sábado, 21 de março de 2015

Por que a "profecia" de Chico Xavier sugere um novo Império Romano ou Bizantino?

ILUSTRAÇÃO SUGERE, NO SENTIDO SUBLIMINAR, UMA NOVA TEOCRACIA MUNDIAL SEDIADA NO BRASIL.

Os chiquistas ficaram horrorizados quando um vídeo contestou as "dóceis profecias" de Francisco Cândido Xavier quanto ao quadro de "destruição" do Hemisfério Norte e a ascensão do Brasil e de "seu Espiritismo Cristão" ao comando máximo da "comunidade das nações" do mundo remanescente.

O catastrofismo de Chico Xavier e as "doces previsões" do anti-médium, na verdade, sugerem, com uma sutileza não muito difícil de ser desvendada, É só percebermos o que realmente quer dizer sua "maravilhosa profecia", analisando o que ele transmitiu para Geraldo Lemos Neto, que a relatou em Não Será em 2012, livro que lançou em parceria com Marlene Nobre.

Chico Xavier é promovido pelo "movimento espírita" como se fosse um "super-homem", como uma pretensa síntese de toda a humanidade, com qualidades atribuídas de maneira surreal à sua pessoa, e neste caso ele tenta ser visto como um misto de "profeta" e "cientista".

Mas o que está em jogo, através de seu relato, é que ele sempre desejou a teocracia brasileira, e o termo "Espiritismo Cristão" é um eufemismo para um tipo de Catolicismo híbrido que setores católicos ortodoxos se recusavam a desenvolver, embora a essência do "espiritismo" brasileiro convergisse com segurança com a essência da Igreja Católica medieval.

Imaginemos a sinopse de Chico Xavier. O Hemisfério Norte seria destruído por uma série de cataclismas e catástrofes que se sucederiam à onda terrorista e bélica de seus países. Milhões de pessoas morreriam vítimas dessas intempéries e apenas uma parcela conseguiria se salvar migrando para o Sul.

O que é o Hemisfério Norte? O mundo considerado desenvolvido ou antigo. Nele se encontram os EUA, a Europa, o Oriente Médio, a Ásia, a Rússia e o Norte da África. Nesses países estão desde nações consideradas de elevado desenvolvimento social até nações que, mesmo altamente problemáticas, são consideradas as mais antigas do mundo.

Para efeito de nossa análise, consideramos toda essa área como "velho mundo" no seu todo, inclusive os Estados Unidos da América, pelos contextos em que se relacionam, nos aspectos geopolíticos e econômicos, além de intelectuais, culturais e científicos.

O que Chico Xavier quis dizer com sua ideia de que "a própria mãe Terra, sob os auspícios da Vida Maior, reagirá com violência imprevista pelos nossos homens de ciência", relativa à fúria da Natureza diante dos abusos cometidos por terroristas, autoridades e aristocratas no "velho mundo"?

No "movimento espírita", é muito comum que seus líderes e seguidores, ao falarem de tragédias cotidianas, responsabilizem as ocorrências aos "reajustes espirituais" do "mundo espiritual" ou às forças da Natureza, para se inocentarem da "sede de sangue" que a "doutrina do amor e luz" herdou do moralismo punitivo do Catolicismo medieval.

Chico Xavier usa a "Natureza", ou a "mãe Terra" - que, em 1969, era uma expressão muito em voga (Mother Earth), lançada pelo movimento hippie - para desafiar os homens de ciência, num claro sentimento de ódio à condição de desenvolvimento científico e intelectual dos países mais antigos.

É notório que Chico Xavier sempre teve ojeriza ao questionamento lógico, que ameaçou sua reputação de astro do "movimento espírita", e acusava aqueles que usavam o raciocínio para questionar e contestar seus dogmas de "prisioneiros das paixões terrenas".

