quarta-feira, 31 de maio de 2017
"Espiritismo" e o arrivismo no Brasil
O arrivismo é uma prática muito comum na sociedade, mas ela encontra seu terreno mais fértil no Brasil dos últimos tempos. Trata-se de uma prática de ascensão social movida pelo oportunismo na qual a pessoa usa de meios não muito lícitos de promoção pessoal, mas depois que se ascende essa mesma pessoa, sem se arrepender de seus meios de projeção, embarca em outras ondas, não se contentando em ter conquistado o que quis, mas querendo mais e mais.
É a funkeira que, depois de bancar o objeto sexual a ponto de remexer seus glúteos siliconados aos olhos do público da plateia, foi bancar a "militante feminista". Ou do cantor medíocre que fazia pastiches de samba ou música caipira em arranjos convictamente bregas, que num dado momento passa a querer ser "gênio da MPB" sem muito esforço. Ou do jornalista neoliberal que queria ser intelectual de esquerda, ou o radialista pop que queria se aventurar no segmento rock.
São exemplos muito comuns e não podem ser confundidos com exemplos de pessoas que fazem uma coisa, se arrependem e depois fazem outra coisa, ou de pessoas que querem realmente fazer algo diferente. O que se fala aqui são de pessoas que, primeiro, apelam para tudo no seu alpinismo social, para depois caírem de pára-quedas na causa mais arrojada de sua escolha.
O Brasil, movido pela mania de sempre acolher parcialmente as novidades, sacrificando sua essência ao sabor de velhos paradigmas, sempre acolheu os arrivistas, que, beneficiados pela memória curta, podem estar associados a uma causa que nunca defenderam naturalmente, ocultando um passado sombrio de práticas contrárias à respectiva causa e nunca tomadas de verdadeiro remorso.
O próprio "espiritismo" brasileiro foi impulsionado por um arrivista: Francisco Cândido Xavier. Um católico ortodoxo que se dizia paranormal e que se ascendeu através de uma literatura fake, na qual alegava receber obras supostamente de autores já mortos. A farsa, que nunca foi oficialmente reconhecida, é no entanto facilmente identificável, porque as obras "espirituais" apresentavam irregularidades graves quanto aos respectivos estilos dos autores alegados.
Chico Xavier foi o arrivismo em pessoa. No seu alpinismo social, ele se ascendeu através de uma polêmica desnecessária, por ter usurpado autores mortos e, com uma equipe de colaboradores, ter realizado pastiches literários para alimentar sensacionalismo. Não teve escrúpulos de montar plágios literários aqui e ali, e no seu estrelato, subiu os degraus do alpinismo social a ponto de hoje ser considerado um semi-deus entre seus fanáticos seguidores.
Chico Xavier deturpou o Espiritismo em todos os aspectos. Ele virou de cabeça para baixo a função antes discretíssima de médium, que perdeu a função intermediária original para ser dotada de culto à personalidade e alvo da mais mórbida idolatria religiosa.
Doutrinariamente, Chico desfigurou o legado de Allan Kardec, adaptando ao contexto brasileiro as ideias do livro Os Quatro Evangelhos do pioneiro deturpador J. B. Roustaing. Chico fez o que quis com o legado espírita, espalhando todo um igrejismo às custas de muita contradição e inspirando toda uma série de confusões e conflitos dentro do "movimento espírita".
Chico Xavier acabou promovendo a pretensa solidariedade do Bom Senso com o Contrassenso. Misturou ideias coerentes com outras absurdas, tudo em nome dos "ensinamentos cristãos", mas trazendo para o Espiritismo, na sua versão brasileira, práticas que seriam reprovadas sem um pingo de hesitação e com muita firmeza pelos próprios Kardec e Jesus de Nazaré.
E como no Brasil as pessoas gostam de contradição, por confundi-la com "equilíbrio" e "diversidade", o exemplo do anti-médium brasileiro inspirou toda uma série de arrivismos, embora também fosse um reflexo da mania arrivista que se desenvolve no Brasil, onde pessoas de retaguarda social, política, midiática ou cultural arrumam um meio pouco conveniente de ascensão social para depois se apropriarem de qualquer tendência de vanguarda.
Uma rádio que, por sinal, contratou um "médium espírita", José Medrado, a Rádio Metrópole FM, de Salvador, é um exemplo de arrivismo. Ainda sob o nome de Rádio Cidade, a emissora foi um dos veículos midiáticos arrendados pelo então prefeito da capital baiana, Mário Kertèsz, num grave esquema de corrupção em que obras urbanas de grande porte na capital baiana foram paralisadas porque o dinheiro dos cofres públicos federais foi desviado para as contas pessoais dele e seu parceiro Roberto Pinho.
O dinheiro era depositado em empresas "fantasmas", e Kertèsz desviou a parte que seria para as obras para seu patrimônio pessoal, comprando veículos de comunicação diversos. Todavia, ao longo dos tempos, teve que desfazer de parte de seu patrimônio a cada denúncia de corrupção. Em 2000, virou dublê de radialista através da Rádio Metrópole, cujo perfil é de rádio AM, numa ligeira comparação entre a Rádio Globo e a CBN.
Kertèsz é o típico arrivista. Foi prefeito biônico de Salvador numa primeira gestão (o referido esquema de corrupção já veio de uma segunda gestão), nomeado pela ditadura e filiado à ARENA. Depois se filiou ao PMDB e se fantasiou de político progressista, se apropriando dos movimentos sociais para tirar vantagem pessoal das forças de esquerda.
Eventualmente ele tenta se autopromover com o falso apoio ao Partido dos Trabalhadores e à pessoa de Luís Inácio Lula da Silva. Isso coloca a Rádio Metrópole numa postura tendenciosamente "diferente" da grande mídia, apenas por uma questão de conveniências. A título de comparação, Folha de São Paulo, TV Bandeirantes e Isto É também adotaram medidas parecidas e depois se revelaram altamente reacionárias.
O arrivismo revela, no típico caso brasileiro, que pessoas oriundas de tendências reacionárias ou contextos conservadores, mas depois pegam carona em causas de vanguarda - como a funkeira que se formou por paradigmas machistas, mas queria ser "militante feminina" mesmo empinando os glúteos para a plateia e tirando o sarro do estereótipo da "solteira liberada" - não estão aí para aprender, embora tentem alguns artifícios para dar a falsa impressão neste sentido ou acompanhar as conveniências do momento.
O pior é que os arrivistas são como canastrões que bancam os penetras em alguma festa, na qual nunca foram convidados, mas que o jogo de interesses posterior os faz não apenas frequentadores das festas que naturalmente nunca lhes interessariam, mas que em dado momento passam a ser sua obsessão, quando tais festas lhes servem de algum trampolim social. Tais festas podem ter eles como anfitriões, como raposas que de repente passaram a comandar o galinheiro.
Hoje muitos acreditam, por exemplo, que Chico Xavier é um "rigoroso seguidor" de Allan Kardec. Mal conseguem explicar por quê e caem em contradição. No caso de Kertèsz, há quem pense que ele é um "esquerdista nato" e um "combatente da mídia alternativa", algo muito equivocado porque ele apresenta, explicitamente, as mesmas caraterísticas do que especialistas definem como "barão da grande mídia", com todo o seu apetite pelo poder e manipulação da opinião pública.
Mas como, no Brasil, arrivista é surfista da praia alheia, as pessoas ficam impressionadas com certos aventureiros de causas arrojadas que, no fundo, nem de longe estão interessados em defendê-las. Eles querem apenas se vincular a essas causas visando obter vantagens pessoais.
terça-feira, 30 de maio de 2017
Mito do Brasil como "pátria do Evangelho" é herança de J. B. Roustaing
O mito de que o Brasil será o "coração do mundo" e a "pátria do Evangelho", trazido por Francisco Cândido Xavier usurpando indevidamente o nome de Humberto de Campos, é, comprovadamente, um conceito de herança roustanguista.
A leitura dos quatro volumes de Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing, revela um intuito semelhante, no qual o deturpador francês sonha com a reunião de várias religiões dom o Espiritismo, transformando-se numa religião-síntese nos moldes não da doutrina de Kardec, mas no Catolicismo medieval.
Roustaing virou um palavrão entre os "espíritas" brasileiros não apenas por causa do mito radical do "Jesus fluídico". Ele virou um palavrão porque simbolizou o poder central da Federação "Espírita" Brasileira num momento de conflito com as federações regionais. Daí que estas, por uma mera formalidade, passaram a "enfatizar" o nome de Allan Kardec, visando levar vantagem nesta conveniência.
Mas é J. B. Roustaing que mostra o conteúdo que no Brasil é mais conhecido nas obras de Chico Xavier e Divaldo Franco. E isso de maneira bastante explícita e não acidental. Chico e Divaldo, devemos admitir, nunca deturparam o Espiritismo por acidente ou boa-fé, até porque seus trabalhos neste sentido foram inúmeros, feitos durante longos anos e transmitidos a um enorme público de leitores e/ou ouvintes.
Diante disso, a "profecia" de Chico Xavier de que o Brasil será o "centro de difusão de ideais de fraternidade cristã no mundo", através do lema "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", além de ser um devaneio típico de um caipira conservador mas sonhador em ver o Brasil "mandando no planeta", é também uma adaptação do ideal roustanguista da "religião-síntese".
E olha que o referido livro no qual Chico Xavier e seu tutor, o presidente da FEB Antônio Wantuil de Freitas, escreveram a quatro mãos e atribuíram a brochura a uma obra (fake) de Humberto de Campos, supostamente trazida do mundo espiritual, foi uma encomenda do Estado Novo de Vargas num acordo para evitar a repressão policial às "casas espíritas".
A ideia do Brasil como "coração do mundo" e "pátria do Evangelho" é herança do igrejismo de Roustaing. Tanto que Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho mais parece uma adaptação brasileira de Os Quatro Evangelhos. Se rebatizasse o livro como Síntese de Os Quatro Evangelhos e a Missão do Brasil, seu sentido seria correto.
A ideia é igrejista. Colocar um país no centro de decisão político-religiosa, aos moldes do Império Romano, um discurso que os desinformados ficam entusiasmados de tanta paixão religiosa. O enunciado é lindo: um país que vai comandar o mundo e guiar as lições de fraternidade cristã para os demais povos do planeta. Mas o que está por trás disso é terrivelmente perigoso e ameaçador.
Países que sempre agiram por supremacia política e religiosa sempre tiveram ações sanguinárias. Em nome da implantação de uma causa, por mais "nobre" que seja, se destrói correntes contrárias, como um obstáculo a ser derrubado.
Foi assim que ocorreram "banhos de sangue" na Idade Média. Depois dela, com o Catolicismo jesuíta português ainda fincado em ideias medievais, um herege chegou a ser condenado à morte a pedido do "santo" José de Anchieta, e sob a concordância imediata do padre Manuel da Nóbrega, o mesmo Emmanuel que virou "pregador espírita".
Quem garante que a "pátria do Evangelho" não prescindirá de "banhos de sangue". Os "espíritas" já mostram sua vocação de fazer juízo de valor, e usarão como desculpas os "resgates coletivos" e "reajustes espirituais" para dizimar, se possível, cidades inteiras. Hoje a "pátria do Evangelho" é um projeto lindo como um jardim florido. Mas, amanhã, será mais uma teocracia a ameaçar a humanidade no planeta.
segunda-feira, 29 de maio de 2017
Brasil é tomado de espíritos vindos da Idade Média
A onda de retrocessos que acontece no Brasil e os surtos de saudosismo doentio que tomam conta de setores da sociedade brasileira - uns querendo uma volta a 1974, outros a antes da Revolução de 1930, outros antes da Lei Áurea, e outros para o século XVIII - revela que o país tornou-se um "depósito de lixo" do Primeiro Mundo.
Desde que o Brasil surgiu como "exílio" de degredados, até parece que seus paradigmas permaneceram, apenas com adaptações do tempo. De corruptos a estupradores, passando por pessoas ainda apegadas à libertinagem moral, eles parecem não apenas resistir ao tempo, mas praticamente serem "donos" da sociedade brasileira.
A luta do moralismo extremo, punitivo e vingador, e da libertinagem convicta, impulsiva e inconsequente, pela supremacia social é notória. Somos o país do "funk" libertino e dos movimentos neo-fascistas "caboclos" (que defendem Jair Bolsonaro e afins). Somos o país em que se queimam ônibus por uma simples raivinha, que manipulamos leis ao sabor de convicções de privilegiados, e que nos assustamos ao ver o "topo da pirâmide" arder em chamas.
A crise extrema que vive o governo de Michel Temer, que em seus doze meses de vigência não gerou mais do que uma sucessão de escândalos que só se agravaram com o tempo, revela o quanto hoje a sociedade de espíritos medievais tenta desesperadamente uma marcha-a-ré humanitária, forçando o retorno a um passado que não faz sentido.
Aliás, a um passado, não. Dependendo das intenções, volta-se a 1974, ou a antes da vinda da família real portuguesa (1808, marco dos primeiros processos de modernização do Brasil), na busca paranoica e doentia de antigas vantagens sociais que não podem mais ser recuperadas.
Dentro disso, a sociedade ainda imagina que o Brasil está preparado para o futuro, ou que muitos dos paradigmas que, na verdade, são retrógrados, são vistos como "modernos". Propostas como a reforma trabalhista e a previdenciária do governo Michel Temer revelam o quanto o "velho" tenta se impor com o rótulo de "novo".
Até pouco tempo atrás, novidades só eram introduzidas no Brasil mediante o pacto com forças retrógradas. Deste modo, em vez de uma novidade romper com paradigmas velhos, ela se adapta a eles, de forma que a essência original desapareça e se reduza apenas a uma fachada para um fenômeno velho que é reciclado e "renasce" sob um novo rótulo.
