quarta-feira, 30 de setembro de 2015
A preocupante blindagem de Chico Xavier
O fanatismo religioso tem dessas coisas. Pessoas que, através da adoração a um ídolo, se julgam detentoras de emoções mais elevadas e, no entanto, se irritam quando seu adorado "mestre" é contestado por alguém, ainda que de forma construtiva.
Francisco Cândido Xavier é um caso insólito no Brasil. Detentor de uma trajetória de atividades confusas associadas supostamente ao Espiritismo, é beneficiado pela mais absoluta impunidade e imunidade, e mesmo sendo um católico ideologicamente ultraconservador, sua adoração encontra penetração em setores das esquerdas ou mesmo de kardecianos autênticos menos vigilantes.
Chico Xavier, como é popularmente conhecido, é uma figura surreal. Ele chega mesmo a ser visto como "progressista" e "ativista" quando prega a "teologia do sofrimento", ideologia que faz apologia ao autoflagelo humano e à resignação aos infortúnios, recomendando sofrer a dor sem sequer gemer, mas agradecendo a Deus com oração que se aconselha ser feita em absoluto silêncio. Deve ser para não perturbar o sossego dos opressores.
Essa mesma ideologia é considerada pelos analistas que investigam Madre Teresa de Calcutá - puxados pelo exemplo do falecido Christopher Hitchens - um dos mais graves defeitos da missionária. a ponto dela ter se tornado conhecida como "anjo do inferno". E o pior é que Madre Teresa era um mito bem mais verossímil que o confuso e atrapalhado mito de Chico Xavier.
Madre Teresa tornou-se um escândalo por denúncias das mais simplórias: associação a tiranos e ditadores, dos quais recebia verbas e condecorações, participação em esquemas de lavagem de dinheiro de magnatas corruptos e descaso com os próprios assistidos, os pobres e os doentes, que não recebiam remédios nem alimentos necessários e eram alojados em condições degradantes.
Chico Xavier fez coisas muito piores, como grotescos pastiches literários em Parnaso de Além-Túmulo, livro que deveria ser expressão acabada da espiritualidade superior mas recebeu grandes reparos em cinco edições durante 23 anos.
Além disso, Xavier se apropriava das identidades dos mortos, fazendo falsidade ideológica em supostas mensagens espirituais. A mais grave apropriação de um morto correspondeu a Humberto de Campos, escritor ainda muito popular na época (1935-1944), o que rendeu um processo judicial cujo desfecho deu em nada porque os juízes, no contexto da época, não entenderam o caso.
Xavier apoiou fraudes de materialização assinando atestado forjando autenticação. Esteve ao lado de Otília Diogo nos preparativos de seus espetáculos ilusionistas, entre os quais o do suposto espírito da Irmã Josefa. Além disso, Xavier defendeu a ditadura militar quando até Carlos Lacerda estava na oposição, em 1971, como deixou claro no programa Pinga-Fogo, da TV Tupi de São Paulo.
Todos esses aspectos sombrios, em quantidade farta e trazidos por fontes confiáveis, como reportagens investigativas e os próprios depoimentos e textos de Chico Xavier, são insuficientes para dissolver toda a alta reputação do anti-médium, que parece resistente a todo tipo de obstáculo, vencendo até mesmo todo tipo de lógica dos fatos.
Mesmo a bibliografia de Chico Xavier, que contraria severamente o pensamento de Allan Kardec, através de comparações dos respectivos textos, é surrealmente aceita por uma parcela de kardecianos pouco vigilantes e pouco inclinados a uma pesquisa corajosa, que os livrasse da camisa-de-força da complacência e condescendência ao anti-médium mineiro.
Os defensores de Chico Xavier reagem geralmente com alguma fúria, embora tentem adotar mensagens ironicamente "calmas" como "o irmão está alterado" ou "você está completamente equivocado". Mas há casos de uma defensora de Chico Xavier que, arrogante e agressiva, disse para uma contestadora: "Quem é você para dizer algo contra Chico Xavier?".
Uns chegam ao discurso repetido de dizer que "Chico Xavier errou, mas merece uma chance". Ficam seduzidos pelo estereótipo de bondade a ele associado. Outros tentam dizer que ele "nunca errou" e o que se fala contra ele são "agressões a um homem de bem". Outros repassam a responsabilidade dos erros de Xavier a Emmanuel, Antônio Wantuil, Otília Diogo, Padre Quevedo, Amauri Pena e o que vier por aí. Mesmo quando Chico é claramente o responsável direto por muitos erros.
Exigem "embasamento científico" - eufemismo para retórica rebuscada e abordagem "neutra" - para o caso de contestar Chico Xavier. Mas aceitam teses universitárias com metodologia deficitária que erroneamente comprovem pioneirismos científicos em realidade inadmissíveis. Quando a falta de embasamento é a favor de Chico Xavier, eles aceitam confortavelmente.
Um caso é, por exemplo, alegar que Chico Xavier "previu" a existência de água e vida inteligente em Marte, num prazo de seis décadas e meia, através do livro Novas Mensagens, de 1939, quando tais hipóteses já eram discutidas pelo cientista estadunidense Percival Lowell (1855-1916) bem antes do anti-médium nascer.
A blindagem de Chico Xavier se observa através de mensagens agressivas de seus defensores, e do fanatismo que toma conta do Facebook, com os memes publicando suas frases - várias delas fazendo apologia ao sofrimento humano - , e no YouTube, onde existem teses surreais sobre Chico Xavier e até um vídeo piegas intitulado apenas "Amor".
Isso é muito perigoso e mostra o quanto as artimanhas da propaganda religiosa podem transformar uma pessoa no "dono do Brasil". Pois é isso que os seguidores consideram Chico Xavier: o dono do Brasil, dos mortos, do mundo, do futuro, quando ele não tinha 0,5% dessas habilidades que se atribuem a ele e que tudo que ele havia sido foi apenas um caipira mineiro, católico e paranormal.
terça-feira, 29 de setembro de 2015
Intelectuais e o "eugenismo" sócio-cultural brasileiro
HERMANO VIANNA, DO NAVEGADOR (GLOBO NEWS) E PEDRO ALEXANDRE SANCHES, DO BLOGUE FAROFAFÁ - "Cães-de-guarda" do mercado da decadência cultural patrocinado pela grande mídia.
Intelectuais deveriam ser feitos para questionar os descaminhos da cultura popular e denunciar formas de expressão caricaturais que exploram uma imagem depreciativa e estereotipada das classes populares, geralmente "higienizadas" para garantir mais consumismo e menos cidadania.
No entanto, eles agem em defesa absoluta, até mesmo neurótica, ao processo de decadência sócio-cultural, lançando mão até de grandes reportagens, documentários e monografias que atuem nesse processo de "eugenia" do patrimônio cultural brasileiro, separando as populações pobres de suas próprias heranças sócio-culturais.
Desde 2001, uma geração de jornalistas, professores, antropólogos, sociólogos, historiadores, cineastas, produtores culturais ou mesmo artistas autênticos mas dotados de inclinação elitista-paternalista às classes populares, passou a defender com unhas e dentes a decadência cultural brasileira, como se fosse um processo de "modernização" e uma "nova expressão" dentro do que eles entendem como "diversidade cultural".
São intelectuais que haviam sido treinados quando o status quo acadêmico, político e midiático estava nas mãos de intelectuais do neoliberalismo sócio-cultural, como Fernando Henrique Cardoso, Francisco Weffort, Sérgio Paulo Rouanet, Gilberto Velho e José Serra e que apenas por uma ironia das circunstâncias tentou se vincular tendenciosamente ao esquerdismo intelectual brasileiro.
Pessoas como Hermano Vianna, Paulo César Araújo, Denize Garcia, Pedro Alexandre Sanches, Eugênio Arantes Raggi, Ronaldo Lemos, Milton Moura e tantos outros comungam com os interesses dos grandes donos do mercado e dos chefões da grande mídia, mas eles, com exceção de Hermano e Ronaldo, fingem não terem vínculo com tais senhores e até ensaiam uma falsa oposição a eles.
Pedro Sanches, por exemplo, havia sido um dos astros do Projeto Folha, da Folha de São Paulo. Era um projeto bolado por Otávio Frias Filho (um dos maiores aliados de Fernando Henrique Cardoso, que exercia a Presidência da República) que eliminava o pensamento de esquerda de suas redações e transformava o jornalismo num trabalho mais simplório e mercadológico, com textos mais curtos e menos reflexivos.
De repente, após uma passagem em O Estado de São Paulo, Pedro Alexandre Sanches - que, segundo analistas de seu trabalho, defende ideias inspiradas no pensamento do historiador Francis Fukuyama, de cuja associação Pedro nunca assumiu ter - , se encanou em ser "intelectual de esquerda", pegando carona em ativistas sociais e se infiltrando em veículos da mídia esquerdista.
Enquanto fazia falsos ataques ao status quo midiático e aos "vilões" da moda - podendo ser o jornalista Ali Kamel, o senador Aécio Neves, a atriz Regina Duarte ou o deputado Eduardo Cunha - , Sanches defendia, com os preconceitos trazidos da Folha de São Paulo, uma "cultura popular" estereotipada e meramente mercadológica, patrocinada pela mesma grande mídia que Sanches finge se opor, mas da qual parece agir como um colaborador free lancer.
Enquanto ele defendia como "bolivarianismo cultural" figuras ideologicamente assépticas e meramente comerciais como Zezé di Camargo & Luciano, Banda Calypso Valesca Popozuda e MC Guimê, Sanches se esquecia que todos eles iam comemorar seus louros abraçados aos mesmos barões da mídia de cujo meio Aécio Neves e Ali Kamel são considerados "heróis".
Sanches tentava criar um vínculo surreal entre a bregalização que atinge a cultura brasileira e alimenta as fortunas de donos de rádio ligados ao coronelismo econômico e político - vários deles são ligados a latifundiários regionais - e o Tropicalismo, como se compartilhasse de certos ideólogos do establishment que estiveram em moda nos tempos do "milagre brasileiro".
Outros adotam uma postura parecida. Hermano e Ronaldo, integrantes do programa Navegador, da Globo News, são poucos que assumem o vínculo midiático. A maioria tenta fingir oposição, seja um Eugênio Raggi que escreve nas mídias sociais com o mesmo estilo de Reinaldo Azevedo, seja Denize que, como Pedro Sanches, foi cria do corporativismo midiático (ela veio da Rede Brasil Sul).
Essa falsa oposição é apenas um mimetismo ideológico que se complementa à pretensa objetividade com que tentam pregar a defesa da bregalização cultural (que reduz a cultura brasileira a formas estereotipadas e caricaturais, não raro "americanizadas", em prol de interesses de mercado), dando um aparato "progressista" e "científico" às suas pregações ideológicas.
Muitas falhas de abordagens são dissimuladas com uma retórica que tenta se opor às ideias apresentadas. Se, por exemplo, o "funk carioca" demonstra abordagens racistas e machistas das classes populares, seus ideólogos camuflam essa realidade alegando que o ritmo "combate" tais qualidades negativas.
O próprio "pagodão baiano", manifesto pelo grupo É O Tchan - cujo sucesso "Segura o Tchan" tem uma estrofe inteira fazendo apologia ao estupro - , que na Bahia trabalhava a imagem do negro como um "tarado abobalhado", é também reflexo desse quadro. O ritmo baiano forneceu os aspectos "eróticos" depois trabalhados pelo "funk" no Rio de Janeiro, como a famosa "dança da boquinha da garrafa", relançada pelo ritmo carioca como sendo "coreografia etnográfica".
Os ritmos derivados da bregalização, como o próprio "brega de raiz" (Waldick Soriano, Odair José, Amado Batista, José Augusto) e outros como o "sertanejo", "pagode romântico", "forró eletrônico", axé-music e o "funk carioca", apresentam algum grau de "americanização", quando influências estrangeiras são introduzidas por fins mercadológicos e sob imposição do coronelismo midiático.
Os ritmos - que consistem na chamada música brega-popularesca, termo quase inexistente na grande imprensa ou mesmo nos meios acadêmicos, mas muito difundido na Internet - também apelam pela baixa qualidade artística, pela adesão tardia a modismos ultrapassados e por uma visão caricatural das classes populares, como se as periferias fossem Disneylândias cheias de lixo, buracos e casas mal construídas e ainda sob tijolos "nus".
A idealização intelectual dessas periferias adocicadas é ainda reforçada com uma visão paternalista de "progresso artístico-cultural", que fez com que nomes como Alexandre Pires, Belo e Chitãozinho & Xororó, do cenário brega da Era Collor, virassem "arremedos de MPB" se apoiando de formas pasteurizadas que as grandes gravadoras faziam da MPB autêntica nos anos 80.
Era uma visão paternalista que dava a impressão de que os bregas só "progrediam culturalmente" quando estavam sob o respaldo quase unânime da intelectualidade e do público elitista, e criavam uma visão contraditória que esses ídolos comerciais só eram "verdadeiros artistas populares" quando recebiam o reconhecimento de um público mais elitista.
Nenhum desses artistas consegue assimilar ou reproduzir o rico patrimônio cultural que o Brasil acumulou com tanto sacrifício. Eles são apenas ídolos comerciais, feitos para o sucesso imediato e provisório, como mercadorias musicais ou comportamentais (nos casos das "musas" siliconadas, das antigas "garotas da Banheira do Gugu" às peladonas e ring girls de UFC brasileiras) cujo "aprimoramento" é sempre feito por algum apoio paternalista das elites.
Enquanto isso, o povo pobre é abordado pelos seus próprios ídolos de maneira caricatural e nem de longe autêntica. Mas a pregação ideológica intelectual, com sutileza, tenta legitimar valores bastardos, para alimentar o mercado e manter em evidência os ídolos "populares", porta-vozes dessa estereotipação cultural, prolongando suas carreiras o máximo que for possível.
Dessa maneira, a cultura brasileira é empastelada. O mercado cria seus ídolos caricaturais que, não raro, expressam sutis preconceitos sócio-culturais. A intelectualidade faz blindagem e diz que esses ídolos representam a "luta contra o preconceito", apesar desse preconceito vir dos próprios ídolos e daquilo que eles expressam.
Com isso a cultura brasileira, a verdadeira, ligada a princípios sociais, é marginalizada, quando muito virando artigo de museu ou objeto de apreciação de elites nostálgicas, estudiosas ou paternalistas. Já a "cultura popular" caricatural, estereotipada e mercadológica, prevalece no gosto popular sob a desculpa da "ruptura do preconceito", enquanto a alegre tese do "mau gosto"defendida pelo lobby intelectual revela, em si, um gravíssimo preconceito.
Não é por acaso que os críticos da bregalização definem esses intelectuais "sem preconceitos" como cruelmente preconceituosos. É porque essa campanha pela bregalização é, na verdade, um processo de eugenismo sócio-cultural, "limpando" as classes populares de seu potencial crítico e mobilizador e reduzindo-a a submissos consumistas e apreciadores de formas colonizadas e conservadoras de entretenimento.
Intelectuais deveriam ser feitos para questionar os descaminhos da cultura popular e denunciar formas de expressão caricaturais que exploram uma imagem depreciativa e estereotipada das classes populares, geralmente "higienizadas" para garantir mais consumismo e menos cidadania.
No entanto, eles agem em defesa absoluta, até mesmo neurótica, ao processo de decadência sócio-cultural, lançando mão até de grandes reportagens, documentários e monografias que atuem nesse processo de "eugenia" do patrimônio cultural brasileiro, separando as populações pobres de suas próprias heranças sócio-culturais.
