sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
Brasil, "Coração do Mundo": uma ideia fascista?
Temos que ter muitíssimo cuidado quando enumeramos um país como "centro" de qualquer coisa. Mesmo com um discurso muito bonito, pode-se abrir caminho para a tirania, para a opressão e para o genocídio, por mais que as teorias tentem desmentir tais ameaças.
A ideia de Brasil como "Coração do Mundo e Pátria do Evangelho", que inspirou o livro escrito a quatro mãos por Francisco Cândido Xavier e Antônio Wantuil de Freitas, mas atribuído tendenciosamente ao espírito de Humberto de Campos - que nunca escreveria um livro desses e ainda teve um trecho de um livro cômico (!) plagiado na "obra espiritual" - , é bastante perigosa.
Oficialmente, o discurso do "coração do mundo" e "pátria do Evangelho" é maravilhoso. Fala-se de um país que "liderará o mundo" na sua missão de "transmitir a fraternidade e a solidariedade cristã", se tornando o "paraíso do esclarecimento, do progresso e da união dos povos".
Mas, como diz o ditado popular, "falar é fácil". Afinal, o Império Romano, a partir do comando da parte oriental pelo imperador Constantino, também se valeu das "melhores intenções" de propagar a supremacia católica na Idade Média. Também havia promessas de "esclarecimento, progresso e solidariedade", mesmo dentro de um contexto bem mais grosseiro do que o dos dias atuais.
Outro ditado também deve ser lembrado: "de boas intenções, o inferno está cheio". O problema não é um império movido por uma "doutrina superior", com uma promessa de "união, paz e solidariedade", com propósitos aparentemente "positivos" e "libertadores", mas pelo "outro lado". O problema é a barreira a ser combatida, e aí é que aparece o lado mais sombrio.
O Catolicismo medieval do Império Romano também se apoiou das mesmas promessas. Tanto que seu propósito era propagar mundialmente a "religião do Cristo", aparentemente só agindo para proteger um sistema de valores ligado a promover "a paz, a solidariedade e o amor ao próximo".
Mas, para que isso desse resultado, era preciso combater o "outro lado". Os hereges, pessoas que se recusavam a compartilhar da crença católica, eram perseguidos, condenados à morte sob diversas formas e massacrados de maneira criminosa e desumana, e o Catolicismo medieval realizava verdadeiros banhos de sangue que dizimaram multidões em nome da "proteção da Igreja de Jesus Cristo". Verdadeiros anti-cristos eram feitos "em nome do Cristo".
Isso não vinha no discurso de lançamento. Além disso, caso equivalente quase se consolidou com o nazismo de Adolf Hitler, de traumática lembrança, que também se valeu de "boas coisas", dentro do contexto catártico de uma Alemanha politicamente castigada pelo Tratado de Versalhes, assinado depois do fim da Primeira Guerra Mundial e que pôs o país europeu em "maus lençóis".
Os propósitos de "raça superior", "raça pura" e tudo o mais eram "positivos" para o contexto de uma boa parcela de alemães. E para que isso se realizasse criou-se uma hostilidade a outros povos, principalmente judeus, criando um holocausto que provocou uma das mais sanguinárias tragédias da história do século XX. O nazi-fascismo teve que ser combatido na Segunda Guerra Mundial por uma aliança provisória dos EUA e Grã-Bretanha com a URSS para que se evitasse sua expansão.
O que se teme com o "espiritismo" e sua ideia de Brasil como "coração do mundo" e "pátria do Evangelho" é que todo esse discurso de "fraternidade e amor" seja reforçado pela criminalização do "outro lado", o que certamente nunca será assumido pelos "espíritas", que, com seu balé de "lindas palavras", nunca demonstrarão "más intenções".
Mas o "espiritismo" já se mostrou cruel em muitos momentos. O próprio Chico Xavier, tão "puro" e "iluminado", já fez acusações cruéis contra as vítimas do incêndio em um circo em Niterói, defendeu a ditadura militar durante sua fase mais repressiva e caluniou os amigos de Jair Presente quando eles duvidaram da "psicografia" do anti-médium mineiro.
Os palestrantes "espíritas" ultimamente estão pregando ideias da Teologia do Sofrimento, a mesma que prevaleceu no Catolicismo medieval e que era uma apologia à desgraça dos sofredores, uma espécie de holocausto teológico, no qual o acúmulo de desgraças era "um atalho seguro" para alguém se chegar ao "Céu" (os "espíritas" falam em "bênçãos eternas da vida futura").
Dois dos ídolos católicos foram adotados pelos "espíritas". Um, o perverso padre Manuel da Nóbrega, que certa vez apoiou o assassinato de um herege, reapareceu na forma de Emmanuel, o "mentor" de Chico Xavier. Outra é a Madre Teresa de Calcutá, considerada "santa" mas que, em seu currículo, incluiu maus tratos aos pobres e doentes que ela alojava em suas "casas de caridade", expostos à contaminação de seringas sujas e doenças graves e viviam na fome e sob a sujeira.
Portanto, são ícones católicos associados a perversidades que, no entanto, os "espíritas", que já deturpam violentamente o legado de Allan Kardec, admiram. Isso pode dar um sinal amargo sobre o que o "espiritismo" pode fazer com a humanidade se o Brasil virar um país "central" destinado a promover a "evangelização da humanidade".
Com certeza, o projeto "Brasil Coração do Mundo e Pátria do Evangelho" é uma teocracia. E seus postulados são claramente influenciados, não em livros como A Gênese de Allan Kardec, mas o tenebroso Os Quatro Evangelhos de Jean-Baptiste Roustaing.
O próprio livro do pseudo-Humberto de Campos remete à obra de Roustaing, de tal forma que Chico Xavier cita na obra o rival de Kardec abrasileirando o prenome como "João Batista". Virou João Batista Roustaing. Mas, como que por hipocrisia, Chico Xavier se declarou "envergonhado" pela presença de Roustaing no livro Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.
Xavier adaptou bem o roustanguismo, mas tinha a maior vergonha em se assumir seguidor de Roustaing, a exemplo do atual presidente da República, Michel Temer, que se esquece que boa parte do projeto "Ponte para o Futuro", com sua PEC dos Gastos Públicos e as reformas trabalhista, previdenciária e educacional (ensino médio) são heranças explícitas das "pautas-bombas" do ex-deputado e hoje detento Eduardo Cunha.
Daí o sentido perigoso de uma supremacia religiosa simbolizada por um país. O problema não é o lado "positivo", da "solidariedade, paz e fraternidade", mas do que representarão as barreiras a serem destruídas para se manter o projeto político-religioso.
O Império Romano tinha os "hereges" e o nazismo, os judeus. Nada disso estava no roteiro quando tais supremacias eram apenas projetos. É muito fácil os "espíritas" dizerem que o "outro lado" será "combatido" pelo "perdão e misericórdia", e que, em tese, haverá "apenas tolerância e respeito humano". Mas nada impede que atrocidades venham no caminho.
Afinal, em tempos de convulsões sociais de tudo quanto é lado, e uma movimentação reacionária que se utiliza de símbolos do nacionalismo brasileiro (camisa da CBF, bandeira brasileira, lema "ordem e progresso" e evocações "à Pátria Amada"), é bom tomarmos muito cuidado, porque supremacias político-religiosas são sempre perigosas e podem gerar graves danos à humanidade, por mais que se sirvam de "causas nobres". De "boas intenções", o umbral está cheio.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
"Espiritismo" virou um mercado das "belas palavras"
Infelizmente, o "espiritismo" virou um "mercadão das palavras". Mensagens piegas, exageradamente adocicadas, as tais "palavras de amor" que servem de entretenimento para desocupados, que, quando muito, só agem na caridade paliativa que "ajuda o próximo" sem mexer nas estruturas socialmente injustas que existem hoje.
"Ajude sem mexer no privilégio dos remediados", essa é a "lei de caridade" dos "espíritas", mais distantes de Allan Kardec e cada vez mais próximos do imperador romano Constantino. O "espírito do tempo" do Brasil de Michel Temer condisse com o reacionarismo das mídias sociais, quando os midiotas glorificam Francisco Cândido Xavier como "ícone máximo da caridade".
Nesse malabarismo discursivo, a ideia de bondade foi rebaixada a um subproduto da atividade religiosa. Num mundo em que a violência é banalizada e socialmente aceita, em que até feminicidas conjugais viram "bons partidos" para outras famílias indicarem a suas filhas, ser bondoso se limita apenas ao rótulo da crença religiosa de sua escolha.
E tudo isso só para temperar com algum "trabalho" o circo malabarista das palavras bonitas e bem organizadas. Palavras perfumadas, com gosto de mel, que fazem as pessoas chorarem. Fundos musicais relaxantes, mas extremamente piegas e até cafonas. Memes com os ídolos religiosos inseridos em paisagens floridas ou em céus azuis de pequenas nuvens branquinhas e sol radiante.
Tudo virou um mercado de "belas palavras", mas também um esforço para o palestrante "espírita" ficar sempre com a verdade, baseado na sua ilusão religiosa de que a ideia da verdade absoluta se apoia em três verbetes: "Deus, Cristo e Caridade", o pretexto roustanguista que norteia até hoje o "espiritismo" igrejista de hoje.
A postura dúbia dos últimos 40 anos, em que se permite o igrejismo mesmo com toda a roupagem falsamente científica, forjando um "kardecismo" pretensamente "autêntico", faz com que esse espetáculo da palavra, do discurso empolado do qual Divaldo Franco é um dos exemplos mais famosos, permaneça mostrando seu show de pirotecnias gramaticais.
A Teologia do Sofrimento, que comprovadamente é o postulado maior do "espiritismo" brasileiro - Chico Xavier deixou explícito isso, com suas próprias palavras, embora não assumisse, no discurso, defender essa ideologia - , é servida ao público "espírita" dissolvida na água com açúcar das boas palavras, das lindas mensagens que, em que pese o cativante desfile dos belíssimos vocábulos, trazem o vazio da incoerência e da ilógica e o gosto amargo do conservadorismo ideológico.
JESUS FICARIA ENVERGONHADO
Jesus de Nazaré ficou inquietado quando, em um templo, ele viu comerciantes gritando normalmente, chamando os fregueses a comprar seus produtos. O episódio foi superestimado e distorcido pela Igreja Católica, que narrou uma suposta reação de Jesus chicoteando os comerciantes só por eles serem os "vendilhões do templo".
O que Jesus fez foi apenas bater o chicote na parede e derrubar alguns objetos, chamando a atenção do público em volta. Ele não agiu em violência, mas reprovou a comercialização de produtos num ambiente como aquele, em que pessoas se recolhem para meditação.
Séculos depois, são os "vendilhões do templo" que usam Jesus para tirar vantagem de si mesmos. Os católicos, que canonizaram a perversa Madre Teresa de Calcutá - capaz de atrocidades como permitir a reciclagem de seringas infectadas que só eram lavadas com água suja de torneira, algo que se nivela ao que toxicômanos costumam fazer entre si - visando o turismo em torno da "santa", são um exemplo disso.
Mas há os evangélicos, sobretudo os neopentecostais, que crescem sob o aparato da estrutura midiática e empresarial, montada a partir de dízimos colhidos de seus fiéis diante da persuasão chorosa e gritada de seus pastores, que praticamente cometem estelionato disfarçado de fé religiosa.
O "movimento espírita", única seita religiosa que passa imune de qualquer investigação jurídica séria - os dois únicos critérios para a impunidade e imunidade pessoal são ser do PSDB ou ser "espírita"; sendo qualquer uma das coisas, alguém pode "fazer das suas" que ninguém mexe - , não deixa de cometer irregularidades e delitos muitíssimo graves.
O tempo todo acontecem verdadeiras demonstrações de falsidade ideológica, com supostos médiuns usurpando os mortos para produzir imagens que os próprios "psicógrafos" ou "psicófonos" criam da própria mente e, claramente, destoam severamente dos aspectos pessoais originais dos mortos.
Mesmo figuras dotadas de muito status como Divaldo Franco e Chico Xavier, na verdade, estão incluídos nessa lista amarga. Os dois nunca passaram de católicos neo-medievais que se autopromoveram com a novidade de Allan Kardec. E, como "médiuns", revelaram sua incompetência quando trouxeram para o público obras supostamente mediúnicas que nunca passaram de um reles marketing religioso no qual o "morto" da ocasião era o garoto-propaganda.
Isso é gravíssimo e deveria causar preocupação séria por parte da sociedade e fazer juristas atuarem em mutirão para punir os "vendilhões das mensagens do além". Mas se até os herdeiros de Humberto de Campos - vítima da mais aberrante usurpação de um morto cometida pelo "movimento espírita" - caíram na lábia do sedutor Chico Xavier, e toda apropriação indébita é válida em nome do "trabalho da caridade", então o Brasil nunca sai dessa bagunça em que escolhe permanecer.
Se algum sequestrador, usando um falsete imitando um parente seu, lhe telefonasse falando mensagens positivas, palavras de amor, anunciasse obras de caridade e adotasse um tom de dicção paternal, você, leitor, acreditaria nesse trote? Isso é só uma amostra de como o mercado das "belas palavras" pode se tornar uma perigosa armadilha.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
Ideia de "bondade" está presa e subordinada a velhos paradigmas moralistas e institucionais
A SOPA MATA A FOME, MAS NÃO MUDA O MUNDO.
Dá para entender por que houve a retomada ultraconservadora no Brasil. Estamos apegados a velhos paradigmas de austeridade, prestígio e competência, de tal forma que aceitamos que nossos "heróis" possam romper princípios éticos e causar danos aqui e ali, diante de alegações que variam do pragmatismo aos chamados "males necessários".