Sabe-se que até a Doutrina Espírita foi vítima disso. Ela acabou sendo introduzida de maneira distorcida, através do pioneiro deturpador Jean-Baptiste Roustaing, e os esforços de tentar recuperar as bases originais de Allan Kardec foram em vão, mesmo quando a "fase dúbia", vigente desde 1975, prometesse um suposto equilíbrio entre Ciência, Fé e Religião (embora Kardec, em vez de Religião, falasse apenas Moral).
A compactuação das ideias espíritas originais com o igrejismo roustanguista formatou um suposto Espiritismo feito no Brasil que se revelou profundamente igrejista. Até as promessas de "recuperação das bases kardecianas" se limitou à "letra morta" (ou "desencarnada"?) das palestras e artigos pedantes, que só mascaravam o igrejismo extremado, que aos poucos retomou o antigo vigor roustanguista, através do acolhimento da Teologia do Sofrimento.
Num contexto em que as redes sociais da Internet se transformam em versões tecnológicas dos antigos feudos medievais, ou, na melhor das hipóteses, em tímidas maçonarias, o "espiritismo" brasileiro está se transformando num Catolicismo medieval repaginado, um "outro Catolicismo" mais conservador escondido por baixo da fachada atraente que nunca desperta suspeitas.
O projeto da "pátria do Evangelho" atribuído ao Brasil por Francisco Cândido Xavier revela uma teocracia bastante perigosa. A experiência prova, como nos casos do Império Romano, da Alemanha ou mesmo do capitalismo dos EUA, que atribuir uma nação como um "centro do mundo" sempre sugere um poder centralizado, potencialmente autoritário e sanguinário.
Os "espíritas" contam até com uma arma perigosa, para o caso de uma teocracia "espírita", que pode "justificar" a eliminação de opositores: osmitos dos "resgates coletivos" e dos "reajustes espirituais", já que o "espiritismo" brasileiro defende a culpabilidade das vítimas sob o pretexto de que elas, ao sofrerem desgraças ou tragédias, estão "pagando por merecer".
A percepção das pessoas, mesmo a ignorância e o deslumbramento - principalmente quando se vê, na propaganda "espírita", paisagens celestiais de céu azul e nuvens brancas e ilustrações com coraçõezinhos vermelhos como cerejas - , também é uma percepção medieval, porque há uma compreensão simplória da vida na qual certas armadilhas não conseguem ser identificadas.
Hoje o Brasil precisa rever seus pontos de vistas e suas abordagens. No alto da pirâmide, observa-se que o governo Michel Temer, a grande mídia (como Rede Globo e revista Veja), o Supremo Tribunal Federal, a Operação Lava Jato, todos estão sucumbindo a contradições e desentendimentos aqui e ali, desafiando a confortável percepção, vigente até pouco tempo atrás, de que se tratava de um grupo comprometido com a coerência, a transparência e a imparcialidade.
No caso do "espiritismo", ainda há aqueles que tentam justificar a deturpação e querer que os próprios "médiuns" deturpadores "recuperem Kardec". Algo como pedir para as raposas reconstruírem o galinheiro. O Brasil precisa abrir mão desse ponto de vista que nada traz de positivo.
domingo, 28 de maio de 2017
Como a religião "espírita" mascara os preconceitos sociais
SERÁ QUE UM "ESPÍRITA" TERIA CORAGEM DE DEFINIR AS PESSOAS DESSA ILUSTRAÇÃO COMO "FELIZES" OU ATRIBUIRIA A ELES O PAGAMENTO DE "SUPOSTAS DÍVIDAS"?
Juízos de valor, apelos para paciência, supostas predestinações e outros sentimentos e percepções estranhas. Nunca o "espiritismo" brasileiro se mostrou tão moralista e tão desumano, por trás do espetáculo de belas palavras e de todo o aparato de "coisas tão agradáveis" que garante a blindagem absoluta até para seus piores erros.
A religião brasileira, que, embora evoque o nome de Allan Kardec, na prática se afastou completamente de seus ensinamentos, sofre a mais profunda crise de sua trajetória. Os "espíritas" ainda não perceberam essa gravidade e esperam mais uma "retratação" de seus contestadores e que se faça a mesma promessa de usar os próprios "médiuns" deturpadores para recuperar as bases doutrinárias originais. Algo como acreditar que a raposa possa reconstruir um galinheiro.
O caráter moralista do "espiritismo" brasileiro é um dado bastante sombrio por trás de toda a fachada que encanta a todos. Na "embalagem", o "espiritismo" se apresenta como religião "consoladora", marcada pela "simplicidade" e pelo "despretensiosismo", um movimento "ecumênico" que, em tese, "acolhe todas as crenças" e uma doutrina "espiritualista" que acredita na "vida após a morte" e cuja atividade principal é a "filantropia".
No conteúdo, porém, o que se vê é uma religião medieval e perversa, na qual supostos médiuns vivem do culto à personalidade e usurpam os mortos de sua escolha, "falando" por eles. Quase nunca se recebe das mensagens do além-túmulo, pois muito provavelmente os espíritos falecidos se afastam de supostos porta-vozes que, fora do manto da matéria e das impressões terrenas, por não confiar nos "médiuns" que demonstram se autopromoverem com a usurpação dos nomes dos mortos.
Aqui na vida terrena, em que as pessoas estão dominadas pelas sensações narcotizantes das paixões religiosas, os "médiuns espíritas" são pessoas "dedicadas à caridade" e "pensadores luminosos" que certos incautos classificam até como "filósofos".
A eles, aqui na Terra, se atribui o acesso ao céu, no retorno ao mundo espiritual. Mas, lá no mundo espiritual, esses mesmos "médiuns" são vistos sem a bela máscara que fascina tanta gente: lá os "médiuns" são vistos como farsantes, usurpadores, traiçoeiros, oportunistas, mistificadores.
É duro dizer isso aqui na Terra, porque sempre vem a turma do "não é bem assim" para defender os "médiuns", mesmo quando surge alguém dizendo que "é verdade que eles erram, sim". Tenta-se salvar a reputação de um "médium espírita" como o presidente Michel Temer tenta salvar seu mandato, aproveitando uma única vírgula que fosse escrita em seu favor.
Mas a verdade é que existem muitas coisas estranhas por trás do endeusamento aos "médiuns espíritas" e suas tradicionais desculpas, como a "bondade" e as "mensagens de amor". Com um pouco mais de atenção, nota-se que essas "mensagens de amor" nada têm da beleza que se atribui e a chamada "bondade" ou "caridade" se revela uma farsa chamada Assistencialismo.
O Assistencialismo é aquele tipo de "caridade" pontual, que até traz algum benefício, mas ele é pouco e inexpressivo, seja em quantidade ou qualidade. Não é uma ação transformadora e ela não se encoraja a encarar as injustiças sociais profundas, nem de longe ameaçando os privilégios das elites, que geralmente adoram esse tipo de "caridade", que, de maneira hipócrita, definem como "bondade plena e transformadora".
Há muitas estranhezas que fazem o "espiritismo" ser uma religião ainda mais sombria do que as seitas neopentecostais, hoje alvo de críticas imensas até na grande mídia. Mas até pouco tempo atrás, figuras como Silas Malafaia eram poupadas de qualquer crítica, e os neopentecostais eram considerados semi-deuses aos olhos da grande mídia e da opinião pública associada.
O conteúdo moralista expresso em vários conceitos, "próprios" do "espiritismo" brasileiro mas que seriam reprovados sem a menor hesitação por Allan Kardec, apela para coisas sinistras que, no entanto, os brasileiros, até pela sua formação predominantemente conservadora - que existe até em boa parte dos chamados "progressistas" - , aceitam com muita naturalidade.
O juízo de valor quanto a supostas encarnações antigas é um exemplo. O próprio Kardec desaconselhava essa prática, por ela representar riscos gravíssimos de, realimentando vaidades ou vexames antigos, possa criar mais conflitos, confusões e traumas. Mas, infelizmente, essa prática de supor "vidas passadas" é um recreio muito comum entre os "espíritas", envolvendo justamente figuras "acima de qualquer suspeita" como os "médiuns" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco.
Daí a grande gafe que o "médium" baiano fez atribuindo, de maneira generalizada e na base do "achismo", os refugiados do Oriente Médio de terem sido "tiranos colonizadores". É uma visão de profundo preconceito social que nem mesmo os eventuais terroristas que agem nas áreas da "civilização" podem justificar tamanha abordagem. O que Divaldo disse pode causar sérios danos morais a muitas famílias e lhe render um amargo processo judicial contra o "médium".
Da mesma forma, Chico Xavier perdeu a chance de pôr em prática sua tão alardeada, porém bastante duvidosa, imagem de "misericordioso", "humilde" e "caridoso", quando, no livro Cartas e Crônicas, de 1966, acusou as humildes vítimas do incêndio em um circo de Niterói, cinco anos antes, de terem sido "romanos sanguinários". O juízo de valor é de uma perversidade sem tamanho e casos similares já renderam processos judiciais.
A acusação também remete ao mito do "gado expiatório" que os "espíritas" definem como "resgates coletivos", atribuindo um suposto destino comum a tragédias que envolvem várias pessoas. Uma visão completamente equivocada e discriminatória, além de completamente ilógica, por atribuir até mesmo a grupos de pessoas desconhecidas entre si uma "missão espiritual" supostamente comum, se esquecendo que, se alguém "paga pelo que fez", esse "pagamento" é individual.
O mais grave é que Chico escondeu seu juízo de valor severo usando um duplo pseudônimo: "Humberto de Campos", por falsidade ideológica, e "Irmão X", para se livrar de processos judiciais, lembrando que Chico fez uma armação para seduzir Humberto de Campos Filho em 1957, apelando para os recursos de manipulação Ad Passiones (apelo à emoção) e exibição de Assistencialismo (caridade paliativa, que mais beneficia o "benfeitor" do que o necessitado).
O moralismo do "espiritismo" tem um lado ainda mais sombrio: a adoção dos princípios da Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica. É um efeito natural da "catolicização" do "espiritismo" no Brasil, de raízes fincadas no livro Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing, que gerou uma inclinação igrejista que vigora até hoje no "movimento espírita".
A Teologia do Sofrimento foi introduzida a partir dos apelos de Chico Xavier, ele mesmo um católico ortodoxo. Essa corrente apela para a aceitação do sofrimento, vendo a vida humana como se fosse uma "competição" ou um "serviço militar". A ideia é "quanto pior, melhor": aceitar desgraças sucessivas, perder o controle do próprio destino e virar um "brinquedo" das adversidades da vida, como um meio de "acelerar" a obtenção de "bênçãos futuras".
Nenhum "espírita" assumiu defender a Teologia do Sofrimento de forma nominal. Mas assumiu pela defesa de ideias próprias dessa corrente, o que é ainda mais grave. E esse moralismo sombrio é também fonte de profundos preconceitos sociais, tal qual o juízo de valor que, de forma generalizada e à revelia da Ciência Espírita, acusa sofredores de terem sido supostos algozes em outras vidas.
A Teologia do Sofrimento "espírita" é uma verdadeira apologia às injustiças sociais e mostra o quanto o "espiritismo" brasileiro é restritivo justamente na sua suposta qualidade que garante a maior blindagem que recebe (da mídia, da Justiça, da comunidade acadêmica, da opinião pública etc), como um "PSDB da religião", se não fosse o inferno astral que hoje sofre o partido político "tucano".
Isso porque o "espiritismo" brasileiro, através dessa abordagem moralista, tanto apela para os sofredores "aguentarem o sofrimento" quanto para "perdoar os algozes nos seus abusos". Ou seja, cria-se uma "fraternidade" hipócrita, na qual os sofredores têm que se contentar com suas desgraças e debilidades, enquanto aceitam, também, que privilegiados vivam longos anos em seus abusos.
Para piorar, o "espiritismo" acredita num processo chamado "fiado espírita", que faz com que pessoas possam praticar maldades ou demais abusos sem que sofressem profundas privações morais, às vezes até sofrendo alguns danos, mas no limite em que se preservem os privilégios e vantagens sociais. A ideia é "errar à vontade" para "pagar por tudo na próxima encarnação".
Os "espíritas", diante disso e diante das aflições dos sofredores, ainda adotam uma postura bastante sádica: a de, eventualmente, perguntarem: "O que é uma aflição de décadas diante da eternidade da verdadeira vida?". Isso revela a completa insensibilidade e desumanidade que está por trás da "linda embalagem" que faz do "espiritismo" a "religião mais querida do Brasil".
Pergunta-se se, nos tempos da escravidão, o tão tido como abolicionista e libertador "espiritismo" brasileiro iria dizer, para escravos castigados com instrumentos de tortura, que eles eram "felizes" e "abençoados" e que a terrível desgraça é uma "brilhante oportunidade" para se preparar para as "bênçãos futuras".
Ou então pergunta-se, de outro modo, se os "espíritas" julgariam os escravos como "pagadores" de uma "oportuna dívida", por terem sido "algozes" em alguma suposta encarnação mais antiga e que, se essa tese fosse verdadeira, provavelmente teria sido superada há anos.
Tanto num caso como em outro, os "espíritas" revelam sua cruel desumanidade, o que nos faz ver o sentido que teve uma pediatra do Mato Grosso em acusar uma menina de sete anos de ser "culpada" pelo estupro que sofreu por ter sido "sensual" em outra vida.
Juízos de valor, apelos para paciência, supostas predestinações e outros sentimentos e percepções estranhas. Nunca o "espiritismo" brasileiro se mostrou tão moralista e tão desumano, por trás do espetáculo de belas palavras e de todo o aparato de "coisas tão agradáveis" que garante a blindagem absoluta até para seus piores erros.
A religião brasileira, que, embora evoque o nome de Allan Kardec, na prática se afastou completamente de seus ensinamentos, sofre a mais profunda crise de sua trajetória. Os "espíritas" ainda não perceberam essa gravidade e esperam mais uma "retratação" de seus contestadores e que se faça a mesma promessa de usar os próprios "médiuns" deturpadores para recuperar as bases doutrinárias originais. Algo como acreditar que a raposa possa reconstruir um galinheiro.
