sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

"Caridade espírita" deveria ser questionada, e não adorada

A "CARIDADE" COMO ESPETÁCULO - COISA QUE SE VÊ NO CALDEIRÃO DO HUCK OS "MÉDIUNS ESPÍRITAS" FAZIAM FAZ TEMPO.

A falta de discernimento entre realidade e ficção, entre realismo e pensamento desejoso, blinda o "espiritismo" brasileiro, cuja deturpação se tornou tão bem sucedida que mesmo as menores desconfianças são desencorajadas.

Discussões desnecessárias fazem com que os "médiuns espíritas" sejam mais defendidos do que os necessitados. Se a "caridade" de um "médium espírita" não produziu resultados concretos, o "caráter transfomador" é levianamente "afirmado" pelo próprio prestígio religioso desse "médium". É ridículo, mas acontece: o "médium" não precisa fazer caridade, o próprio prestígio religioso que ele tem já é a "caridade".

O que nomes como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco fazem - o que impulsiona "médiuns" mais recentes como Fernando Bem, Adriano Correia Lima e mesmo Robson Pinheiro correrem para criar "instituições de caridade" - não é mais do que a "caridade espetacularizada", cujo método é aceito por todos, mas aponta inúmeras irregularidades.

Essas irregularidades indicam sérios problemas. Afinal, pobres e doentes são tratados como se fossem animais domésticos. É fácil instalar alojamentos, mas quem garante que eles não são cativeiros sociais? E, quando há a aparente emancipação dos assistidos, como no caso da Mansão do Caminho, essa emancipação não ocorre sob o preço da manipulação religiosa, cheia de mistificações, ou do moralismo conservador?

E no caso das instituições ditas "filantrópicas"? Por que a ênfase no "benfeitor" em detrimento dos mais necessitados? Divaldo Franco só ajudou 2,5 mil pessoas por ano em todo o Brasil - índice que, em níveis dimensionais, é o mesmo que nada - e muitos se incomodam quando se questiona o título de "maior filantropo do Brasil", dado de graça pela Rede Globo, mas aceito de forma bovina até mesmo por setores das esquerdas brasileiras.

O "espiritismo" brasileiro é, sem dúvida alguma, o retrato da confusão mental e moral que assola o Brasil. Revela o quanto as pessoas que seguem essa doutrina têm de preconceituosas, arrivistas, dissimuladas, mentirosas, idealizadoras, permissivas, moralistas. O "espiritismo", que deveria ser uma religião voltada à espiritualidade, tornou-se, com a deturpação e outros delitos impunemente aceitos pela sociedade, acabou se tornando a religião da falsidade humana.

Isso é chocante de se dizer. Afinal, os apelos emotivos do "espiritismo" brasileiro são atraentes para muita gente. As pessoas, pelas falácias que trazem os discursos "espíritas", sentem a falsa impressão do esclarecimento, confundem igrejismo com Filosofia, levam gato por lebre o tempo inteiro, e acreditam piamente que lebres possam miar.

O "espiritismo" no Brasil virou um terreno no qual as pessoas envolvidas fazem o que querem, em muitos casos agindo contra a lógica, o bom senso, a coerência e mesmo a ética. Só porque é uma religião supostamente ligada ao mundo espiritual - embora a chamada "comunicação com os mortos" seja, em verdade, inexistente, pois a quase totalidade das "mensagens mediúnicas" são fake -  , seus membros se acham no direito de subverter a realidade em nome do "outro lado".

O "espiritismo" brasileiro, portanto, virou um vale-tudo religioso, em muitos aspectos pior do que as seitas evangélicas de perfil neopentecostal. Estas são retrógradas, defendem graves preconceitos sociais, apoiam figuras autoritárias como Jair Bolsonaro, querem que o Brasil se sujeite a padrões sociais dos tempos de Moisés, o século XV a. C., ou seja, há cerca de três mil anos.

No entanto, os "espíritas" investem em desonestidade doutrinária e procuram ocultar seu obscurantismo, seu lado sombrio, com um discurso multiplamente elaborado. Tentam parecer futuristas, mas uma observação não muito difícil de ser feita revela que o "espiritismo" sonha em ver o Brasil, na condição de "coração do mundo" e "pátria do Evangelho", um novo Império Romano com o "espiritismo" no papel de um novo Catolicismo medieval.