Nosso inconsciente acaba sendo um sótão enferrujado, cheio de bolores e entulhos dos quais nos recusamos a jogar fora. São entulhos que lembram tempos de esplendor passado, "heróis" antigos que gozavam de muito prestígio, discursos que causavam comoção, ídolos tecnocráticos que "sabiam de tudo", velhas hierarquias, rigorosas respeitabilidades.
O apego ao "velho", do qual o paradigma mais conhecido da sociedade é o quadro social do Brasil de 1974-1976, ao mesmo tempo austero e relativamente "democrático", dotado de "liberdade" mas sempre mantendo as hierarquias e os valores conservadores.
É a época que as elites consideram um período "ideal" para o Brasil e, mesmo nos governos do PT havia pessoas sonhando com esse tempo, uma nostalgia que tomava de intelectuais culturais a empresários do mercado financeiro. O governo de Michel Temer, cujo projeto político remete a um Ernesto Geisel "andando para trás" (não em direção à redemocratização, mas à radicalização ditatorial), representa bem essa nostalgia doentia que toma conta de nossas elites.
Dentro desses paradigmas conservadores, temos uma ideia equivocada de "bondade" e "caridade". Qualidades que nunca são vistas como espontâneas - embora se faça de conta que elas "assim são" - , mas submetidas e materializadas numa roupagem institucional, no caso religiosa. É como se essas duas virtudes fossem, na verdade, subprodutos de uma religião.
FILANTROPIA ONDE O "BENFEITOR" SE SOBREPÕE AO "BENEFÍCIO"
É uma ideia bastante restritiva, embora as pessoas sintam um deslumbramento com um movimento religioso que explora a "bondade" e a "caridade". Combinando valores moralistas com o saudosismo das estórias infantis, de fadas e princesas, as pessoas que veem a "bondade" e a "caridade" como atividades religiosas e não como virtudes naturalmente humanas, elas acabam expressando preconceitos e visões equivocadas dessas qualidades.
Daí que o propagandismo religioso sempre mostra instituições aparentemente filantrópicas nas quais o "benfeitor" se sobrepõe ao "benefício". Pouco importa o número de ajudados ou o resultado dos benefícios alcançados, se é expressivo ou não. O prestígio religioso do "benfeitor" ou "filantropo" é que vale, o "benfeitor" está acima do "benefício", ele pode ajudar só um punhado de gente que é glorificado do mesmo jeito.
É por isso que vemos o "mico" dos adeptos de Divaldo Franco, que definem ele como "maior filantropo do país" mas que só beneficia menos de 1% da população brasileira. As pessoas que arrumavam desculpas para continuar glorificando o anti-médium baiano - entusiasta de bobagens anti-kardecianas como "crianças-índigo" - colocavam sempre o "benfeitor" acima dos "benefícios".
"Não importa quantos benefícios, importa é o benfeitor", defendem essas pessoas, fascinadas com o prestígio religioso do "filantropo". Isso garante carteiradas morais e religiosas aqui e ali, mas revela também que as ideias de "bondade" e "caridade" podem revelar também vaidades, endeusamentos e outros deslumbramentos, que inspiram mais fanatismo do que energias morais elevadas.
Um fanático divaldista chegou mesmo a dizer que "já é bom demais" a Mansão do Caminho, sustentada por Divaldo, ensinar a "ler, escrever e trabalhar", sem perceber os limites ideológicos que hoje são identificados pela Escola Sem Partido, que, apesar de ser um projeto evangélico, mostra aspectos identificados na "pedagogia" de Divaldo, no qual se estimulam as fantasias religiosas e se desencoraja o debate da realidade.
A própria atitude de endeusar o "filantropo" de ocasião já diminui os méritos de bondade e caridade. A ajuda aos necessitados perde parte de sua importância e, na prática, as virtudes acabam servindo de publicidade do "benfeitor". Gera mais vaidade que bondade. Isso macula a caridade, porque ela se serve e se subordina ao prestígio religioso de alguém, tornando-se a sua estratégia de marketing.
Para entender isso, vamos entender um antigo costume de campanhas eleitorais: o oferecimento de cestas básicas e donativos por candidatos a cargos políticos. São atitudes aparentemente generosas, mas elas se constituem em crime eleitoral porque tais "bondades" revelam o caráter propagandista do candidato que se promove às custas da "ajuda ao próximo".
Temos que admitir que Divaldo Franco, assim como Francisco Cândido Xavier, foram dois dos mais traiçoeiros deturpadores da Doutrina Espírita no Brasil. Eles empastelaram os postulados de Kardec da forma mais irresponsável e proposital, pois estavam a serviço de uma orientação roustanguista da FEB, e isso não se pode negar, porque está claramente escrito em seus livros.
Os brasileiros se esqueceram dos alertas do espírito Erasto, que no tempo de Allan Kardec - que incluiu esses avisos em O Livro dos Médiuns - , alertou que espíritos e supostos médiuns mistificadores poderiam trazer coisas boas, mas era aí que se recomendava maior cautela, porque isso servia de gancho para lançar ideias levianas. Erasto disse com estas palavras, na tradução correta de José Herculano Pires:
"Os médiuns levianos, pouco sérios, chamam, pois, os Espíritos da mesma natureza. É por isso que as suas comunicações se caracterizam pela banalidade,a frivolidade, as idéias truncadas e quase sempre muito heterodoxas, falando-se espiritualmente. Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé".
Os brasileiros seguiam o caminho inverso, preferindo a falácia de que "certamente eles podem cometer fraudes mediúnicas e lançar valores morais antiquados, mas é aí que se deve ter maior complacência, porque os supostos médiuns, mesmo os mais mistificadores, são bonzinhos e falam e escrevem belas palavras e mensagens comoventes". Um anti-Erasto, diga-se de passagem, bem ao gosto dos espíritos levianos que construíram as bases do "espiritismo" brasileiro.
Chegou-se ao cúmulo de ver a ideia de "amor e bondade" como cúmplices da fraude e da mistificação, como se houvesse uma tola crença de que uma "mentira de amor" não dói e, por isso, a mentira pode virar "verdade" por causa do "amor ao próximo" e das "lições de fé e esperança". Isso, na prática, é criar uma brecha para que atitudes desonestas e levianas possam ser consideradas "elevadas" apenas porque usam a roupagem das "belas palavras" e das "mensagens edificantes".
Por exemplo, se um suposto médium cria mensagens da própria mente, se utilizando de um nome ilustre - tal qual Chico Xavier usando Humberto de Campos - , e nessas obras ele capricha em "mensagens de amor", "palavras lindas" e "lições edificantes", oferecendo tais trabalhos como suposta consolação para pessoas sofredoras.
Alguém desprezaria o fato de que isso é uma desonestidade? O fato de usar as "mensagens edificantes" e as "palavras de amor" para enganar as pessoas nem de longe pode ser considerada uma atitude nobre e elevada. Afinal, não é a desonestidade que se dobra à força da bondade e do amor, mas é a bondade e o amor que se tornam fachada para atitudes desonestas que deveriam ser vistas como levianas, traiçoeiras e danosas para a integridade da pessoa humana.
São, portanto, imoralidades. O amor não pode ser imoral, se uma obra engana alguém, ela não pode representar bondade porque mostra as tais "mensagens de amor". E, se falamos no caso das doações de alimentos e bens nas campanhas eleitorais, consideradas crime, devemos nos lembrar também dos trotes telefônicos dos sequestradores e estelionatários.
Alguém acharia lindo, por exemplo, se recebesse um trote telefônico no qual alguém fala com um tom amoroso, ou usa o falsete imitando um ente querido da vítima, e na comunicação fossem mencionadas "mensagens positivas" e apelos para "doar dinheiro para a caridade"? E se for um estelionatário se passando pelo sequestrador? Ou um sequestrador que matou a vítima, imita sua voz pelo telefone e pede o dinheiro do resgate?
Nessas situações se percebe o quanto alegações de "amor e bondade" não adiantam como atenuantes de alguma perversidade. E dá para entender o quanto Chico Xavier nunca passou de um espertalhão de fala macia e organizador da mais habilidosa coreografia de palavras atraentes, um ilusionista que sempre atuou para persuadir as pessoas a endeusá-lo.
Chico Xavier também personificou o mais bem sucedido caso de arrivismo pessoal e simbolizou o mais perfeito caso de impunidade que se pode dar a uma pessoa que cometeu um crime, no caso o de falsidade ideológica, usando os nomes de pessoas mortas, enganando e explorando as fraquezas emocionais dos sofredores e expondo ao sensacionalismo as tragédias familiares, em claro desrespeito às suas dores e angústias, que deveriam ser sofridas na privacidade.
O próprio fato de Chico Xavier ter seduzido o cético Humberto de Campos Filho, mostrando "obras de caridade" para atrair sua confiança, revela o quanto a "caridade" religiosa também tem o apelo das "cestas básicas" da campanha eleitoral. O uso da "bondade" e da "caridade" como subprodutos da religião serve à vaidade de supostos benfeitores, que se colocam acima do benefício atingido, geralmente muito abaixo do esperado.
Portanto, é algo para as pessoas analisarem e perceberem. Quando a "caridade" coloca o suposto benfeitor acima do benefício, é bom desconfiar. Trata-se de um recurso para alimentar a vaidade de pretensos filantropos, que buscam a glorificação pessoal às custas de ações meramente paliativas, cujos resultados são ínfimos.
Tão ínfimos que as regiões "protegidas" por Chico e Divaldo, Uberaba e o bairro de Pau da Lima, em Salvador, são redutos de miséria e violência em índices bastante preocupantes. Se a "caridade" dos dois adiantasse mesmo, isso não teria acontecido.
Dá para entender por que houve a retomada ultraconservadora no Brasil. Estamos apegados a velhos paradigmas de austeridade, prestígio e competência, de tal forma que aceitamos que nossos "heróis" possam romper princípios éticos e causar danos aqui e ali, diante de alegações que variam do pragmatismo aos chamados "males necessários".
Nosso inconsciente acaba sendo um sótão enferrujado, cheio de bolores e entulhos dos quais nos recusamos a jogar fora. São entulhos que lembram tempos de esplendor passado, "heróis" antigos que gozavam de muito prestígio, discursos que causavam comoção, ídolos tecnocráticos que "sabiam de tudo", velhas hierarquias, rigorosas respeitabilidades.
O apego ao "velho", do qual o paradigma mais conhecido da sociedade é o quadro social do Brasil de 1974-1976, ao mesmo tempo austero e relativamente "democrático", dotado de "liberdade" mas sempre mantendo as hierarquias e os valores conservadores.
É a época que as elites consideram um período "ideal" para o Brasil e, mesmo nos governos do PT havia pessoas sonhando com esse tempo, uma nostalgia que tomava de intelectuais culturais a empresários do mercado financeiro. O governo de Michel Temer, cujo projeto político remete a um Ernesto Geisel "andando para trás" (não em direção à redemocratização, mas à radicalização ditatorial), representa bem essa nostalgia doentia que toma conta de nossas elites.
Dentro desses paradigmas conservadores, temos uma ideia equivocada de "bondade" e "caridade". Qualidades que nunca são vistas como espontâneas - embora se faça de conta que elas "assim são" - , mas submetidas e materializadas numa roupagem institucional, no caso religiosa. É como se essas duas virtudes fossem, na verdade, subprodutos de uma religião.
FILANTROPIA ONDE O "BENFEITOR" SE SOBREPÕE AO "BENEFÍCIO"
É uma ideia bastante restritiva, embora as pessoas sintam um deslumbramento com um movimento religioso que explora a "bondade" e a "caridade". Combinando valores moralistas com o saudosismo das estórias infantis, de fadas e princesas, as pessoas que veem a "bondade" e a "caridade" como atividades religiosas e não como virtudes naturalmente humanas, elas acabam expressando preconceitos e visões equivocadas dessas qualidades.
Daí que o propagandismo religioso sempre mostra instituições aparentemente filantrópicas nas quais o "benfeitor" se sobrepõe ao "benefício". Pouco importa o número de ajudados ou o resultado dos benefícios alcançados, se é expressivo ou não. O prestígio religioso do "benfeitor" ou "filantropo" é que vale, o "benfeitor" está acima do "benefício", ele pode ajudar só um punhado de gente que é glorificado do mesmo jeito.
É por isso que vemos o "mico" dos adeptos de Divaldo Franco, que definem ele como "maior filantropo do país" mas que só beneficia menos de 1% da população brasileira. As pessoas que arrumavam desculpas para continuar glorificando o anti-médium baiano - entusiasta de bobagens anti-kardecianas como "crianças-índigo" - colocavam sempre o "benfeitor" acima dos "benefícios".
"Não importa quantos benefícios, importa é o benfeitor", defendem essas pessoas, fascinadas com o prestígio religioso do "filantropo". Isso garante carteiradas morais e religiosas aqui e ali, mas revela também que as ideias de "bondade" e "caridade" podem revelar também vaidades, endeusamentos e outros deslumbramentos, que inspiram mais fanatismo do que energias morais elevadas.
Um fanático divaldista chegou mesmo a dizer que "já é bom demais" a Mansão do Caminho, sustentada por Divaldo, ensinar a "ler, escrever e trabalhar", sem perceber os limites ideológicos que hoje são identificados pela Escola Sem Partido, que, apesar de ser um projeto evangélico, mostra aspectos identificados na "pedagogia" de Divaldo, no qual se estimulam as fantasias religiosas e se desencoraja o debate da realidade.