O caráter moralista do "espiritismo" brasileiro é um dado bastante sombrio por trás de toda a fachada que encanta a todos. Na "embalagem", o "espiritismo" se apresenta como religião "consoladora", marcada pela "simplicidade" e pelo "despretensiosismo", um movimento "ecumênico" que, em tese, "acolhe todas as crenças" e uma doutrina "espiritualista" que acredita na "vida após a morte" e cuja atividade principal é a "filantropia".
No conteúdo, porém, o que se vê é uma religião medieval e perversa, na qual supostos médiuns vivem do culto à personalidade e usurpam os mortos de sua escolha, "falando" por eles. Quase nunca se recebe das mensagens do além-túmulo, pois muito provavelmente os espíritos falecidos se afastam de supostos porta-vozes que, fora do manto da matéria e das impressões terrenas, por não confiar nos "médiuns" que demonstram se autopromoverem com a usurpação dos nomes dos mortos.
Aqui na vida terrena, em que as pessoas estão dominadas pelas sensações narcotizantes das paixões religiosas, os "médiuns espíritas" são pessoas "dedicadas à caridade" e "pensadores luminosos" que certos incautos classificam até como "filósofos".
A eles, aqui na Terra, se atribui o acesso ao céu, no retorno ao mundo espiritual. Mas, lá no mundo espiritual, esses mesmos "médiuns" são vistos sem a bela máscara que fascina tanta gente: lá os "médiuns" são vistos como farsantes, usurpadores, traiçoeiros, oportunistas, mistificadores.
É duro dizer isso aqui na Terra, porque sempre vem a turma do "não é bem assim" para defender os "médiuns", mesmo quando surge alguém dizendo que "é verdade que eles erram, sim". Tenta-se salvar a reputação de um "médium espírita" como o presidente Michel Temer tenta salvar seu mandato, aproveitando uma única vírgula que fosse escrita em seu favor.
Mas a verdade é que existem muitas coisas estranhas por trás do endeusamento aos "médiuns espíritas" e suas tradicionais desculpas, como a "bondade" e as "mensagens de amor". Com um pouco mais de atenção, nota-se que essas "mensagens de amor" nada têm da beleza que se atribui e a chamada "bondade" ou "caridade" se revela uma farsa chamada Assistencialismo.
O Assistencialismo é aquele tipo de "caridade" pontual, que até traz algum benefício, mas ele é pouco e inexpressivo, seja em quantidade ou qualidade. Não é uma ação transformadora e ela não se encoraja a encarar as injustiças sociais profundas, nem de longe ameaçando os privilégios das elites, que geralmente adoram esse tipo de "caridade", que, de maneira hipócrita, definem como "bondade plena e transformadora".
Há muitas estranhezas que fazem o "espiritismo" ser uma religião ainda mais sombria do que as seitas neopentecostais, hoje alvo de críticas imensas até na grande mídia. Mas até pouco tempo atrás, figuras como Silas Malafaia eram poupadas de qualquer crítica, e os neopentecostais eram considerados semi-deuses aos olhos da grande mídia e da opinião pública associada.
O conteúdo moralista expresso em vários conceitos, "próprios" do "espiritismo" brasileiro mas que seriam reprovados sem a menor hesitação por Allan Kardec, apela para coisas sinistras que, no entanto, os brasileiros, até pela sua formação predominantemente conservadora - que existe até em boa parte dos chamados "progressistas" - , aceitam com muita naturalidade.
O juízo de valor quanto a supostas encarnações antigas é um exemplo. O próprio Kardec desaconselhava essa prática, por ela representar riscos gravíssimos de, realimentando vaidades ou vexames antigos, possa criar mais conflitos, confusões e traumas. Mas, infelizmente, essa prática de supor "vidas passadas" é um recreio muito comum entre os "espíritas", envolvendo justamente figuras "acima de qualquer suspeita" como os "médiuns" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco.
Daí a grande gafe que o "médium" baiano fez atribuindo, de maneira generalizada e na base do "achismo", os refugiados do Oriente Médio de terem sido "tiranos colonizadores". É uma visão de profundo preconceito social que nem mesmo os eventuais terroristas que agem nas áreas da "civilização" podem justificar tamanha abordagem. O que Divaldo disse pode causar sérios danos morais a muitas famílias e lhe render um amargo processo judicial contra o "médium".
Da mesma forma, Chico Xavier perdeu a chance de pôr em prática sua tão alardeada, porém bastante duvidosa, imagem de "misericordioso", "humilde" e "caridoso", quando, no livro Cartas e Crônicas, de 1966, acusou as humildes vítimas do incêndio em um circo de Niterói, cinco anos antes, de terem sido "romanos sanguinários". O juízo de valor é de uma perversidade sem tamanho e casos similares já renderam processos judiciais.
A acusação também remete ao mito do "gado expiatório" que os "espíritas" definem como "resgates coletivos", atribuindo um suposto destino comum a tragédias que envolvem várias pessoas. Uma visão completamente equivocada e discriminatória, além de completamente ilógica, por atribuir até mesmo a grupos de pessoas desconhecidas entre si uma "missão espiritual" supostamente comum, se esquecendo que, se alguém "paga pelo que fez", esse "pagamento" é individual.
O mais grave é que Chico escondeu seu juízo de valor severo usando um duplo pseudônimo: "Humberto de Campos", por falsidade ideológica, e "Irmão X", para se livrar de processos judiciais, lembrando que Chico fez uma armação para seduzir Humberto de Campos Filho em 1957, apelando para os recursos de manipulação Ad Passiones (apelo à emoção) e exibição de Assistencialismo (caridade paliativa, que mais beneficia o "benfeitor" do que o necessitado).
O moralismo do "espiritismo" tem um lado ainda mais sombrio: a adoção dos princípios da Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica. É um efeito natural da "catolicização" do "espiritismo" no Brasil, de raízes fincadas no livro Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing, que gerou uma inclinação igrejista que vigora até hoje no "movimento espírita".
A Teologia do Sofrimento foi introduzida a partir dos apelos de Chico Xavier, ele mesmo um católico ortodoxo. Essa corrente apela para a aceitação do sofrimento, vendo a vida humana como se fosse uma "competição" ou um "serviço militar". A ideia é "quanto pior, melhor": aceitar desgraças sucessivas, perder o controle do próprio destino e virar um "brinquedo" das adversidades da vida, como um meio de "acelerar" a obtenção de "bênçãos futuras".
Nenhum "espírita" assumiu defender a Teologia do Sofrimento de forma nominal. Mas assumiu pela defesa de ideias próprias dessa corrente, o que é ainda mais grave. E esse moralismo sombrio é também fonte de profundos preconceitos sociais, tal qual o juízo de valor que, de forma generalizada e à revelia da Ciência Espírita, acusa sofredores de terem sido supostos algozes em outras vidas.
A Teologia do Sofrimento "espírita" é uma verdadeira apologia às injustiças sociais e mostra o quanto o "espiritismo" brasileiro é restritivo justamente na sua suposta qualidade que garante a maior blindagem que recebe (da mídia, da Justiça, da comunidade acadêmica, da opinião pública etc), como um "PSDB da religião", se não fosse o inferno astral que hoje sofre o partido político "tucano".
Isso porque o "espiritismo" brasileiro, através dessa abordagem moralista, tanto apela para os sofredores "aguentarem o sofrimento" quanto para "perdoar os algozes nos seus abusos". Ou seja, cria-se uma "fraternidade" hipócrita, na qual os sofredores têm que se contentar com suas desgraças e debilidades, enquanto aceitam, também, que privilegiados vivam longos anos em seus abusos.
Para piorar, o "espiritismo" acredita num processo chamado "fiado espírita", que faz com que pessoas possam praticar maldades ou demais abusos sem que sofressem profundas privações morais, às vezes até sofrendo alguns danos, mas no limite em que se preservem os privilégios e vantagens sociais. A ideia é "errar à vontade" para "pagar por tudo na próxima encarnação".
Os "espíritas", diante disso e diante das aflições dos sofredores, ainda adotam uma postura bastante sádica: a de, eventualmente, perguntarem: "O que é uma aflição de décadas diante da eternidade da verdadeira vida?". Isso revela a completa insensibilidade e desumanidade que está por trás da "linda embalagem" que faz do "espiritismo" a "religião mais querida do Brasil".
Pergunta-se se, nos tempos da escravidão, o tão tido como abolicionista e libertador "espiritismo" brasileiro iria dizer, para escravos castigados com instrumentos de tortura, que eles eram "felizes" e "abençoados" e que a terrível desgraça é uma "brilhante oportunidade" para se preparar para as "bênçãos futuras".
Ou então pergunta-se, de outro modo, se os "espíritas" julgariam os escravos como "pagadores" de uma "oportuna dívida", por terem sido "algozes" em alguma suposta encarnação mais antiga e que, se essa tese fosse verdadeira, provavelmente teria sido superada há anos.
Tanto num caso como em outro, os "espíritas" revelam sua cruel desumanidade, o que nos faz ver o sentido que teve uma pediatra do Mato Grosso em acusar uma menina de sete anos de ser "culpada" pelo estupro que sofreu por ter sido "sensual" em outra vida.
sábado, 27 de maio de 2017
O atentado em Manchester e as predições da "Data-Limite"
O atentado em Manchester, ocorrido há poucos dias, foi um episódio chocante durante uma apresentação da cantora e atriz estadunidense Ariana Grande - conhecida pelo seriado Victorious - na histórica cidade inglesa, conhecida por sua indústria têxtil.
Foi na noite do dia 23 de maio de 2017, no Manchester Arena, depois que Ariana cantou uma última música. Balões haviam sido jogados para o clima de encerramento da apresentação, quando, de repente, fortes explosões foram ouvidas, cujo impacto causou várias mortes e dezenas de feridos. Na ocasião, 19 pessoas morreram, e mais outras três após o socorro médico. O terrorista Salman Abedi, de 22 anos, foi um dos mortos identificados mais tarde.
O episódio revela circunstâncias misteriosas que indicam a controversa trajetória do Estado Islâmico, grupo terrorista que depois assumiu a autoria do atentado. Segundo revela o portal Cinegnose, Manchester já havia sido pensada nas medidas de segurança contra o terrorismo e o aparente descaso da polícia inglesa em evitar uma tragédia dessas.
Consta-se, segundo o mesmo portal, que Abedi era de uma família que está associada a organismos de combate ao Islamismo e com relações com autoridades da OTAN (Organização Tratado do Atlântico Norte). O pai de Abedi chegou a aparecer em fotos ao lado do senador do Partido Republicano dos EUA, John McCain, e do atual presidente do referido país, Donald Trump.
A situação é muito complexa, e talvez não fosse bom apelarmos para a tradicional abordagem "espírita" que, mais uma vez, baterá na tecla do "resgate coletivo" e na atribuição de que as vítimas teriam sido "tiranos sedentos por sangue" em encarnações longínquas e virtualmente superadas.
Há toda uma reunião de contextos relacionados ao atentado, ocorrido no final de um evento de música pop, envolvendo um público de pessoas jovens e realizado em um país considerado um dos mais ricos e símbolo da ideologia político-econômica do Capitalismo.
Evidentemente, há o choque entre o reacionarismo "fundamentalista" do Estado Islâmico e o conservadorismo pragmático do Capitalismo, e questões de crise sócio-cultural que fazem com que o Primeiro Mundo entre num processo de decadência e de muitos impasses, como se viu na França, nos atentados contra a redação do periódico Charlie Hebdo e na chacina na boate Bataclan, durante outra apresentação musical, a da banda Eagles of Death Metal.
Isso não significa que o Hemisfério Norte está preparando a própria morte. Afinal, em termos comparativos, Europa e EUA, por serem regiões socialmente mais antigas, estão mais preparadas do que o Brasil para sofrer sérios impasses extremos, e hoje o nosso país sofre um profundo retrocesso político e um clima de desordem e desgoverno.
O que falta na Europa e EUA é como estabelecer tais soluções e como enfrentar movimentos de retrocessos sociais como o "fundamentalismo islâmico" ligado a atos terroristas, uma facção de retrocessos religiosos que pode divergir do Capitalismo quanto aos paradigmas de vida moderna, mas que são suspeitos de serem "jagunços" da geopolítica estratégica do Imperialismo capitalista.
Em todo caso, o cenário diverge, e muito, das predições que Francisco Cândido Xavier havia feito sobre a "Data-Limite". Em narrativa controversa dada por Geraldo Lemos Neto, mas condizente com muito do que havia escrito Chico Xavier, a "profecia" de que em 2019 o Hemisfério Norte caminharia para uma decadência e só seria poupado se aceitasse a "missão de fraternidade" trazida pelo projeto do "Brasil, Pátria do Evangelho".
Já questionamos o perigo desse mito da "pátria do Evangelho" atribuído ao Brasil, porque esconde um projeto imperialista de uma nova teocracia nos moldes do Império Bizantino. Tudo é bonito no enunciado, como o próprio enunciado do Catolicismo medieval também era bonito, falando da "religião de Cristo" feita pelos seus antigos algozes. A "pátria do Evangelho" seria um projeto de "espiritismo" feito sob o ponto de vista de seus deturpadores.
O que se pode dizer sobre o atentado no Manchester Arena é que ele reflete a mesma complexidade dos últimos tempos como nos atentados ao Charlie Hebdo, à boate Bataclan, a uma corrida em Boston (EUA), entre outros eventos. Revela uma série de relações entre modernidade e obscurantismo social, moral e cultural - neste caso, podemos incluir também a idolatria doentia do assassino da cantora Christina Grimmie - , além do profundo atraso mental nas redes sociais.
