terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A luta de Leah Remini contra o "primo rico" do "espiritismo" brasileiro


Nos EUA, a atriz Leah Remini se destacou pela sua luta para denunciar os abusos e irregularidades da Cientologia, e recentemente havia lançado a série de documentários Scientology and the Aftermath (título que se traduz como "Cientologia e as Consequências") para mostrar seus relatos e de demais pessoas que se frustraram devido às perversidades da seita que tem os atores Tom Cruise e John Travolta como seus maiores propagandistas.

Em entrevista ao programa de televisão The Today Show, Leah disse:

"Eu só senti que eu tinha a responsabilidade de ajudar onde eu poderia. Eu não sou uma grande fã de valentões. É parte de quem eu sou e de quando eu era uma lutadora na Igreja, isto é o que eles me ensinaram, e assim eu vou continuar a minha luta. Mas eu estou no lado correto dessa luta agora. Estou enviando uma mensagem de que não vou voltar atrás e deixar que continue como está. ... Se você denuncia, você é rotulado de inimigo da Igreja. [A] Igreja tem políticas sobre como lidar com seus inimigos e eles vão atrás deles.

"Para mim, isso choca em comparação com o que ex-executivos de alto escalão e paroquianos tiveram que lidar com essa situação. Não é fácil ir embora ... Você está deixando tudo o que sabe. Você está desistindo de toda a sua vida porque é o que é preciso para ser um cientologista, e então você estará perdendo sua família porque a maioria de seus familiares e amigos são cientologistas ".

A Cientologia é uma seita religiosa com ideologia pseudocientífica fundada por um físico chamado Lafayette Ron Hubbard ou L. Ron Hubbard, falecido há cerca de 30 anos. Atualmente, seu líder máximo é David Miscavige. Ela possui várias filiais no mundo, existindo até no Brasil, só que com menor expressão e aparentemente sem adeptos famosos para lhe fazer propaganda em nosso país.

Também, isso não precisa. Temos o "espiritismo" brasileiro, o "primo pobre" do "primo rico" que é a Cientologia. O "espiritismo" e a Cientologia possuem algumas anaologias, como a descrição do thetan (o "espírito" cientológico), o "universo material" (matéria), de atuação não-independente (no "espíritismo" se pegou o paradigma católico de um ente antropomorfizado, Deus, diferente da "causa primária" estudada por Allan Kardec) e a "hipótese" (a "reencarnação" cientológica).

As diferenças podem ser quanto aos ritos e a certos métodos e dogmas doutrinários, mas o paralelo que se tem com o "espiritismo", como a disciplina e o amaldiçoamento do prazer humano, há a crença na "Confederação Galática" cientológica e as "cidades espirituais" do "espiritismo".

É certo que a Confederação Galática não é definida como "paraíso", sendo governada por um tirano, Xenu, mas a sua citação como um "mundo imaterial" remete às "cidades ou colônias espirituais" do "espiritismo", talvez um crossover entre tais "cidades ou colônias" e o "ambiente" sombrio do "umbral".

Se na Cientologia, somente nos mais altos níveis de iniciação são ensinados conhecimentos sigilosos considerados prejudiciais aos iniciantes, no "espiritismo", embora haja uma suposta apreciação da Ciência e da Filosofia, há uma preocupação sutil com as limitações do Conhecimento, reprovando o pensamento investigativo quando ele atua no terreno da Religião e de suas práticas relacionadas.

A Cientologia é denunciada, por seu autoritarismo e seu moralismo em documentários e livros diversos. É certo que seus seguidores e membros rebatem, fazendo também os seus documentários e livros, mas a verdade é que editoras, produtoras de filmes e emissoras de TV acolhem propostas de trabalhos que denunciem as irregularidades e problemas desta seita.

No Brasil, onde a Justiça tem uma atuação seletiva e parcial, e os mercados editorial e cinematográfico são ideologicamente muito fechados, para não dizer o meio televisivo, bem mais restritivo ainda, o "espiritismo" goza de uma blindagem rigorosa que nem a Igreja Universal do Reino de Deus goza com tamanha plenitude.

Até mesmo as piores fraudes mediúnicas são aceitas sem reservas, mesmo por familiares dos mortos a que se atribui falsa autoria. O caso Humberto de Campos é o pior exemplo da mais absoluta impunidade dada a um autor de pastiches literários, Francisco Cândido Xavier, que acumulou uma reputação que o faz ter o status próximo a de um deus.

A tradição seletiva da Justiça brasileira - cujos exemplos mais recentes remetem às atividades do juiz paranaense Sérgio Moro - beneficiaram Chico Xavier com um empate jurídico. Para piorar, Chico conseguiu conquistar a confiança da mãe de Humberto, Ana de Campos Veras, explorando o ponto fraco da saudade de um filho morto, e ainda venceu a barreira do ceticismo do homônimo filho do autor de O Brasil Anedótico.

Se valendo por uma concepção espetacularizada, ritualística e católica da "bondade" e da "caridade", reduzidas a atividades paliativas e de apelo publicitário que colocam o benfeitor acima do benefício, Chico Xavier convidou o desconfiado Humberto de Campos Filho para uma doutrinária num "centro espírita" e depois o convidou para visitar obras de "caridade" como cozinheiras fazendo sopa e quartos onde moravam velhinhos doentes.

É justamente esse apelo, na verdade uma difusão da ideologia da caridade paliativa, que põem o benfeitor acima do benefício, ou seja, colocam o valor não pelo número de beneficiados atingido, mas pelo prestígio religioso do aparente benfeitor, que se torna o motor ideológico de um "espiritismo" que deturpa grosseiramente o legado de Allan Kardec.

É essa visão de "bondade" e "caridade", que mais deslumbra as pessoas do que ajuda, atuando mais como uma peça publicitária do que como um ato pelo progresso social, que faz as pessoas aceitarem os deslizes e equívocos gravíssimos que ocorrem no "espiritismo" brasileiro. A complacência ao erro torna-se gritante, o "amor" é usado como pretexto para se permitir qualquer fraude, qualquer mistificação.

O "espiritismo" pode não contar com a estrutura sofisticada e uma estrutura engenhosa de poder como a da Cientologia. Mas possui um lobby muitíssimo rigoroso, com o poder midiático e a classe jurídica blindando a doutrina brasileira, de raiz roustanguista, de forma extremamente firme que qualquer denúncia seja sempre deixada para escanteio. Espera-se que surja uma Leah Remini "espírita" no Brasil.

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