A própria atitude de endeusar o "filantropo" de ocasião já diminui os méritos de bondade e caridade. A ajuda aos necessitados perde parte de sua importância e, na prática, as virtudes acabam servindo de publicidade do "benfeitor". Gera mais vaidade que bondade. Isso macula a caridade, porque ela se serve e se subordina ao prestígio religioso de alguém, tornando-se a sua estratégia de marketing.
Para entender isso, vamos entender um antigo costume de campanhas eleitorais: o oferecimento de cestas básicas e donativos por candidatos a cargos políticos. São atitudes aparentemente generosas, mas elas se constituem em crime eleitoral porque tais "bondades" revelam o caráter propagandista do candidato que se promove às custas da "ajuda ao próximo".
Temos que admitir que Divaldo Franco, assim como Francisco Cândido Xavier, foram dois dos mais traiçoeiros deturpadores da Doutrina Espírita no Brasil. Eles empastelaram os postulados de Kardec da forma mais irresponsável e proposital, pois estavam a serviço de uma orientação roustanguista da FEB, e isso não se pode negar, porque está claramente escrito em seus livros.
Os brasileiros se esqueceram dos alertas do espírito Erasto, que no tempo de Allan Kardec - que incluiu esses avisos em O Livro dos Médiuns - , alertou que espíritos e supostos médiuns mistificadores poderiam trazer coisas boas, mas era aí que se recomendava maior cautela, porque isso servia de gancho para lançar ideias levianas. Erasto disse com estas palavras, na tradução correta de José Herculano Pires:
"Os médiuns levianos, pouco sérios, chamam, pois, os Espíritos da mesma natureza. É por isso que as suas comunicações se caracterizam pela banalidade,a frivolidade, as idéias truncadas e quase sempre muito heterodoxas, falando-se espiritualmente. Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé".
Os brasileiros seguiam o caminho inverso, preferindo a falácia de que "certamente eles podem cometer fraudes mediúnicas e lançar valores morais antiquados, mas é aí que se deve ter maior complacência, porque os supostos médiuns, mesmo os mais mistificadores, são bonzinhos e falam e escrevem belas palavras e mensagens comoventes". Um anti-Erasto, diga-se de passagem, bem ao gosto dos espíritos levianos que construíram as bases do "espiritismo" brasileiro.
Chegou-se ao cúmulo de ver a ideia de "amor e bondade" como cúmplices da fraude e da mistificação, como se houvesse uma tola crença de que uma "mentira de amor" não dói e, por isso, a mentira pode virar "verdade" por causa do "amor ao próximo" e das "lições de fé e esperança". Isso, na prática, é criar uma brecha para que atitudes desonestas e levianas possam ser consideradas "elevadas" apenas porque usam a roupagem das "belas palavras" e das "mensagens edificantes".
Por exemplo, se um suposto médium cria mensagens da própria mente, se utilizando de um nome ilustre - tal qual Chico Xavier usando Humberto de Campos - , e nessas obras ele capricha em "mensagens de amor", "palavras lindas" e "lições edificantes", oferecendo tais trabalhos como suposta consolação para pessoas sofredoras.
Alguém desprezaria o fato de que isso é uma desonestidade? O fato de usar as "mensagens edificantes" e as "palavras de amor" para enganar as pessoas nem de longe pode ser considerada uma atitude nobre e elevada. Afinal, não é a desonestidade que se dobra à força da bondade e do amor, mas é a bondade e o amor que se tornam fachada para atitudes desonestas que deveriam ser vistas como levianas, traiçoeiras e danosas para a integridade da pessoa humana.
São, portanto, imoralidades. O amor não pode ser imoral, se uma obra engana alguém, ela não pode representar bondade porque mostra as tais "mensagens de amor". E, se falamos no caso das doações de alimentos e bens nas campanhas eleitorais, consideradas crime, devemos nos lembrar também dos trotes telefônicos dos sequestradores e estelionatários.
Alguém acharia lindo, por exemplo, se recebesse um trote telefônico no qual alguém fala com um tom amoroso, ou usa o falsete imitando um ente querido da vítima, e na comunicação fossem mencionadas "mensagens positivas" e apelos para "doar dinheiro para a caridade"? E se for um estelionatário se passando pelo sequestrador? Ou um sequestrador que matou a vítima, imita sua voz pelo telefone e pede o dinheiro do resgate?
Nessas situações se percebe o quanto alegações de "amor e bondade" não adiantam como atenuantes de alguma perversidade. E dá para entender o quanto Chico Xavier nunca passou de um espertalhão de fala macia e organizador da mais habilidosa coreografia de palavras atraentes, um ilusionista que sempre atuou para persuadir as pessoas a endeusá-lo.
Chico Xavier também personificou o mais bem sucedido caso de arrivismo pessoal e simbolizou o mais perfeito caso de impunidade que se pode dar a uma pessoa que cometeu um crime, no caso o de falsidade ideológica, usando os nomes de pessoas mortas, enganando e explorando as fraquezas emocionais dos sofredores e expondo ao sensacionalismo as tragédias familiares, em claro desrespeito às suas dores e angústias, que deveriam ser sofridas na privacidade.
O próprio fato de Chico Xavier ter seduzido o cético Humberto de Campos Filho, mostrando "obras de caridade" para atrair sua confiança, revela o quanto a "caridade" religiosa também tem o apelo das "cestas básicas" da campanha eleitoral. O uso da "bondade" e da "caridade" como subprodutos da religião serve à vaidade de supostos benfeitores, que se colocam acima do benefício atingido, geralmente muito abaixo do esperado.
Portanto, é algo para as pessoas analisarem e perceberem. Quando a "caridade" coloca o suposto benfeitor acima do benefício, é bom desconfiar. Trata-se de um recurso para alimentar a vaidade de pretensos filantropos, que buscam a glorificação pessoal às custas de ações meramente paliativas, cujos resultados são ínfimos.
Tão ínfimos que as regiões "protegidas" por Chico e Divaldo, Uberaba e o bairro de Pau da Lima, em Salvador, são redutos de miséria e violência em índices bastante preocupantes. Se a "caridade" dos dois adiantasse mesmo, isso não teria acontecido.
sábado, 24 de dezembro de 2016
Sangue de São Januário e a "profecia" da Data-Limite
Em tempos de retomada ultraconservadora, sobretudo no Brasil, além da emergência de fenômenos dramáticos como a pós-verdade e as convulsões sociais - isso para não dizer dos ataques terroristas e da guerra civil que, por ora, atinge a cidade de Aleppo, na Síria - , uma crença católica, embora fantasiosa, cria uma perspectiva sombria que coincide com o contexto realista de hoje.
Trata-se da crença do Sangue de São Januário. Diz a lenda da Igreja Católica que o bispo Januário de Benevento, morto em 305 por decapitação depois de se opor à tirania do Império Romano, teve seu sangue recolhido por um idoso, guardado num frasco de água enchido por uma mulher, e preservado num relicário na Catedral de Nápoles, na Itália, terra do sacerdote.
Três datas são atribuídas anualmente pela Igreja Católica para o ritual da liquefação, quando o sangue armazenado se torna líquido. Uma é 19 de setembro, outra 16 de dezembro e, antes de ambas, o primeiro domingo de maio.
Segundo os católicos, a liquefação tem que ser realizada para que a humanidade na Terra tivesse um mínimo de sossego possível, ou seja, esteja livre de perigos de alta gravidade e grandes proporções. Se caso não ocorre a liquefação, há um risco iminente de catástrofes e desastres de todo tipo.
No último dia 16, o papa Francisco I esteve em Nápoles para a cerimônia, como reza (olha o trocadilho) a tradição. A liquefação não aconteceu e, uma vez divulgado o resultado, os católicos passaram a ficar apreensivos, acreditando que uma grande catástrofe vai acontecer em 2017.
Sabe-se que 2016 foi um ano sombrio, trágico, de retomada ultraconservadora que fez com que boa parte do mundo, sobretudo o Brasil, passasse a viver um cotidiano kafkiano, em que Dilma Rousseff, ou talvez Dilma R., se sentiu como o Josef K. de O Processo, condenada sem ter cometido crime.
No entanto, 2017 tende a ser bem mais trágico, sobretudo quando as elites, no Brasil, retomaram seus privilégios com apetite redobrado e o desastrado presidente da República, Michel Temer, protegido pela mídia e representante dos interesses do "deus" mercado, propõe medidas de clara exclusão social, embora os noticiários da grande mídia veiculem mentiras que coloquem as nefastas PEC do Teto e as reformas trabalhista, previdenciária e educacional como "positivas".
A crença no Sangue de São Januário pode ser fantasiosa, mas é compreensível porque ela é uma crença cultural dos católicos. Mas confronta-se essa crença com a "profecia" da Data-Limite trazida por Francisco Cândido Xavier e se resulta numa interpretação nada favorável aos "espíritas".
INDECISÃO
Os partidários da tese da "regeneração" no "espiritismo" brasileiro não conseguem decidir coisa alguma, preocupados em criar palpites de datas nos quais a realidade desmente frontalmente, como num jogo em que os "espíritas" tentam lutar contra o tempo para impor suas convicções messiânicas em detrimento de ocorrências realistas.
Isso é típico do "espiritismo" da FEB, de Chico Xavier, de Divaldo Franco, de "poetas alegres" etc. Mas Allan Kardec rejeita tudo isso, por não ver coerência em prever datas determinadas sobre ocorrências futuras, alertando haver nisso um grave risco de mistificação.
Os "espíritas" já determinaram datas para a "regeneração". Disseram que era em 1982, 2000, 2010, 2012. Agora apostam em 2019, ou então 2052 ou 2057. Não se decidem e até como se dará a "regeneração" é bastante controverso, pois uns dizem que ocorrerá "sem conflitos", outros afirmam que ocorrerá "com muitas dificuldades".
Tentando puxar a brasa para sua sardinha, os "espíritas" tentam pregar um otimismo exagerado, mesmo quando admitem a ocorrência de fatos sombrios. O Sangue de São Januário, ainda que seja uma fantasia católica, pelo menos, na sua não liquefação, trouxe uma perspectiva bem mais realista, e que coincide com as tendências que acontecem no nosso mundo.
Vale lembrar que a não liquefação coincidiu com ocorrências que vieram depois, como o início da Segunda Guerra Mundial, a entrada da Itália no confronto e a sua subordinação ao império nazista. Outras ocorrências muito trágicas como um terremoto de grandes proporções em Irpínia, no centro da Itália, também estão associadas, pelos católicos, à não liquefação.
A situação trágica de 2016, com os falecimentos massivos de tantos artistas e intelectuais de valor - como David Bowie e Umberto Eco - , pode se repetir em 2017, embora também haja as baixas de uma plutocracia ao mesmo tempo gananciosa, autoconfiante em excesso e imprudente. O que se sabe é que ela também pagará o preço caro pelos retrocessos forçados e pela busca voraz de recuperar e ampliar privilégios às custas dos sacrifícios de muitos.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
Caso da pediatra revela o problema gravíssimo do "espiritismo" brasileiro
O caso da pediatra de Rondonópolis, que recusou-se a atender uma menina vítima de estupro para evitar lidar com "problemas espirituais", atribuindo a culpa à própria menina por causa de "reajustes espirituais de vidas passadas", revela o ponto a que se chegou a deturpação da Doutrina Espírita no Brasil.
Vários "espíritas" começaram a reagir, diante da culpabilidade da médica, alegando que ela é que exagerou no entendimento da "moral espírita" e que o "movimento espírita" não pode ser responsabilizado pelos erros da profissional, que foi condenada a pagar R$ 10 mil à mãe e à menina por danos morais.
A desculpa que os "espíritas" trazem é que "não se pode julgar as pessoas" e que se deve "dar atendimento a um irmão, principalmente uma criança". Entrando em contradição, os "espíritas" que se fundamentaram em Jean-Baptiste Roustaing mas juram serem "kardecistas autênticos" - vale lembrar que a denominação "kardecista" ganhou sentido pejorativo quando virou o rótulo da tendência dúbia do "movimento espírita" - , fazem juízo severo mas recuam quando lhes convém.
A pediatra não fez julgamento de valor do nada. Ela aprendeu uma base ideológica para isso. E isso se atribui tão somente aos erros de conduta nos "centros espíritas"? Não. Essas casas erram, sim, vivem disputas de ego e tudo, mas devemos sempre lembrar que o "movimento espírita", sempre contraditório, mistificador, mitificador, moralista e invigilante, tem também sua responsabilidade no conjunto da obra.
A tendência dúbia que veio desde meados da década de 1970, após a "era Wantuil de Freitas", no qual se prometia a "recuperação das bases doutrinárias" mas continuou-se praticando o igrejismo, tornando-se terreno fértil para aberrações como Divaldo Pereira Franco - um deturpador que finge ser "autêntico defensor das bases kardecianas" - , só abriu caminho para os mais piores erros e as confusões mais intensas.
O que poderia parecer um suposto equilíbrio virou um rol de contradições, de descontrole, de choques de abordagens, de visões, de práticas. Desde a instituição dos "passes" sem qualquer estudo sério sobre Magnetismo Animal - até agora, nenhum livro de Franz Anton Mesmer recebeu tradução no Brasil - até a crença de bobagens como "cidades espirituais" e "crianças-índigo", o "espiritismo" brasileiro queria ser, ao mesmo tempo, kardeciano e roustanguista.