Esses são os problemas que nenhum messianismo religioso aqui e ali poderão resolver. Sobretudo o "espiritismo" e sua retórica da "pátria do Evangelho". Aliás, isso só pode piorar, na medida em que pretextos "fraternais" sugerem algo mais sombrio, que é a construção de uma teocracia a exercer supremacia político-religiosa sobre o resto do mundo, coisa que já produziu tragédias semelhantes em várias experiências.
sexta-feira, 26 de maio de 2017
A blindagem do "movimento espírita"
Estranha situação do "espiritismo" deturpado que o deixa numa vantagem bastante suspeita. Criam-se fakes literários ou de artes plásticas, veicula-se um moralismo velho, um igrejismo medieval e um espetáculo oco de belas palavras, e nada atinge o "espiritismo", que já tem como "pecado original" sua inclinação à catolicização de J. B. Roustaing.
Isso é muito preocupante. Qualquer um que tenha um casarão que supostamente atenda pessoas miseráveis e doentes e excursione pelo país transmitindo uma retórica enfeitada de belas frases pode se apropriar de um morto qualquer, criar uma mensagem fake e, dependendo do caso, enganar até mesmo os familiares, desde que capriche nos apelos igrejistas e nas palavras dóceis e igrejeiras.
Se o espertalhão tem tais requisitos e cria quadros falsos, ninguém mexe nele. Se ele cria fakes literários, com livros que não condizem com os estilos originais dos autores falecidos, tudo isso se deixa passar e cria-se até uma "obra paralela" para cada artista morto, uma produção supostamente espiritual que pode destoar do estilo original do autor alegado, desde que apresente mensagens "positivas" e "lições de vida".
O "espiritismo" brasileiro chegou a uma situação deplorável na qual o vazio doutrinário - a "fase dúbia" não cumpriu a "recuperação das bases kardecianas", que no fundo foi conversa para boi dormir - é compensado por aparente filantropia e pelo espetáculo de palavras dóceis que não medem escrúpulos para pregar um igrejismo entusiasmado.
Sim, o "espiritismo" que nunca se identificou de verdade com as obras racionais de Allan Kardec sempre se dissimulou ante qualquer irregularidade. Em muitos casos, a doutrina igrejeira se reduz a um mero receituário moral mais simplório e a um artifício de belas palavras e supostos atos de caridade.
Isso é assustador. Uma doutrina que renega seu precursor embora finja ser-lhe absolutamente fiel, é dotada da mais absoluta blindagem. Até pouco tempo atrás, o "espiritismo" era o PSDB da religião, até o referido partido político ser alvo de denúncias que não se pode mais esconder.
Ninguém desconfia, por exemplo, por que "espíritas" fazem tantas palestras para ricos, em troca de medalhas e títulos terrenos, enquanto a "caridade" que eles tanto praticam é frouxa, traz resultados medíocres, e isso quando traz algum benefício além de umas doações de proveito provisório.
Ninguém desconfia que, enquanto se esgotam os mantimentos das despensas das famílias carentes, duas semanas após a "transformadora caridade", os "espíritas" comemoram a referida doação, fazendo muita festa enquanto os "assistidos" voltam à carência de antes.
É muita comemoração para pouca caridade, com a clara intenção de promover mais os ídolos religiosos, em boa parte supostos médiuns, do que trazer benefícios aos necessitados. São supostas filantropias que têm mais apelo publicitário do que alguma função de transformação social, praticamente nenhuma.
E ninguém estranha, também, que os "médiuns" vivem em pleno culto à personalidade, se tornando estrelas, celebridades, atrações principais de um espetáculo de belas palavras e atos ostensivos de suposta mediunidade.
E ninguém desconfia dos arrivismos que fazem Francisco Cândido Xavier, Divaldo Franco, João de Deus e tantos e tantos outros alcançarem o Olimpo da adoração religiosa, a ponto deles serem considerados semi-deuses e muitos acreditarem que eles sempre tiveram em mãos o passaporte para o Céu.
Ninguém consegue admitir que essa atribuição divina a Chico Xavier, Divaldo Franco, João de Deus etc é apenas uma fantasia terrena movida pelas paixões religiosas e que, fora das impressões materiais da vida terrestre, esses "médiuns", quando retornam ao mundo espiritual, sofrem a chocante desilusão de serem não mais do que espíritos ordinários e mistificadores, exploradores da fé alheia.
E ninguém questiona coisa alguma. O mercado literário, a Justiça, a mídia, o meio acadêmico, todos apreciam esse "espiritismo" deturpado como se fosse a mais perfeita das doutrinas. O "espiritismo" sofre uma grave complacência em virtude do apego doentio que as pessoas têm às paixões da religião e outros apelos dissimularores e manipuladores.
quinta-feira, 25 de maio de 2017
O terrível impasse dos "espíritas"
Desesperados, os "espíritas" não conseguem admitir sua crise e ainda esperam a retratação de seus contestadores e em mais uma promessa de recuperar as bases kardecianas tendo os "médiuns" deturpadores em boa conta.
O "espiritismo" brasileiro anda em círculos e ainda tem a blindagem da grande mídia. Goza de uma imunidade tão grande que até as irregularidades das obras ditas "mediúnicas" se deixam passar. Basta fingir acreditar que a pessoa, quando morre, perde sua individualidade e doa seu talento para a caridade, passando a produzir algo "qualquer nota" em nome da "caridade".
Com irregularidades na atividade mediúnica e pregações de um moralismo conservador, além da chamada "vaticanização" de seus postulados, o "espiritismo" brasileiro vive a sua mais aguda crise, a mais extrema que pode sofrer um movimento religioso, pior do que a da Igreja Renascer em Cristo, o movimento neopentecostal que sofreu a pior decadência.
O "espiritismo" tenta abafar escândalos o máximo possível. Por sorte, conta com o apoio da grande mídia, sobretudo Rede Globo de Televisão e o Grupo Abril (principalmente Veja e Superinteressante, mas eventualmente também a Caras), dos meios jurídicos e acadêmicos e o consentimento oficial da sociedade, que vê nos seus ídolos pessoas consideradas "de elevado nível espiritual e moral".
Isso é um mito, se prestarmos atenção o quanto os "médiuns" são beneficiados pelo culto à personalidade que lhes tira qualquer função intermediária que deveria ser o princípio de sua atividade. E eles praticamente tornaram incomunicável o mundo dos mortos em relação aos vivos, porque a quase totalidade de mensagens "espirituais" é fake, consequência do hábito dos brasileiros médios de não terem concentração para determinadas atividades.
O apelo igrejeiro, com ideias herdadas de Os Quatro Evangelhos de Jean-Baptiste Roustaing, também é um sério problema. De que adianta os "espíritas" alegarem sentirem horror ou pesar à figura de J. B. Roustaing, se seguem suas ideias, devidamente adaptadas "com tempero brasileiro" pelos "médiuns" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco.
Querer que Chico Xavier e Divaldo Franco figurem em boa conta num esforço de recuperação das bases originais espíritas é uma utopia que, aplicada, não faz o menor sentido. A sorte é que as pessoas que seguem o "espiritismo" são muito desinformadas e só vão aos "centros espíritas" para ouvir palavras açucaradas em palestras igrejeiras, daí não entenderem as graves contradições que ocorrem no conteúdo das ideias trazidas pela doutrina brasileira.
Que "respeito rigoroso aos ensinamentos de Allan Kardec" se espera quando palestrantes, num artigo, falam da propriedade dos alertas do espírito de Erasto, e, no outro, atribuem suposta sabedoria ao igrejismo medieval de Emmanuel? Que "fidelidade absoluta a Kardec" se espera quando "médiuns" num momento falam em Ciência Espírita, e noutro defendem a "veracidade" de fantasias místicas e materialistas como "colônias espirituais" e "crianças-índigo"?
Apelar para a "fraternidade" e mostrar ações "filantrópicas" está sendo apenas a "solução" improvisada para a erosão doutrinária vivida pelos "espíritas". Reduzidos a um mero receituário moral e a clichês igrejeiros mais genéricos - como evocar os "ensinamentos de Jesus", com seus clichês católicos de "pacifismo" e "amor" - , o "espiritismo" nem por isso consegue se manter em situação favorável, apesar de toda blindagem.
A "solução" que gerou a "fase dúbia" - que é a promessa de "aprender melhor Kardec" - foi em vão, porque a "boa teoria" dos ensinamentos kardecianos acabou coexistindo, de maneira viciada, com práticas e ideias igrejeiras, transformando o "espiritismo" num engodo muito pior do que quando se assumia o apreço a Roustaing.
Isso significa que o "espiritismo" se encontra num sério impasse, diante da preocupação de ter que escolher entre abandonar a idolatria aos "médiuns" e abraçar de vez os postulados kardecianos, ou abrir mão de Kardec para salvar o igrejismo extremado dos "médiuns". Trocar Kardec por Roustaing pode ser uma medida nada confortável, porém muito mais sincera.
quarta-feira, 24 de maio de 2017
"Espiritismo" acaba revelando práticas condenadas por Jesus e Kardec
Num Brasil cada vez mais atolado numa areia movediça dos retrocessos sociais, o "espiritismo" brasileiro radicaliza ainda mais seu igrejismo, a ponto de se reduzir a uma versão repaginada do Catolicismo jesuíta, atualizando sua conduta medieval apenas fazendo concessões a práticas ocultistas e esotéricas de antigos "feiticeiros".
Os palestrantes "espíritas", em boa parte "médiuns" dotados de culto à personalidade, já se equiparam aos antigos sacerdotes fariseus, que se gabavam em "estarem próximos a Deus", e o cortejavam com seu balé de palavras belas e sua oratória ornamentada ao máximo possível.
Ultimamente, se acentua o preço caro pela escolha do roustanguismo e, depois, da dissimulação em que o roustanguismo era praticado enquanto o nome de J. B. Roustaing era jogado debaixo do tapete, enquanto o pobre do Allan Kardec era bajulado a todo momento (e nunca seguido, diga-se de passagem).
Hoje os "espíritas", apavorados com tantas críticas, se dividem entre chorar seu vitimismo e apedrejar os outros (afinal, eles se acham à porta do Céu). Acusam os outros de "intolerância", "ódio" e "falta de prece", revelando o quanto os "espíritas" se preocupam com o argueiro que não há nos que criticam a deturpação, e ignoram as traves de seus olhos, cegos por um roustanguismo praticado sob o manto do suposto respeito a Kardec.
Quantas práticas o "espiritismo" não faz que deixariam envergonhados Allan Kardec e Jesus de Nazaré? Podem haver mil palavras dóceis, ilustrações com coraçõezinhos, pinturas com um Jesus agigantado segurando o planeta com a palma de sua mão, e apelos sucessivos à "fraternidade", que tudo isso é na verdade uma cortina de fumaça para um igrejismo medieval e antiquado.
Os sacerdotes criticados por Jesus em seu tempo faziam as mesmas práticas que os retóricos da "mensagem espírita" fazem: textos rebuscados, palavras belas, bajulações aos grandes mestres, presunção de proximidade com Deus, como se estivesse em mãos o passaporte para o Céu. Já se supõem até os detalhes da "festa do Céu" que acolherá Divaldo Franco assim que ele for para a "pátria espiritual".
O "espiritismo", que tanto se autoproclama "religião da caridade" e "ciência do amor", investe tão pouco em caridade, jorrando meras migalhas financeiras para praticar Assistencialismo, arremedo de filantropia que não traz resultados profundos e antes serve para a promoção pessoal do "benfeitor" da ocasião.
Enquanto isso, quantos e quantos dinheiros são investidos para palestrantes "espíritas" viajarem em bons aviões e participarem de pomposos congressos, realizados em hotéis cinco estrelas, com medalhas, diplomas, condecorações e outros títulos terrenos à espera, que nem de longe se converterão em mais pão para os pobres e enfermos?
O desprezo aos avisos do espírito Erasto, depois tardiamente bajulado e mal interpretado sob um fingido apoio dos "espíritas" brasileiros, só fez com que a doutrina abandonasse seu pioneiro codificador para se rebaixar a uma versão informal do velho Catolicismo da Idade Média. Coisa que as eternas promessas de "aprender melhor Kardec" nunca resolverão, porque desde a "fase dúbia" se promete muito isso e o resultado vemos hoje, com o "espiritismo" brasileiro em crise.
terça-feira, 23 de maio de 2017
O "espiritismo" e o Brasil preso no atraso
Quem não está tomado de paixões religiosas poderá prestar muita atenção nas doutrinárias "espíritas" e nas reuniões ditas "mediúnicas", sobretudo aquelas que marcaram a trajetória ao anti-médium mineiro Francisco Cândido Xavier.
Serão observadas energias confusas e pesadas, não porque os "amiguinhos pouco inclinados" precisam "aprender", mas porque eles é que dominam os ambientes, já que o "espiritismo", que optou desde o início pela tendência igrejeira de Jean-Baptiste Roustaing, atraiu para si energias maléficas e nocivas para muitas famílias, que contraem azar com o menor contato "amoroso" com esta doutrina igrejeira.
O "espiritismo" é um reflexo de um Brasil que mistura ambições, dissimulações, fingimentos, e tantos sentimentos, sensações e intenções bastante sombrios, mascarados pela hipocrisia que apela para os mais belos aparatos de bondade, beleza e quase perfeição.
A religião que só evoca o nome de Allan Kardec no nome, todavia, comete traições da mais extrema gravidade aos seus postulados e alertas. Não adianta o "espírita" igrejeiro fingir "querer aprender Kardec" para ter boa conta no Espiritismo autêntico. Aprende a boa teoria, numa "decoreba" doutrinária, mas depois que sai da aula volta ao seu igrejismo mais gosmento.
O quanto o Brasil está atrasado. Nas redes sociais, o que se revelou foi que uma considerável parte dos brasileiros, mesmo aqueles de elite, diploma universitário e aparentemente com alguma base informativa razoável, ainda parece dotada de valores medievais, com sérios preconceitos sociais que o aparato de modernidade, ou a pouca idade e a aparente conectividade na Internet não conseguem esconder.