Desde 2001, uma geração de jornalistas, professores, antropólogos, sociólogos, historiadores, cineastas, produtores culturais ou mesmo artistas autênticos mas dotados de inclinação elitista-paternalista às classes populares, passou a defender com unhas e dentes a decadência cultural brasileira, como se fosse um processo de "modernização" e uma "nova expressão" dentro do que eles entendem como "diversidade cultural".
São intelectuais que haviam sido treinados quando o status quo acadêmico, político e midiático estava nas mãos de intelectuais do neoliberalismo sócio-cultural, como Fernando Henrique Cardoso, Francisco Weffort, Sérgio Paulo Rouanet, Gilberto Velho e José Serra e que apenas por uma ironia das circunstâncias tentou se vincular tendenciosamente ao esquerdismo intelectual brasileiro.
Pessoas como Hermano Vianna, Paulo César Araújo, Denize Garcia, Pedro Alexandre Sanches, Eugênio Arantes Raggi, Ronaldo Lemos, Milton Moura e tantos outros comungam com os interesses dos grandes donos do mercado e dos chefões da grande mídia, mas eles, com exceção de Hermano e Ronaldo, fingem não terem vínculo com tais senhores e até ensaiam uma falsa oposição a eles.
Pedro Sanches, por exemplo, havia sido um dos astros do Projeto Folha, da Folha de São Paulo. Era um projeto bolado por Otávio Frias Filho (um dos maiores aliados de Fernando Henrique Cardoso, que exercia a Presidência da República) que eliminava o pensamento de esquerda de suas redações e transformava o jornalismo num trabalho mais simplório e mercadológico, com textos mais curtos e menos reflexivos.
De repente, após uma passagem em O Estado de São Paulo, Pedro Alexandre Sanches - que, segundo analistas de seu trabalho, defende ideias inspiradas no pensamento do historiador Francis Fukuyama, de cuja associação Pedro nunca assumiu ter - , se encanou em ser "intelectual de esquerda", pegando carona em ativistas sociais e se infiltrando em veículos da mídia esquerdista.
Enquanto fazia falsos ataques ao status quo midiático e aos "vilões" da moda - podendo ser o jornalista Ali Kamel, o senador Aécio Neves, a atriz Regina Duarte ou o deputado Eduardo Cunha - , Sanches defendia, com os preconceitos trazidos da Folha de São Paulo, uma "cultura popular" estereotipada e meramente mercadológica, patrocinada pela mesma grande mídia que Sanches finge se opor, mas da qual parece agir como um colaborador free lancer.
Enquanto ele defendia como "bolivarianismo cultural" figuras ideologicamente assépticas e meramente comerciais como Zezé di Camargo & Luciano, Banda Calypso Valesca Popozuda e MC Guimê, Sanches se esquecia que todos eles iam comemorar seus louros abraçados aos mesmos barões da mídia de cujo meio Aécio Neves e Ali Kamel são considerados "heróis".
Sanches tentava criar um vínculo surreal entre a bregalização que atinge a cultura brasileira e alimenta as fortunas de donos de rádio ligados ao coronelismo econômico e político - vários deles são ligados a latifundiários regionais - e o Tropicalismo, como se compartilhasse de certos ideólogos do establishment que estiveram em moda nos tempos do "milagre brasileiro".
Outros adotam uma postura parecida. Hermano e Ronaldo, integrantes do programa Navegador, da Globo News, são poucos que assumem o vínculo midiático. A maioria tenta fingir oposição, seja um Eugênio Raggi que escreve nas mídias sociais com o mesmo estilo de Reinaldo Azevedo, seja Denize que, como Pedro Sanches, foi cria do corporativismo midiático (ela veio da Rede Brasil Sul).
Essa falsa oposição é apenas um mimetismo ideológico que se complementa à pretensa objetividade com que tentam pregar a defesa da bregalização cultural (que reduz a cultura brasileira a formas estereotipadas e caricaturais, não raro "americanizadas", em prol de interesses de mercado), dando um aparato "progressista" e "científico" às suas pregações ideológicas.
Muitas falhas de abordagens são dissimuladas com uma retórica que tenta se opor às ideias apresentadas. Se, por exemplo, o "funk carioca" demonstra abordagens racistas e machistas das classes populares, seus ideólogos camuflam essa realidade alegando que o ritmo "combate" tais qualidades negativas.
O próprio "pagodão baiano", manifesto pelo grupo É O Tchan - cujo sucesso "Segura o Tchan" tem uma estrofe inteira fazendo apologia ao estupro - , que na Bahia trabalhava a imagem do negro como um "tarado abobalhado", é também reflexo desse quadro. O ritmo baiano forneceu os aspectos "eróticos" depois trabalhados pelo "funk" no Rio de Janeiro, como a famosa "dança da boquinha da garrafa", relançada pelo ritmo carioca como sendo "coreografia etnográfica".
Os ritmos derivados da bregalização, como o próprio "brega de raiz" (Waldick Soriano, Odair José, Amado Batista, José Augusto) e outros como o "sertanejo", "pagode romântico", "forró eletrônico", axé-music e o "funk carioca", apresentam algum grau de "americanização", quando influências estrangeiras são introduzidas por fins mercadológicos e sob imposição do coronelismo midiático.
Os ritmos - que consistem na chamada música brega-popularesca, termo quase inexistente na grande imprensa ou mesmo nos meios acadêmicos, mas muito difundido na Internet - também apelam pela baixa qualidade artística, pela adesão tardia a modismos ultrapassados e por uma visão caricatural das classes populares, como se as periferias fossem Disneylândias cheias de lixo, buracos e casas mal construídas e ainda sob tijolos "nus".
A idealização intelectual dessas periferias adocicadas é ainda reforçada com uma visão paternalista de "progresso artístico-cultural", que fez com que nomes como Alexandre Pires, Belo e Chitãozinho & Xororó, do cenário brega da Era Collor, virassem "arremedos de MPB" se apoiando de formas pasteurizadas que as grandes gravadoras faziam da MPB autêntica nos anos 80.
Era uma visão paternalista que dava a impressão de que os bregas só "progrediam culturalmente" quando estavam sob o respaldo quase unânime da intelectualidade e do público elitista, e criavam uma visão contraditória que esses ídolos comerciais só eram "verdadeiros artistas populares" quando recebiam o reconhecimento de um público mais elitista.
Nenhum desses artistas consegue assimilar ou reproduzir o rico patrimônio cultural que o Brasil acumulou com tanto sacrifício. Eles são apenas ídolos comerciais, feitos para o sucesso imediato e provisório, como mercadorias musicais ou comportamentais (nos casos das "musas" siliconadas, das antigas "garotas da Banheira do Gugu" às peladonas e ring girls de UFC brasileiras) cujo "aprimoramento" é sempre feito por algum apoio paternalista das elites.
Enquanto isso, o povo pobre é abordado pelos seus próprios ídolos de maneira caricatural e nem de longe autêntica. Mas a pregação ideológica intelectual, com sutileza, tenta legitimar valores bastardos, para alimentar o mercado e manter em evidência os ídolos "populares", porta-vozes dessa estereotipação cultural, prolongando suas carreiras o máximo que for possível.
Dessa maneira, a cultura brasileira é empastelada. O mercado cria seus ídolos caricaturais que, não raro, expressam sutis preconceitos sócio-culturais. A intelectualidade faz blindagem e diz que esses ídolos representam a "luta contra o preconceito", apesar desse preconceito vir dos próprios ídolos e daquilo que eles expressam.
Com isso a cultura brasileira, a verdadeira, ligada a princípios sociais, é marginalizada, quando muito virando artigo de museu ou objeto de apreciação de elites nostálgicas, estudiosas ou paternalistas. Já a "cultura popular" caricatural, estereotipada e mercadológica, prevalece no gosto popular sob a desculpa da "ruptura do preconceito", enquanto a alegre tese do "mau gosto"defendida pelo lobby intelectual revela, em si, um gravíssimo preconceito.
Não é por acaso que os críticos da bregalização definem esses intelectuais "sem preconceitos" como cruelmente preconceituosos. É porque essa campanha pela bregalização é, na verdade, um processo de eugenismo sócio-cultural, "limpando" as classes populares de seu potencial crítico e mobilizador e reduzindo-a a submissos consumistas e apreciadores de formas colonizadas e conservadoras de entretenimento.
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Quem teria sido o "Malcolm Muggeridge" de Chico Xavier?
GLOBO REPÓRTER FOI UM DOS PROGRAMAS DA REDE GLOBO QUE INVENTARAM O MITO DE CHICO XAVIER NOS MOLDES DO DOCUMENTÁRIO DA BBC.
Quando surgiu o mito de Chico Xavier? Estimamos a data de 1944 e o fim do caso Humberto de Campos, quando herdeiros queriam saber se era verdadeira ou não a psicografia atribuída ao falecido escritor maranhense. No entanto, não há um dado oficial, uma reportagem, uma pessoa que pudesse ter elaborado o mito que até hoje é exaltado nas mídias sociais da Internet.
Podemos inferir que Antônio Wantuil de Freitas, presidente da Federação "Espírita" Brasileira, queria relançar o mito de Francisco Cândido Xavier, "arranhado" quando o anti-médium mineiro virou réu no processo movido por herdeiros de Humberto de Campos. A possibilidade para isso se deu pelo fato de que os juristas, no contexto da Justiça da época, não entenderam a razão do processo.
O mito de Madre Teresa de Calcutá foi derrubado depois que livro e documentário de Christopher Hitchens, entre 1995 e 1997, denunciaram irregularidades da missionária. As denúncias são de impressionante pertinência, entre elas o seu entusiasmo por Ronald Reagan, presidente dos EUA que, nos anos 80, patrocinou a carnificina feita para eliminar movimentos sociais na América Central.
Associada também ao descaso contra seus próprios assistidos - ela desviava dinheiro para o Vaticano e participava de esquema de lavagem financeira de magnatas corruptos - , a missionária foi investigada também por acadêmicos de universidades canadenses, que corroboraram os dados trazidos por Hitchens.
O mito da Madre Teresa foi construído de maneira verossímil pelo jornalista inglês Malcolm Muggeridge, da BBC. A BBC não tinha cumplicidade no projeto, e apenas deu autonomia para Malcolm trabalhar à vontade na construção do mito, que foi pertinente por evocar estereótipos e estigmas de humildade e bondade tão populares na sociedade.
Já o mito de Chico Xavier deveria ser também investigado, sem qualquer tipo de complacência. Afinal, sua trajetória e seu mito foram trabalhados de maneira confusa, com graves escândalos, como a participação nas fraudes da falsa médium Otília Diogo, e declarações do anti-médium a favor da ditadura militar.
No aspecto positivo, Chico e Teresa são fortemente comparados e vistos como iguais - só para dizer um jargão e uma alegoria fantasiosa tão própria deles, "almas-gêmeas" - , mas recebem tratamento desigual quando o caso é contestá-los.
MITO DE MADRE TERESA DE CALCUTÁ FOI DESTRUÍDO A PARTIR DA LEMBRANÇA DE QUE ELA CORTEJAVA POLÍTICOS SANGUINÁRIOS, COMO RONALD REAGAN.
Chico Xavier chega a ser visto como "progressista" e "ativista" por causa de ideias que, na verdade, fazem apologia ao sofrimento humano e defendem a resignação diante do infortúnio, sem reagir com queixas. Como Madre Teresa, também defendeu a condescendência com os tiranos e exploradores e a aceitação do poder deles sem questionamentos.
Só que Madre Teresa, ao defender tudo isso, foi duramente contestada pela opinião pública do exterior, a ponto dela ser chamada de "anjo do inferno". Já Chico Xavier continua sendo uma pretensa unanimidade, juntando milhares e milhares de seguidores no Facebook, YouTube e outras mídias sociais.
Cabe investigar quem criou o mito de Chico Xavier. Podemos aqui auxiliar os pesquisadores trazendo três etapas da divulgação de sua imagem pela mídia, três fases de uma construção ideológica que transformou Chico Xavier num quase-deus, divinizando-o de maneira nunca imaginada para qualquer figura religiosa e que ao anti-médium se reservaram qualidades surreais e relatos fantasiosos.
Sabe-se que a principal etapa foi a última, em que Chico Xavier passou a ser visto como "filantropo", cuja intensificação mitológica se deu justamente depois do documentário que "inventou" Madre Teresa que, para quem não sabe, havia começado sua "filantropia" quase que na mesma época que o baiano Divaldo Franco.
1932-1944 - UM SIMPLES PARANORMAL
Os primeiros vestígios da divulgação de Chico Xavier na imprensa vieram em 1932. Nesta época, Humberto de Campos estava ainda vivo, e ele havia feito resenhas para um estranho livro de poemas intitulado Parnaso de Além-Túmulo, cujo título, evocando a palavra "parnaso", já sugeria algo antiquado, por causa de um movimento há muito fora de moda chamado Parnasianismo.
Humberto teria "reconhecido" as qualidades "mediúnicas" de Chico Xavier, mas ainda é preciso uma análise cuidadosa para verificar se esse "reconhecimento" era uma fina ironia ou um relato de boa-fé. Há indícios de que tenha sido ironia.
APOIO A FERNANDO COLLOR DADO POR CHICO XAVIER É UMA DAS PROVAS DO PERFIL CONSERVADOR DO ANTI-MÉDIUM MINEIRO.
O que se sabe é que Humberto se revoltou com a hipótese de que os livros de "autores mortos" pudessem concorrer, comercialmente, com a literatura dos autores vivos desviando a atenção dos leitores por causa da literatura supostamente sobrenatural.
Chico Xavier não teria gostado das críticas e muito provavelmente usou o nome de Humberto de Campos como uma revanche contra a resenha pouco generosa ao livro. Chico Xavier era um ávido leitor de livros e adorava imitar os estilos dos autores de seu tempo e os mais antigos.
Chico, usando um suposto sonho que teve com Humberto (Chico, às vezes, fazia relatos de sonhos, vide a "profecia" da "data-limite"), resolveu se apropriar de seu nome e prestígio para lançar livros supondo que era o "espírito Humberto de Campos" que se comunicava, embora num estilo totalmente diferente do que o alegado autor havia feito em vida.
O ápice desta fase foi o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho que poucos sabem ter sido uma encomenda do Estado Novo para dar fim à repressão policial ao "movimento espírita". Era, portanto, um trabalho ufanista que, pretensamente revelador, nada revelava e reproduzia uma abordagem da História do Brasil presente nos mais simplórios livros didáticos de então (1938).
Chico Xavier e Antônio Wantuil escreveram o livro ufanista a quatro mãos, extraíram diversos plágios aqui e ali - uma passagem do cômico livro de Humberto, O Brasil Anedótico, foi reproduzida, com as palavras e frases trocadas - e botaram tudo no crédito do autor maranhense, sob a desculpa que seu "espírito" havia se manifestado em "tão patriótica" publicação.
Ele havia lançado também outros livros atribuídos a outros autores espirituais, como Emmanuel (possivelmente sob o ditado do seu obsessor, o jesuíta Padre (Em)Manuel da Nóbrega, um dos poucos contatos realmente mediúnicos de CX), o fictício André Luiz (calcado na literatura de George Vale Owen e possivelmente com sugestões diversas, inclusive do então admirador, o adolescente Waldo Vieira), entre outros.
Emmanuel e o suposto Humberto de Campos eram os autores ditos "espirituais" mais constantes. Mas até o livro Nosso Lar, atribuído a "André Luiz", que combina arremedo de ficção científica com pregações religiosas, é anterior à entrada de Chico Xavier no banco dos réus.
