domingo, 28 de fevereiro de 2016

O pretenso bom-mocismo de Chico Xavier


No programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo de Televisão, existem quadros relacionados, em tese, ao ativismo social, como debates sobre problemas cotidianos e aparente assistencialismo em que o programa "oferece" escolas e veículos reformados para telespectadores de origem humilde.

O aparente ativismo social de Luciano Huck é uma jogada de marketing. O apresentador e empresário, que havia sido playboy da alta sociedade de São Paulo, e hoje é radicado no Rio de Janeiro, começou como uma espécie de "Amaury Jr. para jovens", fazendo colunismo social para a juventude riquinha, e depois virou astro do entretenimento televisivo.

Até que ponto Luciano Huck poderá ser visto como um filantropo do futuro? O problema do Brasil é que a memória curta, um vício tão comum entre os brasileiros, cria armadilhas para a opinião pública na medida em que se apaga o passado sombrio de muitas personalidades, que passam a ser reconhecidas apenas pelas posturas tardias e tendenciosas que adotaram.

O Brasil tem muitos exemplos disso. O povo se esquece, por exemplo, que o arquiteto Jaime Lerner e o empresário e radialista baiano Mário Kertèsz, tidos hoje como "progressistas", eram políticos da ditadura militar e filiados à tenebrosa ARENA.

Da mesma forma, se esquece também que o dirigente esportivo Ricardo Teixeira favoreceu muito o futebol carioca, o mesmo que está na pauta do fanatismo de muitos cariocas (que, quando conhecem alguém, perguntam o seu time antes de perguntar o nome).

Mas, em outros âmbitos, as pessoas se esquecem que a FM carioca Rádio Cidade surgiu como rádio pop comum e nunca teve tradição nem vocação para rádio de rock, que o "funk carioca" foi uma jogada publicitária das Organizações Globo e da Folha de São Paulo e que impor pintura padronizada nas empresas de ônibus é uma medida originária da ditadura militar e não de governos progressistas.

A desinformação generalizada, a imbecilização que atinge a cultura popular, o reacionarismo da trolagem na Internet que defende o "estabelecido" pela mídia, pelo mercado e pelo poder político-institucional, norteiam, ou melhor, desnorteiam o inconsciente coletivo que está cada vez mais confuso num Brasil perdido entre a libertinagem sem freio e o moralismo rígido demais.

É esse contexto que figura o mito de "bondade" de Francisco Cândido Xavier, que, como um Luciano Huck do passado - guardadas as diferenças devidas de contexto - , foi o astro de um pretenso bom-mocismo feito pelo mercado midiático para deslumbrar e fanatizar a opinião pública.

A memória curta faz com que muitos esqueçam que Chico Xavier sempre foi um roustanguista convicto, mas com medo de assumir tal postura, e que ele era um plagiador e parodiador literário, através do deplorável livro Parnaso de Além-Túmulo, que por trás de aparentes semelhanças, há elementos que contrariam severamente os estilos pessoais dos autores alegados, havendo denúncia de que Chico Xavier havia plagiado Augusto dos Anjos usando o nome de Antero de Quental.

JOGADA PUBLICITÁRIA

O pretenso bom-mocismo de Chico Xavier é uma farsa que se arroga, graças à roupagem religiosa que tudo permite, até corrupção em nome da fé e da "caridade", na qual a "justiça de Deus" permite a impunidade mais absoluta, em resistir às pressões de diversos tipos.

A religião torna-se o escudo para que mentiras, mistificações traiçoeiras e abusos de todo tipo sejam protegidos. Se há uma investigação, os religiosos, desesperados, inventam que é "campanha de perseguição contra o bem", e até o mais sereno trabalho investigativo é classificado como "grito de feras ensandecidas movidas pela intolerância e impiedade".

Nota-se que, diante das denúncias de escândalos com a participação de Chico Xavier, que com muito gosto cometeu irregularidades sérias, não bastasse ter feito deturpações grosseiras da Doutrina Espírita a ponto de personificar o inimigo interno alertado por Erasto, e muito pior do que havia sido Jean-Baptiste Roustaing, há uma horda de fanáticos que, estes sim, atuam como feras ensandecidas.

Acreditando que Chico Xavier é "bondoso", por mais que minta, cometa fraudes ou coisa parecida, uma histeria que contamina até ateus (?!) e kardecianos autênticos, que acreditam ser possível a recuperação das bases espíritas originais mantendo o anti-médium nem que seja como enfeite, há a completa ignorância de como se deu essa imagem midiática.

Sim, isso mesmo, a "bondade" de Chico Xavier foi uma jogada de marketing. E não adianta os arrogantes chiquistas responderem "Ah, se é uma jogada de marketing, é uma boa jogada e os marqueteiros entenderam o valor do amor ao próximo", porque avisamos que o caráter de "bondade" de Chico Xavier é bastante duvidoso.

Há muitos aspectos sombrios relacionados a Chico Xavier, não bastasse uma foto antiga que circula na Internet, com o "médium" olhando de frente, de olhos expostos, que mostra um semblante bastante pesado e assustador. E citá-los não tem a ver com ódios nem intolerâncias, mas de observações cautelosas e bastante apuradas.

É só observar apenas uma seleção parcial de incidentes que mostram o quanto Chico Xavier não foi essa "bondade toda" que tanto falam, em breves relatos, o que podem seguramente desmascarar o anti-médium como mito de pretenso filantropo e de um ativista social que ele nunca foi, em nenhum momento:

- O "médium" consentiu que a FEB se "livrasse" do sobrinho Amauri Xavier Pena, que iria denunciar as irregularidades da federação e do "trabalho" do tio, e depois o jovem foi vítima de campanha difamatória do "movimento espírita" e, muito provavelmente, foi violentado num sanatório e teria sido envenenado, pois morreu cedo demais até para os padrões de quem bebia demais (que geralmente morre entre os 30 e 40 anos; Amauri morreu dez anos antes).