As paixões religiosas, que, fora do institucionalismo religioso, apelam para aparatos como o Assistencialismo e o Ad Passiones e se apoiam na pós-verdade para explicar qualquer absurdo ou retrocesso na vida, dentro da religião propriamente dita naufragam num mar de ilusões movidas pelo açúcar excessivo das palavras e das imagens comoventes ou alegres.
O "espiritismo" brasileiro tornou-se, então, um caso gravíssimo e é assustador que ninguém se encoraje a questionar essa religião, que na prática tornou-se uma "prima pobre" da Cientologia, fartamente denunciada nos EUA, com documentários exibidos até em emissoras comerciais. Aqui até a mídia mais progressista corrobora os devaneios "espíritas" mais próprios da Rede Globo de Televisão e da revista Veja.
A onda conservadora que varreu o Brasil a partir de maio de 2016, mas que já estava latente desde o começo da década de 1990 apela para uma agenda de retrocessos assustadora, porque, dependendo do saudosismo doentio de uns e de outros, podemos regredir, em alguns aspectos, ao ano de 1974, mas, em outros, pode-se regredir até antes de 1792. Há movimentos querendo a revogação até do Sete de Setembro, movidos por neuroses extremamente doentias.
E o próprio "espiritismo" regrediu tanto que a promessa de "aprender melhor Kardec", que foi o principal aspecto da "fase dúbia" que domina o "movimento espírita" desde 1975, foi em vão. O que se viu foi o acentuamento do igrejismo, mesmo mascarado por evocações pedantes e tendenciosas à Ciência e Filosofia, ao ponto de abraçar a Teologia do Sofrimento e rebaixar o legado kardeciano a uma forma repaginada do velho Catolicismo jesuíta, de caraterísticas medievais.
Que apenas Chico Xavier fosse um devoto da Teologia do Sofrimento (fato confirmado não por assumir teoricamente essa ideologia, mas pelas ideias professadas, ou seja, um "conteúdo" manifesto sem o "rótulo"), vá lá, pela formação social que ele teve. Mas a Teologia do Sofrimento, até pela influência que ele exerceu no "movimento espírita", passou a ser o maior princípio do "espiritismo" brasileiro, muito mais do que qualquer postulado kardeciano, mesmo os mais deturpados.
Até os meios de popularizar o "espiritismo" brasileiro enfatizam mais o igrejismo, como os romances "espíritas", as sessões "mediúnicas", as reuniões nos "centros espíritas", o conteúdo das publicações desta doutrina. Poucos percebem que muitas dessas ideias e práticas tidas como "kardecistas" (termo que já se torna pejorativo em relação a Kardec) são na verdade herança de J. B. Roustaing.
O atraso do "espiritismo" brasileiro é profundo e assustador, vendo que muitos incautos imaginam que Chico Xavier e Divaldo Franco são os "donos do futuro". Duas pessoas retrógradas, o primeiro um caipira ortodoxo e ultraconservador, o outro um sujeito com ares de professor dos anos 1930, dos velhos tempos da oratória rebuscada, das ideias truncadas e do pretenso saber hierarquizado, pomposo e pedante.
Evidentemente, quem é seduzido pelas paixões religiosas, acha que isso "não faz sentido". Vai tentar argumentar, com sua "ginástica intelectual" e seu malabarismo retórico, que isso "não existe" e que o "espiritismo" é futurista e que o Brasil é o "país mais moderno do mundo", e que no Brasil só os "romanos" é que sofrem os prejuízos graves tão conhecidos no nosso cotidiano.
São argumentos desesperados de gente que quer ter a posse da verdade, sem saber sequer a natureza das situações que existem, e que são bastante sombrias. Ver que os brasileiros estão regredindo até para os padrões sociais de 79 d.C, quando Pompeia e Herculano foram destruídas pelas lavas e pedras do Vesúvio. Quantos Vesúvios teria que ter o Brasil diante de tantas Pompeias e Herculanos?
segunda-feira, 22 de maio de 2017
"Espiritismo" e o poder descomunal da Rede Globo
Existe uma frase irônica que diz que o Brasil é uma concessão da Rede Globo. O poder descomunal e sem limites da rede televisiva, surgida em 1965, se expressa na determinação de comportamentos, costumes, gírias, visões de mundo, vestuários e até gosto musical, com um poder manipulador sem precedentes na História do Brasil. A Globo até escolhe e derruba presidentes da República de acordo com seus interesses estratégicos, se comportando como se fosse um partido político.
Se você fala "balada" para definir a "vida noturna" ou "galera" para definir todo tipo de grupo social, acha o ex-presidente Lula "o maior corrupto do Brasil de todos os tempos", adora ver futebol nos fins de noite de quartas-feiras, enxerga a realidade como se fosse uma novela e acha que tratar bem as crianças é fazer festinha todo fim de semana, isso significa que não há escapatória: você de alguma forma é influenciado pela Rede Globo, por mais que odeie a emissora.
Muitas pessoas também falam "cliente" em vez de "freguês", a ponto de alguns imaginarem por que Eduardo Paes, afeito a tantas tolices, não determinou a mudança de nome de dois bairros homônimos cariocas, na Ilha do Governador e em Jacarepaguá, de Freguesia para Clientela. Também é influência da Globo, que chegou ao ponto de definir como será o vocabulário a ser falado pela população.
Os "espíritas" também não sabem que a imagem de "filantropo" associada a Francisco Cândido Xavier, tão tida como "espontânea" e "natural", também é fruto da manipulação da Rede Globo, que precisava de um ídolo religioso "ecumênico" para tentar neutralizar a ascensão de pastores neopentecostais que arrendavam horário em emissoras concorrentes, como Edir Macedo, mais tarde dono da Rede Record.
Chico Xavier já era um ídolo religioso inventado pela habilidade publicitária do então presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, para impulsionar a venda de livros. Reunindo estereótipos de devoção católica, ingenuidade caipira e o apelo sensacionalista da suposta paranormalidade, Chico Xavier tornou-se um mito arrivista, mais próximo de um velocino de ouro do que de um equivalente brasileiro de Jesus de Nazaré, personalidade já bastante deturpada por católicos e evangélicos.
O mito de Chico Xavier, no entanto, era bastante confuso nas mãos do agressivo Wantuil. E a alegação, depois mentirosa, de que Chico "recebia" mensagens de literatos mortos, só causou problemas e foi essa malandragem que acabou trazendo ao "espiritismo" brasileiro as energias malévolas que acabaram permanecendo neste movimento religioso, por mais que seus líderes e adeptos reneguem tal realidade.
Chico Xavier era blindado pela Rede Tupi, o que mostra o quanto o poder televisivo adora mitos que misturem paranormalidade e beatitude católica. Um "católico sem ser católico" é o que o "espírita" acabou se tornando, virando uma marquize de fé para católicos não-praticantes com preguiça de encarar a ginástica do senta-e-levanta das missas dominicais.
Mas, morto Wantuil, Chico Xavier passou a ter o mito "redesenhado" pela Rede Globo de Televisão. Eliminaram-se os aspectos confusos e, da "mediunidade", destacou-se menos a suposta comunicação com os intelectuais do além-túmulo e se enfatizou mais as "cartas" dos "anônimos falecidos".
Fora esse detalhe, o mito de Chico Xavier obedeceu rigorosamente o roteiro que o inglês Malcolm Muggeridge bolou para outro mito religioso duvidoso, Madre Teresa de Calcutá. Tida como "símbolo de caridade", Madre Teresa, que por ironia se assemelhava fisicamente à Bruxa do Mar (Sea Hag, em inglês), vilã das estórias do Popeye, foi mais tarde denunciada pelo jornalista Christopher Hitchens por ter mantido doentes e miseráveis em condições sub-humanas em suas "casas de assistência".
Chico Xavier, que defendeu o golpe militar de 1964 e apoiou a ditadura, com suas próprias palavras, num programa de TV de grande audiência - e, hoje, também muito visto no YouTube - , seguiu o mesmo roteiro de Muggeridge: chegava a uma "casa de caridade", era recebido pela multidão, carregava bebê no colo, saudava populares, cumprimentava miseráveis nas ruas, entrava na casa, via doentes na cama e meninos pobres tomando sopa e depois ia à mesa no salão dar depoimentos que vão virar frases de efeito, supostos "pensamentos de sabedoria".
A Rede Globo, portanto, recriou Chico Xavier de uma forma "limpa", adaptando para o contexto brasileiro o roteiro de Malcolm Muggeridge no documentário sobre Madre Teresa e aplicou a fórmula em seus programas jornalísticos, a partir de uma edição do Globo Repórter, mas depois seguida pelo Fantástico e pelo Jornal Nacional.
As pessoas que levam naturalmente a abordagem televisiva como se fizesse parte de suas vidas pessoais passou a assimilar o mito de Chico Xavier naturalmente. Sem a batina católica, o "médium", promovido a um pretenso filantropo - praticando o mesmo Assistencialismo que serve para a promoção pessoal do apresentador Luciano Huck - , servia tanto para alimentar as fortunas dos dirigentes da FEB e federações regionais quanto para reforçar o poder da Rede Globo.
No primeiro caso, considerando que o poder centralizador da FEB deu lugar a um poder relativo frente às federações regionais, já que estas comandavam a "fase dúbia" do "movimento espírita" (um igrejismo fantasiado de "recuperação das bases kardecianas"), o mito de Chico Xavier, sem as confusões pitorescas da Era Wantuil, criava a esperada estabilidade de um ídolo religioso que fazia o "milagre" de vender livros e outros produtos que enriquecessem os cofres dos dirigentes "espíritas", sob o pretexto do "pão dos pobres".
No segundo caso, se permitia a popularização de um "católico sem batina" cujo apelo poderia ser "ecnumênico", atingindo, se possível, até os ateus. É um grande truque publicitário, que faria com que um ídolo religioso fosse adorado "sem pretensões" e "sem vínculos institucionais", ou seja, um ídolo religioso que ultrapassasse barreiras da própria religião "espírita", de forma a barrar a influência dos pastores eletrônicos das seitas neopentecostais, derivadas da pioneira Igreja Nova Vida.
Com isso, empurrava-se a adoração do moderno "velocino de ouro" que sempre foi Chico Xavier, alvo de doentias paixões religiosas (tão perigosas quanto as paixões do sexo e da fortuna) até para setores das esquerdas, em que pese o "médium" ter esculhambado os movimentos sociais, como camponeses e operários, na TV, e ter defendido a ditadura militar, pedindo para o povo orar em favor de generais (e, por conseguinte, torturadores) que "construiriam o reino de amor do futuro".
A "bondade" de Chico Xavier é tão fictícia quanto uma novela da Globo, pois vemos que sua "caridade" quase nada ajudou. Era muita ostentação para atos frouxos de mero Assistencialismo, parecidos com os que Luciano Huck faz ultimamente, que trazem muito pouca ajuda, não transformam a sociedade e só servem para a promoção pessoal do "benfeitor", idolatrado em excesso pelo muito pouco que fez.
Foi uma campanha tão bem construída que criou uma falsa unanimidade, o que mostra o quanto os efeitos da fábrica de consenso podem ser produzidos. A Globo determina que gíria deve ser falada ou que ídolo religioso deve simbolizar um paradigma de "bondade" que garanta o sossego dos privilegiados extremos, "resolvendo" a pobreza sem ameaçar as fortunas dos ricos e poderosos, e criando uma figura que se torna alvo de idolatria cega típica das mais mórbidas paixões religiosas.
As pessoas acabam achando tudo natural, assimilando o que a TV determina como se fosse a voz de suas próprias consciências. Isso é muito perigoso e mostra o quanto a mente de um executivo da Rede Globo pode, depois, se converter numa suposta vontade popular a ponto de ser endossada até mesmo por aqueles que aparentemente odeiam a emissora. Se a Rede Globo consegue exercer sua influência até nos seus detratores, isso significa um perigoso privilégio de poder. Um poder descomunal.
domingo, 21 de maio de 2017
Chris Cornell e o suicídio "por acidente"
A BANDA DE ROCK DE SEATTLE, EUA, SOUNDGARDEN - Chris Cornell é o terceiro da esquerda para a direita, sem jaqueta.
Há poucos dias, faleceu o cantor e guitarrista Chris Cornell. Tendo feito sua carreira com eventuais trabalhos solo e à frente de bandas como Soundgarden, Audioslave e Temple of the Dog, o músico era um dos nomes do grunge que marcou a cidade de Seattle, no noroeste dos EUA, na década de 1990.
O grunge foi um movimento marcado pela tragédia, desde quando ainda não fazia sucesso. Em 1990, bem antes do sucesso do Nirvana, o vocalista de outra banda, Andrew Wood, do Mother Love Bone, foi encontrado morto. Meses depois, os remanescentes do grupo formaram o Pearl Jam com outro vocalista, Eddie Vedder, que, pelo jeito, deve ser um dos principais sobreviventes do gênero.
Em 1994, foi a vez de Kurt Cobain, o controverso líder da banda Nirvana, que maior sucesso teve no grunge. Em 2002, o vocalista do Alice In Chains, Layne Staley, faleceu. Até o "forasteiro" do gênero, o grupo Stone Temple Pilots (que não veio de Seattle, mas de San Diego, Califórnia), teve sua tragédia: o vocalista original e fundador da banda, Scott Weiland, faleceu por overdose aos 48 anos, em 2015.
A maioria dessas mortes se deu por overdose, mas Chris Cornell seguia tratamento contra as drogas. Ele tinha que tomar um remédio para ansiedade, Ativan, cujos efeitos colaterais seriam uma angústia e um estresse extremos, que provocam desejos suicidas.
