quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O lado explorador de um ídolo "espírita"


Um conhecido palestrante "espírita", com reputação nacionalmente reconhecida no seu meio, teria explorado funcionários de sua editora, mantendo-os sem remuneração, o que indica um regime de escravidão moderna, quando o trabalho é feito sem qualquer compensação numa sociedade em que se precisa de dinheiro para pagar contas e aquisição de bens.

Um jovem que deixou de ser "espírita" acusa o "líder espírita" de ter rogado praga contra ele. O rapaz há muito tempo não consegue obter emprego, e não é por falta de esforço: em todas as suas iniciativas para vencer na vida, ele fez de tudo, mas o azar não o deixa conquistar sequer as oportunidades que parecem mais fáceis.

Que está difícil obter um emprego, isso é a mais pura verdade. Mas quando alguém se esforça de maneira adequada, sempre tem uma oportunidade de trabalho mesmo no apertado funil do mercado. Mas o rapaz, mesmo "metendo a cara" como um condenado, sempre encontrou as portas fechadas, não havendo jogo-de-cintura nem perseverança que adiantassem.

Ele relata o drama que passou a viver depois que teve que trabalhar três meses (sim, apenas três meses, porque ele não aguentou a barra) em uma editora "espírita", numa conhecida capital do país. Foi há cerca de uma década.

Jornalista de formação, ele viu a oferta de emprego num anúncio publicado no mural da reitoria de uma universidade. Animado, ele resolveu preparar o currículo e se dirigir ao local. Foi acolhido pelo próprio "espírita" que conversava com uma bondade quase paternal. Ele recebeu o currículo e disse para o aspirante para ele aguardar uma resposta para o trabalho, anunciado como um "estágio".

Ao entrar na editora, ele começou a ver a realidade quando, no fim do primeiro mês, ele não recebeu o salário prometido, que era de R$ 1.000, considerado um valor razoável de mercado, naquela época. Ele só recebia o dinheiro da refeição - o chamado "vale-refeição" - que, na verdade, já estava incluído no salário.

A remuneração só lhe chegava parcialmente, com "adiantamentos". Em vez de receber o salário integral de R$ 1.000, ele só recebia uma pequena parcela, fora o que era abatido em almoço. No trabalho, ele viu o descontentamento dos colegas.

Sua atividade era de editar uma revista "espírita", com vários colaboradores do meio. Como chargista, foi contratado um conhecido desenhista que fazia tirinhas numa revista de rock. O editor escrevia cerca de três textos por edição, mas só podia creditar autoria em um deles, outros saíam sem sua assinatura.

O rapaz descobriu depois que não estava fazendo "estágio", mas trabalho comum, embora a remuneração fosse sempre atrasada e pendente. No almoço, quando ele não ia junto com o patrão e seus familiares para um restaurante e podia ir sozinho, ele ia para um supermercado para comprar um wafer, então valendo R$ 0,45, para "segurar" o dinheiro para as despesas pessoais.

Em conversa com uma funcionária que cuidava da cozinha, fornecia o cafezinho e contatava a marmita para todos os presentes, havia conversado com o rapaz sobre o drama que sofria. Mãe solteira, ela pedia emprestado dinheiro de familiares para comprar remédios, pagar despesas e outras compras mais urgentes.

No terceiro mês de trabalho, ele via os colegas se demitindo da empresa um a um. O ambiente de trabalho ficava cada vez mais vazio. Para piorar, o "líder espírita" queria promover o editor como redator-chefe e o referido funcionário via o barco se afundar.

O jovem resolveu então pedir demissão, dizendo que o fazia por problemas de salário. O patrão "espírita" ficou decepcionado, achando que ele estava trabalhando por "caridade". A contragosto, o "líder espírita" admitiu a demissão prematura, de apenas três meses de trabalho, mas não registrou o período de encerramento na Carteira de Trabalho, "manchada" com o carimbo da editora, num trabalho que era "de gente grande" e não um estágio.

Tempos depois, uma funcionária de uma emissora de TV de propriedade do mesmo "líder espírita" o convidou para participar da equipe, mas o jovem recusou. Este voltou à editora para pedir satisfações e negociar a dívida salarial, mas nada foi feito.

Um ano depois, ele percebia, como intuição, ao ver seu currículo num lixo próximo à sede da editora, que seu ex-patrão deve ter reagido com muita raiva e rancor, irritado de não ter mais trabalhando para ele um profissional de talento, que servia para alimentar a vaidade pessoal do "espírita".

E foi a partir daí que o jovem passou a ter azar. Ele não conseguia conquistar uma oportunidade de emprego, enfrentava concursos públicos que, por azar, ele sempre perdia, por mais que estudasse e procurasse marcar as questões de maneira mais correta possível.

