quarta-feira, 24 de junho de 2015

A falta de autocrítica dos "espíritas"


O "movimento espírita" está com medo, e seus líderes reagem sem assumir autocrítica, quando muito se limitando a dizer que "erraram", como se tivessem que confessar apenas algum erro menor. E tentam usar em causa própria toda a campanha pela coerência e fidelidade à Doutrina Espírita.

Tomados de orgulho ferido, os líderes "espíritas" investem em pregações teóricas sobre honestidade espírita, fidelidade doutrinária, transparência mediúnica, tentando dar a impressão de que, através dessa teoria, tais lideranças nos façam crer que estão cumprindo rigorosamente as lições de Allan Kardec.

Só que não é bem assim que acontece. Afinal, essa turma está relacionada a todo um padrão de mistificações e deturpações, isso se não incluirmos as fraudes supostamente mediúnicas e as mensagens padronizadas de panfletarismo religioso que só expressam o estilo de cada suposto médium, fosse qualquer autoria espiritual atribuída tendenciosamente.

Enquanto somos obrigados a acreditar que todos os espíritos do além viraram igrejistas - até os ateus teriam "se arrependido" e "redescoberto" as "lições do Cristo" - e escrevem de um jeito parecido (há a desculpa da "linguagem universal do Amor"), toda a deturpação do "espiritismo" brasileiro segue sem qualquer controle.

Há os roustanguistas ferrenhos, mas quase todo o "movimento espírita", inclusive de dissidências anti-FEB, seguem de uma forma ou de outra o pensamento de Jean-Baptiste Roustaing. Se há algum teor católico na manifestação espírita, pode-se dizer que é herança de Roustaing.

Os "espíritas" que adotam um misticismo carregado e um moralismo religioso são herdeiros ideológicos do pensamento de Roustaing. Só que a maioria deles, vendo o escândalo que se causou com os pontos mais polêmicos lançados pelo advogado francês, decidiram fugir de seu nome como, na anedota popular, o diabo (não seria "irmãozinho sofredor"?) foge da cruz e dos dentes de alho.

E aí o que se observa é que muitos desses traidores da doutrina de Allan Kardec estufam o peito e bajulam sua figura, juram fidelidade e prometem seguir rigorosamente suas ideias. Chegam mesmo a evocar de teóricos espíritas autênticos a cientistas laicos para dizer que aderiram ao cientificismo de Kardec, mas usam tudo isso só para dissimular as traições de sempre.

Afinal, o que se nota é que as fraudes mediúnicas continuam. Pastiches literários, mesmo de gente "prestigiada" como Chico Xavier e Divaldo Franco, ocorrem ou se mantém sem uma investigação que os denunciasse oficialmente. Denúncias e investigações existem, mas elas "morrem" na falta de visibilidade de quem adota estes procedimentos.

Por mais que apontemos, por exemplo, que o baiano José Medrado é um falsificador de quadros e apontar irregularidades graves entre as pinturas "psicografadas" por ele e o que os autores atribuídos fizeram em vida, usando argumentações de amplo rigor científico e observador, continua valendo a visão oficial, embora falsa e tendenciosa, de que as obras são "autenticamente espirituais".

O mesmo com Chico Xavier e seus pastiches literários. Teríamos que ter a visibilidade de um Luciano Huck, pelo menos, para que pudéssemos desqualificar a obra de Francisco Cândido Xavier por definitivo, e apontar oficialmente que obras como Parnaso de Além-Túmulo e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho nada tem das autorias espirituais atribuídas.

Para se ter uma ideia, Luciano Huck, com toda a sua altíssima visibilidade na mídia, se envolveu num incidente em que a grife de camisetas da qual é sócio divulgava mensagens preconceituosas e campanhas que sugerem apologias ao machismo, ao racismo e à pedofilia. Apesar do escândalo, ele conseguiu contornar a situação e mantém seu carisma intocável e irretocável.

É como Chico Xavier que, com seus escândalos diversos, passou por cima de qualquer encrenca, mesmo diante de sua usurpação, claramente tendenciosa, do nome e do carisma de Humberto de Campos, para atribuir a este supostas obras mediúnicas que nada tiveram do estilo que o autor maranhense produziu em vida.

Pior: Chico Xavier, ao longo dos anos, acabou sendo visto como "dono" do legado de Humberto de Campos. Enquanto a obra que Humberto produziu em vida perdeu em popularidade e seu nome se limitou aos círculos literários, a única fama popular que o escritor consegue ter é através das obras de Chico Xavier atribuídas a seu nome.

"Espíritas" acabam, entre tantas outras coisas, fazendo uma atrocidade destas, publicando impunemente, sob o nome de Humberto de Campos, obras de Chico Xavier que nada tinham do estilo original do falecido intelectual. Tudo fica nisso mesmo e os chiquistas são os primeiros a se dissimularem, como lobos vestindo peles de cordeiros.

Afinal, muitos dos que proclamam "fidelidade absoluta a Allan Kardec" são oportunistas, já que seguem mais Chico Xavier e Divaldo Franco, que comprovadamente se tornaram os traidores do kardecismo, se é que eles tiveram algum interesse em apreciar a obra kardeciana.

Dessa maneira, o círculo vicioso se repete e o que vemos são os traidores pedindo fidelidade e condenando as traições dos outros. Enquanto traem Kardec o tempo todo, através de visões mistificadoras e moralistas popularizadas por Chico e Divaldo, contraditoriamente usam, em causa própria, os nomes do próprio Kardec, de Erasto, Deolindo Amorim, Herculano Pires e outros.

Dessa forma, o Espiritismo será sempre deturpado no Brasil. E os traidores sempre se disfarçarão sob as vestes da falsa humildade, pregando "coerência de conduta", se apoiando numa boa teoria que mascara a pior prática.

Assim, não há como a doutrina de Kardec conseguir ser rigorosamente seguida e praticada no Brasil. Em compensação, Jean-Baptiste Roustaing se orgulharia em ver que, embora seu nome seja odiado por uma parcela de "espíritas" místicos, a essência de suas más lições foi inteiramente mantida.

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