Segundo sua viúva, Vicky Cornell, o marido parecia bem. Além de seguir naturalmente sua carreira musical, ele parecia um marido e um pai exemplar. Fora esses efeitos causados pelo remédio, que além do mal-estar o faziam ficar com a mania de balbuciar palavras, ele levava uma vida normal e se relacionava bem com os familiares e amigos. Musicalmente, parecia mais experiente e consolidado como músico e compositor.
Chris Cornell morreu por enforcamento, aos 52 anos. O falecimento comoveu o cenário roqueiro e até o veterano Jimmy Page, famoso pela banda Led Zeppelin, elogiou o músico. A perda do líder do Soundgarden chegou a ser considerada como o fim de um cenário que já havia sido mutilado por tantas tragédias, e que parece ter nas bandas Pearl Jam e Mudhoney seus últimos remanescentes.
O "espiritismo" brasileiro costuma ter uma má vontade com suicidas. A doutrina igrejeira brasileira considera o suicídio um "crime hediondo", enquanto considera o homicídio um "crime culposo", expressando um moralismo estranho, que culpabiliza a vítima e transforma o algoz num "agente involuntário" de uma suposta justiça moral.
NINGUÉM SE SUICIDA POR DIVERSÃO
Cada vez mais voltado à Teologia do Sofrimento, já que o "espiritismo" brasileiro regrediu a ponto de, hoje, estar reduzido a uma versão repaginada do velho Catolicismo jesuíta do Brasil-colônia (é constrangedor ver o legado de Kardec reduzido, no Brasil, a um "outro Catolicismo", apenas sem as formalidades da Igreja Católica propriamente dita), o "espiritismo" não consegue compreender que ninguém se suicida por diversão.
Mesmo o entretenimento macabro do Jogo da Baleia Azul reflete neuroses ocultas por trás. O idealizador do jogo declarou que queria fazer uma "limpeza social" na humanidade, ao incluir o suicídio como "etapa final". Mas quem se suicida é porque têm em sua mente dificuldades e angústias que consideram incapazes de superar.
Os "espíritas" é que, em seu moralismo, acabam incentivando o suicídio. Confundem desgraça com desafio, sofrimento com aprendizado, e ainda ficam felizes quando pessoas acumulam desgraças aqui e ali, dizendo, com um mal-disfarçado sadismo, para as pessoas fazerem mais preces para superar as suas dificuldades extremas.
O moralismo "espírita" fala até em "amar o sofrimento" e apelam à pessoa a "combater sua pior inimiga, que é ela mesma". Diante desse apelo, os "espíritas" deveriam tomar muito cuidado com as palavras, porque esse papo de "vencer a si mesmo" é, na prática, um apelo acidental ao suicídio. E como o angustiado extremo não vê diferença entre sofrer na vida ou no além-túmulo, ela vai se destruir mais ainda ao ouvir que ela é "inimiga de si mesma".
O "espiritismo" não consegue ver as razões do suicídio. Reprova o suicídio até com raivosa energia, mas não consegue ver as condições que levam a pessoa a se matar. Nem todos têm os mesmos interesses e vontades, e as pessoas não só são empurradas para enfrentar barreiras de difícil superação, mas também oportunidades erradas, pressões de conveniências e um quadro de injustiças e desigualdades que só permitem que as pessoas compactuem para "vencerem na vida".
O Brasil é um país desestruturado, marcado pelo profundo atraso social, com forças diversas querendo que haja retrocessos que "devolvam" a sociedade brasileira a cenários lamentáveis em que apenas uns poucos detém vantagens exorbitantes, enquanto outros estabelecem a negociação do cheiro de mofo com o ar puro, com vantagem maior ao primeiro.
É essa volta forçada a 1974, época de uma "democracia" castrada, que hoje causa a crise política em níveis extremos, uma crise que não é muito diferente ao "espiritismo" de postura "dúbia" que se tornou incapaz de disfarçar sua intenção em ser tão somente um "outro Catolicismo", mais informal porém muito mais conservador.
E é esse conservadorismo que faz com que os "espíritas" condenem o suicídio, mas de maneira contraditória apelam para as pessoas aguentarem as muitas desgraças acumuladas na vida e enfrentem obstáculos difíceis de serem superados. E é gozado que, para uma religião que defende a servidão e a submissão, seus membros ainda pedem para os sofredores fazerem mais preces. Com tanto trabalho que os infortunados têm na vida, que tempo eles terão para se recolherem para orar?
Há poucos dias, faleceu o cantor e guitarrista Chris Cornell. Tendo feito sua carreira com eventuais trabalhos solo e à frente de bandas como Soundgarden, Audioslave e Temple of the Dog, o músico era um dos nomes do grunge que marcou a cidade de Seattle, no noroeste dos EUA, na década de 1990.
O grunge foi um movimento marcado pela tragédia, desde quando ainda não fazia sucesso. Em 1990, bem antes do sucesso do Nirvana, o vocalista de outra banda, Andrew Wood, do Mother Love Bone, foi encontrado morto. Meses depois, os remanescentes do grupo formaram o Pearl Jam com outro vocalista, Eddie Vedder, que, pelo jeito, deve ser um dos principais sobreviventes do gênero.
Em 1994, foi a vez de Kurt Cobain, o controverso líder da banda Nirvana, que maior sucesso teve no grunge. Em 2002, o vocalista do Alice In Chains, Layne Staley, faleceu. Até o "forasteiro" do gênero, o grupo Stone Temple Pilots (que não veio de Seattle, mas de San Diego, Califórnia), teve sua tragédia: o vocalista original e fundador da banda, Scott Weiland, faleceu por overdose aos 48 anos, em 2015.
A maioria dessas mortes se deu por overdose, mas Chris Cornell seguia tratamento contra as drogas. Ele tinha que tomar um remédio para ansiedade, Ativan, cujos efeitos colaterais seriam uma angústia e um estresse extremos, que provocam desejos suicidas.
Segundo sua viúva, Vicky Cornell, o marido parecia bem. Além de seguir naturalmente sua carreira musical, ele parecia um marido e um pai exemplar. Fora esses efeitos causados pelo remédio, que além do mal-estar o faziam ficar com a mania de balbuciar palavras, ele levava uma vida normal e se relacionava bem com os familiares e amigos. Musicalmente, parecia mais experiente e consolidado como músico e compositor.
Chris Cornell morreu por enforcamento, aos 52 anos. O falecimento comoveu o cenário roqueiro e até o veterano Jimmy Page, famoso pela banda Led Zeppelin, elogiou o músico. A perda do líder do Soundgarden chegou a ser considerada como o fim de um cenário que já havia sido mutilado por tantas tragédias, e que parece ter nas bandas Pearl Jam e Mudhoney seus últimos remanescentes.
O "espiritismo" brasileiro costuma ter uma má vontade com suicidas. A doutrina igrejeira brasileira considera o suicídio um "crime hediondo", enquanto considera o homicídio um "crime culposo", expressando um moralismo estranho, que culpabiliza a vítima e transforma o algoz num "agente involuntário" de uma suposta justiça moral.
NINGUÉM SE SUICIDA POR DIVERSÃO
Cada vez mais voltado à Teologia do Sofrimento, já que o "espiritismo" brasileiro regrediu a ponto de, hoje, estar reduzido a uma versão repaginada do velho Catolicismo jesuíta do Brasil-colônia (é constrangedor ver o legado de Kardec reduzido, no Brasil, a um "outro Catolicismo", apenas sem as formalidades da Igreja Católica propriamente dita), o "espiritismo" não consegue compreender que ninguém se suicida por diversão.
Mesmo o entretenimento macabro do Jogo da Baleia Azul reflete neuroses ocultas por trás. O idealizador do jogo declarou que queria fazer uma "limpeza social" na humanidade, ao incluir o suicídio como "etapa final". Mas quem se suicida é porque têm em sua mente dificuldades e angústias que consideram incapazes de superar.
Os "espíritas" é que, em seu moralismo, acabam incentivando o suicídio. Confundem desgraça com desafio, sofrimento com aprendizado, e ainda ficam felizes quando pessoas acumulam desgraças aqui e ali, dizendo, com um mal-disfarçado sadismo, para as pessoas fazerem mais preces para superar as suas dificuldades extremas.
O moralismo "espírita" fala até em "amar o sofrimento" e apelam à pessoa a "combater sua pior inimiga, que é ela mesma". Diante desse apelo, os "espíritas" deveriam tomar muito cuidado com as palavras, porque esse papo de "vencer a si mesmo" é, na prática, um apelo acidental ao suicídio. E como o angustiado extremo não vê diferença entre sofrer na vida ou no além-túmulo, ela vai se destruir mais ainda ao ouvir que ela é "inimiga de si mesma".
O "espiritismo" não consegue ver as razões do suicídio. Reprova o suicídio até com raivosa energia, mas não consegue ver as condições que levam a pessoa a se matar. Nem todos têm os mesmos interesses e vontades, e as pessoas não só são empurradas para enfrentar barreiras de difícil superação, mas também oportunidades erradas, pressões de conveniências e um quadro de injustiças e desigualdades que só permitem que as pessoas compactuem para "vencerem na vida".
O Brasil é um país desestruturado, marcado pelo profundo atraso social, com forças diversas querendo que haja retrocessos que "devolvam" a sociedade brasileira a cenários lamentáveis em que apenas uns poucos detém vantagens exorbitantes, enquanto outros estabelecem a negociação do cheiro de mofo com o ar puro, com vantagem maior ao primeiro.
É essa volta forçada a 1974, época de uma "democracia" castrada, que hoje causa a crise política em níveis extremos, uma crise que não é muito diferente ao "espiritismo" de postura "dúbia" que se tornou incapaz de disfarçar sua intenção em ser tão somente um "outro Catolicismo", mais informal porém muito mais conservador.
E é esse conservadorismo que faz com que os "espíritas" condenem o suicídio, mas de maneira contraditória apelam para as pessoas aguentarem as muitas desgraças acumuladas na vida e enfrentem obstáculos difíceis de serem superados. E é gozado que, para uma religião que defende a servidão e a submissão, seus membros ainda pedem para os sofredores fazerem mais preces. Com tanto trabalho que os infortunados têm na vida, que tempo eles terão para se recolherem para orar?
sábado, 20 de maio de 2017
Apoiado por "espíritas", governo Michel Temer sofre grave crise
2016. Com a saída de Dilma Rousseff e a ascensão do vice Michel Temer ao poder - implantando um projeto político oposto ao da titular afastada do poder - , os "espíritas" vieram com um novo discurso: pediram para os sofredores "amarem o sofrimento", "abrirem mão de suas próprias necessidades e talentos" e "perdoarem os abusos dos algozes".
De repente o "espiritismo" saiu do armário e vestiu a camisa da Teologia do Sofrimento (corrente medieval da Igreja Católica), que apenas era mais explícita na obra pessoal de Francisco Cândido Xavier (mesmo aquelas que supostamente levam os nomes de personalidades mortas, famosas ou não).
Eram apelos por vezes taxativos, que pediam para o sofredor deixar de reclamar da vida e conhecer as "belas lições" das desgraças acumuladas. Uns até diziam para as pessoas "olharem os passarinhos", ver o "rio tomando seu curso" etc. A frequência com que os "espíritas" faziam tais apelos chamava a atenção e sugeria uma imagem subliminar.
Embora os "espíritas", aparentemente, não tenham dado ênfase ao apelo de "orar pelo novo governante para que ele governe pensando no próximo e baseado nos princípios cristãos", o "espiritismo", no fundo uma religião ultraconservadora, deixou subentendido seu apoio ao governo do presidente Michel Temer, hoje em crise por causa de denúncias dadas por empresários do grupo JBS, que controla vários setores, como alimentos (em especial carnes), higiene pessoal e calçados.
Algumas posturas sinalizam isso. Periódicos como "Correio Espírita" e "médiuns independentes" (sem vínculo com a FEB) como Robson Pinheiro associaram as passeatas do "Fora Dilma" a supostos processos de "regeneração" e "despertar da humanidade", mesmo quando tais manifestações exibissem cartazes nazistas, apelos pela "intervenção militar" (eufemismo para golpe militar) e seus grotescos líderes juvenis estimulassem seus seguidores até a baixarem as calças em plena rua.
A situação fez o "espiritismo" cair a ficha e revelou o lado sombrio da "fase dúbia", a contraditória etapa do "movimento espírita", vigente desde a saída de Antônio Wantuil de Freitas da FEB em 1971 e sua morte em 1974, na qual os "espíritas" igrejeiros fingiram abandonar o roustanguismo para prometer uma nunca praticada "recuperação das bases kardecianas originais".
A "fase dúbia", que se autoproclamava "kardecista" (termo que se tornou pejorativo entre os espíritas autênticos, que preferem a denominação "kardeciana") e prometia "kardequizar" (termo que subentende um igrejismo dissimulado, sugerindo uma corruptela do termo "catequizar"), reduziu a apreciação das ideias originais de Allan Kardec à palavra morta (ou desencarnada?) da teoria, mas a prática não só continuava sendo igrejeira e catolicizada como ela se acentuou mais neste sentido.
A catolicização se acentuou sobretudo nas atividades "espíritas" de entretenimento, como a veiculação de romances, novelas e canções "espíritas" que mais parecem versões informais do Catolicismo, aliadas de uma ótica "espiritualista" que lembra mais os contos de fadas, com dramalhões moralistas dignos dos mais piegas folhetins televisivos.
O "espiritismo" acabou entrando no "espírito do tempo" (olha o trocadilho), no qual empresários, celebridades e até esportistas passaram a deixar claros seus preconceitos sociais e suas intenções de reverter as conquistas sociais do povo, defendendo retrocessos sociais profundos que façam mais as pessoas sofrerem do que serem beneficiadas de maneira profunda e definitiva.
Se, por exemplo, o publicitário Nizan Guanaes passou a defender as medidas impopulares de Michel Temer e o empresário da "moderna" loja Riachuelo (que agora usa a insólita logomarca RCHLO), Flávio Rocha, defendendo a precarização do emprego, vemos Divaldo Franco sorridente acusando, no seu juízo de valor, os refugiados do Oriente Médio de terem sido "tiranos colonizadores" em encarnação anterior.
