O JOVEM JAIR PRESENTE.
Um dos pontos que fazem com que os defensores da suposta mediunidade de Francisco Cândido Xavier mantenham vantagem é ignorar que os "centros espíritas" vivem em comunicação entre regiões distantes e em eventual permutação e troca de favores.
Observando dois casos, o de Jair Presente e o do menino Carlos Alberto Bezerra da Silva, citado no livro Adeus Solidão, de 1982, revelam que as informações trazidas por supostas mensagens espirituais não são autênticas pelo fato de apresentarem informações pessoais sutis e "de difícil acesso" pelo "médium".
Carlos Alberto teria morrido em 1974, aos 10 anos de idade, caindo de um telhado quando buscava uma pipa. A ele foi atribuída uma mensagem trazida por Francisco Cândido Xavier em 1976 e publicada no referido livro sob "coordenação" e prefácio do jesuíta Emmanuel.
Reproduzimos a referida carta, que aponta aspectos estranhos como começar sempre com "Querida mãezinha" (estilo pessoal de Chico Xavier) e uma mensagem considerada "muito adulta" para um espírito que ainda mantinha as impressões frescas da infância carnal:
Querida mãezinha, peço a bênção.
Estou aqui, auxiliado por tio José, a fim de pedir ao seu coração e pedir ao meu pai não chorarem mais.
Mamãe, estou bem cansado ainda. Fale com papai que a alegria deve estar em nossa casa. Edson e Verinha e tantos mais...
Não demorei mais tempo, porque o meu tempo não podia ser maior.
Mamãe, a senhora não acha que já sofri muito, caindo do telhado? A senhora pode avaliar que não tive muita facilidade para me ver com a dor de cabeça e com as lágrimas de nossa casa.
Peço para que me perdoem, se alguém julga que fui imprudente. Não sei, mãezinha, mas eu sempre olhei para o céu, pensando que as pipas poderiam levar preces a Deus...
Ficar vendo o azul e pensarem Deus... Creio que isso me aconteceu, porque devia passar pelo que eu passei.
Rogo ao papai ficar alegre e corajoso. Estou fazendo um tapete invisível de orações para agasalhar o coração dele, porque a saudade para nós ficou sendo um frio forte demais.
Mãezinha, deixe que seu filho se alegre, vendo que as nossas alegrias voltaram todas para o nosso lar. Meu avô Manoel me disse para deixar um beijo em suas mãos.
Mãezinha, agradeço à tia Guiomar, a querida madrinha Guiomar de nós todos, o auxílio que nos proporciona.
Mamãe, precisamos fazer o que acreditamos seja certo. A tristeza não está certa, o luto por dentro da alma não está certo. Digo isso, reconhecendo que a senhora e meu pai estão sempre certos para mim.
Mãezinha, se posso fazer isso, deixo aqui um sorriso para o seu carinho. Um sorriso em forma de oração para que Deus conserve a senhora e papai, com meus irmãos, sempre felizes.
Abrace seu filho e guarde o coração do seu
CARLINHOS
CARLOS ALBERTO BEZERRA DA SILVA 04.02.76
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O caso do Jair Presente não precisa ter textos publicados aqui. Mas se percebe que, nas pesquisas de Alexander Moreira-Almeida e sua equipe do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (NUPES) da Universidade Federal de Juiz de Fora, eles alegaram que Chico Xavier "dificilmente teria acesso" às informações pessoais trazidas pelo suposto Jair, que viveu e morreu prematuramente em Campinas, quando se afogou durante um banho com os amigos, em 1974, com 25 anos incompletos.
Assim como a mensagem de Carlos Alberto cita a "tia Guiomar", referente à dirigente do grupo "espírita" Perseverança, na capital paulista, frequentado pelos pais do menino falecido, uma mensagem do suposto Jair Presente teria sido enviada à dirigente do Movimento Assistencialista Espírita Maria Rosa, em Campinas, também frequentada pelos pais do jovem engenheiro. A dirigente se chamava Wandir Dias.
A mensagem teria sido divulgada entre a terceira e quarta cartas trazidas por Chico Xavier na suposta psicografia analisada pelos acadêmicos "espíritas". Wandir Dias estava por dentro da tragédia de Jair Presente e seus dados pessoais.
Embora não houvesse comprovação e o pai de Jair, senhor José Presente, havia falecido em 2006, há um forte indício de que Wandir Dias teria enviado jornais e outros documentos para Chico Xavier, situado em Uberaba. A mãe de Jair também teria trabalhado no "centro" de Campinas, o que pode ter facilitado as comunicações entre os "centros".
A ideia de "fraternidade" e "união" do "movimento espírita" também estimula essa comunicabilidade, sobretudo quando se vê que Chico Xavier era um dos maiores astros do movimento e isso influenciava na comunicação de outros "centros" a Uberaba.
Isso mostra que o material bibliográfico e documental pode ter complementado a "leitura fria" (obtenção de informações pessoais através de depoimentos e da interpretação de gestos psicológicos do entrevistado) no repertório de informações usadas em supostas psicografias, dissimulando assim a semelhança de estilo pessoal do "médium" e o propagandismo religioso por este expressado.
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