domingo, 18 de dezembro de 2016
Médica usa "moral espírita" para recusar atendimento a criança
Segundo informações trazidas pelo portal G1, uma médica de Rondonópolis, no interior de Mato Grosso, foi condenada a pagar R$ 10 mil de indenização a mãe de uma menina, vítima de danos morais durante uma solicitação de consulta.
Era uma pediatra que se recusou a atender a mulher e sua filha, por um mero juízo de valor. A filha havia sofrido tentativa de estupro de um tio, e ela tinha apenas sete anos de idade. O atendimento foi recusado porque a pediatra "não queria se envolver com os problemas espirituais da menina".
Ela atribuiu a culpa à própria menina, alegando que ela "tinha uma energia sexual que puxou o tio para ter sexo com ela". "A sua filha não é vítima de nada, ela tem que se responsabilizar", acrescentou a médica, que se declarou "espírita", e alegou que a menina "havia tido outras vidas" e que "já nasceu com um problemão para resolver nesta vida".
A pediatra ainda disse que alegou "liberdade de crença, consciência e de manifestação religiosa" e disse que não iria intervir em "problemas espirituais". A conversa foi gravada. A sentença condenatória foi dada pelo Tribunal de Justiça do Mato Grosso.
A VÍTIMA É A "CULPADA"
Juízos de valor são muito comuns no "espiritismo" brasileiro. Relacionados a um trágico episódio, de repercussão mundial, ocorrido há exatos 55 anos, o criminoso incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, no dia 17 de dezembro de 1961, um perverso juízo de valor foi trazido, cinco anos mais tarde, por alguém que muita gente considera "um dos maiores símbolos de pureza espiritual na face da Terra", Francisco Cândido Xavier.
Pois no livro Cartas e Crônicas, Chico Xavier fez um terrível julgamento de valor, logo ele que pedia a todos a "não julgarem quem quer que fosse". Usando da teoria sem fundamento lógico do "resgate coletivo" - crença comum entre os "espíritas" - , Chico Xavier acusou as humildes vítimas do criminoso incêndio de terem sido, em "outra vida", romanos sanguinários da Gália (atual França), que viviam no século II e que sentiam prazer em ver hereges sendo queimados em praça pública.
A acusação de Chico Xavier foi gravíssima, muita perversidade para alguém considerado "puro" e "espiritualmente elevado". Ele ignorou a dor de pessoas sofridas - que em 1966 ainda tinham lembranças vivas do trauma vivido - e acusou as vítimas, mortos, feridos e sobreviventes, de terem sido romanos sanguinários.
Além disso representar um desrespeito à dor do próximo - logo dado por um "símbolo máximo de caridade", vejam só! - , também apelou para a suposição de encarnações passadas de parte de uma doutrina que nunca seguiu devidamente os ensinamentos de Allan Kardec e é capaz de investir numa ficção chamada "colônias espirituais", e, portanto, supôs encarnações passadas que não tiveram provas lógicas.
Afinal, será que necessariamente TODAS as vítimas da tragédia circense viveram nos tempos do Império Romano e tinham prazer em ver outrem se ardendo em chamas? Além disso, além do julgamento de valor de Chico Xavier atenuar a ação pessoal de Dequinha, mandante e um dos executores do incêndio criminoso, o "médium", que tanto fala em "perdão e misericórdia infinitas", evocou um suposto passado para culpabilizar tão cruelmente uma multidão sofredora.
Mais grave ainda. Chico Xavier atribuiu tudo isso a um autor morto, o usurpado Humberto de Campos, que se tornou brinquedo para as fraudes literárias do anti-médium mineiro, mesmo sob o pseudônimo de Irmão X. Chico fez um julgamento de valor perverso, se esquecendo dos próprios princípios de perdão que tanto pregava, e ainda botou na responsabilidade de outro, que nunca escreveria os livros que Chico lançou usando seu nome, e nem faria acusações cruéis neste sentido.
Daí que o "espiritismo" que ignora Allan Kardec mas bajula o seu prestigiado nome se motra uma doutrina perversa, e o caso da pediatra de Mato Grosso revela isso. A "religião da bondade" mostra o seu lado cruel, investindo em juízos de valor alegando "outras vidas" sem provas lógicas e com a pura intenção de fazer juízos de valor severos, nos quais as vítimas sempre são vistas como "culpadas". E os "espíritas" ainda acreditam que irão ao céu com seu balé de belas palavrinhas.
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