O "espiritismo" mostrou a que veio, como se fosse uma versão "modesta" da Cientologia, e provou ser na verdade um subproduto de uma sociedade ao mesmo tempo ultraconservadora e dissimulada, metida a moderna, como se pudesse subordinar o futuro ao passado mais retrógrado. Tornou-se a religião do neo-conservadorismo, até mais do que as seitas neopentecostais, que podem ser "neo" pentecostais, mas seu conservadorismo, pelo menos, é assumidamente "velho".
Já o "espiritismo" é o "velho" travestido de "novo". A gente até pergunta se o governo Temer é um governo "espírita". Todos os ingredientes estão lá: um moralismo castrador, a precarização da vida na perspectiva de "melhorias futuras", a renúncia aos próprios projetos de vida, a restrição da qualidade de vida, etc. Temer chegou a citar a frase "Não fale de crise, trabalhe!", lembrando Emmanuel: "Não reclame! Trabalhe e ore!".
O "espiritismo" brasileiro chegou ao ponto de, com seu moralismo e igrejismo extremos, regredir aos moldes do Catolicismo jesuíta do Brasil-colônia. Na prática, rebaixou-se a uma versão repaginada do Catolicismo medieval, porque se comporta mais como um "outro Catolicismo", sem as formalidades da Igreja Católica, mas também com velhos valores católicos que os católicos propriamente ditos abandonaram. O "espiritismo" vive do lixo descartado pela Igreja Católica.
E, diante da crise aguda do governo Temer, o próprio "espiritismo" vive também uma grave crise. Com uma série grande de contradições que não se resolvem, os "espíritas" tentam apelar, além dos aparatos de Ad Passiones (imagens e textos que apelam para a emoção) e Assistencialismo (caridade que pouco ajuda e só promove o "benfeitor" da ocasião), para uma "solução" que na verdade foi a fonte do próprio problema, a "promessa de estudar melhor a obra de Kardec".
Essa promessa já foi feita na "fase dúbia", diante da crise do roustanguismo, do fim da Era Wantuil e das crises no "movimento espírita" que reduziram o poderio da FEB e fizeram roustanguistas históricos "virarem kardecistas" para agradar personalidades como Herculano Pires e Deolindo Amorim, espíritas autênticos que denunciaram a deturpação.
Pois essa promessa é que deu com os burros n'água. Os deturpadores prometeram "estudar melhor Kardec" e continuaram praticando seu igrejismo, enquanto fingiam compreender a teoria kardeciana. Agora que suas contradições vêm à tona, fazem a mesma promessa, como cães que correm atrás do próprio rabo. Só que será a mesma coisa de hoje, e as contradições nunca se resolverão. Daí a crise aguda do "espiritismo" brasileiro, no Brasil do governo "espírita" de Michel Temer.
sexta-feira, 19 de maio de 2017
Nos acostumamos mal com o "espiritismo" deturpado
O Brasil vive uma situação vergonhosa. Se acostuma fácil com absurdos e realidades surreais, convivendo com eles durante décadas, a ponto de reagir, não só com estranheza, mas com certa indignação, quando se revela a verdadeira natureza de tais absurdos.
Há pelo menos 73 anos, convivemos com um "espiritismo" que fingimos estar de acordo com as ideias de Allan Kardec. De fato, o "espiritismo" brasileiro era deturpado até uma década antes da fundação da Federação "Espírita" Brasileira, mas ele se consagrou quando a Justiça se recusou a punir a farsa "psicográfica" de Francisco Cândido Xavier e seu "Humberto de Campos" que falava mais como um melancólico padre católico do que o altivo intelectual que era o autor maranhense.
Coisas absurdas, quando se consagram, ganham um aspecto de falsa estabilidade. É como num cálculo complexo de Matemática, que envolve várias operações, das quais a primeira é feita de maneira errada, enquanto as outras aplicadas corretamente. O resultado será sempre errado, mas o aparato dos bons cálculos depois do primeiro malfeito dá a falsa impressão de ser um cálculo corretíssimo do começo ao fim.
As pessoas não percebem o fedor de certos ambientes, as armadilhas sob a relva, o excesso de "açúcar" em palavras e narrativas aparentemente belas, e permanecem nas zonas de conforto de tal forma que acreditam até em maneiras erradas de sair da zona de conforto.
Vivemos num país cheio de erros gravíssimos e achamos natural. Muitos tentam até manter essa situação, porque lhes parece agradável, misturando pompa excessiva, pieguice e falsa modéstia aqui e ali. Como numa operação matemática começada errada, as pessoas tentam criar uma falsa estabilidade num contexto social brasileiro que deixa o resto do mundo de cabelos em pé.
Ser medíocre, sórdido e dissimulado, no Brasil, é erroneamente considerado como originalidade, e isso nunca fez o país sair da situação viciada em que se atola, se apegando a paradigmas de atraso diante de várias desculpas, como a falsa promessa do atraso "se modernizar" e do sórdido se "limpar", além de sempre apelarmos para o "velho" para conduzir o "novo" no nosso país.
Para conduzir a Doutrina Espírita, por exemplo, apelamos para um caipira ultraconservador, com uma mentalidade ainda apegada ao Segundo Império e que era um católico ortodoxo, de inclinação medieval. E o pior é que as pessoas se apegam a ele por uma idolatria cega e excessivamente piegas, que também é uma demonstração de um sentimentalismo velho, que cheira a mofo tóxico misturado com poeira forte acumulada há muitos e muitos anos.
Sim, estamos falando exatamente de Francisco Cândido Xavier, do Chico Xavier que ainda é alvo de extrema idolatria de seus fanáticos seguidores ou de simpatizantes que, agindo por boa-fé, se deixam levar pelo estereótipo do "velhinho frágil" de "sorriso choroso" que representa velhos paradigmas de devoção religiosa e virtudes morais ideologicamente conservadoras.
O Brasil é extramente conservador e frequentemente nos chocamos quando vemos pessoas que pareciam modernas se revelarem tão obscurantistas. Não se trata apenas de um rebelde Lobão, roqueiro que se revelou ultrarreacionário, nem de jovens com aparência de surfistas que nas redes sociais defendem a intervenção militar e se declaram fãs de Jair Bolsonaro.
Mesmo pessoas tidas como progressistas, como artistas performáticos, ativistas feministas, pessoas de comportamento provocativo etc, se revelam conservadoras. O Brasil acumulou tanto seu conservadorismo que aqui o feminismo precisa negociar duplamente com o machismo para ter vez na sociedade brasileira.
Nesta negociação, ou a mulher trabalha seu feminismo sob a "proteção" de um marido poderoso - seja ele empresário, político, executivo ou profissional liberal - , ou ela se submete ao machismo recreativo fazendo o papel de "objeto sexual".
Nos últimos tempos, diante da crise da hipersexualização brasileira, a cantora de "funk" Valesca Popozuda tornou-se remanescente entre aquelas que ainda se projetam não só com a imagem de "objetos sexuais" mas como arremedos sutilmente depreciativos da imagem da "feminista solteira", que no Primeiro Mundo nada tem a ver com "funk" nem com hipersexualização.
O que se vê é que o Brasil acumulou mofo em seus valores sociais. Mesmo quando havia os governos progressistas de Lula, o ultraconservadorismo social era latente, em muitos casos escancarado (como na campanha de veículos midiáticos como Rede Globo e Veja), em outros dissimulado (quando pessoas reacionárias em valores culturais fingiam um falso progressismo político visando obter vantagens e promoção pessoal).
Até a chamada "cultura popular" foi alvo de uma campanha que visava mais manter os padrões simbólicos da pobreza social - como o alcoolismo, a prostituição e o comércio de produtos velhos, piratas ou clandestinos - do que desejar melhorias ao povo pobre, que só poderia ser "assistido" pelo paternalismo da intelectualidade complacente, uma espécie de Assistencialismo cultural.
E aqui entra um grave problema que se torna a desculpa usada para defender os deturpadores do Espiritismo e garantir a reputação deles. É o Assistencialismo que, em muitos casos, é feito sob o rótulo de "Assistência Social".
Sabe-se que Assistência Social é uma filantropia que transforma profundamente, não raro ameaçando os privilégios dos ricos, enquanto o Assistencialismo é apenas uma filantropia pontual e parcial, que beneficia muito pouco e expõe mais o benfeitor, que se promove demais com tão pouca ajuda.
Não bastasse o "médium espírita" ser uma monstruosa aberração no Brasil, devido ao "culto à personalidade" que os ditos "médiuns" recebem por virarem dublês de pensadores a espalhar a deturpação espírita, eles, com seu arremedo de filantropia, representação típica do Assistencialismo que hoje é questionado através do exemplo midiático de Luciano Huck.
Poucos percebem o quanto é vergonhoso haver, no caso das caravanas "filantrópicas" de Chico Xavier, tanto espetáculo, tanta ostentação e tanta euforia, além de tanto aparato de fileiras de carros desfilando pelas cidades, só para uma mera doação de mantimentos e roupas velhas. Os mantimentos, entregues a famílias numerosas ou a muitos indivíduos pobres, se esgotam em duas semanas, mas o "carnaval" feito pelo Assistencialismo dura, no mínimo, um ano.
Poucos também percebem o quanto o suposto "maior filantropo do Brasil", Divaldo Franco, é tão festejado por sua Mansão do Caminho que não ajuda 1% da população brasileira, enquanto o suposto médium faz pomposas turnês pelas maiores cidades da Europa e dos EUA, fazendo palestras para ricos, recebendo medalhas e títulos e só trazendo migalhas para os assistidos, enquanto o bairro de Pau da Lima é entregue à criminalidade ocorrida até à luz do dia.
É até risível que os brasileiros endeusem demais quem ajuda pouco, achando que basta ter um rótulo religioso para ser considerado "filantrópico" (uma noção tipicamente medieval, submeter a bondade a um subproduto da religião). Isso quando os mesmos brasileiros são convidados a desmoralizar com muito ódio o ex-presidente Lula, que buscava resolver as mais aprofundadas desigualdades sociais com seu projeto político progressista de valorização do emprego e qualidade de vida.
Constatações assim chocam as pessoas, que, diante de um Brasil emporcalhado com valores retrógrados e injustiças sociais aprofundadas, se acostumam com essa realidade cruel e absurda, em muitos e muitos aspectos. Quando pensam em sair da "zona de conforto", jogam fora o que mais precisam, enquanto se apegam ao supérfluo, ao fútil e até ao nocivo.
quinta-feira, 18 de maio de 2017
Quando o sofredor torna-se escravo das ilusões dos outros
Em muitos casos, o problema, no sofrimento humano, não é a desilusão nem a desgraça em si. Se ocorrerem na dose moderada, como um remédio tarja preta para uma doença grave, a pessoa pode até aprender certos impasses e armadilhas e conhecer seus próprios limites.
O grande problema é que, além das desilusões e desgraças serem excessivas e, em muitos casos, há mais prejuízos do que desafios - como a pessoa que, querendo promover um debate na Internet, é vítima de cyberbullying e ganha até blogue de difamação de um desafeto mais afoito - , os sofredores ainda têm que ser escravos das ilusões dos outros.
Isso cria um enorme quadro de injustiças. Afinal, existem pessoas que sofrem demais, acumulando sobressaltos, traumas, decepções pesadas e estresses que mais as desanimam do que revigoram, e outras que naufragam no mar da ilusão sem fim.
E como a realidade não é tão simples como se imagina, vemos o quanto pessoas que se dizem ter jogo de cintura e capacidade de darem a volta por cima são impotentes. Há até casos, nas famílias, muito comuns, de pais quererem que seus filhos fossem não somente obedientes e servis a eles, mas também representassem as ilusões juvenis que os pais já não têm mais condições de viver.
Sim, os filhos se transformam em instrumentos dos desejos frustrados dos pais, vivendo a "juventude" que os pais não viveram! E isso é apenas um aspecto, num contexto em que o mercado de trabalho acolhe mais humoristas do que pessoas capazes de algum ofício, com patrões se gabando porque torcem por um time de futebol enquanto seus melhores empregados torcem por outro.
Como a Teologia do Sofrimento representa muita ilusão para seus detentores. Quantos pregadores da apologia ao sofrimento alheio, adeptos da frase "quanto pior, melhor", que pouco se importam em ver os desafortunados não apenas aguentarem suas limitações, sua perda de controle sobre o próprio destino, mas também se sujeitarem à se servirem das ilusões dos outros.
É o rapaz que quer namorar uma mulher de caráter, mas atrai para si uma mulher fútil e sexualmente impulsiva. Ou a mulher que quer namorar um homem de caráter, mas atrai para si um homem fútil que só pensa em dinheiro. Mas isso é apenas o que há de manjado na subordinação à ilusão alheia.
Quantas ilusões as pessoas dotadas de maior status quo, que se acham resolvidas na vida, contraem para si. E o fato do sofredor "ter jogo de cintura" para "vencer na vida", não só aguentando desgraças, perdendo o controle de seu próprio destino, mas também se sujeitando a servir à ilusão alheia, nem de longe traz alguma evolução ou proveito, antes criando apenas um tipo de "escravo social".
ESCRAVIDÃO SOCIAL
Certa vez, no programa Encontro com Fátima Bernardes, o surfista Adriano de Souza, o Mineirinho, havia descrito uma ideia bem típica das que compõem a Teologia do Sofrimento: "se você encarar as dificuldades, você vence fácil".
Descontando a asneira da frase - é claro que, se alguém encara uma dificuldade, nunca irá vencer fácil, porque, mesmo que a vitória seja garantida, ela é sempre difícil - , o que se observa é que o fato de "vencer na vida" oculta situações de conveniências, jogos de interesses, abandono até de vocações, que mais mutilam o aprendizado humano do que realmente o aprimoram.
