sexta-feira, 23 de junho de 2017

"Espiritismo" e a lógica do marido traíra

MUITOS IMAGINAM QUE ALLAN KARDEC ACEITARIA AS TRAIÇÕES À SUA DOUTRINA.

O "espiritismo" brasileiro é deturpado e movido à desonestidade doutrinária. Comete deslizes por opção, decidindo por más escolhas que, tardiamente, são dissimuladas pela vergonha causada pela repercussão negativa.

Extremamente igrejista, o "espiritismo" brasileiro se rebaixou a um sub-Catolicismo de cunho medieval, um clone mais mofado da Igreja Católica. As desculpas, usadas aqui e ali, atribuídas sobretudo à "afinidade com os ensinamentos cristãos" não procede, porque essa desculpa é meramente de cunho religioso e institucional.

As pessoas aceitam que o "espiritismo" traia Allan Kardec por uma série de desculpas: as "tradições religiosas" brasileiras, a "afinidade com Jesus Cristo", a "proteção espiritual de padres, freiras e santos", e, principalmente, "a opção pela caridade". Neste último item, é impossível evitar a seguinte pergunta: "Como assim"?

Quer dizer, é então possível deturpar o Espiritismo, com sua catolicização sem batina nem ouro mas com suas ambições à parte, pregando moralismo medieval, defendendo a Teologia do Sofrimento que Kardec nunca iria defender, falando bobagens como "combater o inimigo em si mesmo" que só incentivam o suicídio que os "espíritas" tanto condenam, e no entanto uma mera "filantropia" pode ser vista como "atestado de fidelidade a Allan Kardec"?

Imagine um homem que trai a própria mulher com suas aventuras na vida noturna. Ele tenta disfarçar, diz que fará uma "hora extra" de trabalho, e, por isso, não poderá voltar para casa cedo. Enquanto a esposa imagina que o marido está no seu rigor profissional que o obriga a ter mais tempo para a sua atividade, ele se esbalda em orgias ao lado da mulherada, eventualmente levando uma das amantes para o hotel.

Mas esse homem também é conhecido por atividades assistenciais (leia-se Assistencialismo). Doa mantimentos com regularidade, compra um enxoval de roupas para os pobres, entrega tudo isso numa casa de "caridade", joga bola com meninos pobres, compra cobertor que ele coloca em mendigos que estão dormindo na ocasião etc.

Será que estas atividades fariam do homem um marido fiel? Ele traindo a esposa é uma coisa, é um ato desonesto. Não haveria lógica em usar a "caridade" para atribuir a ele uma fidelidade conjugal, porque tal atitude é completamente diferente da infidelidade conjugal. Ele continua sendo um traidor ou, como a linguagem mais corrente, um "traíra".

As pessoas falam que o "espiritismo" brasileiro, só pela roupagem de "caridade", está sendo "fiel aos ensinamentos de Allan Kardec". Só que isso é falso, apesar da referência a uma de suas famosas frases, "fora da caridade não há salvação". Mas isso é muito mal interpretado e usado levianamente para defender a deturpação igrejeira, a "catolicização" que vai contra os conhecimentos trazidos pela Codificação.

Além disso, a "caridade" acaba sendo apenas um artifício para que se legitimem as pregações de ideias contrárias aos postulados kardecianos, e remetem mais a um bom-mocismo que serve para a promoção pessoal dos "médiuns". A "caridade" acaba sendo apenas um pano de fundo para práticas nada honestas do "espiritismo" brasileiro, nos quais até devaneios esotéricos são defendidos como "postulados espíritas", quando eles se encontram inexistentes na Codificação.

A metáfora do marido traíra é, portanto, bastante ilustrativa. Assim como a do político corrupto que não vai virar "honesto" distribuindo cestas básicas em campanhas eleitorais. Daí a necessidade de compreender que a suposta filantropia em nenhum momento inocenta os deturpadores do Espiritismo de seus atos levianos e nem os deixa imunes de sofrer os efeitos dessas más atitudes.

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