segunda-feira, 28 de agosto de 2017
"Espiritismo" brasileiro e sua crise irrecuperável
O "espiritismo" brasileiro está numa das piores crises de seus 133 anos. A situação está insustentável, porque vieram à tona todo um acúmulo de equívocos trazidos desde quando o movimento preferiu seguir a orientação dos místicos, em detrimento dos científicos. A coexistência dos dois, longe de representar um equilíbrio, só provocou problemas que apenas são abafados momentaneamente.
Atualmente, o "movimento espírita" consiste numa Torre de Babel traçada por imenso acordo. Palestrantes e "médiuns" entram em choque em pequenas nuances da abordagem igrejeira que cometem, além da dissimulação que faz uns bajularem Erasto, outros admitirem Roustaing, uns falarem em "data-limite", outros discordarem disso etc etc etc.
Mas tudo isso é apenas uma tentativa de criar uma "desordem organizada", no qual todos deturpam a obra de Allan Kardec, mas adotam modos pessoais de dissimulação. Condenam a "vaticanização" no discurso, mas na prática são seus mais entusiasmados praticantes.
O aparato de "amor" e "caridade", o balé de belas palavras, a aparente facilidade dos deturpadores arrumarem desculpas para todo que fizerem, cria uma ilusão de que o "espiritismo" pode tudo, que o "espiritismo" é a única religião brasileira capaz de desafiar a lógica e o bom senso, na esperança de liquidá-los em prol de um "espaço reservado" para o contrassenso e as invencionices feitas ao sabor da fé deslumbrada.
Nos últimos anos, a "solidariedade espírita" se deu em torno da deturpação. A manutenção de muitos roustanguistas enrustidos representou toda uma sorte de hipocrisias, quando os palestrantes "espíritas" passaram a expor "corretamente" a teoria espírita original, mas praticam, até com mal disfarçado entusiasmo, o mais extremado igrejismo.
De que adianta expor a teoria espírita original se a mediunidade é fake? De outro modo, é também inútil "rechear" as mensagens supostamente espirituais com um conteúdo "mais verossímil", como nas dos jovens falecidos, antes escritas em tom estranhamente solene, hoje excessivamente coloquiais, havendo sempre o "efeito Jair Presente", que apresentou tais distorções extremas.
Mensagens "espirituais" acabam sendo produzidas como se fossem salgadinhos ao gosto do freguês. O próprio caso de Jair Presente (jovem engenheiro que faleceu em 1974) já ocorreu nos primórdios da "fase dúbia" do "movimento espírita", quando a primeira mensagem trazida por Francisco Cândido Xavier mostrava o habitual igrejismo e as mensagens posteriores mostravam um coloquialismo excessivo e forçado, estranhamente neurótico e por demais alucinado.
O próprio Chico Xavier deixou sua máscara cair, deixando de lado sua imagem "santificada" ao se irritar com os comentários justos dos amigos de Jair, que não conseguiam ver autenticidade alguma nas supostas psicografias. Paciência, eram pessoas que conviveram com Jair, sabiam como ele era e como ele se expressava com os outros. E Chico Xavier disparou um comentário bem ríspido, chamando a desconfiança dos amigos de Jair de "bobagem da grossa".
O "espiritismo" brasileiro apresentou, nos últimos 40 anos, uma série de circunstâncias infelizes. A religião mais blindada do país, embora não seja a mais popular - todavia, é a religião que conta com o apoio da Rede Globo - , tenta de tudo para manter uma imagem "limpa", lançando mão até de revistas ruins nas bancas, que ensinam tudo errado da Doutrina Espírita e reduzem Kardec a um boneco e servir de brinquedo para seus deturpadores brasileiros.
A situação, porém, está insustentável e a crise é irrecuperável. Isso porque a promessa dos deturpadores do Espiritismo em "aprender melhor Kardec", com uns até exagerando e forçando a barra na pretensão ao falar em "não apenas aprender, mas viver Kardec", nunca deu certo. Volta e meia e o velho igrejismo roustanguista que muitos julgam superado e combatido retorna com muito mais força do que se imagina.
Figuras de formação católica como os "médiuns" Chico Xavier e Divaldo Franco, ao serem promovidos a "líderes espíritas", deixam a doutrina refém do igrejismo, tornando inúteis os esforços como o de Alamar Régis Carvalho, que alega reprovar a "vaticanização", e de Orson Peter Carrara, que bajula o espírito de Erasto, porque até eles praticam o igrejismo de raiz roustanguista.
Há muita hipocrisia e antes os "espíritas" tivessem assumido renegar o legado de Kardec e assumir o roustanguismo de vez. A volta da velha promessa de "não apenas aprender, mas viver Kardec no dia a dia", será mais uma promessa em vão, porque o "espiritismo" continuará correndo atrás do próprio rabo, praticando o roustanguismo que esconde sob uma embalagem pretensamente kardeciana, dando apenas continuidade à "fase dúbia" que arruinou o Espiritismo no Brasil.
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