Quanto a Humberto de Campos, a obsessão continuou, e Chico arrumou a "solução" do suposto espírito, magoado com o processo judicial, mudar seu nome para o pseudônimo "Irmão X", paródia do codinome Conselheiro XX que Humberto havia lançado em vida.
1944-1975 - O "PORTA-VOZ DOS MORTOS"
Depois que o julgamento de Chico Xavier não deu em coisa alguma e até permitiu que ele e Wantuil escrevessem juntos uma carta atribuindo a Humberto de Campos - supostamente magoado com seus herdeiros - , eles combinaram levar adiante a mitificação de Chico Xavier, transformando-o num corajoso "porta-voz dos mortos", numa espécie de "carteiro de Deus", como o anti-médium se definiu.
Se apropriando de "novos espíritos", ele passou a usar vários anônimos. Um deles foi a jovem Irma de Castro Rocha, a Meimei, falecida prematuramente em 1946 por grave doença, e atraiu o viúvo da moça, Arnaldo Rocha, que com ela viveu em Belo Horizonte, para ser um dos palestrantes "espíritas" de Minas Gerais. Do contrário dos demais anônimos, reservados às cartas, Meimei era reservada aos livros, seja como "autoria solo" seja em publicações "coletivas".
Arnaldo, falecido em 2012, participava de alguns rituais de suposta materialização de espíritos e suposta psicofonia de Chico Xavier, um "dom" estranhamente pouco difundido. Num dos supostos rituais de materialização, foi montada uma maquete iluminada em luz neon, com o "manequim vestido como se fosse o Cristo Redentor, com uma imagem impressa do desenho do rosto de Emmanuel - hoje disponível na Internet - colada na cabeça do boneco.
Uma voz em off, dada por um locutor escondido nos bastidores, que falava em um microfone para os autofalantes de um "centro espírita", pedia para Chico Xavier parar com essas práticas, dizendo que as materializações iriam causar problemas futuros e que a missão de Chico eram apenas os livros.
Apesar disso, Chico continuou apoiando fraudes de materialização, assinando atestados de pretensa legitimação e, no caso mais grave, o da farsante ilusionista Otília Diogo, o anti-médium aparecia alegremente nos bastidores, conversando com Waldo Vieira e outros que prepararam o espetáculo, denunciado pela revista O Cruzeiro em 1970.
Paralelamente a esses incidentes, como também das cartas atribuídas a pessoas comuns falecidas, havia a crise do roustanguismo no "movimento espírita", que se tornava aguda sobretudo quando esta orientação era defendida por uma direção altamente centralizada da FEB, por Francisco Thiesen e seu parceiro Luciano dos Anjos.
Era a época em que Chico Xavier, pouco após o desfecho do caso Otília Diogo, ganhou entrevista no programa Pinga-Fogo (TV Tupi de São Paulo) e Antônio Wantuil de Freitas se retirou de cena, doente, para morrer em 1974.
Para reagir ao centralismo da FEB abertamente roustanguista, as federações regionais adotaram uma postura, tendenciosa e falsa, de suposta fidelidade a Allan Kardec, recurso feito para evitar que vários líderes "espíritas" fossem prejudicados com o desgaste da reputação de Jean-Baptiste Roustaing no Brasil.
1975-ATUALMENTE: O "FILANTROPO"
Com a ascensão dos pseudo-kardecianos, que contaram com a adesão de Chico Xavier e Divaldo Franco, o "movimento espírita" tornou-se uma "lavagem de porco" doutrinária, misturando arremedos de cientificismo com pregações místicas e religiosas das mais pretensiosas.
Chico Xavier continuava como "médium escrevente", há muito tendo deixado de lado a pouco convincente "psicofonia" e tendo abandonado as fraudes de materialização. Concentrava seus trabalhos nos livros e na divulgação de cartas, fazendo o "serviço" de atender famílias diversas e celebridades.
O mito passou a ser associado à "filantropia" de divulgar mensagens de pessoas mortas, em maioria jovens, como suposta prova de vida espiritual e um meio não só de "tranquilizar" os entes que deixaram, mas também atrai-los para o "movimento espírita", por meio das doutrinárias e outras atividades nos "centros".
Sem Wantuil, Chico tentava atrair para si o amigo José Herculano Pires (honesto seguidor do pensamento de Allan Kardec), o que confundiu os chiquistas quanto ao vínculo de Xavier com o pensamento kardeciano. Sabe-se que Herculano Pires, juntamente com seus colaboradores, são responsáveis pela tradução mais correta da obra de Allan Kardec para a língua portuguesa.
Depois da dúbia relação com os Diários Associados - O Cruzeiro agindo contra, a TV Tupi a favor - , Chico Xavier começou a ser retrabalhado pelos noticiários de TV, em especial a Rede Globo de Televisão, cuja corporação, as Organizações Globo, deixou para trás a hostilidade que sentia para o anti-médium.
Com isso, reportagens passaram a supor uma pretensa militância humanista de Chico Xavier, trabalhado da mesma forma que Malcolm Muggeridge da BBC, provavelmente a partir do final dos anos 1970. A filantropia era vaga e confusa, já que as doações em dinheiro dadas por CX e as casas por ele assistidas não eram mencionadas de forma clara, mas de maneira vaga e genérica.
Chico Xavier continuava conservador, a ponto de ter apoiado o candidato à Presidência da República, Fernando Collor, em 1989. Apesar de condicionado, o apoio acabou rendendo uma sorte grande a Collor, como se este tivesse sido um protegido de Emmanuel. Apesar desse pano-de-fundo direitista, Chico Xavier ainda é visto equivocadamente como "progressista" até por setores das esquerdas.
Mesmo assim, a "mediunidade" das supostas "cartas espirituais" tentava ser trabalhada, pela mídia, como a "maior caridade" de Chico Xavier. Era uma forma de transformá-lo num "mensageiro da paz", num pretenso "humanista" e até o recurso de "frases de sabedoria" atribuídas a Madre Teresa passaram a ser também a "qualidade" do anti-médium mineiro.
Nos últimos tempos, a "filantropia" foi acrescida de qualidades surreais, como a atribuição de falsos pioneirismos científicos e supostas profecias, além de seus seguidores verem (erroneamente) Chico como um "filósofo" e "ativista", dando um verniz mais "substancial" para a devoção e divinização do anti-médium, que continua bastante intensa nas mídias sociais. Reflexo de um Brasil ainda muito, muito conservador.
Quando surgiu o mito de Chico Xavier? Estimamos a data de 1944 e o fim do caso Humberto de Campos, quando herdeiros queriam saber se era verdadeira ou não a psicografia atribuída ao falecido escritor maranhense. No entanto, não há um dado oficial, uma reportagem, uma pessoa que pudesse ter elaborado o mito que até hoje é exaltado nas mídias sociais da Internet.
Podemos inferir que Antônio Wantuil de Freitas, presidente da Federação "Espírita" Brasileira, queria relançar o mito de Francisco Cândido Xavier, "arranhado" quando o anti-médium mineiro virou réu no processo movido por herdeiros de Humberto de Campos. A possibilidade para isso se deu pelo fato de que os juristas, no contexto da Justiça da época, não entenderam a razão do processo.
O mito de Madre Teresa de Calcutá foi derrubado depois que livro e documentário de Christopher Hitchens, entre 1995 e 1997, denunciaram irregularidades da missionária. As denúncias são de impressionante pertinência, entre elas o seu entusiasmo por Ronald Reagan, presidente dos EUA que, nos anos 80, patrocinou a carnificina feita para eliminar movimentos sociais na América Central.
Associada também ao descaso contra seus próprios assistidos - ela desviava dinheiro para o Vaticano e participava de esquema de lavagem financeira de magnatas corruptos - , a missionária foi investigada também por acadêmicos de universidades canadenses, que corroboraram os dados trazidos por Hitchens.
O mito da Madre Teresa foi construído de maneira verossímil pelo jornalista inglês Malcolm Muggeridge, da BBC. A BBC não tinha cumplicidade no projeto, e apenas deu autonomia para Malcolm trabalhar à vontade na construção do mito, que foi pertinente por evocar estereótipos e estigmas de humildade e bondade tão populares na sociedade.
Já o mito de Chico Xavier deveria ser também investigado, sem qualquer tipo de complacência. Afinal, sua trajetória e seu mito foram trabalhados de maneira confusa, com graves escândalos, como a participação nas fraudes da falsa médium Otília Diogo, e declarações do anti-médium a favor da ditadura militar.
No aspecto positivo, Chico e Teresa são fortemente comparados e vistos como iguais - só para dizer um jargão e uma alegoria fantasiosa tão própria deles, "almas-gêmeas" - , mas recebem tratamento desigual quando o caso é contestá-los.
MITO DE MADRE TERESA DE CALCUTÁ FOI DESTRUÍDO A PARTIR DA LEMBRANÇA DE QUE ELA CORTEJAVA POLÍTICOS SANGUINÁRIOS, COMO RONALD REAGAN.
Chico Xavier chega a ser visto como "progressista" e "ativista" por causa de ideias que, na verdade, fazem apologia ao sofrimento humano e defendem a resignação diante do infortúnio, sem reagir com queixas. Como Madre Teresa, também defendeu a condescendência com os tiranos e exploradores e a aceitação do poder deles sem questionamentos.
Só que Madre Teresa, ao defender tudo isso, foi duramente contestada pela opinião pública do exterior, a ponto dela ser chamada de "anjo do inferno". Já Chico Xavier continua sendo uma pretensa unanimidade, juntando milhares e milhares de seguidores no Facebook, YouTube e outras mídias sociais.
Cabe investigar quem criou o mito de Chico Xavier. Podemos aqui auxiliar os pesquisadores trazendo três etapas da divulgação de sua imagem pela mídia, três fases de uma construção ideológica que transformou Chico Xavier num quase-deus, divinizando-o de maneira nunca imaginada para qualquer figura religiosa e que ao anti-médium se reservaram qualidades surreais e relatos fantasiosos.
Sabe-se que a principal etapa foi a última, em que Chico Xavier passou a ser visto como "filantropo", cuja intensificação mitológica se deu justamente depois do documentário que "inventou" Madre Teresa que, para quem não sabe, havia começado sua "filantropia" quase que na mesma época que o baiano Divaldo Franco.
1932-1944 - UM SIMPLES PARANORMAL
Os primeiros vestígios da divulgação de Chico Xavier na imprensa vieram em 1932. Nesta época, Humberto de Campos estava ainda vivo, e ele havia feito resenhas para um estranho livro de poemas intitulado Parnaso de Além-Túmulo, cujo título, evocando a palavra "parnaso", já sugeria algo antiquado, por causa de um movimento há muito fora de moda chamado Parnasianismo.
Humberto teria "reconhecido" as qualidades "mediúnicas" de Chico Xavier, mas ainda é preciso uma análise cuidadosa para verificar se esse "reconhecimento" era uma fina ironia ou um relato de boa-fé. Há indícios de que tenha sido ironia.
APOIO A FERNANDO COLLOR DADO POR CHICO XAVIER É UMA DAS PROVAS DO PERFIL CONSERVADOR DO ANTI-MÉDIUM MINEIRO.
O que se sabe é que Humberto se revoltou com a hipótese de que os livros de "autores mortos" pudessem concorrer, comercialmente, com a literatura dos autores vivos desviando a atenção dos leitores por causa da literatura supostamente sobrenatural.
Chico Xavier não teria gostado das críticas e muito provavelmente usou o nome de Humberto de Campos como uma revanche contra a resenha pouco generosa ao livro. Chico Xavier era um ávido leitor de livros e adorava imitar os estilos dos autores de seu tempo e os mais antigos.
Chico, usando um suposto sonho que teve com Humberto (Chico, às vezes, fazia relatos de sonhos, vide a "profecia" da "data-limite"), resolveu se apropriar de seu nome e prestígio para lançar livros supondo que era o "espírito Humberto de Campos" que se comunicava, embora num estilo totalmente diferente do que o alegado autor havia feito em vida.
O ápice desta fase foi o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho que poucos sabem ter sido uma encomenda do Estado Novo para dar fim à repressão policial ao "movimento espírita". Era, portanto, um trabalho ufanista que, pretensamente revelador, nada revelava e reproduzia uma abordagem da História do Brasil presente nos mais simplórios livros didáticos de então (1938).
Chico Xavier e Antônio Wantuil escreveram o livro ufanista a quatro mãos, extraíram diversos plágios aqui e ali - uma passagem do cômico livro de Humberto, O Brasil Anedótico, foi reproduzida, com as palavras e frases trocadas - e botaram tudo no crédito do autor maranhense, sob a desculpa que seu "espírito" havia se manifestado em "tão patriótica" publicação.
Ele havia lançado também outros livros atribuídos a outros autores espirituais, como Emmanuel (possivelmente sob o ditado do seu obsessor, o jesuíta Padre (Em)Manuel da Nóbrega, um dos poucos contatos realmente mediúnicos de CX), o fictício André Luiz (calcado na literatura de George Vale Owen e possivelmente com sugestões diversas, inclusive do então admirador, o adolescente Waldo Vieira), entre outros.
Emmanuel e o suposto Humberto de Campos eram os autores ditos "espirituais" mais constantes. Mas até o livro Nosso Lar, atribuído a "André Luiz", que combina arremedo de ficção científica com pregações religiosas, é anterior à entrada de Chico Xavier no banco dos réus.
Quanto a Humberto de Campos, a obsessão continuou, e Chico arrumou a "solução" do suposto espírito, magoado com o processo judicial, mudar seu nome para o pseudônimo "Irmão X", paródia do codinome Conselheiro XX que Humberto havia lançado em vida.
1944-1975 - O "PORTA-VOZ DOS MORTOS"
Depois que o julgamento de Chico Xavier não deu em coisa alguma e até permitiu que ele e Wantuil escrevessem juntos uma carta atribuindo a Humberto de Campos - supostamente magoado com seus herdeiros - , eles combinaram levar adiante a mitificação de Chico Xavier, transformando-o num corajoso "porta-voz dos mortos", numa espécie de "carteiro de Deus", como o anti-médium se definiu.
Se apropriando de "novos espíritos", ele passou a usar vários anônimos. Um deles foi a jovem Irma de Castro Rocha, a Meimei, falecida prematuramente em 1946 por grave doença, e atraiu o viúvo da moça, Arnaldo Rocha, que com ela viveu em Belo Horizonte, para ser um dos palestrantes "espíritas" de Minas Gerais. Do contrário dos demais anônimos, reservados às cartas, Meimei era reservada aos livros, seja como "autoria solo" seja em publicações "coletivas".
Arnaldo, falecido em 2012, participava de alguns rituais de suposta materialização de espíritos e suposta psicofonia de Chico Xavier, um "dom" estranhamente pouco difundido. Num dos supostos rituais de materialização, foi montada uma maquete iluminada em luz neon, com o "manequim vestido como se fosse o Cristo Redentor, com uma imagem impressa do desenho do rosto de Emmanuel - hoje disponível na Internet - colada na cabeça do boneco.
Uma voz em off, dada por um locutor escondido nos bastidores, que falava em um microfone para os autofalantes de um "centro espírita", pedia para Chico Xavier parar com essas práticas, dizendo que as materializações iriam causar problemas futuros e que a missão de Chico eram apenas os livros.
Apesar disso, Chico continuou apoiando fraudes de materialização, assinando atestados de pretensa legitimação e, no caso mais grave, o da farsante ilusionista Otília Diogo, o anti-médium aparecia alegremente nos bastidores, conversando com Waldo Vieira e outros que prepararam o espetáculo, denunciado pela revista O Cruzeiro em 1970.