Algumas oportunidades lhe escapavam das mãos, de forma sinistra. Ele havia feito um concurso para uma autarquia que era fácil e tinha um excelente programa de estudo e uma bibliografia interessante para ser lida. Era o concurso de seus sonhos cujo cargo lhe traria grandes oportunidades de realização profissional.

Só que, quando ele foi arranjar um material de estudos, greves surgidas do nada fecharam bibliotecas que ajudariam a obter alguns dos livros indicados. Na filial da autarquia, um funcionário de plantão responsável pela biblioteca que tinha todos os livros indicados, nunca compareceu. O jovem teve dificuldades de obter material, fez um péssimo concurso e foi reprovado.

Um outro concurso, para uma outra instituição, parecia ter mais sorte. O jovem ficou em 15° lugar entre os aprovados e a empresa prometia contratar mais de 30. No entanto, ele só recebeu uma proposta de emprego, fracassada, e tudo por conta da "mancha" da editora "espírita" na Carteira de Trabalho, com sua data de encerramento "pendente".

A convocação de aprovados para essa empresa chegou a prorrogar por mais de dois anos, e o rapaz sempre telefonava para saber quando novos aprovados seriam chamados. Estranhamente, só seis foram chamados. E, nas últimas ligações, as funcionárias trocaram o tom educado pelo ríspido, dizendo que não será mais possível chamar novos aprovados.

Enquanto isso, o que "sobrava" de emprego para o rapaz era só encrenca. Um jornal de uma cidade do interior, politiqueiro e de péssima qualidade, com redação em péssimas instalações, e cujo patrão era conhecido por fazer "teste do sofá" com empregados homens.

O jornal ficava numa região com rodovias esburacadas, o carro da reportagem era péssimo e rodava em altíssima velocidade até mesmo de noite, com estradas em plena escuridão. O risco de um acidente fatal era altíssimo.

Não havia carga horária fixa, pois o rapaz poderia trabalhar das 7h30 da manhã e encerrar às 23h. A remuneração também era de R$ 1.000 - o emprego seria pouco após o da editora "espírita" - e também era diluída em vale-alimentação. E a linha editorial era tendenciosa, se depender do caso um político corrupto da região teria que ser elogiado em reportagens sociais.

O jovem também recebeu uma proposta de emprego, na capital onde morava, de um jornal comunitário em um subúrbio. que estava em processo de implantação. O futuro editor-chefe já adiantava dizendo que ele sofria ameaça de gente da região por causa de "divergências locais", o que seria um trabalho arriscado.

O rapaz nos escreveu dizendo como seria arriscado trabalhar nesse jornal, já num bairro bastante perigoso, e um dia ter que ir para a redação e, de repente, encontrar o seu chefe de redação morto, com o corpo perfurado por balas. A oferta não foi aceita.

Outra queixa do rapaz é que, durante duas vezes - uma em uma entrevista de emprego e outra no "auxílio fraterno" em um "centro espírita" - ele foi aconselhado a trabalhar numa rádio FM cujo dono é um ex-prefeito corrupto. A própria rádio teria nascido de um esquema de corrupção, quando seu dono, também locutor, armava com um comparsa um desvio de grande quantia de verbas públicas, quando o dono da rádio era titular da Prefeitura, para as fortunas pessoais dele e seu parceiro.

O rapaz reclama que foi amaldiçoado pelo "líder espírita". Este continua dando suas palestras e entrevistas, publicando textos, aparecendo em emissoras comunitárias da TV por assinatura. Enquanto o "líder espírita" se faz de bonzinho alegando "fidelidade absoluta" a Allan Kardec, o rapaz amaldiçoado continua vivendo com os pais enquanto tenta arrumar um lugar no mercado de trabalho.

É constrangedor. Os familiares perguntam por que o rapaz nunca consegue um emprego. "Que problema ele tem?", perguntam, como se suspeitassem de algum problema mental. Os danos morais que ele passou a ter são incalculáveis. O rapaz, hoje, só sente amargura e tristeza pela realidade que ele não consegue resolver mesmo "metendo a cara".

Daí que pode ser maldição. Afinal, o "espiritismo" brasileiro estabelece contradições sérias em suas práticas e ideias, combinando igrejismo, moralismo conservador, misticismo ocultista, pseudociência e outras irregularidades.

É uma doutrina que faz com que um "espírita" se torne mão-de-vaca, querendo que uma pessoa de talento trabalhe para ele, sem que uma remuneração justa seja dada (afinal, o rapaz tinha que pagar suas contas e sobreviver por conta própria, né?), e, quando o rapaz não aguenta, o "simpático espírita" não gosta, fica irritado e roga maldição para o rapaz não arrumar mais outro emprego.

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