Por isso, a responsabilidade do caso da pediatra de Rondonópolis é dupla. É individual, por causa da decisão pessoal dela. Mas é também institucional, porque o "espiritismo" brasileiro ofereceu as condições ideológicas e práticas para que a médica tomasse a atitude que tomou. O juízo de valor da pediatra que acusou a menina de ser culpada pelo estupro que sofreu segue uma visão moralista que se identificou até em Francisco Cândido Xavier.
Isso mesmo! Chico Xavier era um moralista, sua formação religiosa era o Catolicismo que vigorou no Brasil até o século XIX, de tendência jesuíta e origem portuguesa e medieval e que se tornou, mediante contextos históricos, a base do "espiritismo" brasileiro, que nunca aproveitou o contexto iluminista que só foi acolhido pelos espíritas "científicos", deixados de lado no "movimento espírita".
O mau fruto não vem da boa árvore. E se Chico Xavier era capaz de acusar pessoas aqui e ali - como as humildes vítimas da tragédia circense, acusadas de terem sido "romanos sanguinários" - , com um moralismo capaz de defender a ditadura militar, então por que inocentar o "movimento espírita" pela atitude tomada pela pediatra pela desculpa de ser "apenas um erro de alguns espíritas"?
Se as próprias "casas espíritas" erram, isso já vem da própria natureza do "movimento espírita" e seu arrivismo que veio desde os primórdios da FEB, com sua cúpula de burocratas brincando de serem "intelectuais parnasianos" fazendo da federação um pastiche da Academia Brasileira de Letras.
O pretensiosismo, a usurpação da memória dos mortos, o pseudo-cientificismo e as pregações igrejeiras e moralistas fizeram o "espiritismo" estar errado na cúpula e na raiz. Pelas suas contradições e por seus equívocos graves, o "espiritismo" ofereceu condições para a pediatra cometer o erro que cometeu. Não inocentemos a má árvore pelo mau fruto.
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
Por que a impunidade absoluta no "movimento espírita"?
A Justiça, no Brasil, é realmente desigual. Sendo rico, do PSDB e do "movimento espírita", ou com qualquer uma dessas qualidades, é possível fazer das suas que ninguém mexe. É possível falsificar quadros em nome da "mediunidade" e usar o "pão dos pobres" como desculpa para legitimar verdadeiras aberrações artísticas.
Desde que a Justiça deu sinal verde, com o empate jurídico, aos pastiches literários e fraudes missivistas de Francisco Cândido Xavier, a "bondade" e a "caridade" passaram a ser desculpas para todo tipo de desonestidade. Sendo "trabalho do bem", qualquer falsidade ideológica é aceitável. Famílias podem ser enganadas e ainda agradecer o enganador por isso.
Sim, é possível escrever uma mensagem da própria mente, e se basear apenas no porte físico de alguém. Imagine um homem robusto e já grisalho como o falecido Domingos Montagner, de boa índole, jovial e prestativo.
Imagine um homem dono de um "centro espírita", dotado de muito prestígio, escreve uma mensagem da própria mente, com um texto piegas e um apelo religioso, e botar no nome de Domingos Montagner. São postos apenas alguns detalhes pessoais, desses que se podem colher de páginas de famosos ou de novelas da TV. Tudo feito, a publicação da mensagem torna-se um grande sucesso.
A mensagem pode nunca ter sido escrita pelo morto em questão, e pode apresentar até sérias contradições, mas o descaso e a carteirada religiosa, com base no pretexto das "mensagens de amor" ou na desculpa mais rasteira de que a mensagem "nada traz de ofensivo", permitem que a mensagem apócrifa seja legitimada assim mesmo. Ou, quando repercute mal, fica nisso mesmo.
O caso de Chico Xavier usando o nome de Humberto de Campos foi a aberração mais grave que se pode acontecer, e a aceitação dessa farsa permitiu que outras fraudes fossem cometidas pelo esperto "médium". A sociedade deu tempo para o mito dele crescer e se agigantar de forma que o "bondoso médium" hoje é praticamente o "dono da verdade" no Brasil.
Chico Xavier criou uma péssima escola de "mediunidade" que nunca passou da combinação de um faz-de-conta com propagandismo religioso. De romances ruins a quadros falsificados, criou-se uma produção de "bens culturais espíritas" de qualidade sofrível, conteúdo moralista e que, quando leva a assinatura de autores mortos, anônimos ou não, distancia fatalmente dos estilos originais dos mesmos.
A falsidade ideológica é aberta, porém seletiva. Tem-se o cuidado de verificar se os herdeiros pegam ou não no pé de quem se aproveitar do prestígio de seu ente querido morto. Daí que foi ilustrativo que Chico Xavier tenha escolhido não Machado de Assis, mas Humberto de Campos, de um nível de popularidade expressivo, mas inferior, para supostas psicografias.
Embora a "fauna espiritual" acolhida pelo "movimento espírita" pareça a "casa da Mãe Joana", incluindo nomes como Raul Seixas, Getúlio Vargas, Cazuza, Eça de Queiroz, Renato Russo, Auta de Souza, Olavo Bilac, Noel Rosa, Deodoro da Fonseca, Alberto Santos Dumont, Juscelino Kubitschek, Humberto de Campos etc, há limites quanto ao uso de falecidos famosos em mensagens apócrifas diversas.
Houve tentativa de uso de Ayrton Senna, com um "médium" lançando até composição (?!) atribuída ao falecido corredor e pegou muito mal. Um "médium" de menor conceito embarcou na carona de mortos de grande apelo televisivo, como a atriz Leila Lopes, o músico Rafael Mascarenhas e o também músico Alexandre Abraão, o Chorão, líder do Charlie Brown Jr., e se "queimou" diante de mensagens parecidas entre si e com o mesmo estilo formal e careta que nenhum deles escreveria.
Usar Elis Regina, Tom Jobim e Vinícius de Moraes pode trazer problemas maiores. Ou um craque como Mané Garrincha, que já teve problemas judiciais com uma biografia, Estrela Solitária, de Ruy Castro, e teria ainda mais problemas se viesse com alguma suposta psicografia. A mensagem do falecido filho do coreógrafo Carlinhos de Jesus também foi contestada por este.
A psicopictografia também revela dados aberrantes. Um suposto "médium" de pinturas espirituais expressa o mesmo estilo pessoal em obras atribuídas a diferentes pintores, que no entanto divergem dos estilos originais destes. O caso do baiano José Medrado é tão estarrecedor, que ele não mede escrúpulos de usar uma mesma caligrafia sua para assinar as pinturas tidas como de "pintores espirituais".
Toda essa licensiosidade, que faz com que entidades "espíritas" arrecadem dinheiro com a fraude, usando a boa-fé das pessoas para convencê-las pelo argumento da "bondade" e da "caridade". A obra é falsa? Deixa para lá, ela traz "mensagens de amor"! Ela é um acinte à lógica? É, mas "só traz coisas boas"! A obra destoa da personalidade do morto? É, mas foi feita "para a caridade"! Não convence como expressão de um morto? Tanto faz, ela "convence pelas lições de fraternidade e paz"!
A carteirada religiosa que isso significa é gravíssima. A impunidade, em níveis chocantes, que isso significa, com a aceitação, até mesmo dos herdeiros de um morto, de mensagens fraudulentas, bastando apenas o suposto médium mostrar "ações de caridade" e demonstrar aparente simpatia e benevolência. Infelizmente, vale tudo no Brasil dos retrocessos. Para baixo todo "amigo de luz" ajuda.
domingo, 18 de dezembro de 2016
Médica usa "moral espírita" para recusar atendimento a criança
Segundo informações trazidas pelo portal G1, uma médica de Rondonópolis, no interior de Mato Grosso, foi condenada a pagar R$ 10 mil de indenização a mãe de uma menina, vítima de danos morais durante uma solicitação de consulta.
Era uma pediatra que se recusou a atender a mulher e sua filha, por um mero juízo de valor. A filha havia sofrido tentativa de estupro de um tio, e ela tinha apenas sete anos de idade. O atendimento foi recusado porque a pediatra "não queria se envolver com os problemas espirituais da menina".
Ela atribuiu a culpa à própria menina, alegando que ela "tinha uma energia sexual que puxou o tio para ter sexo com ela". "A sua filha não é vítima de nada, ela tem que se responsabilizar", acrescentou a médica, que se declarou "espírita", e alegou que a menina "havia tido outras vidas" e que "já nasceu com um problemão para resolver nesta vida".
A pediatra ainda disse que alegou "liberdade de crença, consciência e de manifestação religiosa" e disse que não iria intervir em "problemas espirituais". A conversa foi gravada. A sentença condenatória foi dada pelo Tribunal de Justiça do Mato Grosso.
A VÍTIMA É A "CULPADA"
Juízos de valor são muito comuns no "espiritismo" brasileiro. Relacionados a um trágico episódio, de repercussão mundial, ocorrido há exatos 55 anos, o criminoso incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, no dia 17 de dezembro de 1961, um perverso juízo de valor foi trazido, cinco anos mais tarde, por alguém que muita gente considera "um dos maiores símbolos de pureza espiritual na face da Terra", Francisco Cândido Xavier.
Pois no livro Cartas e Crônicas, Chico Xavier fez um terrível julgamento de valor, logo ele que pedia a todos a "não julgarem quem quer que fosse". Usando da teoria sem fundamento lógico do "resgate coletivo" - crença comum entre os "espíritas" - , Chico Xavier acusou as humildes vítimas do criminoso incêndio de terem sido, em "outra vida", romanos sanguinários da Gália (atual França), que viviam no século II e que sentiam prazer em ver hereges sendo queimados em praça pública.
A acusação de Chico Xavier foi gravíssima, muita perversidade para alguém considerado "puro" e "espiritualmente elevado". Ele ignorou a dor de pessoas sofridas - que em 1966 ainda tinham lembranças vivas do trauma vivido - e acusou as vítimas, mortos, feridos e sobreviventes, de terem sido romanos sanguinários.
Além disso representar um desrespeito à dor do próximo - logo dado por um "símbolo máximo de caridade", vejam só! - , também apelou para a suposição de encarnações passadas de parte de uma doutrina que nunca seguiu devidamente os ensinamentos de Allan Kardec e é capaz de investir numa ficção chamada "colônias espirituais", e, portanto, supôs encarnações passadas que não tiveram provas lógicas.
Afinal, será que necessariamente TODAS as vítimas da tragédia circense viveram nos tempos do Império Romano e tinham prazer em ver outrem se ardendo em chamas? Além disso, além do julgamento de valor de Chico Xavier atenuar a ação pessoal de Dequinha, mandante e um dos executores do incêndio criminoso, o "médium", que tanto fala em "perdão e misericórdia infinitas", evocou um suposto passado para culpabilizar tão cruelmente uma multidão sofredora.
Mais grave ainda. Chico Xavier atribuiu tudo isso a um autor morto, o usurpado Humberto de Campos, que se tornou brinquedo para as fraudes literárias do anti-médium mineiro, mesmo sob o pseudônimo de Irmão X. Chico fez um julgamento de valor perverso, se esquecendo dos próprios princípios de perdão que tanto pregava, e ainda botou na responsabilidade de outro, que nunca escreveria os livros que Chico lançou usando seu nome, e nem faria acusações cruéis neste sentido.
Daí que o "espiritismo" que ignora Allan Kardec mas bajula o seu prestigiado nome se motra uma doutrina perversa, e o caso da pediatra de Mato Grosso revela isso. A "religião da bondade" mostra o seu lado cruel, investindo em juízos de valor alegando "outras vidas" sem provas lógicas e com a pura intenção de fazer juízos de valor severos, nos quais as vítimas sempre são vistas como "culpadas". E os "espíritas" ainda acreditam que irão ao céu com seu balé de belas palavrinhas.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
PEC dos Gastos Públicos: como aceitar o status quo custou caro para a sociedade
Foi bom acreditar na superioridade de pessoas com a roupagem da "responsabilidade", do "respeito" e da "competência"? Foi bom lutar para derrubar um governo eleito pelo povo e pôr no lugar um governo de tecnocratas supostamente "mais moderados" no trato com a coisa pública? Foi bom participar de passeatas ridículas onde até neo-nazistas se solidarizaram com uma causa?
Há três dias, pagou-se um preço muito, muito caro por isso. Enquanto acreditamos no status quo de engravatados tidos como "salvadores da pátria", vemos emissoras de televisão que parecem "dizer a verdade" e endeusamos ídolos religiosos aos quais se permite até a fraude em nome do "pão dos pobres", vemos o Brasil naufragar com a aprovação da PEC dos Gastos Públicos ou PEC do Teto.
A medida congelará investimentos públicos, que já não eram muitos. Isso fará com que se falte, nas escolas, até o papel higiênico, que instituições deixarão de ampliar e traçar projetos de melhorias, que os professores receberão menos salários e seu trabalho será precarizado - ainda virá as reformas trabalhista, educacional e previdenciária para temperar a tragédia - e os hospitais ficarão cada vez mais lotados, sujos, sucateados.
Nem a ilusão de que a iniciativa privada pode resolver a situação deve ser considerada. O empresariado estabelece limites para investir em causas sociais, e o faz para obter retorno publicitário, isenção de impostos e mediante certas condições. Ele não vai investir em escolas que se disponham a debater a realidade cotidiana.
O deslumbramento com o poder, seja de âmbito econômico, tecnocrático, político, lúdico (fama), e mesmo o religioso, que se esconde sob uma aparente reputação de humildade e simplicidade, faz com que as pessoas levem gato por lebre. Ver um presidente idoso e aparentemente elegante, como Michel Temer, associado a uma coleção preocupante de graves escândalos políticos, é um preço caro por esse jogo de aparências.