Paralelamente a esses incidentes, como também das cartas atribuídas a pessoas comuns falecidas, havia a crise do roustanguismo no "movimento espírita", que se tornava aguda sobretudo quando esta orientação era defendida por uma direção altamente centralizada da FEB, por Francisco Thiesen e seu parceiro Luciano dos Anjos.
Era a época em que Chico Xavier, pouco após o desfecho do caso Otília Diogo, ganhou entrevista no programa Pinga-Fogo (TV Tupi de São Paulo) e Antônio Wantuil de Freitas se retirou de cena, doente, para morrer em 1974.
Para reagir ao centralismo da FEB abertamente roustanguista, as federações regionais adotaram uma postura, tendenciosa e falsa, de suposta fidelidade a Allan Kardec, recurso feito para evitar que vários líderes "espíritas" fossem prejudicados com o desgaste da reputação de Jean-Baptiste Roustaing no Brasil.
1975-ATUALMENTE: O "FILANTROPO"
Com a ascensão dos pseudo-kardecianos, que contaram com a adesão de Chico Xavier e Divaldo Franco, o "movimento espírita" tornou-se uma "lavagem de porco" doutrinária, misturando arremedos de cientificismo com pregações místicas e religiosas das mais pretensiosas.
Chico Xavier continuava como "médium escrevente", há muito tendo deixado de lado a pouco convincente "psicofonia" e tendo abandonado as fraudes de materialização. Concentrava seus trabalhos nos livros e na divulgação de cartas, fazendo o "serviço" de atender famílias diversas e celebridades.
O mito passou a ser associado à "filantropia" de divulgar mensagens de pessoas mortas, em maioria jovens, como suposta prova de vida espiritual e um meio não só de "tranquilizar" os entes que deixaram, mas também atrai-los para o "movimento espírita", por meio das doutrinárias e outras atividades nos "centros".
Sem Wantuil, Chico tentava atrair para si o amigo José Herculano Pires (honesto seguidor do pensamento de Allan Kardec), o que confundiu os chiquistas quanto ao vínculo de Xavier com o pensamento kardeciano. Sabe-se que Herculano Pires, juntamente com seus colaboradores, são responsáveis pela tradução mais correta da obra de Allan Kardec para a língua portuguesa.
Depois da dúbia relação com os Diários Associados - O Cruzeiro agindo contra, a TV Tupi a favor - , Chico Xavier começou a ser retrabalhado pelos noticiários de TV, em especial a Rede Globo de Televisão, cuja corporação, as Organizações Globo, deixou para trás a hostilidade que sentia para o anti-médium.
Com isso, reportagens passaram a supor uma pretensa militância humanista de Chico Xavier, trabalhado da mesma forma que Malcolm Muggeridge da BBC, provavelmente a partir do final dos anos 1970. A filantropia era vaga e confusa, já que as doações em dinheiro dadas por CX e as casas por ele assistidas não eram mencionadas de forma clara, mas de maneira vaga e genérica.
Chico Xavier continuava conservador, a ponto de ter apoiado o candidato à Presidência da República, Fernando Collor, em 1989. Apesar de condicionado, o apoio acabou rendendo uma sorte grande a Collor, como se este tivesse sido um protegido de Emmanuel. Apesar desse pano-de-fundo direitista, Chico Xavier ainda é visto equivocadamente como "progressista" até por setores das esquerdas.
Mesmo assim, a "mediunidade" das supostas "cartas espirituais" tentava ser trabalhada, pela mídia, como a "maior caridade" de Chico Xavier. Era uma forma de transformá-lo num "mensageiro da paz", num pretenso "humanista" e até o recurso de "frases de sabedoria" atribuídas a Madre Teresa passaram a ser também a "qualidade" do anti-médium mineiro.
Nos últimos tempos, a "filantropia" foi acrescida de qualidades surreais, como a atribuição de falsos pioneirismos científicos e supostas profecias, além de seus seguidores verem (erroneamente) Chico como um "filósofo" e "ativista", dando um verniz mais "substancial" para a devoção e divinização do anti-médium, que continua bastante intensa nas mídias sociais. Reflexo de um Brasil ainda muito, muito conservador.
domingo, 27 de setembro de 2015
Madre Teresa e o "espiritismo" brasileiro: tratamento desigual
ENQUANTO MANDAVA MATAR ATÉ PADRES NA AMÉRICA CENTRAL, O ENTÃO PRESIDENTE DOS EUA, RONALD REAGAN, CONDECORAVA MADRE TERESA DE CALCUTÁ, QUE ACEITAVA FELIZ A PREMIAÇÃO.
A compreensão brasileira das coisas chega a ser aberrante. O que é diagnosticado por ativistas e analistas no exterior como problemas graves e sérios, aqui eles são vistos como "soluções" ou "qualidades positivas", com uma quase unanimidade que preocupa, e muito.
É o caso da apologia ao sofrimento humano defendida por Madre Teresa de Calcutá. Essa qualidade negativa faz parte de algumas das denúncias contra a missionária, que desqualificam sua reputação de "santa", que ela recebeu ainda em vida, e que chegam ao ponto de defini-la como "anjo do inferno".
Em outras palavras, Madre Teresa de Calcutá foi duramente criticada quando tentava defender que o sofrimento humano é "bonito" e que se deve sofrer com amor visando as bênçãos futuras do "céu". Aceita-se todo tipo de flagelo, infortúnio ou mesmo azar, e quando a tragédia chega à nossa porta, devemos recebê-la e tratá-la com carinho. Tal apologia é vista como um defeito aberrante.
Francisco Cândido Xavier pregava exatamente a mesma coisa, com todas as palavras - até mesmo o "perdoe, perdoe" de Madre Teresa, clamando à opinião pública que não culpasse os responsáveis pela tragédia química da Union Carbide em Bophal, na Índia, em 1984 parecia frase típica do anti-médium - e rigorosamente as mesmas ideias e princípios e de um enfoque não menos medieval.
Todavia, Chico Xavier foi considerado "progressista" (?!) e "ativista" (?!?!) por causa de tais visões, e a desculpa da "vida futura" - o "paraíso" dos católicos é a "vida futura" dos "espíritas", numa analogia exata - era bovinamente defendida pelos chiquistas "espíritas" ou simpatizantes como se fosse um conceito "da mais alta elevação moral" e da "mais pura generosidade humana".
Sim. São dois pesos e duas medidas. O que faz falta haver um Christopher Hitchens no Brasil, quando temos que avisar até a blogueiros de esquerda - que traçam um esboço de avaliação crítica consistente da realidade brasileira - que Chico Xavier não era tão "bom velhinho" assim e que defendeu a ditadura militar quando parte da direita golpista já se opunha ao regime.
RELAÇÕES COM A MÍDIA
A BBC, através de seu jornalista Malcolm Muggeridge, investiu na invenção do mito de Madre Teresa de Calcutá. E olha que a BBC era ideologicamente mais neutra, e o mito está associado diretamente ao repórter que a entrevistou para o documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), de 1969.
A Rede Globo, desfazendo a antiga hostilidade das Organizações Globo ao anti-médium Chico Xavier - resultante da influência de católicos como Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção e o espanhol naturalizado brasileiro Oscar Quevedo, o padre Quevedo - , resolveu reinventar o mito dele, através de reportagens de TV e do apoio aos filmes da Globo Filmes.
Os executivos da BBC não estavam atrelados à intenção pessoal de Muggeridge, e mesmo assim o mito de Madre Teresa não teve dificuldades de ser desmontado como um fenômeno produzido pelo sensacionalismo midiático associado a dogmas medievais.
No entanto, a aliança Organizações Globo X Chico Xavier não é sequer questionada no Brasil, exceto por uns poucos esclarecidos, e há gente que acredita, por exemplo, que o filme As Mães de Chico Xavier, uma co-produção da Globo Filmes, teve divulgação boicotada pela grande mídia, Globo inclusive!
A blindagem em torno de Chico Xavier revela tais absurdos, e o pior é que a própria corporação, as Organizações Globo, diferente da isenção da britânica e estatal BBC, que permitiu que um jornalista criasse pessoalmente um mito, compartilhasse da mitificação de Chico Xavier, já trabalhada sutilmente desde 1944, antes da Globo "fazer as pazes" com o anti-médium (coisa de uns 35 anos).
Sim, a BBC independente não compartilhava necessariamente com a exaltação ou depreciação de uma missionária e deu carta branca para um repórter trabalhar seu mito como quisesse. Já a Rede Globo, O Globo e a Globo Filmes trabalharam para reconstruir o mito de Chico Xavier, com evidente cumplicidade ideológica, e as pessoas imaginam que nenhuma mitificação foi criada.
Ou seja, o pessoal no exterior viu manipulação midiática evidente no documentário da BBC e há quem vê cumplicidade nos diretores da BBC com a mitificação da missionária. As pessoas viam manipulação até onde havia "isenção", quando a culpa pela invenção do mito de Madre Teresa se deve tão somente a Muggeridge. Nem todos os produtores compartilharam das fantasias dele em relação à missionária.
Já no Brasil, as pessoas veem "isenção" onde havia manipulação ainda mais escancarada, e poucos conseguem ver o dedo da Globo na reconstrução do mito de Chico Xavier. Atribuem "isenção" onde não existe. Mas se as Organizações Globo enfiavam o grotesco "funk carioca" em todos os seus veículos e até a intelectualidade achava que o ritmo era boicotado pela grande mídia, é sinal que esse bitolamento da chamada "opinião pública" faz sentido no Brasil.
RELAÇÕES COM O PODER
Outra denúncia relacionada a Madre Teresa de Calcutá está nas boas relações que ela tinha com tiranos, ditadores e magnatas corruptos, participando alegremente de esquemas de lavagem financeira para transferir boa parte do que ela arrecadava com os ricaços para os cofres do Vaticano, deixando suas instituições de "caridade" à própria sorte, sem medicamentos nem comida necessários.
É notória a condecoração que o então presidente dos EUA, o republicano Ronald Reagan, deu à Madre Teresa a Medalha da Liberdade, que reagiu com felicidade, atribuindo a Reagan e seus consortes um suposto altruísmo. "Eu nunca percebi que você amava as pessoas tão ternamente", disse a madre ao presidente. A cerimônia aconteceu em 1985, em Washington.
Só que Reagan estava envolvido com uma política imperialista de eliminar os focos de movimentos sociais em países da América Central, como Guatemala, Nicarágua ou mesmo o país da América do Norte, mas ligado à América Latina, o México. A perversa política está registrada em documentos secretos posteriormente divulgados pela imprensa estadunidense.
Era uma política sangrenta de "limpeza social" em que o Departamento de Estado dos EUA e a CIA financiaram toda a ação do crime organizado e dos esquadrões da morte que realizavam chacinas a esmo, com o objetivo de eliminar ativistas sociais, sindicalistas, intelectuais, jornalistas investigativos padres, cientistas e até inocentes que estavam no meio do caminho.
Madre Teresa se envolveu também com um ditador da Albânia e com o conhecido ditador do Haiti, Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, supostamente para obter fundos para a filantropia. Segundo acusava Christopher Hitchens no documentário Anjo do Inferno: Madre Teresa de Calcutá, a madre dava "consolo espiritual" a ditadores e exploradores ricos.
No entanto. no Brasil, Chico Xavier e Divaldo Franco sempre estiveram de mãos dadas com poderosos e ricaços, só de forma mais sutil e discreta. No Brasil existe essa manobra. As manipulações e conchavos são feitos de forma bem mais dissimulada, de forma a evitar o vazamento, ao menos imediato, de escândalos.
Eles não conseguem realizar uma transformação digna e profunda no Brasil - Chico achava o sofrimento dos desgraçados "muito bonito" e Divaldo, com sua Mansão do Caminho, só ajudou, em toda sua história, 0,08% da população de Salvador, o que em escala mundial é o mesmo que nada - e no entanto desfilaram (Divaldo ainda desfila) ao lado dos privilegiados e poderosos.
Eles também receberam prêmios como Madre Teresa de Calcutá. "Desapegados" da matéria, se orgulharam e se envaideceram com as homenagens terrenas, como também desenvolveram sua vaidade e presunção pela reputação materialista e mundana de "personalidades superiores", mergulhados eles nos límpidos oceanos do orgulho e da certeza de que conquistarão o Paraíso em, pelo menos, poucas encarnações.
No entanto, em várias fotos que pesquisamos de Chico Xavier e Divaldo Franco em suas homenagens, é só prestar a atenção nos seus semblantes e verá, sem muito esforço, uma evidente vaidade e um regojizo esnobe de quem se deleita com as homenagens mundanas no bacanal dos poderosos.
Mas o Brasil fica complacente a eles e as mídias sociais mostram isso. É assustador. Duas pessoas que deturparam a Doutrina Espírita, com desonestidade doutrinária e falsidade ideológica (como Chico Xavier usando o nome de Humberto de Campos em alguns livros) que são beneficiadas pela mais absoluta impunidade e imunidade, apesar de seus delitos graves e evidentes.
Daí que o Brasil tinha mesmo que ser o país da impunidade, das injustiças sociais e da supremacia da mentira bem-sucedida, das graves falsidades que, dependendo da reputação de alguém, podem receber o apoio quase unânime da sociedade ou mesmo daqueles que deveriam agir pela justiça social e pelo combate a desonestidades de todo tipo.
A compreensão brasileira das coisas chega a ser aberrante. O que é diagnosticado por ativistas e analistas no exterior como problemas graves e sérios, aqui eles são vistos como "soluções" ou "qualidades positivas", com uma quase unanimidade que preocupa, e muito.
É o caso da apologia ao sofrimento humano defendida por Madre Teresa de Calcutá. Essa qualidade negativa faz parte de algumas das denúncias contra a missionária, que desqualificam sua reputação de "santa", que ela recebeu ainda em vida, e que chegam ao ponto de defini-la como "anjo do inferno".
Em outras palavras, Madre Teresa de Calcutá foi duramente criticada quando tentava defender que o sofrimento humano é "bonito" e que se deve sofrer com amor visando as bênçãos futuras do "céu". Aceita-se todo tipo de flagelo, infortúnio ou mesmo azar, e quando a tragédia chega à nossa porta, devemos recebê-la e tratá-la com carinho. Tal apologia é vista como um defeito aberrante.
Francisco Cândido Xavier pregava exatamente a mesma coisa, com todas as palavras - até mesmo o "perdoe, perdoe" de Madre Teresa, clamando à opinião pública que não culpasse os responsáveis pela tragédia química da Union Carbide em Bophal, na Índia, em 1984 parecia frase típica do anti-médium - e rigorosamente as mesmas ideias e princípios e de um enfoque não menos medieval.
Todavia, Chico Xavier foi considerado "progressista" (?!) e "ativista" (?!?!) por causa de tais visões, e a desculpa da "vida futura" - o "paraíso" dos católicos é a "vida futura" dos "espíritas", numa analogia exata - era bovinamente defendida pelos chiquistas "espíritas" ou simpatizantes como se fosse um conceito "da mais alta elevação moral" e da "mais pura generosidade humana".
Sim. São dois pesos e duas medidas. O que faz falta haver um Christopher Hitchens no Brasil, quando temos que avisar até a blogueiros de esquerda - que traçam um esboço de avaliação crítica consistente da realidade brasileira - que Chico Xavier não era tão "bom velhinho" assim e que defendeu a ditadura militar quando parte da direita golpista já se opunha ao regime.
RELAÇÕES COM A MÍDIA
A BBC, através de seu jornalista Malcolm Muggeridge, investiu na invenção do mito de Madre Teresa de Calcutá. E olha que a BBC era ideologicamente mais neutra, e o mito está associado diretamente ao repórter que a entrevistou para o documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), de 1969.
