segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O erro grave de um "pensamento" de Chico Xavier


Isso é que é levar gato por lebre. Os brasileiros, acostumados com a deturpação do Espiritismo, com um "espiritismo" igrejeiro que a cada vez mais se desenha como a forma atualizada do antigo Catolicismo jesuíta medieval, não têm o hábito de leitura e exageram na sua religiosidade que atrofia a compreensão da vida real.

Dito isso, observa-se um "pensamento" do "médium" Francisco Cândido Xavier que mostra um sério erro, uma contradição que derruba o sentido da frase, que parece agradável aos seus seguidores e simpatizantes, por ser um aparato de belas palavras que se revela oco e sem muita coerência. O "pensamento" é simplesmente este, que acompanha a ilustração acima:

"NINGUÉM PODE VOLTAR ATRÁS E FAZER UM NOVO COMEÇO. MAS QUALQUER UM PODE RECOMEÇAR E FAZER UM NOVO FIM".

São duas frases. Na primeira, fala-se que um "novo começo" é impossível. Mas, na segunda, diz-se ser possível, para qualquer um, "recomeçar". Se observarmos a semântica, veremos que Chico Xavier cometeu uma contradição grave, dizendo que "é impossível um novo começo, mas qualquer um pode recomeçar". "Novo começo" e "recomeço" (ato de recomeçar) são sinônimos.

Em parte, o "conselho" de Chico Xavier - fruto de suas tendenciosas frases de efeito, à maneira que Madre Teresa de Calcutá fazia em seu contexto - remete à reencarnação, o que nos leva a um novo questionamento, que se trata da questão da possibilidade de se fazer aquilo que a morte súbita impediu determinadas pessoas de fazerem ou continuarem fazendo.

Os "espíritas", que geralmente desprezam a vida material, achando que se pode desperdiçar uma ou duas encarnações com desgraça, adiando projetos de vida, acreditam que o que se deixou de fazer numa encarnação, se pode fazer perfeitamente em outra. Só que não é assim. As oportunidades perdidas são para sempre, e os planos de vida inevitavelmente têm que ser iniciados do zero.

Imagine um casal de namorados que vivem felizes e unidos. De repente, a mulher morre em um acidente de trânsito e o namorado fica só. Tempos adiante, os dois reencarnam, mas não como namorados, e sim como irmãos, filhos de um mesmo pai e mãe. Os dois poderão ter a mesma experiência de namoro de antes? Não.

A referida situação encontra outros contextos diferentes. Se a sociedade permitir que irmão e irmã sejam namorados - existem tribos que aceitavam tal condição - , os dois poderiam repetir a experiência de namoro da encarnação anterior. Mas até isso é uma mudança de contexto, a coisa não ocorre da forma que era antes. Já no caso da tendência da civilização de hoje, que não recomenda namoro entre irmãos consanguíneos, a experiência da vida anterior se anula na nova encarnação.

Os "espíritas" até falam em "paixões materialistas" para arrumar uma desculpa para ignorarem as perdas que uma encarnação interrompida prematuramente traz e que não pode ser compensada totalmente na encarnação posterior. Acham que a única coisa que o ser humano tem que fazer é "se entender com as pessoas", quase que com a passividade (ou melhor, a pazsividade) de um animal doméstico, sem que se observem aspectos diferentes da diversidade humana.

Mas os próprios "espíritas", que enxergam o mundo espiritual como se fosse uma reserva dos mesmos bens e valores materialistas considerados malignos na Terra, caem em contradição e ignoram que as adversidades pesadas desgastam os sofredores e que o sofrimento extremo nem sempre produz pessoas de moral elevada, podendo também produzir bandidos, farsantes e tiranos.

Com isso, soou mais uma vez inútil o "pensamento" de Chico Xavier, que, prestando atenção, não é mais do que um tolo joguinho de palavras sem pé nem cabeça. E é vergonhoso que há quem considere o "médium" um "filósofo", a exemplo de Divaldo Franco, o que mostra o quanto os brasileiros andam atolados na ignorância e na mistificação viciadas.

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