- Chico acusou, no livro Cartas e Crônicas, de 1966, as pobres vítimas do incêndio criminoso de um circo em Niterói, ocorrido cinco anos antes, de terem sido cidadãos da Gália, região da atual França que integrava o Império Romano, que sentiam prazer de ver hereges e inadimplentes serem queimados em praça pública. Além da acusação ser cruel e inverossímil (teriam todas as vítimas necessariamente vivido na Gália?), Chico ainda atribuiu a acusação a Humberto de Campos, mal disfarçado pelo pseudônimo Irmão X.

- Numa entrevista ao programa Pinga-Fogo, em 1971, Chico Xavier defendeu os generais da ditadura militar e, por associação, os torturadores e censores. Ele pediu para orarmos por eles, que estavam construindo o "reino de amor" (?!) do futuro. Reino de amor? Com o sangue derramado de inocentes? Os carrascos Brilhante Ustra e Sérgio Paranhos Fleury também eram "espíritos de luz"?

- Quando amigos do jovem Jair Presente, que havia morrido afogado em 1974, lançaram dúvidas severas sobre as supostas psicografias atribuídas ao espírito do rapaz, Chico Xavier se irritou e reagiu de forma ríspida e grosseira. Ele definiu as dúvidas como "bobagem da grossa", num comentário rabugento, desconhecendo que era o direito dos jovens terem essa dúvida, afinal eles conviveram com Jair Presente.

- Desde quando se tornou mito religioso e intensificou as atividades "mediúnicas" produzindo "cartas" de pessoas falecidas, Chico Xavier acabou expondo as famílias à exploração sensacionalista de suas tragédias e fortaleceu a propaganda pessoal como pretenso mensageiro, produzindo, no entanto, mensagens que pareciam ter sempre o mesmo estilo e a mesma caligrafia, e aspectos que destoam da natureza pessoal de cada falecido, até mesmo o exagerado apelo igrejista.

- Chico Xavier dizia que não cobrava por consultas, não fazia questão de cachê, que preferia "viver pobre" (mas, perto de morrer, foi internado num bom hospital de Uberaba), mas o dinheiro de venda dos livros (produzidos em quantidade industrial e nem sempre realmente escritos pelo "médium") ia para os cofres dos dirigentes da FEB. Além disso, ninguém vira santo porque recusa receber cachê, porque aí não há caridade, e sim uma renúncia de faturamento.

- O próprio uso do nome de Humberto de Campos é uma perversidade sem tamanho. Talvez Chico Xavier tivesse pensado em usar o nome de Machado de Assis, mas seria fácil de desmascaramento, e aí usou-se o nome de Humberto, popular mas menos badalado em relação ao escritor de Dom Casmurro. O uso leviano do nome de Humberto era uma revanche pelo fato de Chico não ter sido devidamente elogiado, já que o autor maranhense temia pela concorrência da "literatura do além" que roubaria o espaço dos escritores vivos ou de seus legados em vida.

São tantas perversidades e pontos obscuros, que não compensam com a aparente "caridade" associada a Chico Xavier. Até porque, do lado da "caridade", as ações são muito confusas e não há clareza em dizer de que forma Chico realmente ajudou as pessoas, até porque a filantropia era paliativa, as mensagens, de um religiosismo conservador e o atendimento aos familiares dos mortos custava a ostentação sensacionalista destas famílias.


ESSES MANEQUINS DE PONTA-CABEÇA SÃO REENCARNAÇÕES DE ESTÁTUAS DE PATRÍCIOS ROMANOS?

Imaginamos como seria se deixássemos Luciano Huck ganhar fama de "bom moço. Um mito é construído e, se essa construção vingar por uma relativa porção de anos, cria-se uma falsa tradição na qual se atribui ao ídolo venerado qualidades que, na verdade, foram forjadas ou inventadas de maneira fraudulenta ou tendenciosa.

O Brasil é muito vulnerável à fabricação de mitos, e ao prolongamento da publicidade enganosa que, persuadindo por longos anos, torna-se "verdade absoluta". Por isso é que os brasileiros passam a ter uma percepção atrofiada das coisas e veem a realidade de maneira confusa na qual combinam desde incompreensões motivadas pela ignorância até arrogantes convicções pessoais.

Chico Xavier foi o Luciano Huck do passado, e seu artífice, o presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, "mentor" material de Chico na Terra (Emmanuel era o mentor do além-túmulo), buscou transformar um criador de pastiches literários, a partir do estranhamente remendado Parnaso de Além-Túmulo, a pretenso filantropo.

E é aberrante que é a mesma sociedade que comete calúnias gratuitas e violentas contra o PT, fazendo abertas difamações a Lula, Dilma Rousseff, José Dirceu e outros, aceite que Chico Xavier minta, cometa fraudes e finja receber espíritos por ser "bondoso". Isso mostra o quanto está o nível ético das pessoas, movidas por paixões aqui e ali.

Daí que os defensores de Chico Xavier só conseguem provar uma coisa: são obsediados, apegados a um ídolo religioso e movidos tão somente por paixões terrenas das mais graves (os chiquistas demonstram serem fanáticos e raivosos). E mostra também que a religião não é tão purificadora assim, já que estereótipos podem ser perigosa e maliciosamente sedutores, vide o de Chico Xavier.

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