A Rede Globo, desfazendo a antiga hostilidade das Organizações Globo ao anti-médium Chico Xavier - resultante da influência de católicos como Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção e o espanhol naturalizado brasileiro Oscar Quevedo, o padre Quevedo - , resolveu reinventar o mito dele, através de reportagens de TV e do apoio aos filmes da Globo Filmes.
Os executivos da BBC não estavam atrelados à intenção pessoal de Muggeridge, e mesmo assim o mito de Madre Teresa não teve dificuldades de ser desmontado como um fenômeno produzido pelo sensacionalismo midiático associado a dogmas medievais.
No entanto, a aliança Organizações Globo X Chico Xavier não é sequer questionada no Brasil, exceto por uns poucos esclarecidos, e há gente que acredita, por exemplo, que o filme As Mães de Chico Xavier, uma co-produção da Globo Filmes, teve divulgação boicotada pela grande mídia, Globo inclusive!
A blindagem em torno de Chico Xavier revela tais absurdos, e o pior é que a própria corporação, as Organizações Globo, diferente da isenção da britânica e estatal BBC, que permitiu que um jornalista criasse pessoalmente um mito, compartilhasse da mitificação de Chico Xavier, já trabalhada sutilmente desde 1944, antes da Globo "fazer as pazes" com o anti-médium (coisa de uns 35 anos).
Sim, a BBC independente não compartilhava necessariamente com a exaltação ou depreciação de uma missionária e deu carta branca para um repórter trabalhar seu mito como quisesse. Já a Rede Globo, O Globo e a Globo Filmes trabalharam para reconstruir o mito de Chico Xavier, com evidente cumplicidade ideológica, e as pessoas imaginam que nenhuma mitificação foi criada.
Ou seja, o pessoal no exterior viu manipulação midiática evidente no documentário da BBC e há quem vê cumplicidade nos diretores da BBC com a mitificação da missionária. As pessoas viam manipulação até onde havia "isenção", quando a culpa pela invenção do mito de Madre Teresa se deve tão somente a Muggeridge. Nem todos os produtores compartilharam das fantasias dele em relação à missionária.
Já no Brasil, as pessoas veem "isenção" onde havia manipulação ainda mais escancarada, e poucos conseguem ver o dedo da Globo na reconstrução do mito de Chico Xavier. Atribuem "isenção" onde não existe. Mas se as Organizações Globo enfiavam o grotesco "funk carioca" em todos os seus veículos e até a intelectualidade achava que o ritmo era boicotado pela grande mídia, é sinal que esse bitolamento da chamada "opinião pública" faz sentido no Brasil.
RELAÇÕES COM O PODER
Outra denúncia relacionada a Madre Teresa de Calcutá está nas boas relações que ela tinha com tiranos, ditadores e magnatas corruptos, participando alegremente de esquemas de lavagem financeira para transferir boa parte do que ela arrecadava com os ricaços para os cofres do Vaticano, deixando suas instituições de "caridade" à própria sorte, sem medicamentos nem comida necessários.
É notória a condecoração que o então presidente dos EUA, o republicano Ronald Reagan, deu à Madre Teresa a Medalha da Liberdade, que reagiu com felicidade, atribuindo a Reagan e seus consortes um suposto altruísmo. "Eu nunca percebi que você amava as pessoas tão ternamente", disse a madre ao presidente. A cerimônia aconteceu em 1985, em Washington.
Só que Reagan estava envolvido com uma política imperialista de eliminar os focos de movimentos sociais em países da América Central, como Guatemala, Nicarágua ou mesmo o país da América do Norte, mas ligado à América Latina, o México. A perversa política está registrada em documentos secretos posteriormente divulgados pela imprensa estadunidense.
Era uma política sangrenta de "limpeza social" em que o Departamento de Estado dos EUA e a CIA financiaram toda a ação do crime organizado e dos esquadrões da morte que realizavam chacinas a esmo, com o objetivo de eliminar ativistas sociais, sindicalistas, intelectuais, jornalistas investigativos padres, cientistas e até inocentes que estavam no meio do caminho.
Madre Teresa se envolveu também com um ditador da Albânia e com o conhecido ditador do Haiti, Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, supostamente para obter fundos para a filantropia. Segundo acusava Christopher Hitchens no documentário Anjo do Inferno: Madre Teresa de Calcutá, a madre dava "consolo espiritual" a ditadores e exploradores ricos.
No entanto. no Brasil, Chico Xavier e Divaldo Franco sempre estiveram de mãos dadas com poderosos e ricaços, só de forma mais sutil e discreta. No Brasil existe essa manobra. As manipulações e conchavos são feitos de forma bem mais dissimulada, de forma a evitar o vazamento, ao menos imediato, de escândalos.
Eles não conseguem realizar uma transformação digna e profunda no Brasil - Chico achava o sofrimento dos desgraçados "muito bonito" e Divaldo, com sua Mansão do Caminho, só ajudou, em toda sua história, 0,08% da população de Salvador, o que em escala mundial é o mesmo que nada - e no entanto desfilaram (Divaldo ainda desfila) ao lado dos privilegiados e poderosos.
Eles também receberam prêmios como Madre Teresa de Calcutá. "Desapegados" da matéria, se orgulharam e se envaideceram com as homenagens terrenas, como também desenvolveram sua vaidade e presunção pela reputação materialista e mundana de "personalidades superiores", mergulhados eles nos límpidos oceanos do orgulho e da certeza de que conquistarão o Paraíso em, pelo menos, poucas encarnações.
No entanto, em várias fotos que pesquisamos de Chico Xavier e Divaldo Franco em suas homenagens, é só prestar a atenção nos seus semblantes e verá, sem muito esforço, uma evidente vaidade e um regojizo esnobe de quem se deleita com as homenagens mundanas no bacanal dos poderosos.
Mas o Brasil fica complacente a eles e as mídias sociais mostram isso. É assustador. Duas pessoas que deturparam a Doutrina Espírita, com desonestidade doutrinária e falsidade ideológica (como Chico Xavier usando o nome de Humberto de Campos em alguns livros) que são beneficiadas pela mais absoluta impunidade e imunidade, apesar de seus delitos graves e evidentes.
Daí que o Brasil tinha mesmo que ser o país da impunidade, das injustiças sociais e da supremacia da mentira bem-sucedida, das graves falsidades que, dependendo da reputação de alguém, podem receber o apoio quase unânime da sociedade ou mesmo daqueles que deveriam agir pela justiça social e pelo combate a desonestidades de todo tipo.
sábado, 26 de setembro de 2015
O "espiritismo" e a maldição das mortes precoces
O "espiritismo" é a religião do velho. A religião que se autoproclama a vanguarda dos movimentos espiritualistas, mas se comporta e age como se fosse a pior das retaguardas. Uma religião que, a pretexto de acreditar na vida futura, ceifa o novo e interrompe a renovação da humanidade.
Daí não ser por acaso que muitos que aderem essa religião acabam perdendo seus filhos em algum acidente. O "espiritismo" dá azar, mesmo para aqueles que aderem a ele com amor e dedicação. A religião tem bases ideológicas que remetem à Idade Média, e isso se comprova pela prática que os "centros espíritas" fazem e pelo pensamento ideológico de sua crença.
É risível que os líderes e palestrantes "espíritas" façam suas críticas severas do Catolicismo medieval. Houve caso de palestrante falando mal do imperador Constantino, por "profanar" o Cristianismo, o que é contraditório, mediante a herança que a deturpação da Doutrina Espírita, no Brasil e sobretudo através de figuras como Bezerra de Menezes e Francisco Cândido Xavier, trouxeram.
O "espiritismo" se baseou no Catolicismo português, que, pelo menos, até o Segundo Império brasileiro, mantinha práticas e valores medievais. e de início isso era até uma regra de sobrevivência, para tentar minimizar as perseguições policiais a seus praticantes, coisa muito comum na República Velha.
A única diferença que o pretenso Espiritismo brasileiro tem do Catolicismo medieval é que ele resultou de um "pacto" com práticas hereges clandestinas. O aspecto religioso fornece os conceitos católicos medievais, enquanto que o que se entende no Brasil como "ciência espírita" se relaciona a práticas e abordagens ocultistas de alto grau místico, mas muito pouca coerência científica.
E é a partir daí que o "espiritismo" torna-se uma religião com energias vibratórias confusas e, não raro, malignas. É uma religião que se mostra pior do que as seitas neo-pentecostais, porque pelo menos estas são apenas bastante grotescas e, ameaças à parte (como o sutil fundamentalismo dos Gladiadores do Altar, da Igreja Universal), não conseguem enganar durante muito tempo.
Já o "espiritismo" é mentira pura. Seus integrantes mentem o tempo todo, quando dizem jurar toda a inabalável fidelidade e rigoroso respeito ao pensamento de Allan Kardec, mas cortejam traidores como Chico Xavier e Divaldo Franco, que de forma bem clara publicaram livros que contrariam de maneira frontal o pensamento cuidadosamente sistematizado pelo pedagogo francês.
E aí vemos o que ocorre. Confusão de energias, um engodo energético que acaba atingindo sobretudo os mais jovens, que têm mais idealismo e potencial de transformação social. A religião "espírita" protege os idosos, mas deixa os jovens vulneráveis, ou então traz azar a pessoas com algum tipo de diferencial, de Juscelino Kubitschek a José Wilker (que por acaso interpretou JK na televisão).
Embora legalmente idosos, Kubitschek e Wilker (mortos aos 74 e 70 anos, ambos incompletos), eram considerados "jovens" para o legado que deixaram e para os projetos que tinham em mente. E estavam associados a iniciativas bastante modernas e relacionadas ao progresso do Brasil. Não eram "espíritas", mas tinham alguma simpatia, tendo sido Kubitschek amigo de Chico Xavier e Wilker, ateu, recorrido a um "centro espírita" para uma cirurgia.
Mas mesmo os mais devotos "espíritas" também sofrem azar. As atrizes Nair Bello e Ana Rosa perderam filhos em acidentes. Um filho e uma nora do diretor de TV Augusto César Vannucci, amigo de Chico Xavier, morreram sufocados por gás de aquecedor, no final dos anos 80.
A "vida futura", embora seja uma certeza, virou uma desculpa para as pessoas adiarem seus projetos de vida para outras encarnações. Só que isso se torna inútil, porque as sociedades mudam, nem sempre para melhor, e os projetos de vida tendem a ser quase todos readaptados e refeitos, já que uma pessoa que morre jovem só voltará a ser jovem adulta num prazo mínimo de cerca de 25 anos.
Num país de retrocessos como o Brasil, e, sobretudo, a cidade do Rio de Janeiro, tomada de projetos urbanísticos e culturais que na verdade evocam os valores consumistas e turísticos dos tempos do "milagre brasileiro", fica muito mais difícil morrer cedo e reencarnar com o mesmo idealismo.
Se as mortes prematuras são uma eventualidade na vida humana, elas são vistas pelo "espiritismo" como uma fatalidade. Alguns "espíritas", sádicos, chegam a dizer que vários jovens morrem cedo porque "chegou a hora" e "não precisam mais" contribuir para a evolução da humanidade terrena, vivendo suas breves encarnações apenas para "exercer a afeição familiar".
Essa tese existe e é de um sadismo assustador. Sobretudo quando pessoas são vítimas da violência, julgadas pelos "humildes e misericordiosos espíritas" como devedoras de antigas crueldades, um julgamento cruel e equivocado, porque a Ciência Espírita não é algo que os "dedicados espíritas" tenham pleno conhecimento, até pelo fato de que eles a aprendem mal pelos livros de Chico Xavier e companhia.
O moralismo "espírita" tenta justificar prejuízos, danos e retrocessos supondo encarnações passadas que eles não têm ideia se assim foram. Mas eles mesmos se desentendem sobre quem tinha sido quem na encarnação passada e houve líder "espírita" que pesquisava as enciclopédias para enumerar os cientistas e monarcas que havia sido em outras encarnações.
E é essa religião que acaba ceifando o novo, feliz pela ilusão de que os mais jovens vão para a "verdadeira vida", enquanto interrompem sua missão mal começada, porque "não é mais necessária". E o Brasil se torna cada vez mais velho e retrógrado, afastando de vez a fantasia, tão sonhada pelos "espíritas", de que irá em breve comandar o mundo.
Daí o "espiritismo" ser pior do que as seitas neo-pentecostais. Elas também são medievais à sua maneira, mas pelo menos elas são tão grotescas que às vezes acabam soando cômicas e engraçadas. O "espiritismo", com sua pretensão de seriedade e transparência, é que se torna triste e deprimente.
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
Heterodoxo nos ritos, Catolicismo de Chico Xavier era ortodoxo nos dogmas
NOSSA SENHORA DA ABADIA ERA A SANTA DE DEVOÇÃO DE CHICO XAVIER.
Oficialmente, Francisco Cândido Xavier é visto como uma pessoa que enfrentou a Igreja Católica para professar seu "espiritismo" e combatia tradições medievais para trazer a nova espiritualidade em conceitos e valores futuristas que anunciavam a liderança plena do Brasil no futuro da Terra.
Essa visão, defendida por muitos e consagrada oficialmente como se fosse uma verdade indiscutível, é, todavia, falsa. A construção do mito de Chico Xavier criou aspectos surreais como os do parágrafo acima, que à menor comparação com fatos reais, se desfaz como castelo de areia ao menor contato com o mar, pela falta de lógica que a generosa mitologia se apresenta.
O que se pode verificar, com muita atenção, é que Chico Xavier nunca foi um espírita de verdade. Ele era paranormal, mas era católico fervoroso e, em seus livros, tudo o que ele fez foi inserir o que havia de mais retrógrado no Catolicismo travestido de "espiritismo moderno".
Em muitos aspectos, os livros de Chico Xavier retrocedem, e muito, em relação às ideias transmitidas por Allan Kardec. Temas como o machismo, abordagens racistas (como definir negros e índios como "condenados morais") e intolerância religiosa (o anti-semitismo) são vistas como "positivas" pela bibliografia chiquista, que em muitos trechos prega valores puramente medievais.
O que chama a atenção é que Chico Xavier era um católico heterodoxo "em termos". Ele irritava setores da Igreja Católica porque fazia práticas paranormais e começava a atender pessoas com sua suposta "mediunidade", prática considerada clandestina e, sinceramente, quase nunca devidamente valorizada e sistematizada no Brasil.
No entanto, podemos assegurar que Chico Xavier era um católico heterodoxo apenas no aspecto ritual, e nem tanto assim. Ele nunca rompeu com a Igreja Católica, como instituição, e saiu muito magoado por ter sido excomungado, não por sua índole "bondosa" ter sido machucada na ocasião, mas porque era um dos mais apaixonados católicos do Brasil.
No aspecto dogmático, Chico Xavier era tão ortodoxo quanto aqueles que o excomungaram. E mesmo alguns ritos eram mantidos, apesar de sua paranormalidade, como a adoração de imagens de santos, com as quais Chico Xavier conversava feito um beato. Ele tinha um altar particular de adoração a esses santos, era um beato católico além da conta.
A devoção religiosa de Chico Xavier faz com que seja inútil pensar se ele foi ou não Allan Kardec em outra encarnação. Com a mais absoluta certeza e de forma comprovada e comprovável por argumentos dos mais consistentes, Chico nunca teria sido Kardec, por diferenças de índole, de ideias, de temperamento, de trabalho, de tudo. É uma hipótese falida e rejeitada por sua própria natureza.