RESULTADOS INEXPRESSIVOS DA "CARIDADE"

Vamos abandonar a visão viciada de que a "caridade espírita" trouxe resultados pífios porque "os irmãozinhos endurecidos não deixaram". Deixemos os obsessores de lado, até porque a ação deles só é permitida porque os encarnados permitem. Os resultados da "caridade espírita" são pífios de propósito: a "caridade" nunca foi feita visando a transformação social.

Vamos parar com a ingenuidade. Se essa "caridade" funcionasse, o Brasil teria atingido padrões elevados de qualidade de vida em todo o seu povo, tamanha a grandeza com que se autoproclamam os "médiuns". E não haveria ataques de marginais ao mausoléu de Chico Xavier, atos que não são de intolerância religiosa, mas de ódio gratuito a qualquer pessoa famosa de uma cidade, no caso Uberaba.

Desde Chico Xavier a ação da "caridade espírita" visava mais a promoção pessoal dos "médiuns" e outros deturpadores da Doutrina Espírita. Uma "caridade" de fachada, que hoje é demonstrada pelo caso dos "projetos sociais" de Luciano Huck, e que traz um problema que é tabu na sociedade: como a "caridade" pode se tornar um meio de promoção pessoal do "benfeitor" de ocasião.

A sociedade teima em raciocinar a realidade como se fosse enredo de novela ou campanha publicitária. Muito da "caridade espírita" é aceito somente por medidas de fachada e por vídeos publicitários, que de forma vaga mostram crianças tomando sopa e médicos atendendo velhos doentes. Tudo muito publicitário. Se fosse propaganda político-partidária o povo reagia indignado. Mas como se trata de uma instituição "espírita"...

Até mesmo as "caridades" de Chico Xavier e Divaldo Franco tiveram menos beneficiados do que se imagina. As pessoas se iludem pelos recortes da cobertura jornalística, que mostram "várias pessoas". Se contar, não dão mais que vinte beneficiados. Além disso, a "caridade" das "cartas mediúnicas" de Chico Xavier deve ser reconhecida não como uma bondade, mas como uma perversidade.

As "cartas mediúnicas", que transformavam as reuniões em orgias religiosas - embora sob um pretexto "mais digno", a qualidade emocional e os êxtases se equiparam às orgias materialistas - , eram manifestações de obsessão pelos mortos, de falsidade ideológica - as psicografias eram fake e denunciadas pelo uso de "leitura fria" - e de incitação à exploração sensacionalista das tragédias familiares como meio de alimentar matérias para a imprensa marrom e de promover a imagem pitoresca do "médium" Chico Xavier.

Só essas atividades se tornam bastante negativas, embora o discurso falasse em "trabalho do bem", "mensagens consoladoras" ou a interpretação leviana e tendenciosa da ideia da vida após a morte, voltada para sentimentos mórbidos que, desvirtuados, chegaram a fazer com que as pessoas passassem a desejar a morte dos entes queridos sob a desculpa deles "serem melhor protegidos por Deus". Quantos sentimentos egoístas acabaram existindo, sem querer, diante dessa ideia de interromper projetos de vida de pessoas na mais tenra juventude?

A "caridade espírita" precisa e deve ser questionada. Se não pela mídia hegemônica, pelo menos pela mídia alternativa (Brasil 247, DCM, Jornal GGN, Viomundo, Cafezinho e Conversa Afiada) que deveriam renunciar à complacência aos "médiuns espíritas" e tomando consciência de que estes, no fundo, nunca passaram de "filantropos de fachada" patrocinados pela Rede Globo de Televisão.

A mídia alternativa, pelo compromisso que tem de se contrapôr às narrativas oficiais da mídia hegemônica, não pode corroborar com esta na exaltação de ídolos religiosos. Podem eles se cercar de paisagens floridas, pode a cabeça de um "médium" renascer nas pétalas de uma flor, ou crianças dançando cirandinha em volta de um "médium". Nenhum desses pretextos isenta a mídia alternativa de contestá-los e investigá-los, até porque a mídia já enfrentou mitos e totens que também se servem de apelos emotivos similares. O próprio Luciano Huck é claro exemplo disso.

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