Enquanto isso, a emissora de televisão que muitos veem confortavelmente, a Rede Globo, que aparentemente recuperou audiência - embora se desconfie de fraude, já que sintonizar rádios e TVs em estabelecimentos comerciais é um mecanismo para disfarçar baixa audiência empurrando a sintonia para ambientes coletivos com gente indiferente à mídia - , tem como donos uma família de empresários sonegadores de impostos e acumuladores de fortunas exorbitantes.
E as pessoas ficam felizes com isso. Veem no Jornal Nacional um dos irmãos Marinho ganhando prêmio e nem se indignam. Os irmãos acumulam em um mês o que o trabalhador em toda sua vida nunca irá alcançar. E é a Rede Globo que consagra os "heróis" políticos e midiáticos e os ídolos religiosos que as pessoas apreciam como se não viessem do poder manipulador da emissora.
É o caso do "espiritismo", que pelo jeito virou a "religião da Globo", para fazer frente à Igreja Universal, prestes a ter representante no município do Rio de Janeiro, assim que acabar o Reveillon. A roupagem de pretensa humildade, a "bondade" de fachada que serve mais para promover o "benfeitor" em vez do benefício, permite fraudes e desmitificações. Desde que seja "pelo amor do próximo", vale tudo.
Agora as pessoas aceitam um cenário político no qual até fascistas estão animados em cometer abusos. São elas que pagarão muito caro pelo apego ao status quo, pelo inicial otimismo, hoje transformado numa silenciosa vergonha, de confiar numa desastrada equipe só por causa de um bando de homens engravatados de linguagem jurídica e aparente tino administrativo, diferente dos esquerdistas que não apresentavam uma aparência "moderada" e "admirável".
Durante vinte anos os serviços públicos irão naufragar. A iniciativa privada vai intervir e vai pôr tudo por água abaixo, vide os problemas que recebemos, por exemplo, na telefonia móvel, depois de tanta euforia em ver as telecomunicações estatais sendo privatizadas e vendidas para grupos estrangeiros. Tudo pelo deslumbramento à "competência" e "responsabilidade" trazidos pela ilusão do status quo.
Denúncias de delatores da Operação Lava Jato enumeraram uma lista enorme de políticos "responsáveis" e "admiráveis", como o próprio Michel Temer e sua equipe, e os tucanos que "são a esperança" para os brasileiros se caso Temer tiver que sair, e as pessoas ainda tranquilas, vendo que as eleições indiretas serão o "remédio constitucional" - logo a Constituição que o povo deseja que fosse mutilada com as "reformas" e "PECs" - porque o povo "não soube votar".
Vemos desmontes de direitos sociais, ameaças de precarizar o emprego, disfarçar a situação atual aumentando o emprego, em quantidade, e rebaixando-o drasticamente, em qualidade, e os telespectadores do Jornal Nacional, em alegria que beira o débil-mental, acreditando que a economia vai crescer.
Até no Rio de Janeiro em imensa catástrofe social, sob todos os aspectos, mostra pessoas felizes, que não percebem o fedor do lixo que aparece nos calçadões das praias, e contam piadas, sorriem, como se estivessem no paraíso. E ainda riem dos problemas, quando eles são noticiados.
Se Pompéia, no trágico dia da erupção do Vesúvio, fosse uma cidade do Estado do Rio de Janeiro, as pessoas pensariam que a fumaça do vulcão fosse um churrasco e sua explosão de lavas, que atirava pedras de fogo sobre as cidades, um ato de algum vandalismo de torcidas organizadas de futebol.
O Brasil está culturalmente tão ruim que as pessoas não percebem os sintomas de sua grave doença. E um deles é justamente a indiferença a isso, e tal coisa se observa quando o mercado literário, em vez de se comprometer à busca do Conhecimento, é cada vez mais dominado por uma literatura "água com açúcar".
As desigualdades sociais aumentarão de forma estarrecedora. As classes ricas ficarão mais ricas, mas a vã esperança das classes médias de que as elites "responsáveis" repartirão o bolo, ao lado dos ídolos religiosos tão "humildes" e "comprometidos com a caridade", é uma fantasia sem nexo, porque o que os ricos vão fazer é ficar cada vez mais ricos, ricos e ainda mais ricos do que antes.
Temos uma catástrofe social em curso, na qual até organizações fascistas esperam abrir brechas para se inserir nos círculos de poder. É a chamada "convulsão social", que também encontra respostas à esquerda e abrirá caminho para conflitos tão graves que desafiarão a "alegria" debiloide de uma parcela de brasileiros que já não sente o fedor de caminhões de lixo velhos e mal conservados que estacionam ao seu lado. O Brasil pagará um preço caro por apoiar a plutocracia.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
Como a ajuda de Juscelino Kubitschek à FEB e Chico Xavier trouxe azar em níveis devastadores
O caso Juscelino Kubitschek revela o quanto o "espiritismo" brasileiro é uma religião traiçoeira, inimiga da caridade e do bom senso, transmitindo mau agouro justamente àqueles que recorrem à sua ajuda. É a religião que traz a maldição de, muitas vezes, fazer seus beneficiários verem seus melhores filhos morrerem na flor da idade.
Antes que as pessoas, chocadas, digam que isso é um desaforo, é bom deixar claro que o "espiritisimo" brasileiro, pela natureza deturpatória que sempre representou em relação ao legado de Allan Kardec, sempre atraiu a influência de espíritos malignos, sobretudo aqueles que já eram ligados a jesuítas de atuação perversa que escravizavam índios e negros e demonstravam graves preconceitos sociais no período colonial.
O "espiritismo" brasileiro personifica muito bem aquilo que o espírito Erasto, em suas comunicações por médiuns a serviço de Allan Kardec, alertou e tentou prevenir. Hoje o "espiritismo" brasileiro se encaixa perfeitamente nas caraterísticas dos "inimigos internos da Doutrina Espírita" alertados na época do Codificador, e essa constatação é chocante e até irrita muitos, mas é realista e pode ser facilmente comprovada, sobretudo lendo os próprios livros de Allan Kardec.
Se perceber bem, os "festejados" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, pelo conjunto de todas as suas obras, são os maiores inimigos internos da Doutrina Espírita. É chocante, mas realista: as ideias que eles difundem entram em choque violento com os postulados de Kardec, de maneira explícita e aberrante.
E se alguém avisar que Chico Xavier e Divaldo Franco "pelo menos primaram pela bondade", até Erasto nos preveniu disso. O relato é exato e contundente:
"Os médiuns levianos, pouco sérios, chamam, pois, os Espíritos da mesma natureza. É por isso que as suas comunicações se caracterizam pela banalidade,a frivolidade, as idéias truncadas e quase sempre muito heterodoxas, falando-se espiritualmente. Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé".
"Colônias espirituais" inventadas como um suposto troféu para as desgraças humanas serem perpetuadas na Terra. "Crianças-índigo" que soam ao mesmo tempo como discriminação à individualidade humana, vista como aberração, e como um falso messianismo de apelo igrejeiro. Fantasias religiosas trazidas por relatos de um moralismo retrógrado que remete à medieval Teologia do Sofrimento católica. Tudo isso derruba Chico e Divaldo, não há "bondade" que os sustente.
E aí chegamos ao caso de Juscelino Kubitschek, um presidente que nem era considerado "subversivo", tendo sido um político de um partido conservador, o antigo PSD, defensor de ideias capitalistas e no entanto simpatizante de reformas sociais que ele buscou inserir de maneira bem moderada.
Ele era um médico, e era generoso e gentil com o povo, era um político simpático cujo sorriso foi uma marca pessoal que fez história, e realizou a corajosa façanha de transferir a capital do Brasil para o centro de seu território, medida considerada correta em termos de estratégia geopolítica.
Kubitschek foi amigo de Chico Xavier e, por sua generosidade, o então presidente da República deu à Federação "Espírita" Brasileira, em 1960, o status de instituição de utilidade pública, uma demonstração de consideração e generosidade por parte do chefe político. E o que Juscelino recebeu em troca? Azar, muito azar, que se espalhou como um vírus para vários de seus relacionados.
A lista é enorme de pessoas que, com alguma relação direta ou indireta com Juscelino, sofreram tragédias terríveis, o que nos faz pensar de como o "espiritismo" brasileiro, pelo seu histórico de deturpação e fraudes, pode gerar más energias. O próprio Kardec advertiu: "uma má árvore não pode trazer bons frutos".
Embora as tragédias pareçam coisas de iniciativas individuais, nota-se que houve condições psicológicas que as más energias trouxeram, e que vitimaram os personagens que mostraremos a seguir, o que condiz com o mau agouro que o "espiritismo" brasileiro, movido pela desonestidade doutrinária, trouxe a partir da homenagem de Juscelino à FEB e a Chico Xavier.
Vamos à lista:
JUSCELINO KUBITSCHEK - Ele passou a sofrer infortúnios pessoais sérios. Não conseguiu a chance de se reeleger presidente da República, com a ditadura militar prolongando indefinidamente seu prazo, em 1965. Antes, havia sido um dos primeiros políticos cassados pelo golpe militar. em 1964. Tentou um movimento de redemocratização, a Frente Ampla, ceifado pelos generais logo quando começava a ganhar adesão popular. Não se elegeu na Academia Brasileira de Letras (hoje capaz de eleger uma nulidade como Merval Pereira) e ainda morreu num suspeito desastre automobilístico, em 1976.
MÁRCIA KUBITSCHEK - A única filha biológica de Juscelino - Márcia teve uma irmã adotiva, Maristela - , ela morreu aos 56 anos perdendo a batalha de um câncer. Márcia havia sido considerada, nos tempos de seu pai como presidente da República, um ícone de beleza e charme e era também uma pessoa culta e engajada.
JOÃO GOULART - Vice de Juscelino, Jango depois tornou-se presidente e símbolo, depois de seu padrinho político Getúlio Vargas, de um projeto político progressista voltado para as causas sociais. Foi expulso do poder em 1964. Nunca mais voltou à vida política e viveu no exílio. Morreu aos 57 anos, aparentemente quando fazia um exame cardiológico de rotina.
CARLOS LACERDA - Antigo rival de Juscelino Kubitschek e depois seu parceiro na Frente Ampla, o jornalista e ex-governador da Guanabara (Estado que existiu com um município único, o Rio de Janeiro), também teria falecido depois de um exame de rotina, aos 77 anos.
EDNA LOTT - Filha do general Henrique Teixeira Lott, militar que criou um contragolpe para garantir a posse de Juscelino e que foi escolhido para sucedê-lo, mas não venceu as eleições ("boas energias" da FEB?), foi assassinada em 1971 por um corretor de imóveis e filho de militar, Eduardo Fernandes da Silva, durante uma aparente discussão numa festa familiar.
TANCREDO NEVES - Ex-ministro de Getúlio Vargas, estando presente no Palácio do Catete (antiga sede da República), quando o presidente se recolheu numa sala para se matar, foi primeiro-ministro durante a fase parlamentarista do governo João Goulart. Símbolo das campanhas Diretas Já, apesar de ter sido escolhido por via indireta, ele não conseguiu sobreviver a uma doença, grave mas aparentemente recuperável, morrendo antes de poder assumir a Presidência da República, em 1985.
JOSÉ WILKER - O ator que interpretou Juscelino Kubitschek numa minissérie da Rede Globo, e que era ateu e de visão progressista, parecia ter muita vida pela frente, mas morreu num infarto fulminante dias depois de ter feito consulta num "centro espírita". Embora tenha se revelado um tabagista, Wilker não apresentava indícios de que morreria de repente, tendo inclusive uma série de projetos teatrais em andamento.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
Onda ultraconservadora e sua moral estranha
Internautas que não transmitem mensagens caluniosas reclamam de estarem com o protocolo de Internet incluído nas listas negras, bloqueando qualquer possibilidade de mandar mensagens nos fóruns da rede mundial de computadores.
A censura se deu apenas pelo simples fato de outras pessoas que não gostaram dos comentários que rompem com o "estabelecido" terem denunciado os pobres internautas. Denúncias por pouca coisa, se percebermos que, em outros casos, há uma trabalheira para denunciar e pedir a punição de blogues caluniosos que reproduzem textos e até fotos particulares de suas vítimas, sob fins de difamação.
Ultimamente vivemos um período de moral atrofiada, uma onda de moralismo ultraconservador que em certos casos soa sacerdotal e, em outros, gangsterista. Um moralismo contraditório que faz com que pessoas dotadas de "moral superior" permitam certas imoralidades, quando elas não trazem algum incômodo para o chamado "equilíbrio social" nos padrões hoje observados.
É uma sociedade contraditória. Sobretudo no Brasil. Que ao mesmo tempo define como "feminista" uma cantora de "funk carioca" com seus glúteos siliconados na cara da plateia, mas que também acolhe um homem que assassinou a namorada e saiu da cadeia para ser apresentado à família de uma nova namorada.
Uma sociedade machista, racista, obscurantista, moralista, que permite que cyberbullies mantenham páginas na Internet depois de causar o horror depreciativo contra discordantes, enquanto outros internautas, mas inofensivos, embora naturalmente polêmicos, não conseguem mais mandar mensagens porque seus protocolos de Internet estão bloqueados pela blacklist.
Temos autoridades políticas e juristas mantendo sua superioridade social à custa da deturpação das leis, da corrupção política e do tendenciosismo jurídico. Temos tecnocratas falando juridiquês para justificar medidas maléficas para a população. Temos pessoas pedindo morte aos petistas e com medo de ver morrerem, mesmo por doenças, assassinos ricos. Temos um poder midiático como a Rede Globo, transmissora de mentiras jornalísticas tidas como "verdades absolutas".
