sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
PEC dos Gastos Públicos: como aceitar o status quo custou caro para a sociedade
Foi bom acreditar na superioridade de pessoas com a roupagem da "responsabilidade", do "respeito" e da "competência"? Foi bom lutar para derrubar um governo eleito pelo povo e pôr no lugar um governo de tecnocratas supostamente "mais moderados" no trato com a coisa pública? Foi bom participar de passeatas ridículas onde até neo-nazistas se solidarizaram com uma causa?
Há três dias, pagou-se um preço muito, muito caro por isso. Enquanto acreditamos no status quo de engravatados tidos como "salvadores da pátria", vemos emissoras de televisão que parecem "dizer a verdade" e endeusamos ídolos religiosos aos quais se permite até a fraude em nome do "pão dos pobres", vemos o Brasil naufragar com a aprovação da PEC dos Gastos Públicos ou PEC do Teto.
A medida congelará investimentos públicos, que já não eram muitos. Isso fará com que se falte, nas escolas, até o papel higiênico, que instituições deixarão de ampliar e traçar projetos de melhorias, que os professores receberão menos salários e seu trabalho será precarizado - ainda virá as reformas trabalhista, educacional e previdenciária para temperar a tragédia - e os hospitais ficarão cada vez mais lotados, sujos, sucateados.
Nem a ilusão de que a iniciativa privada pode resolver a situação deve ser considerada. O empresariado estabelece limites para investir em causas sociais, e o faz para obter retorno publicitário, isenção de impostos e mediante certas condições. Ele não vai investir em escolas que se disponham a debater a realidade cotidiana.
O deslumbramento com o poder, seja de âmbito econômico, tecnocrático, político, lúdico (fama), e mesmo o religioso, que se esconde sob uma aparente reputação de humildade e simplicidade, faz com que as pessoas levem gato por lebre. Ver um presidente idoso e aparentemente elegante, como Michel Temer, associado a uma coleção preocupante de graves escândalos políticos, é um preço caro por esse jogo de aparências.
Enquanto isso, a emissora de televisão que muitos veem confortavelmente, a Rede Globo, que aparentemente recuperou audiência - embora se desconfie de fraude, já que sintonizar rádios e TVs em estabelecimentos comerciais é um mecanismo para disfarçar baixa audiência empurrando a sintonia para ambientes coletivos com gente indiferente à mídia - , tem como donos uma família de empresários sonegadores de impostos e acumuladores de fortunas exorbitantes.
E as pessoas ficam felizes com isso. Veem no Jornal Nacional um dos irmãos Marinho ganhando prêmio e nem se indignam. Os irmãos acumulam em um mês o que o trabalhador em toda sua vida nunca irá alcançar. E é a Rede Globo que consagra os "heróis" políticos e midiáticos e os ídolos religiosos que as pessoas apreciam como se não viessem do poder manipulador da emissora.
É o caso do "espiritismo", que pelo jeito virou a "religião da Globo", para fazer frente à Igreja Universal, prestes a ter representante no município do Rio de Janeiro, assim que acabar o Reveillon. A roupagem de pretensa humildade, a "bondade" de fachada que serve mais para promover o "benfeitor" em vez do benefício, permite fraudes e desmitificações. Desde que seja "pelo amor do próximo", vale tudo.
Agora as pessoas aceitam um cenário político no qual até fascistas estão animados em cometer abusos. São elas que pagarão muito caro pelo apego ao status quo, pelo inicial otimismo, hoje transformado numa silenciosa vergonha, de confiar numa desastrada equipe só por causa de um bando de homens engravatados de linguagem jurídica e aparente tino administrativo, diferente dos esquerdistas que não apresentavam uma aparência "moderada" e "admirável".
Durante vinte anos os serviços públicos irão naufragar. A iniciativa privada vai intervir e vai pôr tudo por água abaixo, vide os problemas que recebemos, por exemplo, na telefonia móvel, depois de tanta euforia em ver as telecomunicações estatais sendo privatizadas e vendidas para grupos estrangeiros. Tudo pelo deslumbramento à "competência" e "responsabilidade" trazidos pela ilusão do status quo.
Denúncias de delatores da Operação Lava Jato enumeraram uma lista enorme de políticos "responsáveis" e "admiráveis", como o próprio Michel Temer e sua equipe, e os tucanos que "são a esperança" para os brasileiros se caso Temer tiver que sair, e as pessoas ainda tranquilas, vendo que as eleições indiretas serão o "remédio constitucional" - logo a Constituição que o povo deseja que fosse mutilada com as "reformas" e "PECs" - porque o povo "não soube votar".
Vemos desmontes de direitos sociais, ameaças de precarizar o emprego, disfarçar a situação atual aumentando o emprego, em quantidade, e rebaixando-o drasticamente, em qualidade, e os telespectadores do Jornal Nacional, em alegria que beira o débil-mental, acreditando que a economia vai crescer.
Até no Rio de Janeiro em imensa catástrofe social, sob todos os aspectos, mostra pessoas felizes, que não percebem o fedor do lixo que aparece nos calçadões das praias, e contam piadas, sorriem, como se estivessem no paraíso. E ainda riem dos problemas, quando eles são noticiados.
Se Pompéia, no trágico dia da erupção do Vesúvio, fosse uma cidade do Estado do Rio de Janeiro, as pessoas pensariam que a fumaça do vulcão fosse um churrasco e sua explosão de lavas, que atirava pedras de fogo sobre as cidades, um ato de algum vandalismo de torcidas organizadas de futebol.
O Brasil está culturalmente tão ruim que as pessoas não percebem os sintomas de sua grave doença. E um deles é justamente a indiferença a isso, e tal coisa se observa quando o mercado literário, em vez de se comprometer à busca do Conhecimento, é cada vez mais dominado por uma literatura "água com açúcar".
As desigualdades sociais aumentarão de forma estarrecedora. As classes ricas ficarão mais ricas, mas a vã esperança das classes médias de que as elites "responsáveis" repartirão o bolo, ao lado dos ídolos religiosos tão "humildes" e "comprometidos com a caridade", é uma fantasia sem nexo, porque o que os ricos vão fazer é ficar cada vez mais ricos, ricos e ainda mais ricos do que antes.
Temos uma catástrofe social em curso, na qual até organizações fascistas esperam abrir brechas para se inserir nos círculos de poder. É a chamada "convulsão social", que também encontra respostas à esquerda e abrirá caminho para conflitos tão graves que desafiarão a "alegria" debiloide de uma parcela de brasileiros que já não sente o fedor de caminhões de lixo velhos e mal conservados que estacionam ao seu lado. O Brasil pagará um preço caro por apoiar a plutocracia.
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