LEOPOLDO MACHADO, MEMBRO DA FEDERAÇÃO "ESPÍRITA" BRASILEIRA, ANTECIPOU O UFANISMO DE CHICO XAVIER ANTES DESTE.
O "movimento espírita" fazia plágio de suas próprias publicações. Vide, por exemplo, a base bibliográfica do livro Nosso Lar, de Francisco Cândido Xavier e lançado em 1943, que se fundamentou no livro A Vida Além do Véu, do inglês George Vale Owen, que a Federação "Espírita" Brasileira já publicou em 1921 na tradução em português.
O livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, escrito a quatro mãos por Chico Xavier e Antônio Wantuil de Freitas mas creditado, de forma leviana e tendenciosa, ao espírito de Humberto de Campos - que, com apropriada certeza, nunca teria escrito este livro - , foi na verdade um engodo de inúmeras fontes de plágios diversos e tomou como base uma antiga palestra da FEB.
Quem questiona os bastidores do "espiritismo" brasileiro sabe muito bem que o livro ufanista, que a FEB publicou para agradar o Estado Novo, é na verdade uma colcha de retalhos. Nele até mesmo livros do próprio Humberto de Campos têm trechos plagiados, incluindo um livro humorístico, O Brasil Anedótico, o que fez Wantuil cair no ridículo na sua defesa:
"Os trechos de “Brasil Anedótico”, que são indicados como plagiados por Francisco Xavier, não podem ser considerados como tais. Qualquer escritor, relatando em nova obra o que já dissera em outra, repete frequentemente as mesmas expressões. Ademais, não haveria necessidade de plagiar naquela narrativa feita em termos comuns. Muitos dos plágios apontados são aliás transcrições de trechos de outros livros e se encontram entre aspas, na obra psicografada".
É muito comum que lideranças ou acadêmicos "espíritas" se utilizem de uma retórica ou pose de seriedade para tentar afirmar suas práticas bastante duvidosas. Criam-se justificativas "técnicas" e "objetivas", quando se observa irregularidades nessa alegação. Afinal, tomar como sério um trecho satírico - que compararemos em outra oportunidade - é algo que simplesmente é patético. Além do mais, não se verificou declarações entre aspas na obra de Xavier.
Mas o engodo literário que, embora se afirmasse "revelador", adota velhas abordagens que se vê sobretudo em livros didáticos ruins, teve como ponto de partida uma palestra feita na própria sede da FEB - a hoje filial carioca na Av. Passos - , conhecida como "casa-máter" e, da parte de seus contestadores, "vaticano", feita por um dirigente "espírita", Leopoldo Machado, em 09 de setembro de 1934.
Diante da dificuldade de pesquisar o texto original da palestra - o acervo digital da revista O Reformador só disponibilizou edições publicadas a partir de 1955 -, pegamos os trechos disponíveis no blogue Obras Psicografadas, com a diferença de que transcrevemos o texto de Leopoldo adaptando as palavras para a grafia atual.
O plágio é evidente. Mesmo os trechos do prefácio atribuído a Emmanuel remetem à palestra Brasil, Berço da Humanidade, Pátria dos Evangelhos, que Leopoldo lançou naquela ocasião e O Reformador publicou em 11 de outubro daquele ano, portanto há 81 anos. Segue portanto a comparação entre essas duas passagens, primeiro o documento de 1934:
"Irmãos meus em humanidade e provações terrenas, Jesus ilumine os vossos Espíritos, cristianize os vossos corações. (…)
A despeito de assim pensarmos, de sentirmos assim, não sabemos, de nossa parte, por que singular preferência de nosso espirito, porque sentimos congênito e secreto de nosso coração, queremos mais, muito mais, ao Brasil, a porção maravilhosa do Planeta em que tivemos a dita de nascer! E a nossa alma vibra, malgrado, às vezes, ao nosso desejo, por tudo o que é brasileiro, que fala do Brasil. Sentimos que amamos á terra que nos é berço com um amor que é, talvez, a maior manifestação emotiva do nosso espírito. Este amor, em nós, é, porém, muito diferente desse jacobinismo, desses bairrismos por aí campeantes, que procuram, vangloriosos, que pensam, exclusivistas, que tudo de grande, de bom, de belo, de maravilhoso se restringe ou se deve restringir, só se contém ou se deve conter a dentro das fronteiras de sua Pátria! Nosso amor ao Brasil é o de quem sente e sabe a sua Pátria destinada a desempenhar uma gloriosa e providencial função dentro da Vida. É o afeto de quem sente e sabe que o Senhor de Todas as Coisas confiou á sua terra a mais bela função, que um povo e uma nacionalidade podem desempenhar, qual a de serem verdadeiros interpretes da Doutrina luz, amor e verdade, emanada dos Evangelhos de Jesus! (…)"
(LEOPOLDO MACHADO)
Meus caros filhos. Venho falar-vos do trabalho em que agora colaborais com o nosso amigo desencarnado, no sentido de esclarecer as origens remotas da formação da Pátria do Evangelho a que tantas vezes nos referimos em nossos diversos comunicados. O nosso irmão Humberto tem, nesse assunto, largo campo de trabalho a percorrer, com as suas facilidades de expressão e com o espírito de simpatia de que dispõe, como escritor, em face da mentalidade geral do Brasil. (…)
O Brasil não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta, mas, também, a facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de claridades espirituais do orbe inteiro. (…)
Se outros povos atestaram o progresso, pelas expressões materializadas e transitórias, o Brasil terá a sua expressão imortal na vida do espírito, representando a fonte de um pensamento novo, sem as ideologias de separatividade, e inundando todos os campos das atividades humanas com uma nova luz.
