quarta-feira, 27 de maio de 2015

A "profecia" da "Data-Limite" seria uma revanche dos degredados?

QUEM NÃO ERA CONDENADO À MORTE OU À TORTURA PELA INQUISIÇÃO PORTUGUESA ERA CONDENADO AO EXÍLIO, DENOMINADO "DEGREDO", EM TERRA DISTANTE.

Nas análises que fazemos sobre a "Data-Limite", lançamos diversas possibilidades, mas sempre num sentido de questionar o sentido "científico-filantrópico" atribuído oficialmente à suposta previsão trazida por Francisco Cândido Xavier através de relato dado a Geraldo Lemos Neto em 1969.

Geraldo, que divulgou o relato de Chico Xavier a partir de 1986, disse que a "profecia" anunciava o risco do Hemisfério Norte se tornar uma região inabitável, devido a guerras, atos terroristas e catástrofes naturais, e, sob as "cinzas" do "velho mundo", o Brasil se ascenderia como "coração do mundo" e "pátria do Evangelho", utopia bastante conhecida do anti-médium mineiro.

É certo que uma parcela de seguidores de Chico Xavier reclamou do caráter "fatalista" da suposta profecia, alegando que ela partiu de uma outra pessoa e Chico não teria pensado assim porque não o transmitiu ele mesmo para as pessoas.

No entanto, seu relato a Geraldo Lemos Neto, embora fosse a transmissão indireta de uma mensagem do anti-médium, corresponde, sim, ao pensamento de Chico Xavier, uma vez que juntam relatos já trazidos por seu "mentor" Emmanuel em 1938 e que a supremacia brasileira no mundo já era defendida pelo mineiro desde suas primeiras "psicografias".

É claro que chama muito a atenção o "alerta" da destruição do Hemisfério Norte, área onde se situam países que já têm experiência em progressos de caráter científico, intelectual e cultural. Países com larga experiência de crises, rebeliões e revoluções, que segundo Chico Xavier correriam o risco de desaparecerem pela catástrofe e pela violência.

DESTRUIÇÃO DE SOCIEDADES AVANÇADAS

O que isso quer dizer? Se compararmos o que as guerras fizeram com o legado da Antiguidade Clássica, sobretudo da Grécia Antiga, e o que a supremacia do Império Romano fez deixando à margem todas as grandes lições dos intelectuais e artistas gregos e de outros povos antigos, dá para perceber o sentido oculto da coisa, não muito agradável para os chiquistas.

Afinal, o que se observará é, mais uma vez, a destruição de países com avançado desenvolvimento sócio-econômico ou tecnológico e o "velho mundo" não envolve apenas países de "exemplos lamentáveis" como os EUA que exercem mal sua hegemonia planetária ou o Oriente Médio foco de grupos extremamente violentos.

O "velho mundo" envolve também países que rediscutem os próprios defeitos e debilidades de países desenvolvidos, como Alemanha, França e Bélgica, além das nações com significativa prosperidade e desenvolvimento humano, como os países da Escandinávia (Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia e a vulcânica Islândia).

Mais uma vez se repetirá o extermínio de um legado de sociedades desenvolvidas, interrompendo o caminho da evolução humana na Terra, adiando as transformações para tempos em que elas se tornassem inofensivas para as estruturas de poder dominante no planeta.

E, se as ruínas da Antiguidade Clássica abriram caminho para a fase medieval do Império Romano e, após sua queda, pela supremacia religiosa do Império Bizantino (antigo Império Romano do Oriente), a ascensão do Brasil através do "espiritismo cristão" e sobre as ruínas do "velho mundo", indicam a repetição da História, essa área tão mal compreendida pelo próprio Chico Xavier.

Afinal, cabe uns parênteses: Chico Xavier, embora razoavelmente escolarizado, expressava erros grosseiros de História, além de incompreensões aberrantes sobre Sociologia, Geologia e Geografia Humana, como se observa na sua abordagem risivelmente cartográfica sobre os rumos geopolíticos da humanidade da Terra.

