quarta-feira, 9 de setembro de 2015
E a FEB? Apoiaria o Brasil ficcional do espetáculo turístico-consumista?
Piscinão de Ramos. Roda de "funk". O "rock" da Rádio Cidade. Parque Madureira e sua futura praia artificial. corredor do BRT Transcarioca, Rock In Rio. Vila Olímpica. Calçadões da Praça 15 e Praça Tiradentes. Projeto Porto Maravilha.
Tudo parece muito bonito, mas tais iniciativas refletem a indústria do espetáculo turístico-consumista feito para um Rio de Janeiro fictício, feito para turista ver e que pouco tem a ver com a realidade social do Estado.
Querem criar uma Disneylândia do entretenimento, atropelando a realidade social e as necessidades dos cidadãos. Deslocam moradores de áreas tradicionais - seja a Aldeia Maracanã que era localizada ao lado do estádio homônimo, até a Aldeia Imbuhy, em Niterói, a dar lugar a um complexo de condomínios e hotéis no entorno de Charitas - e criam medidas impopulares ou surreais.
E isso com a promessa de ver o Brasil liderando a comunidade das nações, com todo esse provincianismo que está por trás de iniciativas como impor pintura padronizada para os ônibus ou lançar mão de entidades como a APAFUNK e a suposta "rádio rock" carioca, a Rádio Cidade, para trabalharem estereótipos "aceitáveis" de rebeldia juvenil de pobres e abastados.
E o que a Federação "Espírita" Brasileira acha desse Rio de Janeiro plastificado, como se fosse uma cidade envolta numa bolha de plástico, capital de um Estado cada vez mais isolado no Brasil e no mundo, no tempo e no espaço, mas mesmo assim considerado um "modelo a ser seguido" pelo resto do país, impondo a este uma modernidade que há muito não se vê no solo fluminense?
A FEB acha isso ótimo. O "movimento espírita" pouco está preocupado com a qualidade de vida, já que vida de verdade a instituição deixa para depois, com sua ideologia ultraconservadora - personificada sobretudo pela figura de Chico Xavier - glamouriza o sofrimento e estimula até mesmo uma preguiçosa aceitação das injustiças e arbítrios alheios.
Isso ocorre de tal forma que os tais benefícios da vida só virão, se depender da ideologia "espírita", de maneira póstuma, o que faz com que se desperdice uma encarnação à toa com a aceitação de infortúnios e arbitrariedades sem queixumes e com reação limitada ao silêncio da prece, silêncio feito para não perturbar o sossego dos algozes. E, de preferência, é desaconselhável chorar de dor.
Para a FEB, tão espiritualista no seu discurso, pouco importa se os cidadãos são reduzidos à mercadoria. A essas alturas até a espiritualidade é uma mercadoria, num país ainda vulnerável ao capitalismo selvagem que agora se esconde na atraente utopia do "progresso" turístico-consumista, da fantasia do pleno consumo de emoções num entretenimento mercantilizado.
Tudo fica parecendo fácil no discurso político, nas mensagens publicitárias ou mesmo nos apelos marqueteiros travestidos de outro tipo de discurso, sejam monografias, documentários e reportagens que tentam dar um verniz objetivo a essas mensagens persuasivas. Mas a cidadania verdadeira é muito complexa para encaixar em tais discursos cheios de sonho e fantasia.
As favelas, por exemplo, possuem estruturas indignas e são um amontoado caótico de casas mal construídas que é humilhante atribuir a elas o ufanismo que virou lugar comum entre ativistas sociais contemporâneos. Nesses locais, se construíram casas com o que se tinha em mãos, sejam sobras de tijolos ou madeira, e se reformava quando se podia.
Em outros aspectos, também é preciso desconfiar de tanta euforia, já que por trás disso tudo existem políticos indiferentes à coisa pública, capazes de privatizar tudo que encontram pela frente, e empresários que querem investir cada vez menos e lucrar cada vez mais, mesmo sacrificando obrigações trabalhistas.
Todo esse clima de euforia tem como único objetivo o dinheiro. E todo o simulacro de cidadania, diversidade cultural, políticas progressistas e filantropia só servem para criar um arremedo de perfeição e bem-estar social, que não passam de coadjuvantes num processo que realmente interessa: promover o consumismo para o povo e os lucros exorbitantes dos "donos da festa".
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