segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
Onda ultraconservadora e sua moral estranha
Internautas que não transmitem mensagens caluniosas reclamam de estarem com o protocolo de Internet incluído nas listas negras, bloqueando qualquer possibilidade de mandar mensagens nos fóruns da rede mundial de computadores.
A censura se deu apenas pelo simples fato de outras pessoas que não gostaram dos comentários que rompem com o "estabelecido" terem denunciado os pobres internautas. Denúncias por pouca coisa, se percebermos que, em outros casos, há uma trabalheira para denunciar e pedir a punição de blogues caluniosos que reproduzem textos e até fotos particulares de suas vítimas, sob fins de difamação.
Ultimamente vivemos um período de moral atrofiada, uma onda de moralismo ultraconservador que em certos casos soa sacerdotal e, em outros, gangsterista. Um moralismo contraditório que faz com que pessoas dotadas de "moral superior" permitam certas imoralidades, quando elas não trazem algum incômodo para o chamado "equilíbrio social" nos padrões hoje observados.
É uma sociedade contraditória. Sobretudo no Brasil. Que ao mesmo tempo define como "feminista" uma cantora de "funk carioca" com seus glúteos siliconados na cara da plateia, mas que também acolhe um homem que assassinou a namorada e saiu da cadeia para ser apresentado à família de uma nova namorada.
Uma sociedade machista, racista, obscurantista, moralista, que permite que cyberbullies mantenham páginas na Internet depois de causar o horror depreciativo contra discordantes, enquanto outros internautas, mas inofensivos, embora naturalmente polêmicos, não conseguem mais mandar mensagens porque seus protocolos de Internet estão bloqueados pela blacklist.
Temos autoridades políticas e juristas mantendo sua superioridade social à custa da deturpação das leis, da corrupção política e do tendenciosismo jurídico. Temos tecnocratas falando juridiquês para justificar medidas maléficas para a população. Temos pessoas pedindo morte aos petistas e com medo de ver morrerem, mesmo por doenças, assassinos ricos. Temos um poder midiático como a Rede Globo, transmissora de mentiras jornalísticas tidas como "verdades absolutas".
E no "espiritismo"? Temos a blindagem máxima, a maior impunidade que alguém pode conseguir na vida. A fraude "mediúnica", de mensagens que claramente contradizem aos estilos pessoais dos autores alegados, mas que valem impunemente pelo status religioso que representam.
Uma mensagem atribuída a uma moça que esteve entre os mortos da Boate Kiss apareceu rasurada. E muita gente aceitando isso, sem reservas. Mas desde que o caso Humberto de Campos gerou uma onda de complacência, tendo até o filho homônimo do escritor seduzido pela lábia de Francisco Cândido Xavier, "mediunidade" no Brasil virou um vale-tudo de "mensagens de amor e esperança".
O próprio Chico Xavier é o maior beneficiário de uma impunidade sem limites que ocorre no Brasil e que faz a Justiça punir pessoas dignas e liberar os indignos. Até parece que o nosso país entrou na Idade Média, e o que se nota é que um católico ortodoxo, mas paranormal, realizador de pastiches literários, tornou-se tão blindado pela sociedade que o anti-médium mineiro tentou até cooptar ateus e esquerdistas para aderir a esse figurão "espírita" que era deísta beato e ideologicamente direitista.
É uma moral muito estranha, que permite desonestidades, quando o status quo social é elevado. Temos que conhecer que moral é essa, que permite a alguns cometer crimes e fraudes impunemente e ainda ser carregado pela multidão, enquanto outros com personalidade mais digna mas sem um carisma aparente são alvos de punições severas e intransigentes.
Quais são as perspectivas sociais? Quem são os privilegiados e predestinados? Que tipo de justiça social é esta, tão restritiva? Não estariam sendo superestimados os critérios materiais de dinheiro, diploma, fama, idade, raça ou credo? Por que o Brasil está desejando se manter em diversos níveis de mediocridade e em zonas de conforto que sustentam valores retrógrados e tradições obsoletas?
A crise não pode ser empurrada com a barriga, e amaldiçoar quem denuncia. É como culpar o faxineiro pela sujeira que ele varre. Algo terá que ser feito, para conter a "revolta do bolor" que traz movimentos reacionários não só no Brasil, mas também no mundo, embora no nosso país eles se tornem mais intensos e ascendentes.
Alguma coisa tem que ser feita. Estamos vivendo o pior dos momentos, uma espécie de pesadelo social servido em doses kafkianas. Isso não é pessimismo, é realismo, e será preciso que muitas pessoas abram mão de convicções para perceber melhor a realidade. Se tudo ficar como está, o Brasil estará em situação ainda mais perigosa do que o alto perigo que já corre hoje.
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