E no "espiritismo"? Temos a blindagem máxima, a maior impunidade que alguém pode conseguir na vida. A fraude "mediúnica", de mensagens que claramente contradizem aos estilos pessoais dos autores alegados, mas que valem impunemente pelo status religioso que representam.
Uma mensagem atribuída a uma moça que esteve entre os mortos da Boate Kiss apareceu rasurada. E muita gente aceitando isso, sem reservas. Mas desde que o caso Humberto de Campos gerou uma onda de complacência, tendo até o filho homônimo do escritor seduzido pela lábia de Francisco Cândido Xavier, "mediunidade" no Brasil virou um vale-tudo de "mensagens de amor e esperança".
O próprio Chico Xavier é o maior beneficiário de uma impunidade sem limites que ocorre no Brasil e que faz a Justiça punir pessoas dignas e liberar os indignos. Até parece que o nosso país entrou na Idade Média, e o que se nota é que um católico ortodoxo, mas paranormal, realizador de pastiches literários, tornou-se tão blindado pela sociedade que o anti-médium mineiro tentou até cooptar ateus e esquerdistas para aderir a esse figurão "espírita" que era deísta beato e ideologicamente direitista.
É uma moral muito estranha, que permite desonestidades, quando o status quo social é elevado. Temos que conhecer que moral é essa, que permite a alguns cometer crimes e fraudes impunemente e ainda ser carregado pela multidão, enquanto outros com personalidade mais digna mas sem um carisma aparente são alvos de punições severas e intransigentes.
Quais são as perspectivas sociais? Quem são os privilegiados e predestinados? Que tipo de justiça social é esta, tão restritiva? Não estariam sendo superestimados os critérios materiais de dinheiro, diploma, fama, idade, raça ou credo? Por que o Brasil está desejando se manter em diversos níveis de mediocridade e em zonas de conforto que sustentam valores retrógrados e tradições obsoletas?
A crise não pode ser empurrada com a barriga, e amaldiçoar quem denuncia. É como culpar o faxineiro pela sujeira que ele varre. Algo terá que ser feito, para conter a "revolta do bolor" que traz movimentos reacionários não só no Brasil, mas também no mundo, embora no nosso país eles se tornem mais intensos e ascendentes.
Alguma coisa tem que ser feita. Estamos vivendo o pior dos momentos, uma espécie de pesadelo social servido em doses kafkianas. Isso não é pessimismo, é realismo, e será preciso que muitas pessoas abram mão de convicções para perceber melhor a realidade. Se tudo ficar como está, o Brasil estará em situação ainda mais perigosa do que o alto perigo que já corre hoje.
sábado, 10 de dezembro de 2016
"Espiritismo" errou: em vez de regeneração, temos convulsão social
Os "espíritas", tão otimistas em suas "previsões", erraram feio nas suas expectativas. Desde 2010 ou 2012 eles alardeavam sobre períodos de muita regeneração, despertar da humanidade ou coisa parecida. Mesmo quando admitiam "tempos difíceis" e "conflitos sérios", eles subestimavam tais ameaças, achando que a humanidade rumava para uma era de "mais amor e fraternidade".
Fazer previsões assim são atitudes reprovadas por Allan Kardec. O pensador lionês teria dado uns puxões de orelha em Divaldo Franco, que adora dar palpites em datas futuras como quem faz apostas em corrida de cavalos. Mesmo que se possa prever o futuro, não é através de devaneios moralistas e místicos (como é o caso de Divaldo), é arriscado conceber prazos longos ou definir os fatos com rigorosa exatidão.
O que se observa é que os "espíritas" mais otimistas, como a turma da "data-limite" - a facção mais radical da tendência dúbia do "movimento espírita", comandada por Geraldo Lemos Neto e Juliano Pozati - , tentam argumentar que os fatos negativos são invenção ou exagero da mídia convencional, visando interesses comerciais através da exploração sensacionalista da violência e do caos.
O mais estranho disso é que é essa mesma mídia, principalmente a Rede Globo, que blinda o "movimento espírita", produzindo filmes e documentários sobre Francisco Cândido Xavier, protegendo Divaldo Franco que foi classificado como "maior filantropo do Brasil" por beneficiar menos de 0,1 % de brasileiros.
É essa mídia que também exalta as passeatas dos "indignados" vestidos com camisetas da CBF e que já pediram "Fora Dilma" e agora apoiam a Operação Lava Jato - cujo juiz Sérgio Moro comprovou seu parcialismo ao ser fotografado conversando alegremente com políticos do PSDB, Aécio Neves e José Serra, denunciados por delatores da mesma Lava Jato - , como "símbolo de despertar da humanidade para os novos tempos".
Houve quem achasse que as passeatas eram movimentos de "libertação" e "conscientização", havendo quem atribuísse os atos à presença de "crianças-índigo" etc etc. A ideia é risível, pois o que vimos foram apenas manifestações de ódio em passeatas teleguiadas pela Rede Globo de Televisão - cujos donos, os irmãos Marinho, acumulam fortunas exorbitantes - , incluindo um grupo com o nome de Revoltados On Line, que não poderia ser visto como "iluminado" pelos "espíritas".
O que vemos é uma sucessão de convulsões sociais. Manifestações sociais de racismo e machismo, cyberbullying, hackeagem, corrupção no Executivo, Legislativo e Judiciário, a grande mídia despejando mentiras e visões retrógradas, empresários roubando, a alta sociedade manifestando abertamente preconceitos sociais mais aberrantes.
Com essa situação, o Brasil vive um surto de reacionarismo e preconceitos sociais que são o oposto do que significaria a "regeneração" na ótica "espírita". Próximo a 2019, tudo indica que a situação só tende a piorar, diante de tantos escândalos e incidentes infelizes. E com o corte de gastos públicos do governo de Michel Temer, aí é que o Brasil não conquistará a prosperidade necessária para sua evolução social. O "Coração do Mundo" se encerrou de vez.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
"Espiritismo" se nivela aos vícios religiosos do Império Romano
O "espiritismo" está cada vez mais comprovando ser uma seita ultraconservadora, tirando a máscara, que já não era tão firme, de pretenso movimento de vanguarda da espiritualidade. A cada dia se observa que o "espiritismo" igrejista nada tem de humanista e que a Teologia do Sofrimento confirma ser seu postulado maior, bem mais do que qualquer conceito trazido por Allan Kardec.
Não bastasse o "espiritismo" agir como se fosse um Catolicismo à paisana - que seu defensores até não consideram um "mal", pela afinidade com o que eles entendem ser os "princípios cristãos" e o "trabalho do bem" - , ele recupera aspectos medievais ou mesmo romanos que Jesus de Nazaré reprovaria com energia, como no caso dos vendilhões do templo.
O "culto à personalidade" dos supostos médiuns, mesmo os mais badalados, como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, já era um ponto a se preocupar, e não ficar tranquilo e feliz, porque o personalismo inexistia nos médiuns autênticos que haviam sido consultados por Kardec em seu tempo, no século XIX.
No Brasil "médium" é menos intermediário do que centro das atenções, vira "grife" para consultas mediúnicas, desobedecendo severamente as recomendações kardecianas no Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos. Há uma piada que, do C. U. E. E. da Doutrina Espírita, os brasileiros só aproveitaram a primeira metade da sigla.
O mais grave é que o "médium" brasileiro vira dublê de pensador, de filósofo e consultor sentimental, e aí vemos o quanto eles, principalmente o exemplo típico de Divaldo Franco, retomam o vício dos antigos sacerdotes romanos que Jesus de Nazaré tanto rejeitava em suas palestras. O quanto Divaldo Franco se decepcionaria, da maneira chocante, se entrasse em contato com Jesus.
Os "sábios" do "movimento espírita", que tanto fascínio e confiança inspiram em seus seguidores ou mesmo em leigos incautos de boa-fé, repetem o pedantismo, a vaidade e a presunção falsamente humilde e grotescamente devota dos antigos sacerdotes romanos, aqueles que se arrogam em se sentar nos bancos da frente nas sinagogas, a fazer orações e se arrogar do vínculo com o "Alto".
Divaldo Franco, não bastasse assumir estereótipos do velho professor dos anos 1930-1940, quando o ensino nas escolas exprimia relações rigorosamente hierarquizadas exprimindo um "saber" aristocrático do "mestre", também personifica esse "culto à personalidade", esse "complexo de superioridade" à maneira religiosa, muito mal disfarçado por um verniz de bondade e humildade.
Chico Xavier começou tudo isso, ele que, adorador de imagens católicas, católico de crenças ortodoxas e devoto da Teologia do Sofrimento, lançou o "culto à personalidade" que é absolutamente impróprio nos médiuns de verdade, como já recomendava o próprio Allan Kardec.
Os "espíritas" enrolam, se dizendo contra o personalismo, mas a verdade é que eles têm um jeito - sempre o "jeitinho brasileiro" - para camuflar o "culto à personalidade" que cria vaidades imensas em supostos médiuns: o verniz de "bondade" e "humildade", na qual supostos médiuns, aliás anti-médiuns, fazem sua propaganda às custas de crianças pobres e velhinhos doentes.
Ou seja, os "médiuns" brasileiros fazem "culto à personalidade" com uma presunção de fazer qualquer aristocrata esnobe ser um primor de simplicidade e modéstia. Mas usam o aparato de "filantropia" para dissimular a anabolização de egos que existe no "movimento espírita", e com isso passam a ser endeusados como se fossem símbolos da mais absoluta perfeição espiritual. Só que não.
Afinal, devemos sempre desconfiar desses ídolos religiosos. O que Chico Xavier e Divaldo Franco fizeram em deturpação da Doutrina Espírita é suficiente para que eles sejam vistos como deploráveis e desmerecedores mesmo de um quarto da admiração que recebem.
O espírito Erasto havia recomendado cautela extrema contra figuras semelhantes, que usam a "bondade" apenas como fachada para seus planos traiçoeiros de dissimulação, voltados a paradigmas medievais e a sacerdotismos decadentes que o Catolicismo mais antigo quer transferir para o "espiritismo" brasileiro, religião que reflete o cenário que temos sob o governo de Michel Temer: o velho, antiquado, podre e obsoleto travestido de "novo", "moderno" e "atemporal".
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
A luta de Leah Remini contra o "primo rico" do "espiritismo" brasileiro
Nos EUA, a atriz Leah Remini se destacou pela sua luta para denunciar os abusos e irregularidades da Cientologia, e recentemente havia lançado a série de documentários Scientology and the Aftermath (título que se traduz como "Cientologia e as Consequências") para mostrar seus relatos e de demais pessoas que se frustraram devido às perversidades da seita que tem os atores Tom Cruise e John Travolta como seus maiores propagandistas.
Em entrevista ao programa de televisão The Today Show, Leah disse:
"Eu só senti que eu tinha a responsabilidade de ajudar onde eu poderia. Eu não sou uma grande fã de valentões. É parte de quem eu sou e de quando eu era uma lutadora na Igreja, isto é o que eles me ensinaram, e assim eu vou continuar a minha luta. Mas eu estou no lado correto dessa luta agora. Estou enviando uma mensagem de que não vou voltar atrás e deixar que continue como está. ... Se você denuncia, você é rotulado de inimigo da Igreja. [A] Igreja tem políticas sobre como lidar com seus inimigos e eles vão atrás deles.
"Para mim, isso choca em comparação com o que ex-executivos de alto escalão e paroquianos tiveram que lidar com essa situação. Não é fácil ir embora ... Você está deixando tudo o que sabe. Você está desistindo de toda a sua vida porque é o que é preciso para ser um cientologista, e então você estará perdendo sua família porque a maioria de seus familiares e amigos são cientologistas ".
A Cientologia é uma seita religiosa com ideologia pseudocientífica fundada por um físico chamado Lafayette Ron Hubbard ou L. Ron Hubbard, falecido há cerca de 30 anos. Atualmente, seu líder máximo é David Miscavige. Ela possui várias filiais no mundo, existindo até no Brasil, só que com menor expressão e aparentemente sem adeptos famosos para lhe fazer propaganda em nosso país.
Também, isso não precisa. Temos o "espiritismo" brasileiro, o "primo pobre" do "primo rico" que é a Cientologia. O "espiritismo" e a Cientologia possuem algumas anaologias, como a descrição do thetan (o "espírito" cientológico), o "universo material" (matéria), de atuação não-independente (no "espíritismo" se pegou o paradigma católico de um ente antropomorfizado, Deus, diferente da "causa primária" estudada por Allan Kardec) e a "hipótese" (a "reencarnação" cientológica).
As diferenças podem ser quanto aos ritos e a certos métodos e dogmas doutrinários, mas o paralelo que se tem com o "espiritismo", como a disciplina e o amaldiçoamento do prazer humano, há a crença na "Confederação Galática" cientológica e as "cidades espirituais" do "espiritismo".
É certo que a Confederação Galática não é definida como "paraíso", sendo governada por um tirano, Xenu, mas a sua citação como um "mundo imaterial" remete às "cidades ou colônias espirituais" do "espiritismo", talvez um crossover entre tais "cidades ou colônias" e o "ambiente" sombrio do "umbral".
Se na Cientologia, somente nos mais altos níveis de iniciação são ensinados conhecimentos sigilosos considerados prejudiciais aos iniciantes, no "espiritismo", embora haja uma suposta apreciação da Ciência e da Filosofia, há uma preocupação sutil com as limitações do Conhecimento, reprovando o pensamento investigativo quando ele atua no terreno da Religião e de suas práticas relacionadas.