Chico Xavier demonstrou seu catolicismo em entrevista ao programa Pinga Fogo, em 1971. E um catolicismo bem mais conservador que Dom Hélder Câmara e Alceu Amoroso Lima, só não era um conservadorismo furioso como se via no Gustavo Corção, que se vivo fosse seria o sacerdote predileto dos Revoltados On Line.
Mesmo assim, Chico Xavier assustava quando dizia que a ditadura militar - que era conhecida como "revolução" na época - estava construindo um "reino de amor e luz" do Brasil futuro, porque era um "reino" construído com os sangues de muitos prisioneiros, torturados e desaparecidos políticos.
Ele pedia para respeitarmos o Vaticano como entidade superior da Igreja Católica, apresentava em seus livros uma visão medieval de Jesus Cristo, estabelecia contatos espirituais com o jesuíta Padre Manuel da Nóbrega, que virou Emmanuel, e inseria abordagens bíblicas também típicas da Idade Média em muitas e muitas de suas obras.
O catolicismo de Chico Xavier é tão certo que o "espiritismo", a partir dele, fortaleceu e consolidou muitas práticas católicas, adaptadas à "nova doutrina": a água-benta virou "água fluidificada", o confessionário virou "auxílio fraterno", os santos viraram "espíritos de luz", a missa virou doutrinária, a penitência se transformou em "Evangelho no lar" etc.
Até mesmo a devoção que os seguidores de Chico Xavier têm ao anti-médium é do mais mofado catolicismo. É risível que tanta gente, mesmo muitas donas-de-casa, dissimulem seu fervoroso catolicismo em prol de Chico Xavier, fingindo que entendem de ciência, dizendo que são intelectualizadas, dentro da habitual hipocrisia dos "espíritas" brasileiros.
Daí que a gente define Chico Xavier como "católico heterodoxo" por uma questão de formalidade. Isso porque ele exercia a paranormalidade - mas muito longe do "super-médium" que oficialmente se acredita dele, mas que ele nunca foi - e estabeleceu uma relação conflituosa com líderes católicos, a ponto de deixar Pedro Leopoldo para viver o resto de seus dias em Uberaba.
Porém, o catolicismo de Chico Xavier, ideologicamente falando, era tão ortodoxo quando o de seus opositores, e lendo os livros do anti-médium observa-se justamente isso. Como também de seu maior seguidor, o baiano Divaldo Franco, outro católico de carteirinha que parece até ter treinado dicção nas fileiras católicas. Só os desinformados não admitem que eles são "católicos da gema".
Oficialmente, Francisco Cândido Xavier é visto como uma pessoa que enfrentou a Igreja Católica para professar seu "espiritismo" e combatia tradições medievais para trazer a nova espiritualidade em conceitos e valores futuristas que anunciavam a liderança plena do Brasil no futuro da Terra.
Essa visão, defendida por muitos e consagrada oficialmente como se fosse uma verdade indiscutível, é, todavia, falsa. A construção do mito de Chico Xavier criou aspectos surreais como os do parágrafo acima, que à menor comparação com fatos reais, se desfaz como castelo de areia ao menor contato com o mar, pela falta de lógica que a generosa mitologia se apresenta.
O que se pode verificar, com muita atenção, é que Chico Xavier nunca foi um espírita de verdade. Ele era paranormal, mas era católico fervoroso e, em seus livros, tudo o que ele fez foi inserir o que havia de mais retrógrado no Catolicismo travestido de "espiritismo moderno".
Em muitos aspectos, os livros de Chico Xavier retrocedem, e muito, em relação às ideias transmitidas por Allan Kardec. Temas como o machismo, abordagens racistas (como definir negros e índios como "condenados morais") e intolerância religiosa (o anti-semitismo) são vistas como "positivas" pela bibliografia chiquista, que em muitos trechos prega valores puramente medievais.
O que chama a atenção é que Chico Xavier era um católico heterodoxo "em termos". Ele irritava setores da Igreja Católica porque fazia práticas paranormais e começava a atender pessoas com sua suposta "mediunidade", prática considerada clandestina e, sinceramente, quase nunca devidamente valorizada e sistematizada no Brasil.
No entanto, podemos assegurar que Chico Xavier era um católico heterodoxo apenas no aspecto ritual, e nem tanto assim. Ele nunca rompeu com a Igreja Católica, como instituição, e saiu muito magoado por ter sido excomungado, não por sua índole "bondosa" ter sido machucada na ocasião, mas porque era um dos mais apaixonados católicos do Brasil.
No aspecto dogmático, Chico Xavier era tão ortodoxo quanto aqueles que o excomungaram. E mesmo alguns ritos eram mantidos, apesar de sua paranormalidade, como a adoração de imagens de santos, com as quais Chico Xavier conversava feito um beato. Ele tinha um altar particular de adoração a esses santos, era um beato católico além da conta.
A devoção religiosa de Chico Xavier faz com que seja inútil pensar se ele foi ou não Allan Kardec em outra encarnação. Com a mais absoluta certeza e de forma comprovada e comprovável por argumentos dos mais consistentes, Chico nunca teria sido Kardec, por diferenças de índole, de ideias, de temperamento, de trabalho, de tudo. É uma hipótese falida e rejeitada por sua própria natureza.
Chico Xavier demonstrou seu catolicismo em entrevista ao programa Pinga Fogo, em 1971. E um catolicismo bem mais conservador que Dom Hélder Câmara e Alceu Amoroso Lima, só não era um conservadorismo furioso como se via no Gustavo Corção, que se vivo fosse seria o sacerdote predileto dos Revoltados On Line.
Mesmo assim, Chico Xavier assustava quando dizia que a ditadura militar - que era conhecida como "revolução" na época - estava construindo um "reino de amor e luz" do Brasil futuro, porque era um "reino" construído com os sangues de muitos prisioneiros, torturados e desaparecidos políticos.
Ele pedia para respeitarmos o Vaticano como entidade superior da Igreja Católica, apresentava em seus livros uma visão medieval de Jesus Cristo, estabelecia contatos espirituais com o jesuíta Padre Manuel da Nóbrega, que virou Emmanuel, e inseria abordagens bíblicas também típicas da Idade Média em muitas e muitas de suas obras.
O catolicismo de Chico Xavier é tão certo que o "espiritismo", a partir dele, fortaleceu e consolidou muitas práticas católicas, adaptadas à "nova doutrina": a água-benta virou "água fluidificada", o confessionário virou "auxílio fraterno", os santos viraram "espíritos de luz", a missa virou doutrinária, a penitência se transformou em "Evangelho no lar" etc.
Até mesmo a devoção que os seguidores de Chico Xavier têm ao anti-médium é do mais mofado catolicismo. É risível que tanta gente, mesmo muitas donas-de-casa, dissimulem seu fervoroso catolicismo em prol de Chico Xavier, fingindo que entendem de ciência, dizendo que são intelectualizadas, dentro da habitual hipocrisia dos "espíritas" brasileiros.
Daí que a gente define Chico Xavier como "católico heterodoxo" por uma questão de formalidade. Isso porque ele exercia a paranormalidade - mas muito longe do "super-médium" que oficialmente se acredita dele, mas que ele nunca foi - e estabeleceu uma relação conflituosa com líderes católicos, a ponto de deixar Pedro Leopoldo para viver o resto de seus dias em Uberaba.
Porém, o catolicismo de Chico Xavier, ideologicamente falando, era tão ortodoxo quando o de seus opositores, e lendo os livros do anti-médium observa-se justamente isso. Como também de seu maior seguidor, o baiano Divaldo Franco, outro católico de carteirinha que parece até ter treinado dicção nas fileiras católicas. Só os desinformados não admitem que eles são "católicos da gema".
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
Chico Xavier NUNCA previu descoberta da NASA
Além da malandragem "espírita" de supor "pioneirismo científico" de 63 anos ao fictício André Luiz, há também a malandragem de atribuir ao pseudo-Humberto de Campos da literatura "espírita" o "pioneirismo" de 75 anos da existência de água em Marte.
A interpretação parte do livro Novas Mensagens, que Francisco Cândido Xavier lançou depois do patético Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, livro "revelador" sobre a História do Brasil que misturava a abordagem ufanista dos piores livros didáticos com pregação religiosista da Federação "Espírita" Brasileira. Foi em 1939, um ano depois da citada patriotada literária.
A tese de "pioneirismo" foi trazida, em diversos artigos, pelo jornalista e dirigente "espírita" carioca Gerson Simões Monteiro, presidente da Rádio Rio de Janeiro AM e colunista do jornal popularesco Extra. A ideia repercutiu positivamente nos meios "espíritas" de todo o Brasil. Na época, 2004, ele supôs um "pioneirismo" de 65 anos.
A delirante narrativa do livro mostra o caricato Humberto de Campos, o "espírito anedótico" que destoa do autor maranhense que esteve aqui em solo pátrio, viajando, vejam só, até Marte e, naquele ano, "descobriu" antes da NASA (National Aeronautics and Space Administration) que havia formas avançadas de vida e presença de água.
Animados, os "espíritas" apressadamente comemoraram e anunciaram um suposto pioneirismo de sete décadas e meia, na sua tentativa de inserir Chico Xavier no clube de cientistas, através da suposta atuação de Humberto de Campos, o igrejista cujo estilo destoa completamente do escritor que viveu entre nós e integrou a Academia Brasileira de Letras.
Segundo eles, a NASA só descobriria presença de água em Marte no ano de 2004, e em 2007 descobriria gelo, através do robô Opportunity, enviado ao planeta. Soltando fogos, confetes e serpentinas, os "espíritas" então festejaram um suposto pioneirismo não só de 65 anos, mas de 68 (hoje cerca de 75 ou 78), certos de que Chico Xavier seria reconhecido como "cientista".
Acreditam eles que a descoberta da NASA, através de seu robô, era inédita e não se falava um pio sobre a presença de água nem de vida em Marte. Grande falácia. A possibilidade de haver água e vida em Marte era uma crença muito antiga, e as modernas pesquisas neste sentido surgiram no século XIX a partir do matemático e astrônomo estadunidense Percival Lowell (1855-1916).
Lowell foi um dos primeiros a lançar a hipótese de que haviam canais (onde haveriam vestígios de água) e vida inteligente na Terra. Antes dele ainda havia outro, William Whewell (1794-1866), filósofo, padre anglicano e historiador da ciência inglês que popularizou o termo scientist (cientista), havia especulado em 1854 que havia mares, terra e vida em Marte.
Apesar dessas especulações, foi Lowell que começou a lançar a questão em debate para valer, através dos livros Mars (1895), Mars and its Canals (1906) e Mars as the Abode of Life (1908). Portanto, o que os festivos "espíritas" desconhecem é que não houve pioneirismo em Chico Xavier em 75 ou 78 anos, antes houvesse um atraso de compreensão em 31, 43 ou 45 anos.
Nos recusamos a colocar o coitado do Humberto de Campos nesta porque o autor, um rapaz de 22 anos quando Percival Lowell lançou o terceiro dos citados livros, nunca entraria na cilada armada por Chico Xavier. Com toda a certeza, o "Humberto de Campos" associado a Chico Xavier é falso, a Justiça de 1944 é que não conhecia o termo "falsidade ideológica" hoje mencionado em leis.
Portanto, a descrição, no livro Novas Mensagens, de que havia vida inteligente, água e formas adiantadas de sociedade em nenhum momento representa qualquer pioneirismo, porque mesmo a suposição de civilizações adiantadas era descrita em obras de ficção científica diversas, pelo menos a partir de Jules Verne (1828-1905).
Mais uma vez, os "espíritas" cometeram um grave equívoco, supondo um pioneirismo que não existiu e que, na verdade, corresponde a um humilhante atraso, um retardamento de cerca de quatro décadas em relação à tese da existência de vida e de água em Marte, assuntos que eram longamente discutidos pela comunidade científica, sendo a partir do século XIX de maneira mais sistemática.
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
Cartazes publicados em Niterói alertam para movimentos de extrema-direita no Brasil
Que o Sul e Sudeste sofrem profundos retrocessos sociais, isso é verdade. O Estado do Rio de Janeiro, principalmente sua capital, conforme mostram os noticiários, é palco de uma tragicomédia que se manifesta em diversos aspectos e várias situações.
O drama fluminense e, principalmente, carioca, não é algo que possa ser visto como algo menor, como uma "crise natural" em consequência da modernidade e da complexidade urbana das grandes metrópoles, mas retrato de uma crise que deveria ser levada a sério.
Enquanto se prepara o separatismo da Zona Norte e Zona Sul cariocas, através do fim de linhas de ônibus diretas, medida a ser implantada no próximo mês para dificultar o acesso do povo dos subúrbios às praias da Zona Sul - amostra disso foi a extinção da linha 465 Cascadura / Gávea, embora um discreto precedente tenha sido o fim da linha 442 Lins / Urca - , cartazes ligados a um grupo neo-nazista foram vistos colados nas ruas da vizinha Niterói.
Os cartazes, supostamente dirigidos a grupos jihadistas como o Estado Islâmico, são creditados ao "International United Klans" e "Imperial Klans Brasil", e indicam um movimento nos moldes do estadunidense Klu Klux Klan. Com posições contrárias ao povo judeu, aos homossexuais, aos comunistas e outros grupos normalmente hostilizados pela extrema-direita, o grupo, através de seus cartazes, tenta se autopromover às custas da crise em que vive o país.
Movimentos de extrema-direita surgem no Sul e Sudeste. Um deles, no Rio Grande do Sul, luta para recriar a ARENA (Aliança Renovadora Nacional), principal partido da ditadura militar, e já enviou documentos para solicitar registro no TSE. Neo-nazistas eventualmente agem praticando violência nas ruas de São Paulo, causando vários assassinatos, cujas vítimas geralmente eram homossexuais.
Grupos neo-nazistas chegaram a exibir suásticas durante as manifestações contra a presidenta Dilma Rousseff, que foram organizadas várias vezes este ano. E mesmo num reduto de rebeldia domesticada como a pretensamente roqueira FM carioca, a Rádio Cidade, jovens escreviam em sua página de recados na Internet defendendo o fechamento do Congresso Nacional e o fim do Poder Legislativo, com a desculpa de "combater a corrupção".
O ultraconservadorismo já era expresso pela "inocente" ação de trolagem na Internet. Vários casos de vandalismo digital, com humilhações coletivamente combinadas por alguns internautas violentos nas mídias sociais envolvem desde a defesa de decisões arbitrárias das autoridades políticas, modismos ditados pela mídia e valores racistas e machistas.
Geralmente as pessoas que questionam esses valores eram "bombardeadas" por uma série de comentários irônicos que depois se convertem em gozações abertas e ameaças, sempre com mensagens em série publicadas por internautas comandados geralmente por um ou dois "valentões". Um deles chega ao ponto de criar blogues ofensivos contra a vítima, reproduzindo para fins de difamação textos e acervo pessoal do lesado.
Isso era um "ensaio" para o extremo-direitismo que toma conta do Sul e Sudeste, embora tenha seus vestígios em outras regiões (como a tentativa de assassinato, no interior da Bahia, contra um pai e um filho que se abraçavam como amigos - um deles morreu - por grupos neo-nazistas que pensaram serem casal de gays). Em todo o caso, o fato do Sul e Sudeste, sobretudo o eixo Rio-São Paulo, ditarem o que "deve valer" para todo o país torna-se um grave perigo.
Os profundos retrocessos do Rio de Janeiro, consequência de muitos valores retrógrados e nocivos, transmitidos até mesmo por autoridades políticas e veículos da grande imprensa, são empurrados para o resto do país como "modelos de modernidade", e impostos como se fossem "experiências bem-sucedidas". A falta de observação das elites das demais regiões e os interesses coronelistas e tecnocratas ainda vigentes permite que o retrocesso sulista-sudestino seja "exportado" para o resto do país.