Ele chegava mesmo a falar em "holocausto", o que traz uma comparação incômoda para seus adeptos, ainda mais que os mesmos motivos que foram usados para o extermínio de judeus pelo nazi-fascismo estariam sido rogados para o extermínio do "mundo antigo".

Os abusos cometidos apenas por uma parcela de detentores do poder político, econômico e armamentista no "velho mundo", assim como as acusações de usura dos judeus, viram pretexto para que seus compatriotas ou correligionários, que não compartilham com tais vícios, fossem condenados para um mesmo flagelo.

Outra comparação se deve à eliminação dos progressos da Antiguidade clássica. Lembrando das guerras que dizimaram a Grécia Antiga e do mais famoso cataclisma relacionado ao Império Romano - a erupção do Vesúvio, no Sul da atual Itália, que soterrou as cidades de Pompeia e Herculano, próximas a Nápoles - , para pregar uma "nova era" equivalente ao antigo Império Romano medieval.

O que Chico Xavier sonhava, desde seus primeiros livros "psicográficos", era uma teocracia nos moldes do antigo Império Romano medieval, ou ao menos o Império Bizantino (nome que o Império Romano do Oriente, liderado pelo fundador do Catolicismo, o imperador Constantino, recebeu depois do fim do antigo império), que era uma teocracia política que dominou o mundo.

A "profecia" faz relembrar a decadência da Antiguidade clássica e o esquecimento de suas lições de progresso cultural e intelectual, em que pese a Grécia, Egito e outros países do seu tempo terem sido nações escravistas, machistas e sanguinárias. sepultados pela Idade Média e que tão trabalhosamente tiveram que ser resgatados a partir do século XVII.

Com a "profecia", Chico Xavier acaba rogando mais uma destruição do mundo evoluído, substituído por uma nova era de obscurantismo e tirania religiosa, através de um novo Império Romano / Bizantino representado pelo Brasil e pela supremacia do "espíritismo" de moldes católico-medievais que dominará o mundo.

Chico Xavier teve como "mentor" o medieval padre Manuel da Nóbrega, o Emmanuel, seguidor do Catolicismo medieval. O fictício Publio Lentulus do livro Há 2000 Anos (1939), sem qualquer relação com homônimos que realmente existiram no Império Romano, era inspirado em um documento apócrifo publicado no século XIII, com uma versão adaptada publicada no século XIV.

O anti-médium mineiro era católico fervoroso, adorador de imagens de santos, defensor entusiasmado, mas um tanto envergonhado, de Jean-Baptiste Roustaing. O roustanguismo de Chico Xavier o fazia seguir as "previsões" do livro Os Quatro Evangelhos, que afirmava haver um projeto de uma "religião do mundo" a comandar a humanidade futura.

Chico Xavier fala do "Espiritismo Cristão que atingirá o interesse de outras nações" e do "Brasil que seria chamado para exercer seu papel de Pátria do Evangelho". Embora seu discurso se sirva de palavras dóceis e de aparentes intenções de "promover o amor e a fraternidade", o que está por trás disso é tão somente um projeto de supremacia religiosa.

Falar é fácil. E o que o "espiritismo" mais fala é de "amor e fraternidade". No entanto, supremacia religiosa é um processo sempre cruel, e ninguém imaginou que a "religião de Cristo" sonhada por Constantino fosse também causar tantos genocídios e outras atrocidades.

Este é o perigo que os "espíritas" e mesmo alguns laicos ou religiosos não conseguem entender. Um país de "religião única", construído a partir de um "holocausto" do Hemisfério Norte que a raiva emocional (sim, Chico Xavier tinha raiva e se irritava muitas vezes) botava na conta da Natureza.

O projeto do "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" é um projeto de domínio sócio-político que irá escravizar os povos a seguir uma crença, sob pena de sofrer os "reajustes espirituais", eufemismo "espírita" para condenações severas. É no "espiritismo" que estão os verdadeiros homens tomados de "paixões terrenas" e "julgamentos materiais".

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