ENTRADA DA MANSÃO DO CAMINHO, EM SALVADOR.
Hoje será veiculada uma reportagem no Fantástico, da Rede Globo de Televisão, mostrando a Mansão do Caminho, do anti-médium baiano Divaldo Franco, na qual o repórter Marcelo Canellas destaca a aparente missão filantrópica da instituição localizada no bairro de Pau da Lima, em Salvador.
A reportagem é mais um recurso da Federação "Espírita" Brasileira de recuperar a supremacia do seu "espiritismo", dando continuidade a diversas apelações que envolveram desde parcerias com Maurício de Souza até coletâneas "requentadas" de obras de Chico Xavier, além de um livro "inédito" de "psicografias".
Agora que Divaldo Franco está se aposentando das atividades "mediúnicas" - com a alegação de que sua mentora Joana de Angelis (que NÃO foi Joana Angélica, por constatar que eram personalidades bem diferentes), iria regressar à vida terrena - , a grande mídia colabora para fazer de Divaldo um semi-deus como se fez com Francisco Cândido Xavier.
A reportagem de Marcelo Canellas adiantou, em mensagem nas mídias sociais, que a Mansão do Caminho atendeu, em mais de 60 anos de existência - a instituição foi fundada em 1952, portanto tem 63 anos - , 160 mil pessoas. Parece um número grande e heroico, mas fazendo os seguintes cálculos, verá que o número representa pouco, muito pouco.
A título de comparação, se dividirmos a quantidade de pessoas que saíram da pobreza com os anos de existência da instituição (160.000:63), o número será de aproximadamente 2.540, valor médio de beneficiados por ano.
Levando em conta que a população de Salvador, oficialmente, é de 2,902,927 habitantes, sem falar dos milhares de imigrantes do interior da Bahia, não creditados pelo Censo, o que dá um número estimado em três milhões, se fizermos a prova dos nove colocando 3.000.000 como 100%, o número 2.540 corresponderia a 0,08%.
Portanto, esta é a porcentagem atendida por ano, em relação à população geral de Salvador: 0,08%. Ou seja, o Fantástico quer fazer festa porque menos de 1% de pobres foi beneficiado por Divaldo Franco, um número ínfimo, se levarmos em conta que ele é considerado "cidadão do mundo".
CERCA DE ARAME FARPADO NA MURALHA QUE CERCA A MANSÃO DO CAMINHO.
PROJETO EDUCACIONAL NÃO VAI MUITO ADIANTE
Outro aspecto a considerar é que o "revolucionário projeto" de "combate à pobreza" da Mansão do Caminho se resume a projetos de Educação básica e cursos profissionalizantes, aliados a um proselitismo religioso que é o preço dado à aparente gratuidade dessas medidas.
Considera-se proselitismo religioso não o ato de forçar a pessoa a seguir uma religião de maneira institucional, mas de transmitir ideias, crenças e dogmas que são próprias do sistema religioso que detém tal projeto educativo.
A Mansão do Caminho não iria ensinar algo que vá contra o sistema religiosista do "espiritismo" brasileiro. Ou algum ingênuo acharia que lá haveria, além de cursos universitários para crianças, toda uma valorização do conhecimento científico e analítico dado de bandeja a pobres adolescentes semi-alfabetizados?
O projeto educacional apenas prepara as pessoas a sobreviver em condições básicas de vida. Não faz muita coisa, apenas faz as pessoas ficarem boas, mas num perfil mais insosso, sem qualquer diferencial. O que faz diminuir o mérito, porque nada tem de genial nem diferenciado e qualquer instituição faz isso sem que a sociedade se transforme de maneira substancial.
O problema é que, dependendo do contexto, muitas pessoas confundem básico com avançado, mínimo com máximo, e medem o valor de qualquer coisa não pelo que elas são de positivo, mas pelo que elas deixam de ser de radicalmente negativo, o que faz qualquer coisa medíocre parecer "genial".
Afinal, como é que um projeto educacional sem grandes diferenciais, que mistura o básico do básico - que não é ruim, mas insuficiente para ser considerado transformador - e só faz os cidadãos sobreviverem razoavelmente na condição de mais uns na multidão, sem acrescentar muita coisa, vai ser considerado de "grande importância para a humanidade inteira"?
Se o projeto da Mansão do Caminho beneficia 0,08% da população de Salvador, imagine se comparar com a população do Brasil, da América Latina, do mundo inteiro e do universo? O "gigantesco benefício" do "respeitado" Divaldo Franco simplesmente equivaleria a zero.
Outros projetos educacionais, como os do próprio Allan Kardec e, no Brasil, os de Anísio Teixeira (com eventuais parcerias com o radialista Edgar Roquette-Pinto), Darcy Ribeiro e Paulo Freire, tinham propósitos e metas bem mais audaciosos do que o da Mansão do Caminho que não vai além dos clichês da paliativa filantropia religiosa.
Portanto, para os paradigmas de um país tido como destinado a ser o "coração do mundo" e "farol da humanidade planetária e, quiçá, universal (?!?!)", a Mansão do Caminho é apenas um projeto de menor expressão, tão inexpressivo que, para os parâmetros do "poderoso Brasil" dos sonhos de Divaldo e, antes, de Chico Xavier, seus benefícios são bem abaixo de 1%.
Não se faz um cidadão do mundo, um projeto revolucionário nem uma nação poderosa com iniciativas que só trazem benefícios a 0,08%.
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