A Cientologia é denunciada, por seu autoritarismo e seu moralismo em documentários e livros diversos. É certo que seus seguidores e membros rebatem, fazendo também os seus documentários e livros, mas a verdade é que editoras, produtoras de filmes e emissoras de TV acolhem propostas de trabalhos que denunciem as irregularidades e problemas desta seita.
No Brasil, onde a Justiça tem uma atuação seletiva e parcial, e os mercados editorial e cinematográfico são ideologicamente muito fechados, para não dizer o meio televisivo, bem mais restritivo ainda, o "espiritismo" goza de uma blindagem rigorosa que nem a Igreja Universal do Reino de Deus goza com tamanha plenitude.
Até mesmo as piores fraudes mediúnicas são aceitas sem reservas, mesmo por familiares dos mortos a que se atribui falsa autoria. O caso Humberto de Campos é o pior exemplo da mais absoluta impunidade dada a um autor de pastiches literários, Francisco Cândido Xavier, que acumulou uma reputação que o faz ter o status próximo a de um deus.
A tradição seletiva da Justiça brasileira - cujos exemplos mais recentes remetem às atividades do juiz paranaense Sérgio Moro - beneficiaram Chico Xavier com um empate jurídico. Para piorar, Chico conseguiu conquistar a confiança da mãe de Humberto, Ana de Campos Veras, explorando o ponto fraco da saudade de um filho morto, e ainda venceu a barreira do ceticismo do homônimo filho do autor de O Brasil Anedótico.
Se valendo por uma concepção espetacularizada, ritualística e católica da "bondade" e da "caridade", reduzidas a atividades paliativas e de apelo publicitário que colocam o benfeitor acima do benefício, Chico Xavier convidou o desconfiado Humberto de Campos Filho para uma doutrinária num "centro espírita" e depois o convidou para visitar obras de "caridade" como cozinheiras fazendo sopa e quartos onde moravam velhinhos doentes.
É justamente esse apelo, na verdade uma difusão da ideologia da caridade paliativa, que põem o benfeitor acima do benefício, ou seja, colocam o valor não pelo número de beneficiados atingido, mas pelo prestígio religioso do aparente benfeitor, que se torna o motor ideológico de um "espiritismo" que deturpa grosseiramente o legado de Allan Kardec.
É essa visão de "bondade" e "caridade", que mais deslumbra as pessoas do que ajuda, atuando mais como uma peça publicitária do que como um ato pelo progresso social, que faz as pessoas aceitarem os deslizes e equívocos gravíssimos que ocorrem no "espiritismo" brasileiro. A complacência ao erro torna-se gritante, o "amor" é usado como pretexto para se permitir qualquer fraude, qualquer mistificação.
O "espiritismo" pode não contar com a estrutura sofisticada e uma estrutura engenhosa de poder como a da Cientologia. Mas possui um lobby muitíssimo rigoroso, com o poder midiático e a classe jurídica blindando a doutrina brasileira, de raiz roustanguista, de forma extremamente firme que qualquer denúncia seja sempre deixada para escanteio. Espera-se que surja uma Leah Remini "espírita" no Brasil.
domingo, 4 de dezembro de 2016
A sociedade "de cima" está em colapso
As pessoas de maior status quo, sob algum critério, estão sentindo o mundo ruir de repente. Muitos não percebem e, por enquanto, contam com apoio de muita gente, e se iludem quando, em seus círculos sociais ou mesmo diante de gente de menor status mas que lhe é solidária, ainda são vistos como se estivessem com razão.
A ilusão dos acúmulos diversos, seja de dinheiro, prestígio, fama, idade, raça, diploma, ou mesmo a reputação religiosa que garante a uns poucos o "contato direto com Deus", está perecendo de maneira acelerada e mostrando aspectos cada vez mais preocupantes de erros, omissões e outros deslizes, para não dizer os crimes que ocorrem sob a lona desses privilégios.
Mesmo na classe média, nota-se que pais de família acabam criando um mundo ainda mais ficcional do que o dos filhos, montado através de velhas convenções sociais, relações hierárquicas e uma ilusão de perfeição trazida pelas emissoras de televisão conservadoras.
É o pai que cobra demais do filho e se empolga mais com o sacrifício do que com a conquista de um benefício. É a mãe que exige cuidados hercúleos com a saúde física, até de maneira muito exagerada, como se ela sentisse hipocondria. Em muitos casos, juntos, pai e mãe sobrecarregam os filhos de cobranças diversas e, contraditoriamente, não aceitam que filhos reclamem da vida, embora os pais se demonstrem, não raro, bem mais resmungões.
Hoje o alto da pirâmide balança e isso não é natural. Desde que o governo de Michel Temer, dotado de muitas dessas qualidades "superiores" - o diploma, o prestígio tecnocrático, o dinheiro e a idade - , demonstra atitudes aberrantemente irresponsáveis que envergonham até os adolescentes (não é difícil entender a imediata manifestação das ocupações nas escolas), estar no alto da pirâmide pode resultar na vertigem social que derruba ilusões como num efeito dominó.
A ilusão de "perfeição num mundo imperfeito" do alto status, da acumulação de anos de vida, de dinheiro e prestígio, de uma "felicidade" que seus detentores não entendem por que pessoas no lado de baixo da pirâmide social não conseguem sentir. É muito fácil cobrar firmeza, alegria e comunicabilidade a pessoas que sofrem de depressão.
Um dado surpreendente nessa crise que atinge o alto da pirâmide social está no perfil dos vândalos que invadiram a Câmara dos Deputados, destruíram vidros, trocaram socos com quem estivesse na frente e pedissem a volta da ditadura militar, expondo um reacionarismo cego que cometeu a gafe de definir o Japão, típico país capitalista asiático, como um "país comunista" só por causa da cor vermelha do círculo (que remete ao mito do "sol vermelho" da cultura japonesa).
São pessoas que, presumidamente, tinham em torno de 55, 65 anos. Gente grisalha, fora de forma, pessoas com filhos crescidos e tida como "responsável" e "experiente". No entanto, pessoas que derrubaram vidros, promoveram desordem e pediram a presença de um General, reivindicando uma ditadura que vai contra as conquistas democráticas, revelam o quanto um mero acúmulo de anos de vida nem sempre representa sabedoria e prudência para as pessoas.
No governo Temer, as pessoas mais birrentas estão entre políticos com mais de 65 anos de idade. Michel Temer é um exemplo, que deseja uma redução drástica de gastos públicos enquanto gasta de maneira descontrolada para agradar aliados, amigos e familiares. Um de seus ministros, o das Relações Exteriores, José Serra, cometeu gafes grotescas que o jovem presidente da UNE do período 1963-1964 ficaria seriamente envergonhado, se não fosse a mesma pessoa.
Outra grande ilusão é haver empresários e profissionais liberais ricos que chegam aos 50, 60 anos de idade pensando ter 20 a mais e insistindo num pedantismo cultural que só serve mais para a vaidade, sem tirar proveito dos referenciais mais antigos que assimilam de maneira confusa, causando mais constrangimento com a erudição e um refinamento que soam muito forçados e atrapalhados.
Preconceitos sociais reaparecem entre pessoas adultas e mais velhas. A cega defesa da grande mídia, cada vez mais mentirosa, caluniadora e hipócrita, também demonstra uma compreensão ainda mais atrofiada da realidade. O fato de pais de família acreditarem em valores em declínio, e aparentemente gozam da razão quando suas opiniões são corroboradas por vizinhos, porteiros, faxineiros, parentes e amigos, não significa que esses pais de família estejam realmente com a razão.
Hoje em dia, os maiores focos de imaturidades pessoais estão entre pessoas grisalhas e de cabelos brancos. A barbárie cresce entre pessoas de maior poder aquisitivo. Trabalhos desastrosos ocorrem vindos de pessoas dotadas de diplomas universitários. Os piores julgamentos de valor e os mais cruéis conselhos morais partem de pessoas de maior prestígio religioso, tidas como "unanimidades".
Não que ter muito dinheiro, diplomas ou mais idade seja ruim. Mas o desgaste e o esgotamento de estruturas de status quo elevado atingem níveis preocupantes que não são percebidos pelos seus detentores, que nunca foram estimulados a ter uma postura autocrítica. Eles continuam cobrando demais e fechando os caminhos para quem está embaixo da pirâmide, achando mais fácil fazer cobranças do que abrir oportunidades.
A forma com que se apresenta a ilusão da idade elevada, dos diplomas e do dinheiro acumulados, da fama e do prestígio religioso, de alguma outra supremacia condizente com a sociedade conservadora, é que preocupam seriamente, pois é nesse aparato de superioridade social que se encontram os piores exemplos de inferioridade ou até mesmo erros relativamente leves mas que são suficientes para desfazer a ilusão de "sabedoria", "experiência" e "sucesso".
Por enquanto a sociedade ultraconservadora recuperou o poder, mas isso será por pouco tempo. Afinal, essa retomada, segundo muitos especialistas, não se deu de maneira tranquila e nem positiva, tendo sido feita à força das circunstâncias. Diante do apetite maior que a fome, os setores conservadores que reconquistaram o poder tendem a se desentenderem e mostrar seus erros dos mais diversos níveis, acelerando mais o perecimento do topo da pirâmide.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
"Protegido" por "centro espírita", bairro de Salvador vive a tirania do tráfico
Reportagem publicada no UOL no último dia 22 mostra que, em Salvador, o poder do tráfico num de seus bairros mais perigosos, o Nordeste de Amaralina, faz com que ele figure nos noticiários policiais diários com uma frequência assustadora, competindo com o subúrbio ferroviário, a região de Beiru e o bairro de Pau da Lima (onde fica a Mansão do Caminho).
Essas regiões são consideradas as mais perigosas e nelas há muitos homicídios e roubos. Para piorar, o Nordeste de Amaralina - um complexo de favelas localizado no famoso bairro litorâneo de Amaralina - sofre a tirania dos traficantes, que fazem ameaças a quem fizer algum boletim de ocorrência na delegacia do bairro.
Um morador chegou mesmo a voltar para a 28 Delegacia Territorial, que opera no local, para cancelar um boletim de ocorrência que tinha feito antes. O morador estava com muito medo, sabendo das ameaças dos traficantes, que estão bem informados sobre quem entra e sai no bairro, quem é preso ou solto e sobre os trabalhos feitos pela delegacia.
A questão é tão grave que até a imprensa é desaconselhada a fazer matéria sobre o tráfico. Os moradores não podem fornecer informações, há uma vigilância rigorosa dos traficantes, que podem cometer as piores represálias, como é de praxe. Os traficantes possuem câmeras instaladas no local e usam celulares para monitorar as ações dos moradores. Até briga de vizinhos não pode ser registrada na delegacia. Os traficantes não querem a polícia entrando no Nordeste.
A situação chegou ao ponto do SINDPOC, Sindicato dos Policiais Civis do Estado da Bahia, pedir ao comando da Segurança Pública do governo estadual para mudar a delegacia para outro bairro, devido ao perigo representado pela ameaça dos criminosos.
O Nordeste de Amaralina se situa numa área próxima a um "centro espírita". Paulo e Estevão, próximo a uma das esquinas de acesso ao perigoso bairro. É ilustrativa a localização de muitos "centros espíritas" em lugares considerados perigosos.
Em Niterói, por exemplo, a existência de dois "centros espíritas", um no entorno da rua Mariz e Barros e outro na Av. Sete de Setembro, praticamente "fecham as nuvens" no bairro de Santa Rosa, no entorno de toda a rua Dr. Mário Viana. A área, conhecida como Viradouro, é alvo de constantes tiroteios que já fizeram o trânsito de veículos recuar várias vezes, sobretudo durante o dia.
"Espíritas" tentam explicar que a localização de "centros espíritas" em áreas decadentes e perigosas é para "trazer luz, boa nova e esperança aos necessitados". Só que a religião, marcada pela desonestidade doutrinária herdada do roustanguismo, deixa ela mesma se corromper pelas más energias e nada contribui para transformar áreas perigosas em "ambientes de amor e luz".
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
O outro lado de quem é queixoso
EUSTÁCIO, O RESMUNGÃO, OU CHICO XAVIER?
"Conheces todos os segredos de sua alma?" advertiu o espírito Erasto diante da hipótese de supostos médiuns tidos como bondosos veicularem respostas falsas e grosseiras. As advertências de Erasto não só foram ignoradas no Brasil como há pessoas que deturpam e distorcem tais conselhos, como se não bastassem as deturpações violentas feitas em relação à Doutrina Espírita.
As deturpações se ampliaram como uma bola de neve e vemos hoje Francisco Cândido Xavier e seguidores (de Divaldo Franco a, pelo menos, João de Deus, já que Robson Pinheiro parece seguir uma linha "independente" dos ditos "kardecistas autênticos", eufemismo para a fase dúbia do "movimento espírita", que é o igrejismo disfarçado de legado kardeciano) viraram os "senhores" da Doutrina Espírita, os "donos" dos mortos e reivindicam a posse absoluta da verdade.
Ninguém ouviu Erasto e, quando tenta, pega de fontes pouco confiáveis, como as traduções da FEB e da IDE que rebaixam o professor Allan Kardec a um pároco de província. É como numa equação que começa errada e cujos cálculos posteriores parecem corretos mas se destinam justamente ao resultado errado, com um falso Erasto defendendo as mentiras do "espiritismo" igrejista brasileiro.
