sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Quando pessoas querem sabotar o progresso no Brasil

JAIR BOLSONARO, MARCO FELICIANO, KÁTIA ABREU, FERNANDO COLLOR, EDUARDO CUNHA E MÁRIO KERTÈSZ - A direita embarcando na esquerda para sabotar projetos de progresso social.

Há uma direita explícita que nunca entrou no armário, marcada por pessoas e instituições marcadamente reacionárias. Há uma outra direita que entra no armário e nunca se assume, se passando por "sinceramente identificada" com as causas progressistas. Há uma terceira que também se esconde no armário mas, depois, sai dele em surtos reacionários de arrepiar.

Descontando a direita mais explícita e escancarada, expressa em pessoas como Fernando Henrique Cardoso (apesar deste se autoproclamar "de esquerda"), Geraldo Alckmin e astros midiáticos que vão de Danilo Gentili à atriz Regina Duarte, e instituições como a Rede Globo, os jornais paulistanos Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo e a revista Veja, a direita restante usou as esquerdas de uma forma ou de outra para tentar sabotar o projeto progressista para o Brasil.

Quem imaginasse a base de apoio do governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva há dez anos atrás ficaria assustado ao saber que, entre vários de seus aliados, incluíram pessoas de perfil que se revelou abertamente reacionário, como Jair Bolsonaro, Marco Feliciano e o presidente da Câmara dos Deputados e segundo suplente da Presidência da República, Eduardo Cunha.

Mas mesmo figuras histórias da ditadura militar e que, na juventude, se escondiam no coro dos que pediam a queda "de qualquer maneira" do presidente João Goulart, como Fernando Collor, o paranaense Jaime Lerner e o baiano Mário Kertèsz, Hoje os três tentam se passsar por "naturalmente progressistas", apesar de seus surtos de corrupção e reacionarismo.

É evidente que o Partido dos Trabalhadores cometeu erros, mas eles são diferentes do que aqueles que a mídia tenta atribuir. Além de uma política progressista castrada, de reformas sociais precárias e paliativas - há a superestimação de projetos apenas pontuais como as cotas universitárias e a Bolsa Família, válidas apenas como medidas emergenciais - , o ecletismo nas alianças comprometeu muito.

Afinal, para o milharal do governismo petista pousaram, já nas campanhas eleitorais, os "corvos" do reacionarismo enrustido que, visando algum contexto de vantagem pessoal, se travestiam de "centro-esquerda" para tentar impressionar a sociedade de uma forma ou de outra.

PEDRO ALEXANDRE SANCHES E GUSTAVO ALONSO - Lobos da direita intelectual vestidos em pele de cordeiros esquerdistas, os dois aparecem aqui debatendo a "injusta rejeição" à música "sertaneja", gênero "popular" patrocinado pelos "coronéis" do latifúndio e da mídia.

No bojo da política petista, vieram pessoas de perfil bastante conservador, de uma maneira ou de outra, seja por fazer parte de partidos direitistas que montaram chapa com o Partido dos Trabalhadores, seja porque foram apadrinhados por aliados pessoais de Lula e Dilma Rousseff, ou seja pela adesão tardia ao governismo, como no caso da ruralista Kátia Abreu, ministra da Agricultura do atual governo.

Há o caso de Mário Kertèsz, antigo político da ditadura, afilhado político do baiano Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), que, convertido a um dublê de radiojornalista com sua Rádio Metrópole FM, finge ser progressista (apesar dos surtos reacionários dignos de colunista da Veja), tenta desfazer seu vínculo histórico, se opondo ideologicamente à Rede Bahia dos herdeiros de seu padrinho.

Kertèsz, ex-prefeito de Salvador envolvido num grave esquema de corrupção, é conhecido também por ter contratado o "médium espírita" baiano José Medrado para apresentar seu programa na rádio. O ex-prefeito da capital baiana só foi apoiar Lula porque se juntou ao amigo e conterrâneo, o publicitário Duda Mendonça, para ser locutor da campanha que ele fez para o petista.

Entre os intelectuais, sintomático é o caso do festejado Pedro Alexandre Sanches, paranaense radicado em São Paulo, outro figurão da direita midiática travestido de esquerdista, que começou carreira através do Projeto Folha da Folha de São Paulo, um modelo de trabalho jornalístico destinado a eliminar todo tipo de visão esquerdista que antes existia no periódico paulista.

Defendendo uma visão mercantilista da cultura brasileira, que se baseia na tese de que o valor artístico-cultural se fundamenta no aspecto quantitativo - atrair mais gente, ser "popular demais" - , simbolizado pelo sucesso comercial e midiático, Pedro apresenta ideias dignas de um adido cultural do PSDB ou de algum produtor cultural escondido nos bastidores da Rede Globo.

No entanto, Pedro usa como mimetismo ideológico o fato de agora jogar no time adversário para fazer gols contra em favor de seu antigo time. Enquanto faz falsos ataques a direitistas da moda (podendo ser Marcelo Tas, Lobão ou Aécio Neves), Pedro camufla seu neoliberalismo cultural com um discurso pseudomodernista, com trocadilhos tecnológicos - como uso de símbolos digitais como arrobas e sustenidos - e um discurso falsamente libertário.