(EMMANUEL)
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Os trechos parecem sutilmente escritos para disfarçar o plágio, mas apontam o mesmo sentido de unir ufanismo e religiosidade, e mesmo os vocativos "Irmãos" e "Meus Caros Filhos" soam essencialmente parecidos. A ideia do Brasil como uma nação evangelizadora, a comandar o mundo com esta suposta missão, é bem parecida, apesar das palavras buscarem "diferenciar-se".
Segue então mais um trecho, em que colocamos o texto de Leopoldo (entre o primeiro e segundo documentos) para comparação e o do suposto "Humberto de Campos" (em diversas páginas) em seguida:
"E este grande sentimento nosso pela terra que nos é berço cresce á medida que lhe conhecemos a natureza exuberante e boa; que estudamos a sua História cheia de lances heroicos,em que fulgem os sentimentos cristãos de seus filhos, que estudamos a índole pura, pacifica e piedosa de seu povo, que, a despeito de suas imperfeições, que são muitas, de seus defeitos de educação, que são enormes, traz, dentro do peito, um coração aberto sempre a caridade, que é a maior revelação de amor ao próximo, e ao sentimento religioso. Por isso sentimos e vemos a gente desta abençoada gleba, que é o nosso povo, com a mesma vitralidade com que a vê Leôncio Correa: "Como te vejo nobre no teu idealismo e forte na tua risonha sabedoria! Povo do samba, povo da intrigalhada da politiquice, povo carnavalesco por excelência, como és grande nas tuas virtudes, como és doce nos teus afetos, como és magnânimo nas tuas vitorias!'".
(LEOPOLDO MACHADO)
Afãs, se numerosos pensadores e artistas notáveis lhe traduziram a grandiosidade de mundo novo, contando "lá fora" as inesgotáveis reservas do gigante da América, todo esse espírito analítico não passou da esfera superficial das apreciações, porque não viram o Brasil espiritual, o Brasil evangélico, em cujas estradas, cheias de esperança, luta, sonha e trabalha o povo fraternal e generoso, cuja alma é a "flor amorosa de três raças tristes", na expressão harmoniosa de um dos seus poetas mais eminentes. (p. 7)
(…)
Estas páginas modestas constituem, pois, uma contribuição humilde à elucidação da história da civilização brasileira em sua marcha através dos tempos. Têm por único objetivo provar a excelência da missão evangélica do Brasil no concerto dos povos e que, acima de tudo, todas as suas realizações e todos os seus feitos, forros dos miseráveis troféus das glórias sanguinolentas, tiveram suas origens profundas no plano espiritual, de onde Jesus, pelas mãos carinhosas de Ismael, acompanha desveladamente a evolução da pátria extraordinária, em cujos céus fulguram as estrelas da cruz. (p. 10-11)
(…)
Tu, Helil, te corporificarás na Terra, no seio do povo mais pobre e mais trabalhador do Ocidente; instituirás um roteiro de coragem, para que sejam transpostas as imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o velho do novo mundo. Instalaremos aqui uma tenda de trabalho para a nação mais humilde da Europa, glorificando os seus esforços na oficina de Deus. Aproveitaremos o elemento simples de bondade, o coração fraternal dos habitantes destas terras novas (…) (p.15)
Há outros trechos, disponíveis no blogue. Eles ilustram toda uma verborragia digna do Segundo Império, e que revela todo o pretenso eruditismo dos livros "espíritas", a acompanhar toda a tendenciosa bibliografia atribuída a Chico Xavier e outros derivados, de Divaldo Franco e outros "médiuns".
Nelas, observa-se aquele discurso grandiloquente, igrejista, em que a emotividade atropela a razão e o otimismo é digno dos mais demagógicos discursos políticos. A promessa de um Brasil "comandando o mundo" com suas "lições de paz e fraternidade", com uma idealizada exaltação do povo brasileiro, destoa de qualquer realidade, embora seja um discurso bastante sedutor.
Afinal, é através dele que sentimentos de falsas esperanças surgem, e a mistura de ufanismo e religiosidade faz com que se atribua ao Brasil uma predestinação missionária que o país não tem e não poderia ter para comandar o mundo.
Além do mais, a tese do "coração do mundo" seria rejeitada imediatamente por Allan Kardec, que nunca iria defender o privilégio de alguma porção territorial, seja nação, cidade, aldeia etc, de qualquer qualidade missionária ou coisa parecida. Para Kardec, se preocupar com um país como suposto líder da paz mundial é uma grande perda de tempo.
É até perigoso pensar assim, como já vimos nos casos da Alemanha, Estados Unidos ou mesmo no Império Romano. Falar é fácil a respeito do país que vai liderar o mundo. Na teoria, tudo é harmonioso e fascinante, mas na prática a ideia de um país poderoso, com toda a verborragia pacifista que o apoia, sempre oferece um risco de um novo imperialismo a escravizar outros povos.
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