Que "vitória na vida" não pode esconder jogos de interesses, que reduzem o sofredor a uma "mentira humana", pegando a primeira oportunidade que obtém, nem sempre a mais proveitosa, nem sempre a mais vantajosa? Que acordos podem ser feitos diante da desgraça alheia, "amputando" talentos, "decapitando" vocações, para a pessoa apenas obter dinheiro e algum prestígio social?
Muitos brasileiros ainda se apegam às ilusões do sofrimento extremo do outro ou da caridade paliativa. No caso da "caridade", muitos se esquecem do quanto de propaganda há, que promove demais o "benfeitor" diante do pouquíssimo benefício que traz. Ou o quanto de lavagem de dinheiro, de desvios de verbas públicas, de superfaturamentos que estão por trás de ações "filantrópicas".
E com que dinheiro Divaldo Franco usou para viajar tanto para o exterior espalhar a deturpação do Espiritismo? Ou será que ele viaja carregado pela luz que parte de sua mente serena e seu balé de palavras dóceis?
E o sofrimento humano? Ele apenas cria gênios e figuras humanistas? Não. Em muitos casos, o sofrimento além da conta cria suicidas, tiranos, assassinos, corruptos, ladrões, porque a falta de controle do próprio destino esmaga muitas almas, semeando não o amor e a perseverança, mas o ódio, a depressão, o medo, a vingança, a malícia e a cupidez.
E a escravidão social, que faz da pessoa que tanto necessita de uma evolução moral e humana, se reduzir a uma mentira de si mesmo, servindo às ilusões de outrem, não garante o progresso espiritual, antes sendo apenas uma forma de sobrevivência "dentro do possível" que desperdiça um prazo estimado em 80 anos com uma vida "qualquer nota". Tantos sorrisos fingidos por nada, apenas para agradar aos outros, auxiliar arrivistas e agradar privilegiados.
quarta-feira, 17 de maio de 2017
Mensagens duvidosas praticamente "paralisam" trabalho mediúnico no Brasil
Mediunidade, no Brasil, está desmoralizada. Não bastasse o culto à personalidade que cercam os ditos "médiuns" brasileiros, transformados em celebridades e convertidos em dublês de pensadores e ativistas, o trabalho dito mediúnico sempre apresentou irregularidades sérias.
A ação é comparável a um trote telefônico, no qual o telefonista se passa pelo parente da vítima e inventa um falsete no qual a "leitura fria", muitas vezes, é feita. Como no seguinte exemplo de um hipotético diálogo:
- Alô! Ah, pela voz você é o Eusébio, meu primo? Oi, Eusébio! Sou Laura, aqui do Rio de Janeiro! Que bom receber sua ligação aí de Campina Grande. Dois anos de saudades! Como estão as coisas aí na Paraíba? - diz a vítima.
- Ah, Laura, minha querida! - diz o estelionatário - Sou eu, o Zezé!
- Esse Zezé! Aqui estamos fazendo uma feijoada e me lembro muito de quando você passava o domingo para comer um prato desses!
- Ah, sim! - diz o sequestrador. - Me lembro muito, a gente papeava horas e horas.
Passada a conversa, o "primo" dá o seu golpe.
- Ah, Laurinha, me faz um favor? Estou passando por dificuldades, muitas dívidas, e por isso preciso de seu dinheiro. Uma ajudinha de nada, uns 35 mil reais. Me desculpe, é que estou tão enrolado que você deve se chatear, mas você não vai negar um favor a seu primo, né? Você retira o dinheiro da sua poupança e ajuda o seu priminho em dificuldades, viu? Fico muito agradecido com o seu carinho!
Certamente isso é desagradável e perigoso. É uma ameaça que faz o coração bater. Mas, infelizmente, no "espiritismo" brasileiro não é diferente e a falta de estudo da Ciência Espírita e o hábito comum entre os brasileiros de não ter concentração para certas tarefas, influi nessas fraudes, que não são apenas de gente "de baixo status", mas muitos "médiuns" tidos como "gabaritados" são os que mais o fazem.
Sobre Francisco Cândido Xavier, tido como "o mais conceituado de todos", há denúncias sérias e muito graves de irregularidades mediúnicas. Supostas cartas de pessoas mortas que apresentam problemas na caligrafia ou em dados pessoais, não raro havendo apenas a caligrafia do "médium", até mesmo na assinatura, e com mensagens padronizadas, como iniciar dizendo "querida mamãe" e terminar pedindo "a união das pessoas na fraternidade em Cristo".
Botar essa irregularidade por baixo do tapete por causa da suposta figura filantrópica de Chico Xavier - uma imagem "admirável" construída pelo poder midiático da Rede Globo para neutralizar a ascensão de pastores midiáticos como Edir Macedo - é uma leviandade e uma omissão, porque as irregularidades mediúnicas são um problema muito mais grave do que se pode parecer.
Quem prestar atenção nas sessões "mediúnicas" de Chico Xavier e similares, se verá uma energia traiçoeira que parece "tranquila" e "agradável", mas é confusa e maléfica. A "paz" equivale à suposta "luminosidade" das antigas missas católicas da Idade Média, que primavam pela aparente beleza e benevolência, que mascaravam a ganância e, em muitos casos, a tirania de muitos sacerdotes.
Se a pessoa se despir das paixões religiosas, verá que essas sessões "mediúnicas" se revelam espetáculos de orgias tão mórbidos quanto os do sexo, das drogas e do dinheiro. E, seguindo um padrão de deturpação da Doutrina Espírita para um igrejismo irresponsável, tais sessões se nivelam aos mais baixos entretenimentos das tábuas Ouija, um recreio irresponsável que atrai espíritos zombeteiros diante de pretensas consultas oraculares.
É chocante ver mães saltitando, infantilizadas, quando ouvem mensagens supostamente atribuídas a filhos mortos, gritando "É meu filho, é meu filho", sem saber que ela é enganada por toda essa atmosfera de love bombing, o "bombardeio de amor" cuja força traiçoeira corresponde a uma "pornografia sem sexo".
Essas sessões já pecam pelo fato de estimular a obsessão por pessoas mortas, revelando a falta de zelo de muitas famílias com seus entes, para depois os perderem por uma tragédia vinda do nada. Pecam também pela energia maléfica de Chico Xavier (cujas fotos antigas, antes de usar óculos escuros, revelam um olhar traiçoeiro e agressivo), que tratava as mortes prematuras com um certo exotismo.
Junta-se a isso a exploração sensacionalista da grande mídia a esses "médiuns" que recebem culto à personalidade, a diversão às custas das mortes dos entes queridos - cujos espíritos, em verdade, se sentem incomodados com tais ambientes que lhes lembram um velório às avessas e deles se afastam - e o igrejismo medieval do "espiritismo" brasileiro, que tudo isso acaba se equivalendo àqueles trotes telefônicos de sequestradores e estelionatários.
Diante de tantas denúncias a respeito, essas atividades acabaram ficando mais raras no "movimento espírita", incapaz de tentar explicar as inúmeras e infinitas irregularidades, não raro "eternizadas" em livros, explorando levianamente e de forma sensacionalista a tragédia alheia, reduzindo dramas humanos a uma diversão para a "masturbação com os olhos" das comoções fáceis pelas estorietas narradas por eventos e obras "espíritas".
terça-feira, 16 de maio de 2017
Por que as pessoas não veem sentido no perigo do "apelo à emoção"?
Por que falar em "bombardeio de amor", "Ad Passiones", "apelo à emoção" e de seus perigos maléficos torna-se inútil para boa parte dos brasileiros, que nunca veriam mal algum em mensagens dóceis ilustradas por imagens de coraçõezinhos vermelhos?
A falta de percepção das armadilhas humanas, que faz com que os brasileiros aceitem sem críticas fenômenos que são considerados maléficos no exterior - como a overdose de informação e a glamourização da pobreza - , revela o grande atraso perceptivo em que o Brasil se encontra.
O Brasil é geralmente um país que costuma ser o "último a saber" das coisas. Tem como sua mania maior deturpar o novo inserindo nele conceitos e práticas velhas. Isso é ilustrativo no Espiritismo, já que aqui o legado de Kardec foi tão deturpado que ficou desfigurado, reduzido a uma repaginação do velho Catolicismo jesuíta e medieval, vigente no Brasil colonial, e que não encontrou espaço na própria Igreja Católica que tenta se adaptar aos novos tempos.
O "apelo à emoção", com toda a certeza, tem seu perigo oficialmente reconhecido pelo reacionarismo rancoroso da Internet, que explodiu desde os tempos da comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo" do Orkut, na qual se escondiam "núcleos" que depois vieram a compor grupos como Movimento Brasil Livre e Revoltados On Line, idolatram Jair Bolsonaro e pedem "intervenção militar" para nosso país.
Mas há outro aspecto perigoso, um perigo silencioso que os brasileiros não percebem e que, quando informados dessa ameaça, ainda se revoltam por não haver sentido pensar em "coraçõezinhos envenenados". A "mancenilheira" ideológica do Ad Passiones também pode oferecer riscos. O "excesso de amor" pode até matar, provocar ódio, dividir as pessoas mesmo no mais persistente discurso de "fraternidade".
Afinal, "fraternidade" em que sentido? Há um caminho para "sermos fraternos". Vamos nos unir em torno dos deturpadores da Doutrina Espírita? A resposta, se depender do "movimento espírita", é sim, e tantos apelos para a "união entre irmãos" escondem processos de manipulação, porque a religião sempre fala em união, mas nunca fala em convivência pacífica da diversidade.
Da mesma forma, prega-se a "união" em torno da causa mais retrógrada ou leviana. Prega-se a "união" de pessoas sem afinidade, que em tese sugerem um acordo, mas na prática acentuam-se os conflitos. Prega-se a "fraternidade" em torno de um mistificador, o "perdão" que consente seus erros abusivos, a idolatria que transforma arrivistas em "santos".
Muitas pessoas estão acostumadas com suas ilusões consideradas estáveis por décadas e décadas, mas que hoje começam a ruir. São as ilusões das orgias, das finanças, das drogas, da corrupção? Não. As piores ilusões são aquelas que repousam no moralismo social e familiar, na racionalidade profissional, no prestígio religioso travestido de "humildade plena", setores tão "límpidos" como uma cozinha branca e brilhante sobre a qual permanecem as piores sujeiras.
É como num copo de água cristalino que esconde vermes nocivos ou, às vezes, um veneno mortal. Como se observa no programa A Prova de Tudo (Men Vs. Wild), do inglês Bear Grylls, há águas barrentas que parecem sujas mas que são mais limpas e saudáveis do que muita água cristalina que pode causar uma grave intoxicação no organismo.
O "excesso de amor" também cria explosões de ódio. Fala-se muito que os questionadores do mito de Francisco Cândido Xavier são pessoas "contrárias ao amor", "intolerantes", "raivosas" e "invejosas", porque a imagem do anti-médium mineiro é sempre associada aos "bons sentimentos".
Grande engano. É justamente entre os adeptos de Chico Xavier que se encontram as pessoas mais rancorosas, vulcões de ódio e violência que apenas se adormecem parecendo montanhas de amor e simpatia. A menor contestação, por mais construtiva que seja, lhes incomoda e não raro os questionadores da deturpação espírita relatam casos de ameaças violentas que receberam dos seguidores do "bondoso médium".
O falecido questionador da deturpação espírita, Jorge Murta, chegou a receber ameaças violentas por questionar o igrejismo de Chico Xavier. E, na época do sobrinho Amaury Xavier, que ameaçou denunciar as fraudes do "movimento espírita", um palestrante "espírita" de Minas Gerais escreveu, em 1958, um artigo rancoroso contra o rapaz, que acusava o trabalho do tio uma farsa.
A emotividade cega é um problema nunca diagnosticado num Brasil que precisa enxergar melhor as armadilhas do caminho. É um país em que a overdose de informação emburrece as pessoas mas muitos acham que esse excesso informativo é "necessário para esclarecer a sociedade", como se um bombardeio de notícias e opiniões, em si, pudesse ensinar as pessoas a conhecer o mundo, ilusão que, no exterior, já foi devidamente analisada em seus efeitos negativos.
Mal nos livramos, coisa de um mês atrás, do falso feminismo das "mulheres siliconadas", que queriam se "empoderar" com seu sensualismo obsessivo, escondendo o fato de que exploravam a imagem hipersexualizada da mulher-objeto. Foi difícil convencer a sociedade de que as mulheres "turbinadas" estavam a serviço de valores machistas e não feministas. Era complicado explicar um machismo praticado por um grupo de mulheres que se dizia "sem maridos nem namorados".
O atraso perceptivo do brasileiro, que diante de tantas perdas ilustres de figuras humanas ímpares, há um medo sem motivo de ver morrerem uma mera parcela de homens que tiraram a vida de suas próprias mulheres e permaneceram impunes. Ver que eles são os únicos tipos de pessoas que "não podem morrer" é um dado surreal, até porque os feminicidas conjugais são os que mais descuidam da saúde ou, na melhor das hipóteses, sofrem os efeitos das pressões emocionais sobre seus atos.
Não vivamos mais na década de 1970 que a sociedade brasileira tenta, em vão, recuperar. Aquela "paz social" forçada pela Era Geisel, misturada com os "êxitos" da Era Médici, perdeu o sentido e o chamado "topo da pirâmide" vê perecerem um a um tantos de seus paradigmas e ilusões, enquanto resiste ao reconhecimento de armadilhas por trás de aparências tão agradáveis.
Não serão os coraçõezinhos vermelhos que acalmarão esse cenário de conflitos e tensões extremos, principalmente num "topo da pirâmide" em processo de queda e no perecimento de tantos valores supostamente sólidos de 40 anos atrás. Até porque esses coraçõezinhos estão também envenenados, pelo seu caráter manipulador, mistificador, traiçoeiro, tão doentio quando o excesso de açúcar que provoca diabetes e cegueira.