E aí vemos um moralismo conservador, um igrejismo medieval e uma falsa mediunidade limitada ao faz-de-conta e ao mershandising do proselitismo religioso - quase todos os supostos mortos fazem mensagens apelando pelos "ensinamentos cristãos" - , que se servem como se fosse o "verdadeiro espiritismo" e cuja credibilidade é forçadamente conquistada através de muita bondade de fachada - a caridade paliativa, que mais fascina que ajuda - e com muito vitimismo de seus anti-médiuns.
E aí nos lembramos do arrivismo de Chico Xavier, alvo da maior impunidade que alguém pode receber por atos irresponsáveis e prejudiciais. Ele fez pastiches e plágios literários, era católico de conceitos medievais, moralista severo, usurpador de mortos, se promovia às custas das tragédias familiares e ainda por cima usou Allan Kardec para lançar ideias contrárias ao pensamento do pedagogo francês.
É tanta coisa deplorável que é assustador que Chico Xavier, que ainda conta com o apoio da chamada "mídia venal" - como estudiosos de Comunicação chamam a mídia dominante, comercial e reacionária - , tenha feito tanta barbaridade e seja visto como um semi-deus ou mesmo um vice-deus, e qualquer crítica havia sido rebatida com vitimismo dele (o esperto Chico era artífice dessa manobra) e, mais recentemente, por seus seguidores fanáticos, não obstante temperamentais.
Uma faceta entre tantas sombrias do "bondoso médium" é não suportar gente queixosa. Como no caso de Divaldo Franco e sua "Joana de Angelis" (provavelmente uma identidade "trans" do obsessor Máscara de Ferro), que pregava para "ninguém ficar triste por mais de 15 minutos, Chico Xavier sempre deixou claro que não suportava gente resmungona.
É até irônico que um personagem do seriado de animação Coragem, o Cão Covarde (Courage the Cowardly Dog), o idoso Eustácio (Eustace no original), lembre, nos seus traços faciais, o "médium" Chico Xavier. Afinal, o Eustácio é um personagem resmungão.
Mas se observarmos bem, Chico Xavier havia sido um resmungão. Os piores resmungões são aqueles que não suportam ver gente reclamando, sempre cobrando uma felicidade forçada, uma serenidade falsa que acoberta o pior sofrimento. O desfile de belas palavras apenas dá a impressão de que Chico Xavier era pura mansuetude, mas quando podia ele tinha veneno na língua.
É só ver o caso de Jair Presente. Diante de supostas psicografias que não condiziam com a personalidade do estudante de Engenharia, os amigos do falecido universitário, que mais conviveram com ele, reclamavam das "mensagens mediúnicas". Diziam que não havia jeito para aceitar tais mensagens como "legítimas". Irritado (sim, irritado), Chico Xavier disse que isso era "bobagem da grossa".
Em 1943, no livro Reportagens de Além-Túmulo, Chico Xavier, usando o nome de Humberto de Campos, escreveu, junto a Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB, um conto sobre uma mulher queixosa que era abandonada por todos por causa de sua "mania de reclamar da vida". Um conto claramente moralista, que Humberto nem em sonhos teria o menor interesse em escrever.
Isso mostra o quanto Chico Xavier foi um dos maiores devotos da Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica que agora parece crescer no "movimento espírita", estimulado pela epidemia ultraconservadora que toma conta do país desde a posse de Michel Temer, ainda como presidente interino da República.
Chico Xavier dizia para os sofredores não mostrarem sofrimento para outrem. Isso é comparável a um doente que não pode informar sua doença para familiares, amigos e nem para o médico. Isso é uma visão claramente sádica, e é inútil os chiquistas iniciarem seus corais de lágrimas e nos acusar de fazer campanha contra o "pobre médium" porque a visão sádica veio das próprias palavras dele.
Mas há o outro lado dos queixosos que as "belas palavras" moralistas de Chico Xavier - várias levianamente atribuídas a personalidades mortas - escondem. A de que, se há pessoas que reclamam demais, não é por recreio nem passatempo, assim como é de praxe os "espíritas" ignorarem que ninguém se suicida por hobby ou para ver se uma arma ou veneno realmente funcionam.
O queixoso é aquele que encontrou tantos obstáculos na vida, dificílimos de serem superados, que passou a se revoltar com isso. É do instinto humano, se até um cãozinho dócil e meigo vira uma fera perigosa, capaz de matar alguém com uma mordida, se ele for acuado, o ser humano também se brutaliza quando o "remédio" das desilusões e das dificuldades está muito acima da dose.
As pessoas que se encontram nestas condições extremas fizeram o que puderam para superar dificuldades. Mudaram seus pensamentos, entraram com fé, desenvolveram alegria e tudo. Se esforçaram cumprindo as exigências correspondentes. Mas tudo isso, sendo em vão, lhes revolta, naturalmente. É muito fácil cobrar de quem está por baixo, mas em muitos casos há que se cobrar também pela falta das oportunidades corretas, mesmo se considerar o risco de algum esforço.
Daí a perversidade do moralismo de Chico Xavier (chorem, chiquistas!), porque é um moralismo severo, retrógrado, reacionário. Isso faz sentido a alguém que defendeu a ditadura, esculhambou operários e camponeses e acusou humildes frequentadores de um circo em Niterói destruído por um incêndio criminoso de terem sido "romanos sanguinários" numa outra vida, em clara demonstração de puro juízo de valor, sem provas lógicas e protegido pela carteirada religiosa do "médium".
Isso é absoluta falta de caridade. Os "espíritas", insensíveis ao sofrimento de outrem, só recorrem quando advertidos de sua severidade moralista. No primeiro momento dizem que as pessoas devem aguentar o sofrimento. No segundo, tentam dizer que o sofrimento é só um "aprendizado" ou um "desafio". No terceiro, tentam apelar para o sofredor "ter fé e esperança". E, quando tentam ajudar, dificilmente é de maneira adequada ou eficiente.
Com toda a certeza, a bondade se enfraquece quando se torna apenas um subproduto da fé religiosa e se submete a uma marca de uma seita religiosa. Escravizada por preceitos moralistas, místicos e ritualistas, a bondade se torna mais frouxa, menos eficaz e, sobretudo, muito menos benéfica para as pessoas, e se torna indiferente às dificuldades alheias.
"Conheces todos os segredos de sua alma?" advertiu o espírito Erasto diante da hipótese de supostos médiuns tidos como bondosos veicularem respostas falsas e grosseiras. As advertências de Erasto não só foram ignoradas no Brasil como há pessoas que deturpam e distorcem tais conselhos, como se não bastassem as deturpações violentas feitas em relação à Doutrina Espírita.
As deturpações se ampliaram como uma bola de neve e vemos hoje Francisco Cândido Xavier e seguidores (de Divaldo Franco a, pelo menos, João de Deus, já que Robson Pinheiro parece seguir uma linha "independente" dos ditos "kardecistas autênticos", eufemismo para a fase dúbia do "movimento espírita", que é o igrejismo disfarçado de legado kardeciano) viraram os "senhores" da Doutrina Espírita, os "donos" dos mortos e reivindicam a posse absoluta da verdade.
Ninguém ouviu Erasto e, quando tenta, pega de fontes pouco confiáveis, como as traduções da FEB e da IDE que rebaixam o professor Allan Kardec a um pároco de província. É como numa equação que começa errada e cujos cálculos posteriores parecem corretos mas se destinam justamente ao resultado errado, com um falso Erasto defendendo as mentiras do "espiritismo" igrejista brasileiro.
E aí vemos um moralismo conservador, um igrejismo medieval e uma falsa mediunidade limitada ao faz-de-conta e ao mershandising do proselitismo religioso - quase todos os supostos mortos fazem mensagens apelando pelos "ensinamentos cristãos" - , que se servem como se fosse o "verdadeiro espiritismo" e cuja credibilidade é forçadamente conquistada através de muita bondade de fachada - a caridade paliativa, que mais fascina que ajuda - e com muito vitimismo de seus anti-médiuns.
E aí nos lembramos do arrivismo de Chico Xavier, alvo da maior impunidade que alguém pode receber por atos irresponsáveis e prejudiciais. Ele fez pastiches e plágios literários, era católico de conceitos medievais, moralista severo, usurpador de mortos, se promovia às custas das tragédias familiares e ainda por cima usou Allan Kardec para lançar ideias contrárias ao pensamento do pedagogo francês.
É tanta coisa deplorável que é assustador que Chico Xavier, que ainda conta com o apoio da chamada "mídia venal" - como estudiosos de Comunicação chamam a mídia dominante, comercial e reacionária - , tenha feito tanta barbaridade e seja visto como um semi-deus ou mesmo um vice-deus, e qualquer crítica havia sido rebatida com vitimismo dele (o esperto Chico era artífice dessa manobra) e, mais recentemente, por seus seguidores fanáticos, não obstante temperamentais.
Uma faceta entre tantas sombrias do "bondoso médium" é não suportar gente queixosa. Como no caso de Divaldo Franco e sua "Joana de Angelis" (provavelmente uma identidade "trans" do obsessor Máscara de Ferro), que pregava para "ninguém ficar triste por mais de 15 minutos, Chico Xavier sempre deixou claro que não suportava gente resmungona.
É até irônico que um personagem do seriado de animação Coragem, o Cão Covarde (Courage the Cowardly Dog), o idoso Eustácio (Eustace no original), lembre, nos seus traços faciais, o "médium" Chico Xavier. Afinal, o Eustácio é um personagem resmungão.
Mas se observarmos bem, Chico Xavier havia sido um resmungão. Os piores resmungões são aqueles que não suportam ver gente reclamando, sempre cobrando uma felicidade forçada, uma serenidade falsa que acoberta o pior sofrimento. O desfile de belas palavras apenas dá a impressão de que Chico Xavier era pura mansuetude, mas quando podia ele tinha veneno na língua.
É só ver o caso de Jair Presente. Diante de supostas psicografias que não condiziam com a personalidade do estudante de Engenharia, os amigos do falecido universitário, que mais conviveram com ele, reclamavam das "mensagens mediúnicas". Diziam que não havia jeito para aceitar tais mensagens como "legítimas". Irritado (sim, irritado), Chico Xavier disse que isso era "bobagem da grossa".
Em 1943, no livro Reportagens de Além-Túmulo, Chico Xavier, usando o nome de Humberto de Campos, escreveu, junto a Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB, um conto sobre uma mulher queixosa que era abandonada por todos por causa de sua "mania de reclamar da vida". Um conto claramente moralista, que Humberto nem em sonhos teria o menor interesse em escrever.
Isso mostra o quanto Chico Xavier foi um dos maiores devotos da Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica que agora parece crescer no "movimento espírita", estimulado pela epidemia ultraconservadora que toma conta do país desde a posse de Michel Temer, ainda como presidente interino da República.
Chico Xavier dizia para os sofredores não mostrarem sofrimento para outrem. Isso é comparável a um doente que não pode informar sua doença para familiares, amigos e nem para o médico. Isso é uma visão claramente sádica, e é inútil os chiquistas iniciarem seus corais de lágrimas e nos acusar de fazer campanha contra o "pobre médium" porque a visão sádica veio das próprias palavras dele.
Mas há o outro lado dos queixosos que as "belas palavras" moralistas de Chico Xavier - várias levianamente atribuídas a personalidades mortas - escondem. A de que, se há pessoas que reclamam demais, não é por recreio nem passatempo, assim como é de praxe os "espíritas" ignorarem que ninguém se suicida por hobby ou para ver se uma arma ou veneno realmente funcionam.
O queixoso é aquele que encontrou tantos obstáculos na vida, dificílimos de serem superados, que passou a se revoltar com isso. É do instinto humano, se até um cãozinho dócil e meigo vira uma fera perigosa, capaz de matar alguém com uma mordida, se ele for acuado, o ser humano também se brutaliza quando o "remédio" das desilusões e das dificuldades está muito acima da dose.
As pessoas que se encontram nestas condições extremas fizeram o que puderam para superar dificuldades. Mudaram seus pensamentos, entraram com fé, desenvolveram alegria e tudo. Se esforçaram cumprindo as exigências correspondentes. Mas tudo isso, sendo em vão, lhes revolta, naturalmente. É muito fácil cobrar de quem está por baixo, mas em muitos casos há que se cobrar também pela falta das oportunidades corretas, mesmo se considerar o risco de algum esforço.
Daí a perversidade do moralismo de Chico Xavier (chorem, chiquistas!), porque é um moralismo severo, retrógrado, reacionário. Isso faz sentido a alguém que defendeu a ditadura, esculhambou operários e camponeses e acusou humildes frequentadores de um circo em Niterói destruído por um incêndio criminoso de terem sido "romanos sanguinários" numa outra vida, em clara demonstração de puro juízo de valor, sem provas lógicas e protegido pela carteirada religiosa do "médium".
Isso é absoluta falta de caridade. Os "espíritas", insensíveis ao sofrimento de outrem, só recorrem quando advertidos de sua severidade moralista. No primeiro momento dizem que as pessoas devem aguentar o sofrimento. No segundo, tentam dizer que o sofrimento é só um "aprendizado" ou um "desafio". No terceiro, tentam apelar para o sofredor "ter fé e esperança". E, quando tentam ajudar, dificilmente é de maneira adequada ou eficiente.
Com toda a certeza, a bondade se enfraquece quando se torna apenas um subproduto da fé religiosa e se submete a uma marca de uma seita religiosa. Escravizada por preceitos moralistas, místicos e ritualistas, a bondade se torna mais frouxa, menos eficaz e, sobretudo, muito menos benéfica para as pessoas, e se torna indiferente às dificuldades alheias.