sábado, 14 de maio de 2016

O "espiritismo" e a "bondade" vista como subproduto da religião

DURANTE A CRISE DE 1929, POBRES FORMAM FILA PARA PEGAR SOPA GRATUITA EM CHICAGO, EUA.

Os brasileiros ainda veem a ideia de "bondade" como um subproduto do moralismo religioso. Só assim para ver a complacência que eles têm em relação aos deturpadores da Doutrina Espírita, que erram feio ao tentarem representar o legado de Allan Kardec mas são beneficiados pela imunidade pela imagem de "bonzinhos".

Ver que a ideia de "fazer o bem", com todos os aspectos assépticos e insossos do moralismo religioso, e todas as fantasias de "benevolência" que encantam muita gente, está vinculada à mística religiosa, pode parecer uma coisa admirável, mas é algo muito, muito traiçoeiro.

A bondade deixa de ser vista como algo espontâneo ou como uma qualidade laica. Ela deixa de estar acima de ideologias e correntes, porque ela se rebaixa diante do status religioso. E ver que até ateus adotam esse critério é muito preocupante.

É isso que faz com que Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier, os piores deturpadores da Doutrina Espírita e as personificações dos "inimigos internos" alertados nos tempos de Kardec, sejam aceitos de maneira submissa por serem "exemplos de amor e bondade".

Antes que alguém diga que associar a imagem de Divaldo Franco e Chico Xavier a de inimigos internos da Doutrina Espírita sejam fruto de calúnia, intolerância ou perseguição contra o bem, é importante deixar claro que essa constatação tem como base os próprios avisos dados por Allan Kardec e espíritos como Erasto.

Muitos aspectos que tais avisos descreveram como mistificação e enganação se encaixam perfeitamente no que Chico e Divaldo fizeram e este último ainda faz. Parece cruel, mas é a realidade. Os dois já podem ser considerados cruéis, traiçoeiros e perniciosos só pela deturpação que eles fizeram do pensamento kardeciano.

SITUAÇÕES

Isso se observa pelo que eles fazem, transmitindo ideias fantasiosas e absurdas, como iludir as pessoas sobre uma "cidade espiritual" que a Ciência não considera sequer como cogitável, ou a ideia discriminatória das "crianças-índigo" que nunca passou de uma farsa armada por um casal para ganhar dinheiro com esoterismo (e depois se divorciar depois de tanto estrelismo).

Isso pode atingir as pessoas? Sim, pode. O que Chico Xavier fez com as "cartas dos mortos" foi muito perverso e explorador das famílias. Elas foram expostas à ostentação e ao sensacionalismo, prolongando o luto, sendo enganadas sobre a suposta vida espiritual dos entes queridos, e foram usados para a promoção pessoal de um suposto médium tomado de estrelismo.

Imagine uma situação em que uma quadrilha de sequestradores mata um refém e depois telefona para a pessoa, com uma integrante do bando imitando a voz da vítima, digamos, um menino, e com seu falsete alegue que "está bem" e que "aguarda a chegada da família para abraçá-lo".

Compare com a de um suposto médium que, escrevendo da sua mente e com sua caligrafia, uma mensagem supostamente espiritual, imitando o tom pueril de um menino falecido, declarando que "está bem" e que, no futuro, "aguardará o regresso da família para a verdadeira vida".

Seduzidos pela ideia religiosa de "bondade", com seus jargões como "amor", "caridade" e "fraternidade", as pessoas se deixam levar por mistificadores com vozes dóceis, falando de "coisas boas". Pode parecer chocante, mas essas "lindas imagens" de Chico e Divaldo não é mais do que uma armadilha já alertada por Allan Kardec em sua obra.

PALIATIVOS NÃO SÃO REVOLUCIONÁRIOS

A "bondade espírita" é erroneamente vista como "revolucionária", pelo caráter manipulador que a ideia de "caridade" faz às pessoas, associando virtude com fé religiosa, como se a bondade fosse um subproduto do misticismo religioso.

O fato de mostrar instituições "filantrópicas" funcionando, como uma estratégia de marketing, não é necessariamente mostrar resultados "revolucionários". A gafe que representa o título de "maior filantropo do Brasil" para Divaldo Franco, quando o projeto da Mansão do Caminho não chega a ajudar 1% da população de Salvador, quanto mais para o país inteiro, é algo a considerar.

Divaldo Franco perde até para o Bolsa Família, projeto do governo do Partido dos Trabalhadores, nas gestões de Lula e Dilma Rousseff, que, embora altamente criticável e também paliativo, ajuda muito mais do que a Mansão do Caminho. Em 63 anos, a Mansão só ajudou cerca de 160 mil pessoas. Em 13 anos, o Bolsa Família ajudou 13,8 milhões de famílias, um mínimo estimado de 56 milhões de pessoas.

A "revolução da sopinha" é um mito trabalhado pelos "espíritas" para dizer que a caridade paliativa "transforma" a sociedade, junto a projetos educacionais inócuos, que apenas tornam a vida da pessoa "menos ruim", mas longe de ter uma qualidade de vida significativa.

A distribuição de sopa gratuita, que os "espíritas" consideram tão "revolucionário" e "profundamente transformador", é na verdade uma opção emergencial que países em grave crise e em conflitos oferecem para as pessoas. É algo para tornar a vida "menos ruim", mas "menos ruim" não é sinônimo de "bem melhor".

A ideia de preferir o "menos ruim" dos resultados inócuos da caridade religiosa, que ajudam de forma relativa as pessoas sem mexer no sistema de privilégios vigente, do que o "bem melhor" que traz qualidade de vida e redistribuição justa de renda, é uma forma de entender a ideia de bondade apenas como uma qualidade subordinada ao âmbito da religião.

Com isso, o Brasil não melhora porque a bondade é apenas uma qualidade menor. Ela não é uma qualidade acima de correntes ideológicas ou movimentos religiosos, mas antes uma qualidade que se rebaixa à supremacia religiosa, limitando-se a ser um subproduto da fé e do misticismo. E isso não é bom.

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