Isso representa um grave perigo, na medida em que os retrocessos partem de regiões que ainda são vistas como referências para todo o país. O declínio de São Paulo como "cidade-modelo" para o outrora moderno Rio de Janeiro não resolveu as coisas, porque a ex-Cidade Maravilhosa hoje passa por retrocessos ainda piores do que os da capital paulista há cerca de 15, 25 anos atrás. E isso pode causar, no Brasil, danos irreparáveis num futuro próximo.
E tal constatação não pode ser vista como teoria conspiratória de internautas revoltados. Essa é a realidade que foge ao WhatsApp e que poderá trazer tragédias futuras, até mesmo para aqueles que se "trancam" nas mídias sociais para verem, felizes da vida, vídeos engraçados e memes com mensagens positivas.
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Madre Teresa de Calcutá pode ter sido uma farsa, mas nem por isso ela escreveu 'A Força Eterna do Amor'
Evidentemente, documentários mostraram que Madre Teresa de Calcutá nunca passou de um mito inventado pelo sensacionalismo midiático, num casamento que, conforme nos lembrou Christopher Hitchens, unia essa qualidade com a superstição medieval.
Podemos inferir que a esse casamento entre sensacionalismo midiático e superstição medieval, há muitos e muitos clichês relacionados à moral, à humildade e à devoção religiosa, que temperam esse mito que causa muita catarse e deslumbramento entre as pessoas.
Madre Teresa de Calcutá foi duramente questionada por Hitchens, a partir do livro A Intocável Madre Teresa de Calcutá (The Missionary Position: Mother Teresa in Theory and Practice), de 1995, dois anos antes do falecimento da freira albaneza (na verdade nascida na atual Macedônia).
Depois, foi lançado o documentário com o título contundente de Anjo do Inferno: Madre Teresa de Calcutá (Hell's Angel), em 1997, ano de morte da freira, um feito considerado muito agressivo diante da repercussão da perda de uma figura ainda considerada intocável e muitíssimo adorada.
Entre as acusações contra a freira, denunciadas não só por Hitchens mas por pesquisadores sérios da Universidade de Montreal, estão a apologia ao sofrimento humano, as alianças com líderes poderosos de valor duvidoso, como ditadores de diversos países e o presidente dos EUA, Ronald Reagan, que na época financiava os esquadrões da morte que dizimaram até missionários na América Central e reduziram os movimentos sociais da época a quase nada, com os assassinatos de seus membros.
Madre Teresa é acusada também de não dar o tratamento devido aos assistidos, sobretudo no Lar dos Moribundos, em Kalighat, bairro de Calcutá, que eram tratados e alojados sem qualquer tipo de higiene e não recebiam alimentação digna e saudável nem assistência médica e concessão de remédios necessários para o tratamento de suas doenças.
Ela também é acusada de estabelecer alianças com magnatas envolvidos em corrupção empresarial, pedofilia, estelionato e outras práticas ilícitas, para arrecadar dinheiro que a freira desviava para as fortunas dos líderes do Vaticano.
O "ESPIRITISMO" E A "AMOROSA" MADRE TERESA
Christopher Hitchens nunca foi processado pelas denúncias que divulgou. E mesmo o título "anjo do inferno" não lhe rendeu qualquer tipo de processo por calúnia. As críticas se mostram pertinentes, sobretudo porque Madre Teresa era amiga de magnatas e tiranos políticos, enquanto deixava os pobres à própria sorte, ou melhor, à falta de sorte.
O próprio alojamento dos doentes no Lar dos Moribundos é algo estarrecedor. Eles eram alojados sem qualquer separação por biombos ou quartos, dentro de um grande salão, expostos uns aos outros, com grave risco de transmissão de doenças, que piorava pela falta de higiene com que eram tratados pelos funcionários da casa, que teve outras instalações similares bancadas por Madre Teresa.
Enquanto essa visão realista era difundida - e surpreendentemente aceita pelo sentido lógico e verídico das denúncias - , no Brasil o "espiritismo" chegou a lançar um trabalho favorável a Madre Teresa de Calcutá, atribuindo a ela uma suposta autoria espiritual.
O "espiritismo" brasileiro consegue fazer com que a aberrante "teologia do sofrimento", que impõe ao sofredor a conformação com seus próprios infortúnios, vista como aberrante e patética pelos investigadores do caso Madre Teresa, em algo como "positivo" e "necessário" quando associado a Francisco Cândido Xavier, que defendia a ideia da mesma forma que a freira.
Robson Pinheiro, suposto médium "independente" - não tem vínculo com a FEB - havia lançado em 2009 um livro atribuído à Madre Teresa, A Força Eterna do Amor, um misto de pregações piegas com auto-ajuda, em que chama a atenção o caráter conservador de quando o "espírito da freira" diz que não se deve mudar de profissão ou de igreja, da mesma forma que sutilmente prefere o trabalho angustiante do que "a vivência sadia do lazer, da diversão". Ei-los:
"O trabalho..a distração mais bela...transforme o trabalho em motivação.
É preciso trabalhar com o espírito da perseverança, sem desanimar, insistindo na continuidade da tarefa, e se for necessário mudar, mudemos apenas o campo onde plantamos. Não podemos ter tudo o que desejamos, é necessário abrir mão de certas coisas para se ter outra, são as escolhas...o trabalho precisa ser visto por nós como fonte de recursos, de felicidade e como oportunidade de desenvolver o amor. Podemos até usar o momento de desafio de nosso trabalho para criar.
A nossa incapacidade de nos organizarmos, leva a insatisfação com o trabalho. Em nossa indisciplina, as coisas não são e nem funcionam como desejamos...ai vem um pesar por não conseguir conciliar as tarefas e o lazer ou coisas que julga necessário fazer.
Valorize o seu trabalho, viva bem com aquilo que tem, seja muito ou pouco, até porque, muito ou pouco, são ideias bem elásticas e bastante relativas. O trabalho, a medida que valorizado, começara a perceber a satisfação que ele trás, as inúmeras possibilidades que ele faculta, olhando por esse lado, facilita ver, que tens o que tens pelo fruto de seu trabalho.
Vivemos em constante conflito entre o trabalho ao qual nos dedicamos e a vivência sadia do lazer, da diversão e de outros aspectos da vida que desejamos muitíssimo experimentar, mas que devido a nossa falta de vocação, não vemos como conciliar; ora porque então perder tempo, ninguém no mundo pode tudo, compete a nós a descoberta de qual é o foco de nossa vida!
A pior derrota: o desânimo. Há momentos que não encontramos motivação que dê vida ao que realizamos, e nada resolve cedermos à melancolia, à depressão, às cobranças e à procura de culpados. Falta nos vida, paixão, amor e entusiasmo que se foram ao longo de nossa caminhada, não sem a nossa permissão. Diante dessa crise, não resolve trocar de atividade, igreja ou profissão. O problema é que perdemos ao longo do caminho o sonho, o entusiasmo, a paixão. Tornamo-nos amargos tanto com o desenvolver do trabalho quanto a colheita dos frutos. Para recomeçar é preciso avaliar os passos que levaram ao esfriamento, ao afastamento ou às desculpas, lançar mão de justificativas intermináveis e adotar postura defensiva.
Procurar então, a partir de uma reavaliação sincera, de uma atitude íntima e corajosa, reacender a chama da fé, dar alma ou adquirir paixão por aquilo que se faz e assim reaver o elo vocacional com a tarefa abraçada por inspiração divina. Ressuscite como Cristo, reacenda-se, ilumine-se!
Se mesmo com imensas atividades, ainda assim se sinta insatisfeito, talvez seja porque esteja buscando algo diferente, querendo reconhecimento ou promoção, ou mantendo os olhos na atividade do outro, ansiando desempenhar um papel que não lhe compete, esse tipo de atitude traz desgostos, desapontamentos, porque não estamos preparados para fazer, assumir o que compete a outro. Isso traz decepção consigo mesmo e dificuldade em reconhecer que não se está preparado para voos maiores no campo das realizações"
O trecho a seguir chama a atenção na suposta postura de "não eximir aqueles que erram de forma calculada, que tem como objetivo lesar o próximo, o sistema ou a comunidade em que se veem envolvidos", sem perceber que o "espiritismo" está cheio desses indivíduos, muitos deles condenando os erros dos outros enquanto têm medo de assumirem tais delitos quando partem deles próprios.
"O perdão ou exercício de perdoar assenta-se sobre esta verdade absoluta: todos estamos em fase de aprendizado no contexto em que nos encontramos no mundo. Ninguém pode se isentar do erro, do pecado ou da queda, como queiram se utilizar das palavras; resta-nos unicamente constatar nossos poucos acertos e muitos erros de caminhada, ao longo do percurso. Naturalmente não intenciono eximir aqueles que erram de forma calculada, que tem como objetivo lesar o próximo, o sistema ou a comunidade em que se veem envolvidos. Não me refiro ao erro premeditado, pensado, planejado. Quero examinar é quanto de nós cobramos do outro aquilo que nem nós mesmos estamos preparados para viver; experimentar ou oferecer. Assim sendo, fico refletindo sobre como nos especializamos em cobrar; punir e ser cruéis com aqueles que estão como nós, aprendendo. Por isso acredito que devemos nos dedicar mais ao exercício do perdão. Sem nos perdoarmos, não há como ser feliz de maneira plena; sem perdoar o próximo não há como conviver; ser parceiro, caminhar de mãos dadas. Acho que por isso tudo, o conselho de Nosso Senhor Jesus Cristo é deveras atual, urgente e terapêutico para nós, os que precisamos do médico das almas para nos curarmos das feridas íntimas que trazemos do nosso passado".
POR QUE MADRE TERESA NÃO ESCREVEU O LIVRO
Apesar de muitos trechos do livro condizerem com o pensamento conservador de Madre Teresa de Calcutá, devemos chamar a atenção para o seguinte: a mediunidade quase nunca é praticada no Brasil, sendo o que se chama de "atividade mediúnica" um enorme engodo de pastiches e fraudes consequentes da pouca concentração dos "médiuns" e de sua ignorância da Ciência Espírita.
Robson Pinheiro é famoso por usar o suposto espírito de Ângelo Inácio para descrever um Cazuza patético, igrejista e que se comportava como um calouro debiloide do Cassino do Chacrinha, tão caricato que o suposto Cazuza mais parece um clone do Sérgio Mallandro.
Recentemente, Robson usou o nome de Tancredo Neves para escrever uma mensagem igrejista em que o suposto político errava por falar em "mídias sociais" como se fosse um universitário viciado em WhatsApp, uma "psicografia" tão patética quanto a trajetória política de seu neto, Aécio Neves, conhecido pela corrupção política e pelo comportamento fanfarrão.
Madre Teresa, portanto, não escreveu esse livro, até porque seu espírito, quando deixou a vida material, já havia sofrido o choque da desilusão, e a essas alturas ficou com a consciência perturbada quando sua suposta santidade era contestada duramente com o título de "anjo do inferno" dado por Christopher Hitchens.
A "Madre Teresa" que aparece no livro de Robson Pinheiro é ainda a "freira serena", com a consciência tranquila para transmitir um receituário moralista de forma semelhante que Joana de Angelis (mentora de Divaldo Franco que, todavia, não teria sido a sóror Joana Angélica pelo conflito de aspectos pessoais; a soror baiana era valente, mas não autoritária) transmitiu na literatura divaldista.
A freira albaneza, a essas alturas bastante abalada pelos escândalos de 1995-1997, não poderia aparecer serenamente em 2008 ou 2009 para trazer palavras "positivas". Com a moral abatida, ela pode até ter se reencarnado antes ou tendo alguma crise ou autocrítica, mas, com toda certeza, sem qualquer disposição para lançar um livro como o que Robson Pinheiro havia lançado.
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
A perda de tempo dos acadêmicos com Chico Xavier
É assustadora a blindagem que existe em torno de Francisco Cândido Xavier, cujo charlatanismo é comprovado através de pastiches literários e da apropriação perniciosa de ilustres falecidos como Humberto de Campos, além da pouco conhecida poetisa Auta de Souza e da semi-anônima professora Irma de Castro Rocha, a Meimei.
Essa blindagem persiste e se intensifica desde que Chico Xavier tornou-se mito, em 1944, através de um atrapalhado desfecho judicial, sobre o processo movido por herdeiros de Humberto de Campos, falecido dez anos antes, que cobravam dos juízes verificar se Chico e a Federação "Espírita" Brasileira usurparam o falecido escritor ou ele realmente "apareceu" para ditar livros.
Desde então, Chico Xavier, já bastante estranhado pelo confuso livro Parnaso de Além-Túmulo, uma obra poética que se supunha um "trabalho acabado da espiritualidade superior", mas que recebeu cinco remendos em 23 anos (explicar um "trabalho perfeito" ser consertado tantas vezes e em tantos anos é muito complicado), passou a ser defendido com mãos de ferro pelos fanáticos seguidores.
Para piorar, atribuições bastante surreais a Chico Xavier, associando ele a qualidades que ele nunca teve nem era capaz de ter - como psicólogo, cientista político, sociólogo, filósofo, ativista social e militante progressista - , são difundidas impunemente, e ele se torna o maior caso de impunidade que se existe na História do Brasil.
Como um Lula às avessas - é notório que o ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, é condenado e desmoralizado até pelo que ele fez de positivo, sendo ele a maior vítima do chamado "assassinato de reputações" - , Chico Xavier é inocentado até quando se comprovou que ele apoiou abertamente as fraudes escandalosas da farsante ilusionista Otília Diogo.
Para completar o surrealismo, existem linhas acadêmicas, instaladas na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), esta no Núcleo de Pesquisa em Saúde e Espiritualidade da Faculdade de Medicina, ambas com o respaldo da Associação Médico-Espírita do Brasil (AME-Brasil), que tentam legitimar o ilegitimável, em relação a Chico Xavier.
Metodologias confusas e linhas de pesquisa bastante complicadas tentam encher as análises das supostas psicografias de Chico Xavier com divagações psico-biológicas sem muito nexo, Em vez de investir em aspectos simples, como a semelhança de estilo entre diferentes cartas e livros "espirituais" trazidos por Xavier, "viaja-se" com surreais análises científicas desnecessárias.
Para "confirmar" o "pioneirismo científico" do fictício André Luiz, os acadêmicos supuseram, lamentosamente, que a bibliografia sobre glândula pineal nos anos 1940 era "escassa e conflituosa" (como se o conflito não fizesse parte de um debate científico), tomando como base apenas a bibliografia consultada de 1977 até pouco tempo atrás.
Isso quer dizer que a tão "dedicada" comunidade acadêmica voltada à "mediunidade" de Chico Xavier, para presumir que "André Luiz" previu descobertas científicas em 13 ou até 63 anos, não se valeu de bibliografia originalmente publicada na época, pois o único livro da década de 1940 que aparece foi Missionários da Luz, a própria obra atribuída ao suposto médico.
Há muita pose de seriedade em acadêmicos como Jorge Cecílio Daher Jr. e Alexander Moreira-Almeida, alguns dos astros dessa turma "científica". Eles capricham no discurso acadêmico e na pose de letrados, que acoberta sua precária, confusa e atrapalhada metodologia de análise dos trabalhos de Francisco Cândido Xavier.
O problema é que isso constitui uma grande perda de tempo, pois métodos muito simples apenas desqualificam a atividade supostamente mediúnica do mineiro, bastando uma maior atenção na leitura dessas cartas e livros e compará-los com o que os supostos espíritos eram em vida.