Nota-se que nações que, embora com alguma tendência majoritariamente religiosa, mostrem tanto flexibilidade de crenças quanto a expressiva presença de ateus e agnósticos, são justamente as que a "profecia" de Chico Xavier define como "ameaçadas".

Em contrapartida, ele enfatiza nações consideradas "de firme supremacia religiosa" como as que seriam "poupadas" pelas catástrofes. E enumera o Brasil, predominantemente religioso, com a supremacia oficial do Catolicismo, a ascensão dos evangélicos e o protecionismo midiático e mercadológico ao "movimento espírita", como nação que se "ascenderá" ao poder planetário.

REVANCHE

E o que têm a ver os degredados com isso? Não seria uma espécie de "acerto de contas" para o "mundo" que expulsou bandidos, assassinos, arruaceiros, feiticeiros e ciganos visando o seu desenvolvimento social?

Portugal, que investiu na expulsão dessas pessoas, mais os hereges que não professaram originalmente o Catolicismo, definindo-os como degredados pelo fato de definirem o tipo de exílio deles em terras distantes (como áreas distantes de controle português, como Brasil e Angola, na África), queria se desenvolver como país, a partir da Era das Grandes Navegações (Séculos XV-XVI).

Após o terremoto que arrasou Lisboa e outras regiões portuguesas, em 1755, isso se tornou ainda mais acentuado. Portugal, considerado "país-cliente" da Grã-Bretanha, então a maior potência econômica do mundo, há muito queria se emancipar socialmente, transformando o Brasil no repositório de pessoas "desagradáveis" e o terremoto (ao qual se somou um maremoto) só aumentou essa necessidade.

Dessa maneira, se os degredados já eram enviados para o Brasil desde pouco antes de 1500, significando, aos olhos das autoridades da Coroa portuguesa, uma "limpeza social" no país europeu, o terremoto de 1755 representou medidas ainda mais austeras para evitar que Portugal falisse como nação.

E aí veio a ordem do Marquês de Pombal, primeiro-ministro português, de se encerrarem as atividades da Companhia de Jesus. O conhecido catecismo católico deixava de ser praticado em larga escala no Brasil e seus missionários teriam que voltar ao país de origem, porque a Metrópole portuguesa não queria gastar mais dinheiro para a colônia, de administração bastante onerosa.

E o que teria havido no plano espiritual? Muito provavelmente o plano de uma revanche através de uma religião que combinasse o antigo Catolicismo medieval com algumas concessões dadas às atividades hereges. Pegando carona na novidade da Doutrina Espírita de Allan Kardec, quase nada foi aproveitado do pedagogo francês, mas mesmo assim a religião se autobatizou como "espiritismo".

Em vez de uma doutrina de bases científicas que revelasse a natureza da vida espiritual, o que se viu foi uma variante "flexível" de Catolicismo, quase um "Catolicismo pirata" no qual se inseriram valores das heresias medievais, que lhe trouxeram um modelo de mediunidade mais místico do que científico e, não raro, charlatão, ao se promover através de fraudes.

A "religião espírita" do Brasil usaria a ideia de uma supremacia político-religiosa do Brasil para se contrapôr à raiz iluminista da França e EUA e dos movimentos filosóficos que fizeram as nações europeias se desenvolverem e cujo modelo fez Portugal realizar suas "faxinas" que irritaram tanto degredados quanto jesuítas que viam tudo no plano espiritual.

Daí o desejo tão forte dos "espíritas" em ver um Brasil em crise, problemático e ainda subdesenvolvido, comandar a "comunidade das nações". Daí a intenção deles de ver, mais uma vez, sociedades avançadas destruídas. E tudo isso sobre a conversa dócil da "solidariedade" e da "paz", tão presentes no discurso católico medieval, mesmo lançando mão das sangrentas cruzadas.

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