seguinte constatação: a de que os "médiuns espíritas" chegam mesmo a serem mais blindados do que os políticos do PSDB, conhecidos como "tucanos".
Nem a imprensa de esquerda viu a camiseta usada por João Dória Jr., e ninguém perguntou se ele deveria, ao invés de exibir a blusa do referente evento "espírita", exibir a da Arquidiocese de São Paulo. O "médium" Divaldo Franco apoiou tudo e consentiu com o lançamento oficial da "ração humana" em pleno Você e a Paz e saiu imune de todo o incidente.
A blindagem é tanta que ser "médium espírita" virou garantia de proteção absoluta. Nem a imprensa de esquerda, normalmente um contraponto à mídia hegemônica e capaz de desqualificar seus "heróis", mexe com "médiuns espíritas".
O caso de Divaldo Franco lembra dois incidentes com seu amigo Francisco Cândido Xavier. O próprio Chico Xavier foi beneficiado pela seletividade de nossa Justiça, em 1944, quando a evidente usurpação do nome de Humberto de Campos para obras que fogem do estilo original do autor maranhense resultou em impunidade.
Em 1970, mesmo com fotos - feitos por gente solidária, Nedyr Mendes da Rocha - mostrando Chico Xavier acompanhando todos os bastidores do espetáculo ilusionista da farsante Otília Diogo (uma das fotos mostra Chico observando a jaula), com o "médium" comunicativo e ficando por dentro de tudo, o mineiro foi oficialmente tido como "enganado" por Otília, depois que ela foi desmascarada pela imprensa investigativa.
Só sendo tolo para acreditar que, sabendo que Chico Xavier acompanhou tudo, com desenvoltura e muita atenção - as fotos de Nedyr provam isso - , é impossível que ele tenha sido enganado por Otília Diogo. Ele foi cúmplice de toda a farsa, o que mostra essas imagens que, antes de Suely Caldas Schubert divulgar cartas de Chico Xavier "vazando" que Parnaso de Além Túmulo era feito por editores da FEB, representam o "fogo amigo" dentro do "movimento espírita".
O logotipo do Você e a Paz exibido por João Dória Jr. não por acaso. Não foi uma camiseta de banda de rock destas que os fãs exibem quando vão a festivais de música. Aquilo foi um compromisso de vínculo de imagem, e é evidente que Divaldo Franco consentiu que o prefeito de São Paulo exibisse uma camiseta com o crédito do nome do "médium" e do evento idealizado por este.
Isso significa que a "ração humana" não teve no arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, seu único defensor religioso. Divaldo demonstrou que apoiou também a "ração", uma "farinata" feita com restos de comida cujo valor nutricional e procedência duvidosos motivou a reprovação de entidades de saúde pública mais conceituadas, de movimentos sociais e até da ONU.
O episódio só não virou escândalo porque a blindagem da mídia a um "médium espírita", associado a um mundo de "cor e fantasia", foi completa. Mas o apoio de Divaldo Franco, que consentiu com o uso de seu nome e da marca do Você e a Paz por João Dória Jr. para divulgar o alimento suspeito.
Isso não é uma cobrança de responsabilidade, mas uma informação do efeito que o vínculo de imagem pode causar. Isso é um processo próprio da publicidade, o vínculo a uma marca e um nome. Mas ninguém reparou, nem a mídia de esquerda. Ser "médium espírita" parece garantir invisibilidade até diante de evidências.
Atualmente, os políticos do PSDB já começam a virar "vidraça" na Internet, embora continuem sendo blindados pela Justiça e tratados com moderação pela mídia hegemônica, ainda que sob críticas e notícias negativas.
Mesmo voltando ao cargo de senador, do qual estava afastado devido a um processo no Judiciário contra ele, acusado de crimes políticos, Aécio Neves pode deixar a presidência do PSDB e também já não é, há tempos, um político carismático ou um presidenciável em potencial, estando ele com uma imagem bastante desgastada, se não por conta da grande imprensa, pelo menos por parte das redes sociais.
Um "médium" da mesma geração de Aécio Neves, o baiano José Medrado, foi acusado de uso de terreno sem alvará (a chamada "invasão de colarinho branco"), irregularidades são identificadas em suas pinturas e esculturas "mediúnicas", acusado de confinar crianças alojadas na Cidade da Luz durante as palestras dele e ninguém investiga sequer. Pelo contrário, juízes, advogados, juristas e policiais só se aproximam de José Medrado para cumprimentá-lo e posar para fotos.
Isso significa que os "médiuns espíritas" já gozam de blindagem superior a dos tucanos. Nunca foi fácil seguir uma carreira de aparente mediunidade, acrescida de palestras de auto-ajuda religiosa e atividades de Assistencialismo. É como viver de sombra e água fresca, e os "médiuns" ainda podem excursionar pelo mundo, se hospedar nos melhores hotéis e ainda ganhar prêmios pelo Assistencialismo e pelas mensagens piegas trazidas em livros "psicográficos" e palestras.
Com essa novidade, sugere-se que os tucanos, se quiserem manter a blindagem absoluta que recebiam há até pouco tempo, aproveitem a mudança dos nomes de partidos para alterar o seu nome para ESPÍRITAS. Com este nome, os tucanos podem fazer das suas que ninguém pega.
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