terça-feira, 23 de junho de 2015

A falsa humildade que o "movimento espírita" não vê em si mesmo


Pai do jornalista Paulo Henrique Amorim, o também jornalista Deolindo Amorim, estudioso autêntico da doutrina de Allan Kardec, foi também um dos militantes contra a deturpação da Doutrina Espírita, feita no Brasil, compartilhando com figuras como Carlos Imbassahy (pai) e José Herculano Pires toda a campanha contra a subordinação da FEB ao roustanguismo.

Infelizmente, depois do auge da polêmica roustanguista, o "movimento espírita" sucumbiu a uma forma "moderada" em que alterna a herança ideológica de Jean-Baptiste Roustaing, sem fazer qualquer referência a ele, com a apreciação parcial das ideias de Allan Kardec.

Isso resultou no "espiritismo" que hoje temos. Um engodo que mistura o religiosismo entusiasmado e o moralismo enérgico com a parcial adesão ao cientificismo de Kardec, a fórmula "meio ciência, meio religião" que tem mais de religiosa que científica, e que é temperada pela pompa com que se cultuam ídolos como Chico Xavier e Divaldo Franco.

Esse verniz de humildade, coerência e bom senso, que os líderes "espíritas" se gabam em possuir, desconhece que os recados de Erasto, Kardec, Herculano Pires e o de Deolindo, que reproduziremos a seguir, são para essas lideranças, que se orgulham em usar as mensagens contra as deturpações do Espiritismo como se não fossem para eles.

E, no entanto, esses recados são. As lideranças "espíritas", ligadas a ídolos como Chico e Divaldo, tentam se livrar da culpa das deturpações do Espiritismo, enquanto elas mesmas é que apoiam as fraudes e mistificações das quais os dois anti-médiuns foram em boa parte responsáveis, e lançam para outrem recados que na verdade lhes soam como grandes puxões de orelhas.

Vamos ler então o texto que foi parcialmente reproduzido de um artigo de Deolindo Amorim, que se publica na Internet sob o título de "A falsa noção de humildade". Tiramos as introduções que internautas colocaram na Internet e reproduzimos apenas o trecho correspondente ao texto de Deolindo.

Curiosamente, Deolindo combatia as deturpações da cúpula da FEB, e hoje seu filho Paulo Henrique Amorim combate os desmandos das Organizações Globo. Atualmente, Globo e FEB andam de mãos dadas na produção de filmes "espíritas". Vejamos o texto de Deolindo:

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A FALSA NOÇÃO DE HUMILDADE

Deolindo Amorim - 1964

"(...) Muita gente pensa que ser humilde é não ter personalidade. O próprio Cristo, que foi o Cristo, o bom, o justo por excelência, não abriu mão de Suas ideias, não recuou diante das dificuldades... Se Ele não tivesse personalidade, naturalmente ficaria acomodado à situação e não teria suportado o que suportou em defesa do ideal que O iluminava. No entender de muitas pessoas, o que, aliás, está muito errado, ser humilde é dizer amém a tudo, é ficar bem com todos, ainda que tenha de sacrificar as mais fortes razões da consciência. Não foi isto o que o Cristo ensinou. Nem foi isto o que Ele praticou.


Veja-se bem que o Evangelho reprova o procedimento dos que, calculadamente, ocultam os seus pensamentos, isto é, não dizem o que pensam nem o que sentem, porque preferem agir na sombra! Tanto é certo que o Cristo valorizava a personalidade, que ele mesmo disse, e de modo direto, que a criatura deve ser quente ou fria; ninguém deve ser morno. Que significa isto? Significa ter personalidade, no mais alto sentido humano e espiritual. Ficar morno é ficar indeciso, de caso pensado, é não se definir de propósito, para tirar algum partido próximo ou remoto. Isto, porém, não é procedimento compatível com a ética cristã. Não tenho receio das pessoas que tomam atitudes francas, para um lado ou para outro; mas tenho muito cuidado com os que ficam mornos, pois foi para estes que o Cristo chamou a atenção de Seus seguidores.

Se o Cristo disse que o nosso falar deve ser sim-sim-não-não, é claro que, com isto, reconheceu que o homem deve ter personalidade. Vejo e ouço, constantemente, citar-se o Evangelho, mas também noto que muita gente ainda não compreendeu o sentido de certas máximas fundamentais do Evangelho. Vou dar um exemplo disto: quando alguém toma atitude, porque tem personalidade, e não está conformado com isto ou aquilo, logo se diz que é um antifraternista, que é um demolidor, etc. Pouco falta para se chamar o companheiro de um herético ou pecador público, simplesmente porque é sincero, é idealista, e diz o que pensa.

É preciso que se compreenda a situação de cada um de nós, em face da responsabilidade própria. Tomar uma atitude contra qualquer coisa venha de onde vier, não quer dizer que se pretenda destruir seja o que for. É agir sinceramente, de acordo com a consciência. Já é tempo de se acabar com a suposição ou com o sofisma de que, para praticar a humildade, é necessário curvar-se a tudo ou abdicar do direito de pensar e falar abertamente. Há, entre nós, uma noção muito falsa de humildade, para encobrir muita coisa ruim".

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