domingo, 25 de junho de 2017

"Espiritismo" e sua falta da verdadeira autocrítica


Diante de tantos deslizes e tantas deturpações, o "espiritismo" brasileiro tenta argumentar que "erra muito, sim" e que a deturpação foi um caminho de tantos equívocos. Mas diz isso visando tão somente evitar sofrer os efeitos de suas más escolhas.

É suficiente assumir os erros? Não. Tantos são os que cometem erros gravíssimos e até crimes hediondos com a consciência de que optaram pela má escolha. E tantos os que cometem erros de maneira convicta fazem vitimismo quando são alvos dos prejuízos causados.

O "espiritismo" brasileiro cometeu erros gravíssimos e se afastou completamente dos ensinamentos de Allan Kardec. Se perdeu no caminho do pensamento de J. B. Roustaing e depois fez de tudo para dar a falsa impressão de que é "o mesmo Espiritismo de Kardec só que com as tradições religiosas brasileiras", uma desculpa sem pé nem cabeça.

Tentam reparar erros aqui e ali, mas isso é insuficiente, porque a prevalência da "catolicização" do "espiritismo" se tornou extrema. Os "espíritas" agem com muita hipocrisia. Numa primeira ocasião, abraçam o roustanguismo e a "vaticanização" com muito entusiasmo. Na ocasião seguinte, passam a ter vergonha das posturas que com tanta convicção defenderam.

Evidentemente, todo mundo erra. Mas há quem erra com mais gravidade que outros, errando de uma maneira irresponsável e intransigente. E o "espiritismo" cometeu traições doutrinárias graves ao pensamento de Kardec, defendendo coisas que a Ciência Espírita define como absurdas, como supor mundos espirituais sem realizar um estudo sequer e concebendo tudo pelos caprichos materialistas.

Quantas obras igrejeiras de moralismo tão mofado foram publicadas, que se chocam com a sobriedade do pensamento kardeciano. Quanto moralismo retrógrado feito, defesas da Teologia do Sofrimento, ideias "emprestadas" da Astrologia e do ocultismo em geral, e tantas e tantas analogias à liturgia católica, como evocação de padres jesuítas e freiras como "protetores" de "casas espíritas".

O problema é que o "espiritismo" fez tudo isso com gosto, e fez coisas desonestas como a mediunidade fake, que destoa das personalidades originais dos mortos alegados e era feita visando o mershandising religioso. São atitudes equivocadas que deveriam ter sido evitadas, mas os supostos "médiuns" estavam em busca de autopromoção, com falsa paranormalidade e, depois, pretenso ativismo e pseudo-intelectualismo.

Os efeitos causados por isso não são pequenos, e a deturpação da Doutrina Espírita não foi feita por acidente. Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco não teriam deturpado o Espiritismo por boa-fé, fizeram tudo de propósito, com gosto e de maneira mais convicta, insistente e reincidente.

Isso porque Chico Xavier e Divaldo Franco produziram atividades de grande repercussão, grande alcance de público e feitas durante muito tempo. 400 livros de Chico, outras centenas de Divaldo, os ciclos de palestras deste último, ao redor do mundo, para plateias cheias e pessoas influentes, o igrejismo de ambos não pode ser acidental, e eles claramente contrariam frontalmente o pensamento kardeciano, sendo portanto deturpadores da pior espécie.

Mas há, ainda, quem queira aproveitá-los na recuperação das bases doutrinárias. Como? Pela aparente filantropia, que, sabemos, não passa de Assistencialismo, mera caridade paliativa e pontual que pouco ajuda a população carente e mais serve para a propaganda pessoal dos "médiuns"?

Não. E o "espiritismo" brasileiro se encontra nesse impasse, e segue o seu pior caminho, que é fingir o mais autêntico apego a Kardec. Talvez se os "espíritas" brasileiros assumirem que romperam com Kardec e preferem o roustanguismo, seria menos mal, mas o Brasil vive de arrivismos e pretensões. Mesmo quem está na retaguarda faz de tudo para parecer estar na vanguarda.

E aí vemos que teoria e prática se desencontram. Os "espíritas", agora afeitos a bajular Herculano Pires, Deolindo Amorim e o que vier, falam tanto no "respeito rigoroso a Allan Kardec", mas, na prática, cometem traições muitíssimo graves, desenvolvendo um clone fajuto e mais antiquado da Igreja Católica. Se os "espíritas" assumem seus erros, eles deveriam pensar realmente o que querem na vida, em vez de insistirem nesse vergonhoso "roustanguismo com Kardec".

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