Pedro, que leva a sério a jocosa ideia do amigo Ricardo Alexandre, de "defender ideias de direita usando um discurso de esquerda", só entrou na mídia esquerdista por conta de "pistolões" ligados a ativistas que apoiam o Partido dos Trabalhadores. Sanches passou por três veículos da imprensa esquerdista, as revistas Carta Capital (que hoje hospeda o portal Farofafá, comandado por ele). Caros Amigos e Fórum.

Recentemente, Pedro, engajado na bregalização do país - e cujos ídolos defendidos, como Zezé di Camargo & Luciano, Banda Calypso, Gaby Amarantos e MC Guimê seriam pouco depois apadrinhados pela Rede Globo (coincidência?) - , havia debatido com o igualmente direitista enrustido Gustavo Alonso (que expressou admiração pelo general Emílio Médici) o porquê de tanta rejeição à música "sertaneja", gênero "popular" patrocinado pelos grandes latifundiários.

A partir da blindagem intelectual de Pedro e similares, gêneros comerciais como "sertanejo", "funk", "forró eletrônico" e outros trabalham uma imagem caricatural e deturpada das classes populares, sob o respaldo de um discurso paternalista travestido em monografias, reportagens e documentários, para vender uma falsa imagem de "verdadeira cultura popular" a esses ritmos patrocinados poder midiático e mercadológico e trazem valores reacionários e preconceitos dissimulados.

"ADORMECIDOS ON LINE" - Comunidade "Eu odeio acordar cedo" tinha perfil de seguidores eclético, mas virou reduto de trolls que defendiam valores "culturais" da grande mídia e, mais tarde, viraram os "revoltados" que tomam conta da Internet e das passeatas de direita.

O direitismo enrustido tornou-se moda no Brasil e até os chamados troleiros (trolls), inicialmente desprovidos de qualquer ideologia, em primeiro momento disfarçavam seu direitismo nas mídias sociais com um falso esquerdismo feito apenas para atrair um apoio diversificado para seu vandalismo digital.

Enquanto defendiam valores associados ao conservadorismo cultural e mercadológico, fingiram odiar símbolos direitistas como FMI e admirar esquerdistas como Che Guevara, dez anos antes de deixarem cair a máscara dos caras que só "odiavam acordar cedo" no Orkut para crescerem como "revoltados on line" e defensores da intervenção militar.

Os surtos direitistas ocorrem aqui e ali, até mesmo entre os "progressistas de conveniência". Mário Kertèsz já fez comentários violentos contra esquerdistas baianos em seu programa de rádio. Pedro Sanches faz críticas "contra a esquerda e a direita" tanto quanto Rodrigo Constantino, astro da intelectualidade direitista assumida.

Os trolls que "odiavam o Imperialismo" (apesar de aderirem a muitos de seus valores) e diziam adorar Che Guevara se silenciaram diante de um Roberto Campos que no passado queria reduzir os salários dos trabalhadores - dentro de uma ótica "racional" que contamina hoje tecnocratas do transporte carioca - , "desconhecido" para eles.

Mas o que chama a atenção e que serviu de alerta para as forças progressistas é que nos últimos cinco anos os "aliados de ocasião" mostravam surtos reacionários preocupantes. vide os casos notórios de Jair Bolsonaro, Marco Feliciano e, hoje, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que se mostraram contrários aos movimentos sociais.

Até os troleiros que antes defendiam gírias, ídolos musicais e até projetos radiofônicos impostos pela grande mídia, e que comemoravam seu "ódio ao Imperialismo" vestindo roupas da Nike e lanchando no McDonald's, ficaram tão animados com sua agressividade que passaram a despejar comentários racistas, homofóbicos dos mais agressivos, cujo apogeu se deu no caso da jornalista de tevê Maria Júlia Coutinho, uma das vítimas da truculência digital.

O Brasil não foi um país com tradição de políticas progressistas ou socialistas. Alguns especialistas comparam os dois governos Lula como versões tímidas do que pretendeu fazer João Goulart antes de ser expulso do poder pelos militares.

O agravante é que hoje a direita influi até mesmo no âmbito cultural, impondo valores mercadológicos e empastelando o debate sobre os problemas da cultura popular, através de intelectuais apadrinhados pela grande mídia que "vestem a camisa" do adversário para fazer gol contra e defender valores mercadológicos dominantes.

Boa parte desse apoio "despretensioso" e "sem ideologias" é feito para empastelar qualquer tentativa de avanços sociais, reduzindo o reformismo político apenas a aspectos pontuais, como o relativo crescimento de renda dos brasileiros.

Seja para barrar as transformações sociais diversas, como discutir os problemas enfrentados pelas classes populares, seja para realimentar valores obsoletos, o apoio parasita da direita ao esquerdismo mais moderado serve para tentar sabotar o relativo progresso que em primeira instância viveu o Brasil, antes da onda de retrocessos que se intensificou nos últimos anos.

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