quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
"Espiritismo" virou um mercado das "belas palavras"
Infelizmente, o "espiritismo" virou um "mercadão das palavras". Mensagens piegas, exageradamente adocicadas, as tais "palavras de amor" que servem de entretenimento para desocupados, que, quando muito, só agem na caridade paliativa que "ajuda o próximo" sem mexer nas estruturas socialmente injustas que existem hoje.
"Ajude sem mexer no privilégio dos remediados", essa é a "lei de caridade" dos "espíritas", mais distantes de Allan Kardec e cada vez mais próximos do imperador romano Constantino. O "espírito do tempo" do Brasil de Michel Temer condisse com o reacionarismo das mídias sociais, quando os midiotas glorificam Francisco Cândido Xavier como "ícone máximo da caridade".
Nesse malabarismo discursivo, a ideia de bondade foi rebaixada a um subproduto da atividade religiosa. Num mundo em que a violência é banalizada e socialmente aceita, em que até feminicidas conjugais viram "bons partidos" para outras famílias indicarem a suas filhas, ser bondoso se limita apenas ao rótulo da crença religiosa de sua escolha.
E tudo isso só para temperar com algum "trabalho" o circo malabarista das palavras bonitas e bem organizadas. Palavras perfumadas, com gosto de mel, que fazem as pessoas chorarem. Fundos musicais relaxantes, mas extremamente piegas e até cafonas. Memes com os ídolos religiosos inseridos em paisagens floridas ou em céus azuis de pequenas nuvens branquinhas e sol radiante.
Tudo virou um mercado de "belas palavras", mas também um esforço para o palestrante "espírita" ficar sempre com a verdade, baseado na sua ilusão religiosa de que a ideia da verdade absoluta se apoia em três verbetes: "Deus, Cristo e Caridade", o pretexto roustanguista que norteia até hoje o "espiritismo" igrejista de hoje.
A postura dúbia dos últimos 40 anos, em que se permite o igrejismo mesmo com toda a roupagem falsamente científica, forjando um "kardecismo" pretensamente "autêntico", faz com que esse espetáculo da palavra, do discurso empolado do qual Divaldo Franco é um dos exemplos mais famosos, permaneça mostrando seu show de pirotecnias gramaticais.
A Teologia do Sofrimento, que comprovadamente é o postulado maior do "espiritismo" brasileiro - Chico Xavier deixou explícito isso, com suas próprias palavras, embora não assumisse, no discurso, defender essa ideologia - , é servida ao público "espírita" dissolvida na água com açúcar das boas palavras, das lindas mensagens que, em que pese o cativante desfile dos belíssimos vocábulos, trazem o vazio da incoerência e da ilógica e o gosto amargo do conservadorismo ideológico.
JESUS FICARIA ENVERGONHADO
Jesus de Nazaré ficou inquietado quando, em um templo, ele viu comerciantes gritando normalmente, chamando os fregueses a comprar seus produtos. O episódio foi superestimado e distorcido pela Igreja Católica, que narrou uma suposta reação de Jesus chicoteando os comerciantes só por eles serem os "vendilhões do templo".
O que Jesus fez foi apenas bater o chicote na parede e derrubar alguns objetos, chamando a atenção do público em volta. Ele não agiu em violência, mas reprovou a comercialização de produtos num ambiente como aquele, em que pessoas se recolhem para meditação.
Séculos depois, são os "vendilhões do templo" que usam Jesus para tirar vantagem de si mesmos. Os católicos, que canonizaram a perversa Madre Teresa de Calcutá - capaz de atrocidades como permitir a reciclagem de seringas infectadas que só eram lavadas com água suja de torneira, algo que se nivela ao que toxicômanos costumam fazer entre si - visando o turismo em torno da "santa", são um exemplo disso.
Mas há os evangélicos, sobretudo os neopentecostais, que crescem sob o aparato da estrutura midiática e empresarial, montada a partir de dízimos colhidos de seus fiéis diante da persuasão chorosa e gritada de seus pastores, que praticamente cometem estelionato disfarçado de fé religiosa.
O "movimento espírita", única seita religiosa que passa imune de qualquer investigação jurídica séria - os dois únicos critérios para a impunidade e imunidade pessoal são ser do PSDB ou ser "espírita"; sendo qualquer uma das coisas, alguém pode "fazer das suas" que ninguém mexe - , não deixa de cometer irregularidades e delitos muitíssimo graves.
O tempo todo acontecem verdadeiras demonstrações de falsidade ideológica, com supostos médiuns usurpando os mortos para produzir imagens que os próprios "psicógrafos" ou "psicófonos" criam da própria mente e, claramente, destoam severamente dos aspectos pessoais originais dos mortos.
Mesmo figuras dotadas de muito status como Divaldo Franco e Chico Xavier, na verdade, estão incluídos nessa lista amarga. Os dois nunca passaram de católicos neo-medievais que se autopromoveram com a novidade de Allan Kardec. E, como "médiuns", revelaram sua incompetência quando trouxeram para o público obras supostamente mediúnicas que nunca passaram de um reles marketing religioso no qual o "morto" da ocasião era o garoto-propaganda.
Isso é gravíssimo e deveria causar preocupação séria por parte da sociedade e fazer juristas atuarem em mutirão para punir os "vendilhões das mensagens do além". Mas se até os herdeiros de Humberto de Campos - vítima da mais aberrante usurpação de um morto cometida pelo "movimento espírita" - caíram na lábia do sedutor Chico Xavier, e toda apropriação indébita é válida em nome do "trabalho da caridade", então o Brasil nunca sai dessa bagunça em que escolhe permanecer.
Se algum sequestrador, usando um falsete imitando um parente seu, lhe telefonasse falando mensagens positivas, palavras de amor, anunciasse obras de caridade e adotasse um tom de dicção paternal, você, leitor, acreditaria nesse trote? Isso é só uma amostra de como o mercado das "belas palavras" pode se tornar uma perigosa armadilha.
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