quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Origens do autoritarismo no Rio de Janeiro

TANQUES CHEGANDO DE JUIZ DE FORA PARA O RIO DE JANEIRO, CONCLUINDO O GOLPE MILITAR DE 1964.

O que levou o Rio de Janeiro a se tornar tão autoritário? Por que agora as decisões agora são impostas para uma minoria de poderosos que impõem o que deve ser a qualidade de vida de cariocas e fluminenses, mesmo quando as medidas não são tão vantajosas assim?

Por que é o mercado que decide qual deve ser a "rádio de rock" no Estado e qual deve ser o folclore local (no caso, o "funk")? Por que o poder político é que decide como deve ser o sistema de ônibus? Por que tantos retrocessos ocorreram sem que as pessoas pudessem reagir com êxito a eles?

Temos a criminalidade aumentando sua "carga horária", agindo já no começo da tarde dos dias úteis. Temos o desequilíbrio de uma política habitacional deficiente, que expulsa moradores de casas populares a esmo mas é incapaz de substituir favelas por bairros populares dignos.

O crime organizado conta com facções do narcotráfico, do jogo-do-bicho e das milícias que controlam até serviços "populares" de TV por assinatura e distribuição de bujões de gás, "fenômenos" que ocorrem em todo o país, mas partem do "modelo" adotado pelo Rio de Janeiro.

Por que tudo isso ocorre sobretudo no Rio de Janeiro? Os retrocessos, não obstante trágicos, acabam prevalecendo porque a ex-Cidade Maravilhosa continua sendo referência para o país, depois que São Paulo perdeu a supremacia devido ao desgaste da política tucana e a crise de uma cidade que não sabe abastecer as reservas de água potável para a população.

E como devem ter surgidos os tantos retrocessos de ordem cultural, política, econômica, urbanística e moral que atinge o Rio de Janeiro, antes reduto da sofisticação progressista da Bossa Nova, hoje antro do populismo rasteiro e mercantilista do "funk carioca"?

CÉSAR MAIA CUMPRIMENTA SEU ANTIGO AFILIADO POLÍTICO E HOJE DESAFETO, O HOJE PREFEITO DO RIO DE JANEIRO, EDUARDO PAES.

Seria muito dizer aqui como todas as forças que conquistaram o poder político, econômico, tecnocrático, mercadológico e mesmo criminal começaram a se articular no Rio de Janeiro. Podemos mostrar apenas aspectos gerais que fizeram do Estado do Rio de Janeiro uma das regiões mais retrógradas e decadentes do Brasil.

Em primeiro lugar, muito desse retrocesso surgiu na ditadura militar. Fatores que surgiram na época, como a arbitrária junção de assaltantes e prisioneiros políticos nas cadeias - não havia a condição das "prisões especiais" - ou a transformação do jogo-do-bicho num "coronelismo" local, além da tardia adesão de um ex-torturador ao esquema, já sob alianças com dirigentes esportivos e carnavalescos, são ilustrativos no âmbito do crime e da contravenção.

Mas, no âmbito político, o que se observa é que a fusão dos antigos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro representou por definitivo a dissolução dos últimos vestígios do janguismo e do lacerdismo nessas regiões. que ainda resistiam durante o começo da ditadura militar. Embora cassados, João Goulart e Carlos Lacerda ainda eram influentes nas políticas dos dois Estados.

Vieram então políticos da ARENA e do MDB que se ascenderam e, quando Leonel Brizola, antigo governador gaúcho, voltou ao exílio para tentar rearticular o PTB e depois fundar o PDT, em 1979, eles fizeram uma adesão condicional, usurpando seu legado político e transformar o Rio de Janeiro num confuso cenário político.

A política fluminense, então, passou a se subordinar ao "fisiologismo" político que tanto descarateriza quanto bloqueia projetos progressistas. Os CIEPs, modelo de escolas de Educação Integral planejados pelo antropólogo Darcy Ribeiro, secretário de Educação do governo Brizola e um dos fundadores da Universidade de Brasília, foram simplesmente sabotados.

Enquanto isso, o contexto de poder de traficantes e bicheiros, no âmbito da marginalidade, e de tecnocratas e investidores estrangeiros, no âmbito da Economia, foi também acompanhado com a ascensão de aliados do brizolismo que, com o tempo, reduziram o legado do político gaúcho que adotou o Rio como domicílio político, deixou no Estado.

Com o tempo, o grupo político se dividiu, entre uma direita carioca pouco expressiva, simbolizada por César Maia, e uma direita festiva, como o PMDB local, que se passava por progressista e exercia uma aliança condicionada com o PT no âmbito federal. O PMDB carioca, por sua vez, atraiu para si antigos direitistas ligados ao inexpressivo PSDB local, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes, lançado como afiliado político de Maia.

Em todos os aspectos, essas minorias, marcadas pelo poder coercitivo ou pelas imposições autoritárias, decidiram com seus respectivos poderes impor valores autoritários e alheios à realidade e às necessidades naturais dos cidadãos.

Querendo lucro financeiro a todo preço e poder de supremacia, ao menos, local, essas minorias tentam agir como "referências nacionais" através de seus valores retrógrados e "pragmáticos" (ou seja, que atendem de forma limitada mas imediata as necessidades essenciais de qualquer coisa), comandando o Estado do Rio de Janeiro como se fossem seus latifúndios.

Com isso, o povo do Estado do Rio de Janeiro em particular, e de todo o Brasil em geral, se encontra seriamente prejudicado, porque são decisões que garantem apenas os lucros das elites envolvidas, enquanto a maioria das pessoas têm que se contentar com sérias restrições à sua qualidade de vida, sob os mais diversos aspectos. Faremos um grande país com tudo isso? Certamente, não.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.