Só o caso Humberto de Campos teria extinguido o mito de Chico Xavier. Sem muito esforço. A hesitante petição dos herdeiros do autor maranhense, que foram melindrosos demais ao cobrar da Justiça algo que ela não estava preparada para fazer, na época (1944), que é verificar se havia ou não veracidade nas obras "espirituais", e o confuso desfecho judicial, ocorreram devido ao contexto daqueles tempos.
Não havia, pelo menos sob reconhecimento jurídico oficial, o termo "falsidade ideológica", que seria o motivo hoje da ação judicial prevista contra Chico Xavier e a FEB. Se em 1944 adotássemos a visão jurídica de hoje, Chico Xavier seria derrubado e condenado como um charlatão, porque o caso dele foi usar o nome de Humberto de Campos para promover uma parcela de livros.
Isso é tão certo que basta uma simples comparação entre os livros que Humberto produziu em vida e os que se atribui ao seu espírito, através de Chico Xavier. A aberrante diferença de estilos é notória. A boa escrita ao mesmo tempo culta, coloquial, leve e descontraída de Humberto dava lugar a uma escrita pesada, pedante, depressiva e forçadamente religiosa.
Em vida, Humberto, que era ateu, era intelectual membro da Academia Brasileira de Letras, conhecedor da cultura de seu país, sobretudo Maranhão e Rio de Janeiro (então Distrito Federal, onde ele viveu) e estrangeira. Já o suposto "espírito" Humberto de Campos escrevia como se fosse um sacerdote católico, brasileiro membro do Vaticano e conhecedor apenas de textos bíblicos.
Constatar isso não precisa de formação acadêmica, bastando somente um hábito de leitura. E imaginar que, se deixasse nas mãos de Alexander Moreira-Almeida, com sua pose de autoridade de pretenso pesquisador científico, ele teria se perdido em desnecessárias divagações linguísticas e de cunho psicológico e historiográfico dos textos do suposto espírito de Humberto.
Por isso os acadêmicos perdem muito tempo analisando Chico Xavier, inserindo abordagens extremamente complicadas que em nada contribuem para analisar a validade ou não de seus textos, quando uma simples análise de um leitor especializado, por mais modesto que ele seja, conseguem identificar as contradições e equívocos da pretensa psicografia do anti-médium mineiro.
domingo, 20 de setembro de 2015
O "espiritismo" tenta dar lição de moral
O "bom-mocismo espírita" que se observa, recentemente, nas páginas de seus "centros" e de personalidades influentes através de suas "receitas para o bem-viver" poderiam ser atitudes bastante louváveis, se não fosse o histórico desastrado que a doutrina brasileira acumulou ao longo das décadas.
Se multiplicam os textos correspondentes às "dicas de qualidade de vida". Sempre a mesma conversa: viva o hoje, não sinta raiva, sorria sempre, pense antes de agir errado, avalie seus potenciais e equívocos etc etc etc. Tudo parecendo bonito e bem intencionado.
Todavia, para uma doutrina que nunca ajudou em coisa alguma como o "espiritismo" brasileiro, que em suas energias confusas fazia com que os tratamentos espirituais fossem fontes de vibrações malignas, trazendo mais azar do que sorte na vida, essas "dicas" revelam o desespero de um movimento em séria crise.
Que as coisas não caem do céu, isso é verdade, e que o esforço individual é decisivo para alguma relação, isso é indiscutível. Mas a "ajuda amiga" do "espiritismo" só complicava as coisas, e não havia esforço individual que pudesse realizar um objetivo, e, para piorar, às vezes resultava em desastres e fracassos ainda piores.
As pessoas recorrem ao tratamento espiritual mediante uma séria dificuldade, achando que era uma forma "realista" de obter alguma sorte para fazerem alguma coisa, pelo menos com a certeza de que a iniciativa individual se revelaria menos arriscada e mais exitosa possível.
Essas pessoas seguem todo o receituário, se cercam de boas vibrações, evitam as tensões do dia-a-dia, se alimentam de maneira saudável e cumprem todas as recomendações dadas pelo auxílio fraterno "em nome dos espíritos superiores" que supostamente protegem o "centro espírita". Assistem a doutrinárias e tudo para manter a "boa sintonia".
Só que, em vez do problema que impulsionou ao tratamento acaba, ele não só se agrava como outros problemas sérios são contraídos. Às vezes a solicitação não dá o resultado desejado, e se o homem com dificuldades na vida amorosa queria conquistar uma mulher de sua afinidade, ele acaba atraindo uma mulher que nada tem a ver com esse objetivo.
Pior é que surgem, no meio do caminho, encrencas, infortúnios e dissabores diversos. A sorte que o infeliz procurava na vida não é obtida e teria sido melhor se ele tivesse feito aquelas simpatias que são ditas até em programas de rádio ou aparecem em páginas de almanaques ou revistas de farmácias. Um tratamento espiritual chega a ser mais azarento do que passar debaixo de escada.
Isso tem muito a ver com o caráter confuso e contraditório do "espiritismo" brasileiro, que deturpa o pensamento de Allan Kardec até a medula, praticamente jogando as lições do pedagogo francês no lixo. Esse rol de contradições faz da doutrina brasileira uma bagunça, o que atrai a ação de espíritos traiçoeiros.
É por isso que o "espiritismo" acaba ficando desmoralizado. Se o "exemplo superior" de Francisco Cândido Xavier está associado ao apoio a fraudes de materialização e à prática de pastiches literários, entre outras tarefas lamentáveis, o que dizer dos "centros espíritas" e seu pessoal "ainda não muito evoluído" que realizam as atividades "em auxílio" à sociedade?
A contradição vai longe quando sabemos que Chico Xavier fazia apologia ao sofrimento humano e recomendava aos sofredores agirem sem queixumes, sofrendo "com amor" e buscando a oração em silêncio (provavelmente para não perturbar o sossego dos opressores e privilegiados) e os palestrantes "espíritas" depois dizem que "não viemos aqui para sofrer e sim para sermos felizes".
Essa grande contradição faz com que o "espiritismo" perca a autoridade em dar dicas para as pessoas superarem seus sofrimentos, porque torna-se inútil, a esse ponto da caminhada, que "espíritas" venham com seu bom-mocismo tardio com "receitas prontas" para a melhoria pessoal e para a qualidade de vida do indivíduo.
Depois de tantos estragos cometidos, chega a ser hipocrisia falar que nós devemos mudar nossos pensamentos, eliminar a angústia e sorrir para a vida, diante de tantos retrocessos que ocorrem em nosso cotidiano. O próprio "espiritismo" nunca mudou seu pensamento e continua sendo um sub-catolicismo canhestro e grosseiro. "Resgate moral" na vida dos outros é refresco.
sábado, 19 de setembro de 2015
Teologia do Sofrimento equipara seus defensores a Pôncio Pilatos
A Teologia do Sofrimento, que faz apologia do flagelo e dos infortúnios humanos como forma de atingir a evolução e as "graças divinas", é uma ideologia bem mais cruel do que se pode imaginar, embora ela seja associada comumente à ideia de humildade, resignação e devoção.
O grande problema está na sua essência e na forma como essa teoria roga para a vida das pessoas que não fazem parte dos banquetes dos poderosos e dos privilegiados. Afinal, essa teoria tão associada sobretudo ao Catolicismo e ao "movimento espírita" brasileiro, ela está de acordo com os ensinamentos de Jesus de Nazaré?
Definitivamente, não. A Teologia do Sofrimento, defendida por figuras como Madre Teresa de Calcutá e, Francisco Cândido Xavier e, de forma mais sutil, por Divaldo Franco, e encontra ecos até na Cientologia, está muito mais próxima da tirania do prefeito da Judeia, Pôncio Pilatos, do que de Jesus.
Sim, o lado perverso dessa ideologia é que a apologia do sofrimento, que se baseia na recomendação aos sofredores para não reclamarem dos infortúnios e aceitarem ocorrer tudo de errado e grave em suas vidas, sem sequer gemer de dor, em troca de "bênçãos futuras" e "graças divinas".
É uma espécie de Taylorismo da religião, pois, como já descrevemos, o Taylorismo foi uma teoria da Administração que reivindicava ao trabalhador um ritmo de trabalho mais opressivo e angustiante em troca de prêmios como promoção profissional e maiores salários, desde que aguentasse, em primeira instância, uma carga horária excessiva sem muitas garantias sociais.
Na religião, a Teologia do Sofrimento faz a mesma coisa. É a tese do "quanto pior, melhor", em que cabe à pessoa sofrer, sofrer e sofrer, de preferência sem reclamar de dor e orando em silêncio para não perturbar o sossego dos opressores, que terão "a sua vez, sim", mas daqui a 100 ou 200 anos.
Pilatos, que pode até ter "lavado as suas mãos" mas, segundo historiadores, nunca fez o famoso julgamento contra Jesus, se limitando apenas a ordenar a condenação na cruz, muito provavelmente um ato bem mais rápido do que muitos acreditam, é, na prática, patrono da Teoria do Sofrimento, embora nunca se admita a associação dessa teoria ao político romano.
Isso porque a Teologia do Sofrimento se baseia no próprio sofrimento de Jesus, na condenação contra ele sancionada - acusado de semear uma suposta revolta popular na medida em que o ativista judeu esclarecia os cidadãos quando se hospedava na casa de cada um deles - , e se fundamenta na submissão medieval ao sofrimento como meio de obter "benefícios futuros" pela servidão da fé.
A analogia ao sofrimento de Jesus faz com que os ideólogos essa "humilde teoria" não estivessem ao lado do ativista. Querer que as pessoas sofram para atingir graças e benefícios futuros não é estar ao lado de Jesus, mas de Pilatos. Até Chico Xavier torce no time de Pilatos quando defende a ideia de que devemos "sofrer amando, sem queixumes".
Isso parece cruel, mas é realista. Afinal, ninguém que se identifique, de fato, com o exemplo de Jesus, quer que a humanidade sofra com a mesma intensidade que ele, transformando sua vida num ritual de desgraças sucessivas.
Pelo contrário. O próprio Jesus não queria que a humanidade sofresse. Daí a contradição dos que defendem a Teologia do Sofrimento, que se dizem solidários a Jesus. Mas eles, presos a crenças medievais, só valorizam o Jesus prisioneiro da cruz, sisudo e taciturno, e acreditam na vida como um processo punitivo, uma penitência interminável.
Já sua ideia de que as pessoas devem sofrer com resignação é bem de acordo com a tirania de Pilatos, e com a visão medieval de criminalizar a vontade e a consciência humana, usando como desculpa o "pecado original" (a pessoa é "culpada" apenas porque nasceu) e promete ao sofredor benefícios que não se sabe quando nem como se obterão, se é que não passam de pura falácia.
Daí que cai a máscara de tantos "cristãos" que dizem que a essência da vida é cumprir o sofrimento pelo pretexto de "faltas passadas", apegar-se à devoção mórbida da fé, que leva muitos à debiloide histeria religiosa, e, defendendo tais posturas, assumem pontos de vista medievais trazidos pela aristocracia romana que usurpou o Cristianismo primitivo. A Teologia do Sofrimento é anti-Jesus.
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Dia "feliz" para o Brasil deu origem à atual crise no país
Não era sequer para a Seleção Brasileira de Futebol participar da Copa da Coreia do Sul e Japão de 2002. A seleção, sem entrosamento e com jogadas medíocres e fracas, não parecia preparada para vencer, em 2001, as Eliminatórias para a Copa.
Já não estava sequer preparada para o "penta", conquistado no evento da Federação Internacional de Futebol Association, mas tudo foi feito para a "vitória" que foi fácil demais, apesar de todo o oba-oba da grande mídia esportiva, ou mesmo da geral, sobre a "merecida conquista" dos jogadores brasileiros.
O "dia mais feliz para o Brasil", que representou ainda o óbito "discreto" do "iluminado" Chico Xavier, tornou-se alvo de investigação de jornalistas sérios, que descobriram que o "penta" não passou de uma farsa para aumentar os poderes de Ricardo Teixeira, então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no conselho da FIFA.
O dia só foi feliz, mesmo, para Ricardo, João Havelange, José Maria Marín e outros espertalhões que usam o futebol como forma de alimentar suas fortunas pessoais, lançando mão até mesmo de empresas fantasmas e alianças espúrias. Até mesmo os "admiráveis" amistosos de futebol são apenas formas de superfaturamento às custas de partidas sem qualquer propósito competitivo.
Não é preciso dizer, passados 13 anos, que a "conquista" foi o "ponto zero" da atual crise que atinge o país, em que cortes de gasto violentos são feitos pelo Governo Federal e o desemprego, mais uma vez, se agrava enquanto retrocessos atingem todos os Estados, embora, de maneira surpreendente, no hoje decadente Sul e Sudeste.
E como é que se deu essa crise? Simples. Com um Brasil sem uma qualidade de vida plena, sem resolver as suas desigualdades sociais, foi preparar espetáculos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 motivados pelo "penta" que criou um otimismo surreal e fantasioso de uma prosperidade que não existe.
Afinal, se o governo Lula, nos seus primeiros anos, sinalizava para conquistas sociais, a verdade é que era apenas o começo de uma longa caminhada e não o fim da mesma. Mesmo medidas como as cotas raciais nas Universidades e o Bolsa-Família, válidos apenas para minimizar crises extremas, eram apenas paliativos que não são a conquista plena de qualidade de vida.
Era apenas o começo de um longo percurso e ele foi atropelado por eventos internacionais de ponta, sem que o país tivesse condições para tanto. Pior: além de criar uma onda de eventos caríssimos de grande porte, como eventos esportivos e musicais, o Brasil sofreu diversos retrocessos por conta da farra político-empresarial trazida pelo "orgulho do penta".
Projetos de mobilidade urbana que nada têm a ver com mobilidade foram impostos no Rio de Janeiro e daí espalhados pelo resto do país, com medidas antipopulares que causam confusão, transtornos e que só servem para enganar o turista com um sistema de ônibus mais marcado pelo sensacionalismo do que pela funcionalidade.
Até a cultura é sabotada com fenômenos cada vez mais postiços de "cultura popular" e cada vez mais voltados à imitação do que aconteceu nos EUA anos atrás. A MPB é reduzida a um festival interminável de homenagens que se tornam cansativas. O rock transforma-se em caricatura através de "rádios rock" postiças (a paulista 89 FM e a carioca Rádio Cidade). E o cinema e teatro brasileiros cada vez mais voltados ao mais baixo besteirol ou às franquias americanizadas.
Tudo acaba se voltando para o consumismo e para um urbanismo de aparências. A cidadania só se limita a aspectos genéricos e pontuais. A demagogia política torna-se mais intensa e ambiciosa. A tecnocracia e a comunidade acadêmica, cada vez mais alheios à sociedade, impõem modelos e abordagens diversos.
Com a Copa de 2014 transformada em fiasco, não só pelo desempenho da seleção brasileira de futebol, mas pelo prejuízo causado com tantas obras sem muita necessidade. o prejuízo financeiro veio a ponto do governo Dilma Rousseff ser alvo de movimentos ou mesmo petições por impeachment, diante de tamanha indignação de parte da sociedade.
Tudo isso contrariam as "seguras profecias" de Chico Xavier e tiveram origem justamente no dia "feliz" do "penta". Isso porque a mediocridade do futebol, tornando-se vitoriosa, se ampliou para uma mediocridade em outros aspectos que acabou causando o colapso generalizado que atinge nosso país e que obriga todos nós a conter gastos e, principalmente, nossos anseios. O "penta" fez mal.