quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
A aberrante mercantilização do corpo feminino
Uma grande aberração acontece na chamada mídia "popular". A profusão de musas "sensuais" que nada fazem na vida senão "mostrar demais", que acontece numa quantidade e com uma persistência preocupantes, expressam a resistência de valores machistas remanescentes.
Musas como Mulher Melão, Mulher Melancia, Solange Gomes, Geisy Arruda e centenas de outras nada fazem senão "sensualizar", e, mesmo quando tentam investir em outras situações e atitudes, sempre as vinculam a seus "corpos avantajados", que ainda contam com o respaldo de internautas machistas e dotados de impulsos sexuais desenfreados.
Muitas dessas "musas" são arrogantes e temperamentais, cometeram muitas gafes e ainda por cima ridicularizam a imagem da mulher solteira no Brasil, que através da mídia popularesca é associada ao erotismo obsessivo, o apego a noitadas, os péssimos referenciais culturais e uma pouca responsabilidade com as coisas da vida.
Até agora elas insistem em permanecer em evidência, com suas fotos no Instagram e, pasmem, alimentam um mercado aberrante, em que o corpo feminino é tratado como um simples objeto de consumo, uma mera mercadoria "oferecida de bandeja" para tarados de plantão.
Há uma grande diferença entre uma mulher inteligente que eventualmente se torna sensual e uma "musa" que trata a sensualidade como um fim em si mesmo. Atrizes, modelos e até jornalistas de televisão alternam sessões de fotos sensuais com discretas aparições públicas, sobretudo em aeroportos, em que elas chegam a usar roupões compridos, dependendo do caso.
São mulheres que não dependem da sensualidade para se afirmarem, e nem possuem os corpos exagerados, artificiais e plastificados das "musas populares", conhecidas como "boazudas" ou "popozudas". E é lamentável que é justamente nas classes populares e na classe média que esse mercado de glúteos e bustos "oferecidos" persiste e corrompe o paradigma da mulher popular.
As mulheres das classes populares são induzidas pelo poder midiático a ver nessas "exóticas" mulheres um "modelo de sucesso e prestígio" e várias delas embarcam na onda sem saber do mal a que se expõem.
Esse mercado perverso, apesar da "felicidade" com que as "musas" mostram seus corpos siliconados com tamanha persistência e obsessão, mostra o quanto a hipersexualização do corpo feminino deprecia a busca das mulheres das classes populares por qualidade de vida.
A "sensualização" é um múltiplo processo de ridicularização das mulheres. Há a esculhambação da imagem da solteira, tida como "vadia", "fútil" e "exibida". Há a depreciação da mulher negra, geralmente de glúteos mais redondos, ou de mulheres mais "cheinhas", o que sugere um sutil racismo ou outro processo de humilhação social. E há a desmoralização da mulher nas classes populares, com esse "modelo" associado à sensualidade obsessiva e forçada.
E há nisso uma grande contradição. Uma parcela da intelectualidade comprometida em defender a decadência da cultura popular sob a desculpa da "ruptura do preconceito" e da "rebelião do mau gosto" defende que a mulher das classes populares seja exposta ao erotismo gratuito, enquanto a mulher da classe média é que pode se proteger dos abusos do assédio masculino.
Enquanto a mulher de classe média levanta bandeiras contra as chamadas "cantadas", mulheres consideradas de "forte apelo popular" se tornam as "oferecidas" e pedem mesmo para internautas "as desejarem".
É um processo estranho, e que ameaça até as mulheres de classe média porque as "musas populares", com seu erotismo obsessivo e compulsório, estimulam o apetite e a ação de tarados que podem se converter em estupradores que irão atacar as mulheres da "casa grande". É um tiro no pé que a intelectualidade festiva deu, ao defender, no "lado de cima", o "chega de fiu-fiu" e, no "lado de baixo", o "direito à sensualidade" das "musas que mostram demais".
Com esses aspectos remanescentes de ideais machistas, da forma como prevaleciam durante a ditadura militar, o avanço das conquistas femininas é comprometido, diante de um grande número de subcelebridades femininas que se alegram em se reduzirem a meras mercadorias sexuais, promovendo o consumismo erótico expondo seus corpos siliconados como se fosse carne de rua.
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